O
QUARTO DE JACK
“Room”,
Canadá/Irlanda, 2016 – Direção: Lenny Abrahamson – Astros: Brie Larson, Jacob Tremblay, Joan Allen,
William H. Macy, Sean Bridges.
- Peter Saint-John
O filme caiu nas graças dos chamados críticos de plantão, que zoam nos
blogs de cinema, jornais e revistas como a Veja e outras. Dizem que se baseia
no best-seller de Emma Donoghue, escritora irlandesa, trafegando pelo Canadá e
Estados Unidos.
Minha impressão pessoal – e
posso errar que não sou adivinho, mas apenas escritor e cinéfilo de longas
datas – é que esse filme não será premiado com o Oscar deste ano. Por um
motivo, a meu ver, muito forte: é preconceituoso e impinge, embora mui
subrepticiamente, a propalada aberração
conhecida como “teoria do gênero”.
Acontece que toda a
cinematografia, americana e inglesa, está na mão do judeu – isso já vem desde a
fundação do cinema como arte. Cecil B. de
Mile era judeu e por ai vai, inclusive Charles
Chaplin, cuja mãe era judia. Basta prestar
um pouco atenção nos filmes, enredos, tais como, crime não compensa,
proclamação das virtudes, machismo versus feminismo, religião contra ou a favor
– e por ai segue. E fundamentalmente o judaismo não aceita essa mudança de sexo
na criatura humana, nascida homem, depois mudada a bel prazer para mulher ou
vice-versa.
O filme O Quarto de Jack pega
esse “gancho”, como deve tê-lo feito a autora, irlandesa, querendo meter pela goela abaixo do leitor uma
ideologia infame, que é essa “teoria do gênero”, hoje tão em voga, mas pouca
gente sabe bem de que se trata.
Tive o cuidado de auscultar
alguns dos principais críticos da moda, inclusive Rubens Edwald Filho, por sinal o primeiro que consultei. Todos
caíram no mesmo alçapão, melhor dizendo, armadilha, porque o filme faz o
espectador se enredar numa verdadera armadilha – tem enredo sibilino,
subretício, como uma espécie de veneno. Nenhum dos críticos parece ter
realmente entendido o filme, o objetivo do filme, a ideologia subreptícia que
explora. Por detrás daquele drama terrível, o cineasta, certamente apoiado na
autora, quer apenas justificar, mesmo em situação extrema, que as pessoas têm
absoluta liberdade para fazerem o que lhes derem na telha, que elas são proprietárias de si próprias, podem
decidir tudo o que quiserem, como sua vida, vontade, desejos. Por que também não
mudar de sexo?
Observemos um pouco o enredo
do filme. É bom ficar atento para as falas, são signos fundamentais para
se descobrir o “grande” segredo da narrativa. Inicia com uma moça dentro de um
quarto-cubículo onde parece morar, cuidando do minúsculo lugar, fazendo comida,
brincando com uma criança (filho). Ela chama a criança de Jack, que tem cinco anos
completos e cabelos grandes amarrados. Tudo está concentrado nessa criança que
olha para clarabóia e só vê uma nesga do céu – caverna de Platão? A mãe, que
Jack chama de Ma (diminutivo de mãe em inglês), cuida dele, dá-lhe um carrinho
para brincar (note-se que carrinho é brinquedo específico de “menino”, não “menina”).
De repente, a porta do cubículo se abre e chega um homem, que Ma chama de Old
Nick, que traz alguma coisa e logo vai para a cama com a mulher. Jack está
escondido no armário. O armário significa que a criança precisa se fechar para
não ser descoberto seu segredo – ora, o segredo escondido no armário é o sexo
da criança!
Logo se percebe que a mulher,
mãe de Jack, mãe e filho (a), são vítimas de sequestro, pois encontram-se aprisionadas ali, a porta
trancada a cadeado, embora no interior tenham TV e geladeira. O tal Old Nick, o sequestrador que, inclusive, bate nela. Mas
ela não deixa que o homem toque na criança. Até que um dia, ela resolve criar
um estratagema para fugir e usa Jack para isso. Aquece toalhas e coloca nas
faces de Jack, para fingir que está com febre alta. O brutamontes chega, ela se queixa da doença de
Jack, precisa ser medicado, mas o homem não liga, e quando retorna outra hora
ela está chorando porque a criança afinal morreu, está enrolada num tapete.
