CRÔNICAS

 

             

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 ATUALIDADE DE “O ALIENISTA”

 

 

 


                      Murilo Moreira Veras

Atentem-me todos, quem tiver ouvidos, ouça. Vivemos num mundo diferente — quem sabe para pior. O século XIX seria melhor que o século XX — pensamos que sim. Com o passar dos séculos, a humanidade parece em declínio, em ternos psicológicos e filosóficos, o mais novo rebento humanoide a custo se desalojou do emboço troglodita, e, atarantado, enfrenta a complexidade das luzes atávicas da chamada ultramodernidade.

O que ocorre com esse alucinante desenvolvimento no qual vivemos cujas extravagâncias nos aturde e nos faz perdermos o fôlego — não no que diz respeito ao mundo em si ou à natureza, no seu evoluir telúrico. Problemático não é o mundo físico, mas os seres que nele habitam, as mãos e as cabeças, que o manipulam, responsáveis pela sua evolução.

Ora, é justamente este o enigma que Machado de Assis nos apresenta na sua obra prima que é a novela O Alienista. Eis a grande questão que decorre da expressão enigmática do Ser ou Não Ser shakespeareano — Ser louco ou não ser louco. Como compreender uma personalidade que não se autodefine, quem é louco e quem é são, se todos parecem ora loucos, ora sãos?

Mas, os hospícios já não foram eliminados de nosso sistema social, pois loucos de todos os gêneros é expressão decrépita no Código Civil, conquanto todo mundo tenha ficado demente, ou quase?  

Simão Bacamarte, o personagem enigmático de O Alienista, concluiu, segundo seus estudos patológicos, que todos os loucos tidos como tais, na realidade considerou-os sãos e os supostos sãos não passam de loucos varridos.

Será que nosso velho, mas genial Machado, de escritor passou a ser adivinho, prevendo o futuro do hominídeo que habita nosso faustoso mundo?

Explicitemos melhor o espetáculo do qual somos partícipes. É crível, em sã consciência, compreender o ser humano atual, principal ator desse cenário, com todos os seus defeitos, comportamentos e que tais?   

Ora, exercitemos a apologética literária de Machado de Assis, agora com nuanças filosóficas — de Casmurro que foi, depois morto redivivo, agora se transforma no visionário e prevê o futuro desse nosso habitat, a apoplexia que acometeu seus habitantes, ou seja, a criatura, esse ente que povoa cidades, terras e nações.

Como confiar em tal ser — perguntar-se-á em boa razão — se todos são  loucos de todos os gêneros e desmentem o ditado latino mens sana in corpore sano? Trata-se de um ser sadio ou louco — como catalogá-lo na experiência vivencial?

Não há negar, trata-se de um ser inconfiável, pobre ou rico, gentil-homem ou um simples mentecapto. Diremos mais, esse sujeito, de direitos e defeitos, na verdade não passa de um mutante ideológico, ou, no dito popular, aquele que muda de lado como quem muda de camisa. Querem um exemplo? a atual política no Brasil, um verdadeiro filão de ouro para nossos políticos lançarem a mão...

E ampliando mais nosso raciocínio — como entender um sujeito que ora é o centro da questão e logo se transformar em objeto, a contradita da ação?

Eu sou eu e a circunstância terá dito o nobre filósofo espanhol Ortega y Gasset — mas que circunstância se o cara muda de feição e ninguém sabe o que ou quem realmente ele é?

É assim que caminha hoje a humanidade nesse nosso velho e surreal mundo — as pessoas que nele habitam, espécies de viandantes, sombras afásicas, pois não sabem o que são, porquê o são, verdadeiras folhas secas, assoladas pela letargia da ilusão.

Infelizmente parece que vivemos nas mãos desses figurantes andróginos, entes que desconhecem o verdadeiro sentido da vida, trocam de lugar e de ideias conforme a situação, à mercê do que lhe é melhor, o que der e vier, contanto que lhe deem bem, o resto é silêncio de pau mandado como se diz, ou seja, o inferno são os outros no tropo cínico sartriano.

