RETRATO DE UM PAÍS JOVEM SURREAL
Não há negar: o Brasil é,
decididamente um país surreal. Não é atoa que Machado de Assis, com toda sua
reverência literária declarou: “O Brasil
oficial é caricato e burlesco”. E não será essa a razão por que toda sua
obra tem esse viés de ironia enigmática?
Durmamos nós outros com tanto
irrealismo sardônico. Historiadores, juristas e plantonistas políticos, natos e
estrangeiros – e nós também – temo-nos
surpreendidos com os fatos que se sucedem em nosso País, quase que
diários.
Esboçamos, então, um retrato
realmente doriangreiano do Brasil atual.
(1) O País é um misto de tradição e novidade, mas a todo instante irrompe um conflito, um ato de corrupção é descoberto pelo Ministério Público;
(2) Os
três poderes constitucionalmente estabelecidos Executivo, Legislativo e
Judiciário são independentes, e equilibrados entre si, mas, devido a atos
ilícitos havidos, agora o Judiciário passa a agir drasticamente e intervém no
Legislativo e Executivo;
(3) Há
pouco o representante do Ministério Publico avoca o direito de pedir a prisão
de altos cargos da República: o Presidente do Senado, dois Senadores e o
Presidente da Câmara dos Deputados, acusados de ilicitudes;
(4) Anteriormente,
dois presidentes foram afastados das funções, a da República em rumoroso
processo de “impeachment” por má gestão e o da Câmara dos Deputados, por
ilícitos econômicos;
(5) Assume
interinamente o vice da chapa eleita em votação, que vem se equilibrando entre
reerguer a economia em queda livre e manter relacionamento com o Congresso,
quase acéfalo, alguns de seus membros suspeitos em violenta operação policial –
a Lava Jato;
(6) O
Presidente interino da Câmara tem se demonstrado inepto e desautorizado pela
maioria de seus pares, impedido, por incrível que pareça, inclusive a presidir
as sessões elencadas;
(7) O
Congresso encarrega-se de um vertiginoso e estapafúrdio processo de
impeachment, ainda inconcluso, a passos de cágado, com cenas vergonhosas de
achaques, debates e quejandos de mérito escuso;
(8) Empreiteiras
e políticos graúdos, encarregados de
serviços públicos essenciais, se associaram, para criar verdadeiros esquemas criminosos de
propina, o chamado propinoduto, acarretando prejuízo bilionário ao erário da
Nação:
(9)
Por
isso ou em sua função, o déficit oficial do Orçamento Público alcança cifras
monumentais, nunca antes sequer pensadas;
(10)
Pensadores
políticos cunharam vários tipos de democracia ao longo da história, como demarquia (congressistas como jurados
políticos); uclocracia (a multidão é
quem governa) ou sociocracia (solução
comtiana positivista). No Brasil, surge agora a propinocracia que é a república formada pela chusma dos homens de
“colarinho branco”.
Como
se depreende, o decálogo é inconcluso, cabe embargos ampliatórios, para
reforçar os auditórios, contraditórios, oitivas censutórias e outros quejandos
do juridiquês ultravigente, que, mais do que nunca, vem juridicializando nossas
vidas e compelindo o sonho dos brasileiros.
CDL/Bsb., 10.06.16
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