Tudo armação, e o tal Old Nick acaba saindo com o corpo enrolado no tapete. Sai
no carro, para ver onde jogar o suposto morto. Jack instruído pela mãe, se
desenrola do tapete e se joga para fora da camionete. O homem para o carro, mas
Jack corre, encontra uma pessoa, pede socorro. Atrapalhado e receioso, Old Nick
foge no carro, deixando Jack na rua. A polícia é acionada e acode a criança,
que, depois de algumas perguntas, consegue dá pistas à policial. Enfim, o
esconderijo é descoberto, a mulher é libertada, volta para sua casa, depois de
sete anos de sequestro.
É claro que o filme, assim
como o livro, segue outros sequestros acontecidos, o último que se tem notícia
nos Estados Unidos. A película tem a segunda parte, que os críticos dizem ser
sua reviravolta, quando a moça, já na casa dos pais, tenta enfrentar a nova
realidade, com Jack. Certa manhã, mãe e Jack acordam em leitos de hospital, a
criança com máscara, embora saudável, corre para a janela para ver o espetáculo
lá fora. Logo aparece um médico que mantém um diálogo com a mãe, pergunta se
está decidida – que decisão seria essa, uma cirurgia em quem, em Jack? Atenção para o que Jack diz, no momento: “Vou
ser de plástico?”.
Em casa, o avô legítimo não aceita a criança, fruto de um
estrupador. A avó de Jack não se entende com a filha, que não diz mais coisa
com coisa. Traumatizada ainda ou arrependida? Acaba tentando o suicídio, Jack
acode a mãe na banheira. Observemos agora duas deixas do cineasta: a primeira é
Jack andando com dificuldade, como quem está convalescendo; segunda: Jack pede
à avó que corte o seu cabelo, vai presenteá-lo à mãe – “é minha força que dou a ela...” ele diz. Que força é essa? Ora, é
seu ego feminino que acaba de perder, confirmando decisão da mãe de transformar
a criança que era biologicamente menina, em menino.
O filme termina com Jack,
depois de jogar bola com outro garoto, enaquanto a mãe espia satisfeita na
janela. Depois, a pedido de Jack eles vão ver o esconderijo onde os dois
viveram todos esses seis ou sete anos. Como se Jack estivesse se despedindo de
sua verdadeira identidade – menina.
Pode se verificar que o filme
é nada menos que uma espécie de justificativa da “mudança de sexo, no gênero humano”, objeto dessa teoria indigna e
desprovida de qualquer fundamento biológico, psicológico ou sociológico – e o
que é mais repugnante: contraria todos os preceitos morais e cristãos a que
todo ser humano é submetido, diferenciando-o da barbárie.
Atribuímos três
estrelas ao filme pela performances dos atores, mãe e Jack, com essa
ressalva de que seu desenrolar agride a sociedade, quiçá toda a humanidade (PSJ).
- Cinéfilo, crítico de cinema, americano naturalizado brasileiro
HORAS DECISIVAS
“The Fineste Hours” – EUA,
2016 – Produção Disney – Diretor: Craig Gillespie – Astros: Chris Pine, Casey Affleck, Bem Foster,
Holliday Graenger
Os críticos oficiais –
cada vez entendendo menos dos filmes que
criticam – acharam o filme previsível, à moda antiga, os efeitos especiais
apenas para tornar mais emocionante a narrativa e de alguma forma segurar a
curiosidade do espectador. Pode ser que a película de Gillespie ofereça esses
aspectos. Afinal, todo bom cineasta tem por objetivo agradar o cinéfilo, jogar
com efeitos especiais utilizando a tecnologia de hoje. Mas nunca será um
“craque” no metier, se seu trabalho não for além, não produzir efeitos
exegéticos que prendam o espectador.
E isto que ocorre precisamente em Horas Decisivas. É
previsível, o mar tempestuoso é horripilante. Enfrentar uma tempestade em alto
mar não é brincadeira, ainda mais num navio partido à deriva ou uma lancha sem
proteção, vencendo ondas gigantescas. E ai, aliás,
onde residem os pecadilhos do filme: um navio despedaçado, uma das partes à
deriva nas ondas e uma pequena lancha costeira, furando as ondas, como se fosse
um submarinos – é algo quase inconcebível.