Diremos agora como o velho Machado, às portas desse novo ano que se aproxima:

Aos vencedores as batatas — porque a serpente do Gêneses de há muito que envenenou este mundo e as batatas, ao que tudo indica, já estão envenenadas.

No limiar deste suposto novo tempo, eis o que queríamos demonstrar e que Deus, acima de todos e de tudo, seja louvado.

 

Bsb, 16.12.23

 

 

 

 

    O DONO DO MUNDO

 

 

 


 

                                 Murilo Moreira Veras

 

               É incrível, senhores, mas o mundo agora já tem dono. O dono do mundo chama-se Elon Musk, é cidadão de tríplice nacionalidade — sul-africano, canadense e, mais recentemente, norte-americano. Segundo a revista Forbes é o homem mais rico do mundo, com US$300 bilhões de dólares. Afirma que na infância sofreu de bulling. Já teve três esposas e diz dedicar-se a seus filhos, embora eles não se interessem por seus inúmeros negócios. E falando em negócios, Musk possui inúmeros empresas, dentro e fora dos Estados Unidos. Sua grande paixão é a robotização e a colonização de Marte — o que acredita poderá realizar esse seu sonho até o ano de 2030.

Empreendedor desde a adolescência, dentre seus negócios se acha a famosa TESLA, que é uma empresa que desenvolve o carro elétrico e à bateria, com que pretende exterminar com uso de combustível fóssil no mundo, portanto, livrando-o da dependência do carbono. Dentre outros projetos, Musk, que já foi diagnosticado com autismo, tem o propósito de ainda em vida colaborar para a robotização do mundo, isto é, através da Inteligência Artificial,  o que, a seu ver, irá transformar a vida das pessoas para melhor.

Autista ou louco, nosso mais novo dono do mundo, pretende ainda em vida levar 100 pessoas numa nave espacial, por ele fabricada, ao planeta Marte e, no futuro próximo, instalar ali uma colônia. Depois de ter adquirido o Twiter em 2022, nosso alucinado empreendedor, já tem planos marcados para se instalar no Universo, ao que tudo indica e sua riqueza monetária o permitir.

Não há negar, o dono do mundo, é muito mais ambicioso do que se pensa e pelo que tudo faz crer ele acaba de confirmar o velho ditado de que médico e de louco, todo mundo tem um pouco.

Elon Musk talvez não passe de mais sonhador. Os seus projetos, muitos deles já em curso e implantados — caso do carro elétrico — parecem manter viabilidade. A inteligência artificial e a confecção de robôs, ditos inteligentes ou humanos, não é mais um sonho, vem se aproximado cada vez da realidade. A máquina de fazer dinheiro agora também é a máquina capaz de transformar o mundo — e, via de roldão, capaz de remodelar toda a raça humana.

Adolf Hitler, com seu furor de colonizar as nações e destruir o povo judeu, em direção de um fabuloso 3º Reich aureolado pela raça pura — também sonhou com um Mundo Melhor. Sonho que se transformou numa das maiores   tragédias da humanidde.

Surge agora esse profeta da modernidade que, com seus bilhões de dólares, seus projetos extremamente arrojados, se arvora em transformar o mundo, exterminar com suas mazelas, enfim, implantar o Paraíso na Terra.  Um exército de robôs inteligentes construirão tudo para nós. Enquanto nós, seres de carne e osso, então mais osso do que carne, resfolegamos com nossos defeitos, nos deixamos viver, quem sabe, escravizados, refestelados em nossas casas, gozando das supostas delícias da automatização que nos consolidaria esse Mundo Melhor.

No que se refere a esse glamourizado Mundo Melhor preconizado por esses reformadores de plantão, como Elon Musk e tantos outros asseclas futuristas, cada vez mais fico com um protótipo do sábio Leipzig, muito mais realista e sobretudo adaptado para nosso mundo. Vem-nos à mente aquelas palavras antigas, mas luminares da boca do profeta    Eclesiastes : “Vaidade das vaidades. Tudo é vaidade”.  

Bsb, 25.05.22

 

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