quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022


 

   A APOLOGIA DE SÓCRATES

                PARA     NOSSO     TEMPO

 

 

 

Fato dos mais intrigantes na historiografia, sem prejuízo de outros, que os há muitos, foi a condenação  do filósofo grego Sócrates, no ano 399 a.C em Atenas. Mesmo devido o abismo que, em todos os sentidos, nos separa esse absurdo, o evento vige até hoje, como exemplo do ódio e da impudicícia a que tem se servido certo vezo do espírito humano.

O exemplário da infâmia parece não refrear-se, quando até hoje observamos, mesmo entre os supostos homo sapiens, viralizar nos meios sociais, a virulência do rancor, da malignidade e o desrespeito à dignidade das pessoas.

É o sinal sintomático de que a desfaçatez e a apologia ao ideologismo inconsútil e desconstrutivista rodeiam nosso mundo, corroendo nossa maneira de ser, trabalhar e viver.

Reviver esse acontecimento em pleno século 21, na plenitude ademais da virulência de uma pandemia que apavora todos — penso ser sintomático e até de certo modo educativo.

Não é, nem nunca nos foi desconhecido, pelo menos às pessoas até de mediana compreensão e estudo, o saber que Sócrates (470-399 a.C) foi um dos maiores filósofos — por conseguinte, sábio — que existiu em toda nossa história, antiga e contemporânea.

Sabemos também que Sócrates, de origem humilde, filho de uma simples parteira, perambulava pelas ruas e praças, as ditas ágoras, da cidade de Atenas, não como ambulante, esmoler ou pessoa sem eira nem beira, mas, sim, um filósofo, sábio, cujo intento era falar com as pessoas, manter com elas diálogo instigante e construtivo. A finalidade, a intenção daquele filósofo de vestes simples, por vezes até descalço, era a mais justa, conspícua e sábia possível: conhecer as pessoas e,  através do diálogo, da pergunta e resposta do abordado, numa espécie de troca de ideias e pensamentos, ensinar-lhes a serem mais éticos e, sobretudo, pelo método dialético, por ele mesmo criado, a maiêutica, pelo qual as pessoas entrevistadas melhorariam a maneira de ver o mundo e pensar, tendo por objetivo auferir conhecimentos, alcançar a verdade e  praticar o bem como seus melhores paradigmas.

Qual teria sido o crime cometido por Sócrates do qual  era acusado e depois condenado pelo quórum de cidadãos de Atenas? A acusação seria desconhecer o Estado de Atenas, introduzir novas divindades e corromper a juventude. Seus principais acusadores eram o poeta Meleto e o político e orador Anitos. Seria julgado por cidadãos da pólis e, uma vez condenado, a pena era a morte. Cabia pedido de clemência, o que significava aceitar a acusação. Cidadão ínclito como se dizia, o maior filósofo  pela profecia de Delfos, Sócrates não se permitiu pedir clemência — preferiu a morte por cicuta.

Então Platão escreveu a Apologia de Sócrates,  como teria feito sua defesa perante o júri que o condenaria. Trata-se de uma peça de oratória  das mais notáveis, um pleito inequívoco de sua  defesa de um lado, do outro preito de alocução acusatória aos que injustamente  o delatavam à comunidade.

E o que dizer sobre os acusadores de Sócrates? Meleto, poeta e Anitos, político e orador. Ora, sabe-se que Platão tinha diferença com os poetas, basta vê que em sua República considerava-os desmerecedores de a ela pertencerem,  por serem sonhadores e falazes em seus ofícios. Quanto aos políticos, não os tinha em boa conta, uma vez que, à época, Atenas aderia à tirania de há muita adotada por Esparta.

Atenas, portanto, sofria transformação e toda a Pólis, então sob pressão da tirania, não podia aceitar as ideias e a conduta de um filósofo, como Sócrates, que fazia perguntas perturbadoras ao povo sobre o que era virtude, piedade, justiça em termos de ética e estética e a busca do conhecimento.

Em sua defesa, Sócrates, pela alocução insofismável de seu amigo e aluno Platão, desmoraliza a ação de seus detratores, Meleto sobretudo por arguir suspeitas inverídicas, no que na verdade ele exercia o discipulado dos sofistas, de cujos ideais participava, estes inimigos ferrenhos de Sócrates. O filósofo  denunciava seus ensinamentos imprudentes, falaciosos e por terem por escopo único auferir recursos. Já antes no diálogo com Protágoras, Sócrates teria se confrontado com aquele sofista, cuja ação e pensamentos discordara, inclusive daquele impertinente paradigma de que “ — O homem é a medida de todas as coisas”.