Mas o filme baseia-se em fatos reais. Realmente aconteceu o
fato, em 1952. Avisada que um navio despedaçado encontrava-se à deriva no meio
do oceano, com sobreviventes, a guarda costeira tinha de agir. E o fez,
enviando um oficial, supostamente acostumado: o capitão Bernie Webber (Pine).
Horas Decisivas não é só a história bem sucedida do
salvamento, em circunstâncias dramáticas, de mais de 30 homens. Isso é coisa de
heroísmo, que, por vezes, os seres humanos se arrogam fazer, ao lado de tantos
atos de covardia e insanidade. O heroísmo também tem um motivo seu “tour de
force”.
O filme tem outra explicação simbólica. Ao lado do heroísmo
de Webber e do maquinista de navio Ray (Affleck), fatos e emoções impulsionaram
ambos. O maquinista que soube valer-se mais da intuição ao desobedecer o capitão e fazer que o navio
encalhasse num banco de areia, única tábua de salvação para aquela terrível
circunstância. Capitão Webber por aceitar se casar com a noiva, a pedido dela e
não partindo dele, o macho. Miriam, a noiva (Grainger) exerce seu poder
feminista, sua audácia para submeter o machismo a seu capricho, não capricho em
vão, mas honesto, civilizadamente cortês.
E ela foi mais: enfrentou as ordens violentas, a comunidade dos homens, para
desafiar o Comandante e pedir pelo retorno do noivo que foi mandado para uma
ação quase suicida. Depois, parte dela a ação de acender as luzes de seu
automóvel à beira da praia, para sinalizar a embarcação de Webber, que se
achava perdida, sem bússola. E todos os carros se enfileraram como o dela, as
luzes sinalizando para a praia e o mar tenebroso.
Ai está o equilíbrio perfeito entre o feminismo e o
machismo, quando perfeitamente equalizados, respeitando-se ambos, dentro dos
seus próprios limites.
Portanto, é um filme interessante, emocionante, com homens
de fibra, coisa que, hoje, está em falta e como!
Atribuímos quatro estrelas ao filme, qualquer pessoa pode
assisti-lo por não trazer cenas impróprias ou inadequadas (EC).
BROOKLYN
FILHO DE SAUL
O REGRESSO
O MANTO
SAGRADO
NO CORAÇÃO DO MAR
ALIANÇA DO
CRIME
A
ILHA DO MILHARAL
“Sigminds kundzuli” – Georgia, França, Casquistão,
Alemanha, Rep.Techeca, 2015 – Direção: George
Onashvili – Elenco: Ilyas Salman, Mariam Buturishivili, Iraqkli
Samushia.
PONTE DOS ESPIÕES
TERRA
DE MARIA
“Tierra de Maria “ Esp.2015 –
Direção: Juan Manuel Cotelo – Carm Losa,
Juan Manuel Cotelo, Emilio Ruiz, Luis Roig, Lucia Ros,Elena Sanches, Cristina Ruikz,
Ruben Fraile,Clara Coleto
È um documentário espanhol produzido pelo
INFINITO MÁS UNO, sob a direção de Juan Manuel Cotelo. O filme está obtendo
retumbante sucesso, na Polônia, Estados Unidos, México e até na China.
PERDIDO
EM MARTE
por Peter Saint-John
A
DAMA DOURADA
Filme baseado em fatos verídicos.
Trata-se de pessoa comum que enfrenta um Estado, através dos tribunais. É o
caso narrado pelo cineasta Simon Curtis. Maria Altmann (Mirren), depois de 35
anos resolve enfrentar o Estado da Áustria, a fim de recuperar quadro pintado
por Gustav Klint, retratando sua tia Adele Bloc-Bauer, que fora roubado pelos
nazistas na 2ª Grande Guerra, quando invadiram esse país.
ENQUANTO SOMOS JOVENS
“While we’re youngs” EUA, 2014 –
Direção: Noah Baumbach – Elenco:
Bem Stiller, Naomi Walls, Adam Driver, Amanda Seyfried
SOB O MESMO CÉU
MAPA PARA AS ESTRELAS
Maps
to the Stars”, EUA, 2014 – Direção: David Cronenberg – Astros: Julianne Moore, John Cusack, Oliva
Williams, Roberto Pattinso, Mia Wasikoska, Evan Bird.
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Alguns comentarista assinalaram – com muita dose de razão, por sinal – que este último filme de David Cronenberg mais parece delírios de David Lynch em seu “Twin Peaks” (1992).
Dr. Stafford Weiss (Cusack) é um guru de autoajuda e sua mulher Christina (Williams) administram a carreira do filho Benjiie (Bird), mas sombras do passado acossam a família com o aparecimento repentino de Agatha (Wasikoska), que é contratada por uma estrela decadente Havana (Moore). Havana luta para obter o papel principal de filme sobre sua mãe, já falecida.
Na realidade trata-se sem dúvida de filme de categoria B ou C, repleto de pastiches, cenas de outras películas. Cronenberg, assim como outros cineastas com ele alinhados – uns mais outros menos, mas sempre usando o massacre como instrumento de trabalho – não precisa ser cinéfilo para concluir que ele abusa do método cinematográfico, empurrando para nós, espectadores, todos os preconceitos do mundo. Assim sendo não é de admirar que nesta película ele nos impinja esse horror. Também o fizeram Van Thier, Quentin Quarentino e outros: o objetivo de todos eles é simplesmente escandalizar a plateia, o pobre do frequentador, que tem de aturar tais idiossincrasias.
Segundo ouve-se nos bastidores da crítica cinéfila, Cronenberg quer neste filme atacar Hollywood, a meca do cinema. Diríamos até mais: ele parece não só arrasar com a indústria cinematográfica, mas denegrir os atores e atrizes. É um acinte, do ponto de vista do espectador, por exemplo, aquela cena de um dos últimos filmes de Von Thier, “Melancolia”, em que Kirsten Dunst, atriz não só linda mas retraída, aparece escandalosamente desnuda durante longo tempo. Pois não é menos escandaloso, e nesse caso até infamante, neste “Mapa para as Estrelas”, Julianne Moore, bela atriz com seus mais de cinquenta anos, fazer uma cena como a do filme, sentada no vaso sanitário, peidando e depois se limpando.
Por outro lado, não se sabe como uma atriz como Julianne Moore, que arrebatou, merecidamente, o Oscar 2015, se rebaixe a tal ponto. Fez por dinheiro? Em amor à arte? Mas que arte é essa?
O filme é terrível, tem cenas repugnantes, como essa feita por Julianne. Os atores todos parecem enlouquecidos, fazendo personagens sádicas, isso sem falar que sua trama – o plot que se constitui a espinha dorsal da narrativa – é inteiramente sádico, antiético e até imoral. Cusack é casado com a irmã, portanto, pratica o incesto; Christine, a mulher, transa fora do suposto casamento; Havana, a personagem de Julianne, é completamente louca, faz qualquer coisa para obter o papel do filme que está sendo planejado e transa com qualquer um, inclusive com o chofer que a conduz, o Fontana (Pattinson), e dentro do carro; a filha do casal Weiss, Agatha (Wasikoska) devido ter sofrido um acidente e ter o corpo todo queimado, torna-se (o filme não explica bem); uma delinquente e num ataque de fúria assassina Havana a pauladas (violentos golpes de um quebra-luz); seu irmão, Benjiie (Bird) com apenas 13 anos já é ator, mas faz tratamento de drogado e numa crise violenta acaba matando um garoto do elenco, seu companheiro de filmagem.
E o final – para encerrar com “chave de ouro”, mas de forma infernal – Benjiie e Agatha fazem um pacto de morte, os dois se prometem casar, irmão com irmã, como os pais já tinham feito. É de arrasar qualquer ser humano decente.
Atribuímos, a duras penas, duas estrelas, totalmente impróprio para menores de 18 anos (MMV).
GOLPE DUPLO
Nicky (Smith) é uma espécie de
trapaceiro profissional. Aplica pequenos golpes e possui uma quadrilha que o
ajuda. Conhece outra golpista, por quem cai de amores, a Jess (Robbie) que usa
sua beleza para conquistá-lo. Depois de alguns contratempos, ele é contratado
pelo namorado de Jess, Garrida (Santoro) para praticar um golpe numa corrida
automobilística. Drama de humor, romance, ação e suspense. Todos são vilões,
tendo sido rodado em Buenos Aires, New Orleans, Nova York e Las Vegas.