É de vê-se que o julgamento de Sócrates já se maculava de imperfeição, desde sua origem. Era os representantes da Pólis que se viam preteridos por aquele malicioso filósofo, constituía-se um obstáculo às pretensões dos magistrados, tornava-se urgente demolir aquele inconveniente inquisidor popular.

Não será fora de propósito aplicar o grande erro do julgamento de  Sócrates, que se sucederam em outros casos, como a condenação de Joana d”Arc, o julgamento Dreifus e por que não, também, aos atos de certo infamantes nos dias atuais, quando, por simples impertinência e ignorância, tenta-se desmoralizar a figura magnânima de um indomável idealista, defensor da moral e do personalismo cristão com o viés intuicionista.

 

CDL/Bsb, 10.02.22

terça-feira, 1 de fevereiro de 2022


 

A CABEÇA NAS ESTRELAS

E   OS   PÉS   NO   CHÃO

 

No século XIX, por volta de 1830,  enquanto os baluartes do iluminismo tentavam retirar o mundo do suposto obscurantismo religioso, uma campesina escocesa autodidata, Mary Somerville, interpretava Laplace. Para espanto dos positivistas dogmáticos, ela ousava unir as equações explicativas das estrelas com os fenômenos da natureza. Para explicar esses fenômenos, ela publicou o livro On the Mechanism of Heavens — A Mecânica Celeste, um best-seller à época.

Nos dias atuais, a professora versada em matemática, história e filosofia da UFRJ, Tatiana Roque, publica um livro O Dia em que voltamos de Marte, selo da Editora Planeta, no qual expõe, de forma mais palatável ao público leitor, um punhado de informações científicas, procurando reduzi-las ao gosto popular. Na sua performance, mas sempre se esquivando, diz ela,  de propor normas ou estipulações normativas, a autora nos apresenta uma verdadeira parafernália de pesquisas, informações e conceitos científicos. Tudo para demonstrar que nosso mundo, também o solo em que pisamos e no qual nascemos está de cabeça para baixo, devido não só à má gestão da mão humana, mas principalmente pela falta do fiel e irrestrito atendimento ao pragmatismo, à eficiência das técnicas científicas, durante toda a existência humana nesse imenso palco que se chama o planeta Terra.

Em outras palavras, a Professora Tatiana, com seu laurel científico obtido nos mais lídimos corredores da sapiência humana, agora nos dá uma espécie de aula magna, dá um puxão de orelha em nós, desvalidos leitores, por nossa grassa ignorância em ciência, matemática superior, explosão do átomo, viagens espaciais — isto acompanhando a linha do tempo, nos dando aula de iluminismo, como utilizar a razão, desvendar os mais diversos escaninhos, claro e obscuros,  do desenvolvimento humano, os artifícios e mistificações políticas, econômicas e financeiras escondidos nas tramas que conduzem às guerras. E o que é mais estranho, revela que as guerras têm sua importância, não só limitam o acúmulo populacional, como obrigam governos e nações a se unirem em planos supostamente salvadores das pátrias atingidas pela hediondez dos massacres da guerra. Dão origem aos planos de governo, criam modelos e objetos visando à modernidade, alimentam o progresso e podem criar modelos de convivência. O mais importante é o avanço tecnológico, o poder da ciência a prevalecer sobre o obscurantismo, social, político, econômico.

A autora, do alto de sua cátedra acadêmica, abre o nosso raciocínio, que ela acha emperrado, os primeiros capítulos de seu painel científico até interessantes, fatos que nos esclarecem sobre o iluminismo, o malabarismo intelectual de Laplace, a genialidade dos fundadores do Enciclopedismo, Diderot, Lagrange, D’Alembert, Louis de Jaucourt e Voltaire, que coroaram com chave de ouro o racionalismo de Descartes. Era o nascer esplendoroso do cientificismo, enciclopédico, monumental, agora a dogmatizar o mundo e baixar finalmente a crista dos místicos, acoitados em seus conventos sombrios com suas ideias religiosas, enquanto o mundo estava sendo descoberto pela aurora da razão. Auguste Comte que o diga com sua teoria capaz de dogmatizar para sempre o mundo.