GAROTA EXEMPLAR
PARA SEMPRE ALICE
INTERESTELAR
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BROOKLYN
“Brooklyn”, EUA, 2015 –
Direção: John Crowley – Astros: Saiorse Ronan, Domhall Gleason, Jim Broadbent,
Eileen O´Higgins, Julie Waters, Emily Belt Richards, Samantha Munro, Jessica
Paré
Edu
Castanheira
Saiorse Ronan foi
indicada pelo Globo de Ouro como melhor atris. A moça tem apenas 21 anos e fez
filmes como “Desejo e Reparação”, “Hanna”,
O Grande Hotel de Budabest”, “Um Olhjar do Paraíso”, “Caminho da Liberdade” e “A
Hospedeira”. Rubens Ewald Filho acha-a “... inexpressiva e sem graça..” Tem
sido muito elogiada pela imprensa estrangeira.
O filme narra uma história banal ocorrida nos anos de 1950,
baseada no livro homônimo de Tolby Colm, que diz ter-se influenciado em fato
verídico de uma moça irlandesa que veio para Nova York, assim como, também, em
Jane Austen. Ellis (Ronan) é de uma cidadezinha irlandesa que morava com a mãe
e a irmã Rose, o pai falecido e elas vivendo com dificuldade. Ellis, sempre
gostando de números, trabalha num escritório de contabilidade e Rose, sua irmã,
apesar de clásse média, frequenta o melhor clube da cidade, onde é muito benquista,
por ser bonita e gentil. Ellis não é como a irmã, é retraída. Mas Rose, com sua
influência, consegue para a irmã um empego nada menos que em Nova York, na
América, graças a um padre irlandês naquela capital americana que intermedia
essas viagens, beneficiando irlandeses. Ellis embarca em navio e aporta à
metrópole – e curioso como ela não sofre quelaquer restrição, sabe exatamente
onde deve ficar, sai carregando sua própria maleta. Tudo certinho, sem qualquer
problema. Isto em se tratando de uma moça que se transporta praticamente de uma
cultura para outra.
Sem qualquer problema, Ellis vai trabalhar num magazin de
luxo, sofre alguns senões com adaptar-se, ela é retraída, tem de ser mais
amistosa com os fregueses, mas nada que a atrapalhe sua vida. Na pensão de
moças, dirigida por uma madame irlandesa mão de ferro, adapta-se bem,
distingue-se das supostas sirigaitas com as quais convive. Tudo na santa paz de
Nosso Senhor. Católica, vai aos bailes que o Padre administra na paróquia, de
certo para arranjar rapazes para as moças, além de diverti-las. Logo se dá
Tony, que não é irlandês, mas italiano, torna-se sua namorada, vai conhecer sua
família, fica mais solta, vai à praia com ele, mas nada, nada mais que isso.
Tony se apaixona por ela, pede-a em casamento, apesar de ele ser um simples
carpinteiro, como seus irmãos. Ellis a essa altura já se adaptou bem à América,
faz curso contabilidade com louvor. Um dia, ao saber repentinamente da morte de
sua irmã Rose na Irlanda, se desespera e eis que quem a consola é o namorado
Tony, então, infeliz, acabe se entregando ao rapaz dentro do quarto da pensão. “Apenas
não façamos ruídos” – pede ela ao fogoso namorado.
Com a morte da irmã, Ellis tem de voltar à sua cidade para
ajudar a mãe solitária. Mas, antes, se casa com Tony, num cartório, sem festas
nem ruídos. O filme é omisso onde o casal vai viver, parece que vivem
separados.
De volta à sua cidade de origem, Ellis é recebida como uma
foragida americana, todos a bajulam, até os rapazes gostosões que frequentam o
clube, com um deles acaba flertando. E agora, o que fazer? O rapaz a pede em
casamento, é bonitão, família rica, todos fazem o maior gosto. Seria uma
belíssima saída para uma moça apenas arremediada como ela. Mas Ellis acaba
decidindo retornar para Tony – esse parece ser seu verdadeiro destino.
Como se percebe, é a história dos imigrantes, todos os imigrantes
que se deslocam por razões pessoais ou impostas pelas contingências. A nostalgia da pátria distante, os atropelos,
para alguns abomináveis, se dando muito mal. Mas não é o caso da moça, as
coisas são muito certinhas para ela – santa Ellis, na terra do rocking-roll, do
glamour do cinema, da liberdade, do dinheiro e da perdição.