Mas, às páginas seguintes (o livro tem 367), quase inesperadamente para o leitor desavisado, a Professora nos promete castigo se não aprendermos a lição, considerada, ela e seus apaniguados, como essencial, a chave de tudo, do progresso, o descobrimento da pólvora, que nos salvará do deblaque mundial, trocando a pólvora pelo culturalismo gramsciano, que vem de outro tipo de munição: a alegoria do marxismo cultural. O circo do mundo pegará fogo se não seguirmos as normas do cientificismo, pois é na ciência que está o Eldorado. E não se trata de alegoria: estamos sob a lâmina maldita do aquecimento global, o mundo vai pegar fogo mesmo, os mares vão esquentar, tsunamis arrasarão cidades e nações. A causa? O aquecimento global, conforme determinou o sr. Al Gore. Nós temos de internacionalizar urgente a Amazônia, berra o sr. Macron,  aboletado lá na Torre d’Eiffel. Disseram-lhe que o Presidente do Brasil, o sr. Bolsonaro, não estava fazendo nada para evitar a hecatombe. E os grandes manufatores do globalismo precisam de fatos para enganar esses patriotinhas malandros, como se ele próprio não o fosse, um almofadinha de colarinho branco, desgovernando a pátria de Victor Hugo.

Enfim, nossa Professora abre o jogo e logo se vem a saber a que ala ela pertence, de corpo e alma. Ás páginas finais de seu calhamaço, ela já diz a que veio. Nosso País tem um estrupício de governo, diz ela, enquanto o Presidente protege a Nação, tem espírito altamente patriótico, não é corrupto, faz uma administração limpa na medida do possível, conquanto os guardiões constitucionais aliados à oposição obstaculizam sua gestão.

Não podemos deixar de contraditar a autora de O Dia em que voltamos de Marte. Reconhecemos que as informações nos prestaram esclarecimento. Afinal, é sempre de boa envergadura intelectual, ler, também os que nos são contrários. Porque não somos donos da verdade, pois ela a verdadeira verdade pertence apenas à Sabedoria Divina — o resto são vaidades e mais vaidades, avisa os Eclesiastes. Mas isto não nos acumplicia com os sofismas, aliás, de que hoje o mundo e a mídia estão cheios. Urge escoimar o joio do trigo.

Não somos de Marte, nem tencionamos ali habitar por circunstâncias óbvias. Queremos permanecer na Terra, herança divina, por sinal, como todo o universo. Mas não um planeta, já marcado para morrer por propositura cientificista. Queremo-lo como nosso lar terrestre. Devemos cuidar dele, porque assim o ordenou o Criador. Não como moeda de troca política e ideológica, pela cabeça de alguns energúmenos, a ponto de vendermos nossa alma por um templo natural transformado em asilo cosmopolita, sob o ferro e fogo de uma universalidade ditatorial, às ordens de patriarcados alienígenas, prisão mascarada de solidariedade, sob o olhar maligno de um Grande Irmão, a nos vigiar diariamente.

Cônscios estamos nós, patriotas, de que a Nação ou o Mundo se encontra numa encruzilhada, não numa picada, como alude a autora. Numa picada, estaríamos perdidos, abandonados. Numa encruzilhada, resta-nos a escolha do melhor caminho. Urge saber escolher a melhor ou mais adequada trilha. Não somos um País de ninguém. Temos um Governo, uma liderança. É preciso saber escolher governantes dignos, patriotas, honesto, políticos conscientes e valorosos. Iguais aos que tivemos no passado. Pedro II, o Imperador. José Bonifácio de Andrade e Silva. Carlos Lacerda. Queremos juízes ínclitos, cônscios de seus deveres constitucionais. A Pátria precisa de Deus, da benção divina,  os olhos dos homens incapazes de sentirem a voz da razão, se não forem iluminados.

Certa, sim, estava Mary Somerville, a cientista autodidata iluminista — nós seres humanos, eruditos ou não, só seremos justos e bons, mesmo ao conduzir a matéria, se mantivermos a mente sempre no Céu, para na terra obtermos o justo domínio da razão.

CDL/Bsb, 2.02.22