Edwald Filho tem razão: não é Saiorse que é absolutamente
sem graça, é o próprio filme cujo enredo é mediocrizado pela falta de um certo
toque de genialidade do cineasta ao narrar essa história. Três estrelas apenas
e não acredito que a moça obtenha o Oscar (EC)
FILHO DE SAUL
“Saul Fia”, Hungria,2015 –
Direção: László Nemes – Astros: Géza Röhrig.
A comentarista da Veja, Isabela Boscov (Veja,10.2.16)
declara enfaticamente que o diretor do filme é “... favorito disparado ao Oscar de produção estrangeira...” Não sei em que se apoia para fazer tal afirmação. O sr. László Nemes
nos apresenta um filme horripilante, como a por para fora alguma maldição. Será
que ele quer exorcizar algum parente vítima exterminado no diabólico
holocaustro?
Ocorre que essas estórias do holocaustro – que não são poucas
– apesar de sabermos que baseadas naqueles monstruosos fatos efetuados pelo
nazismo, à frente a figura ignóbil e satânica de Afolf Hitler, de tão
horripilantes ninguém mais quer lembrar ou relembrar. O holocaustro, sim,
houve. Os nazistas, também, eram comandados por um louco. Temos multidão de
registros, relatos de sobreviventes, cada qual o mais macabro. Até hoje as
edições do celébre diário de Ana Frank abarrotam as livrarias, está sempre
entre os livros mais vendidos.
Confesso que só assisti o filme até o final, na esperança de
que o suposto “herói”, Saul, de alguma forma viesse a se salvar daquele inferno
em que vivera. Infelizmente, nem isso o cineasta de Filho de Saul ousa fazer. O resultado: massacra o pobre do
espectador, inclusive desavisado como o autor desta crítica.
Dizem alguns críticos que é um filme “cult”, o diretor adota
técnica realista, tem o formato quadrado – e sabe-se outros quejandos que em
nada nos retira a sensação de que estamos assistindo um cenário das atividades do Inferno, aquele mesmo
descrito de maneira terrível na odisséia de Dante. Pode ser, acredito
que seja – mas absolutamente não traz nenhum benefício ao pobre do espectador.
Ao contrário, acha o filme ABOMINÁVEL.
Ora, a sra. Isabel Boscow em sua crítica fala da Alma Morta,
ou seja, o nosso infeliz Saul transita naquele inferno como se estívesse morto.
Seria isto o que ocorreu com o judeu massacrado pelo preconceito de Hitler? Por
que aceitaram o holocaustro como um “castigo”? Não se tem certeza, mas hoje
ninguém se atreve a mexer com um dedo sequer num judeu: receberá a paga
imenditamente. Haja vista aquela guerra dos sete dias entre o Egito e Israel:
os judeus praticamene aniquilaram os inimigos numa semana!
Por tudo isto e muito mais coisas que seria até ocioso
enumerar, acho difícil que esse filme receba
o Oscar de melhor estrangeiro – só se não tiver fita mais assistível. E,
principalmente, que não massacre o espectador com atos infames, como você ter
de olhar aquela multidão de gente despida, mulheres, homens e crianças,
empurradas para os fornos nazistas e os carrascos risonhamente dizerem que eles
iriam apenas “tomar um banho de duca pra depois tomarem um chá”.
Duas estrelas é o que atribuimos ao filme, na esperança de
que jamais assistir coisa parecida. Haja coração e estômago (MMV)
.
O REGRESSO
“The
Revenat”, EUA, 2016 – Diretor: Alejandro Gonzalez Iñarritu – Astros: Leonarrdo
DiCaprio, Domhnal Gleeson, Forest Goodluck.
*Peter Sain-Jonh
É no momento o filme mais apontado
pelos críticos de cinema como ganhador do Oscar/2016, notadamente o ator
principal Leonardo DiCaprio. Iñarritu é um espcialista em fazer filmes
extremamente realistas, com brutalidade mesmo. Este, portanto, não é exceção.
Ocorre que o cineasta recorre a cenas onde se exploram a natureza, o céu, o
rio, as árvores, a mudança das estações. Com esse ardil, ele consegue fazer um
filme quase poético, não fosse a violência de seu enredo.
É a história de
caçadores de urso e venda de peles desses animais, extremamente selvagens e
capazes de estraçalhar uma pessoa. Hugh Glass (DiCaprio) é um destes caçadores
e parece ser também o guia dessa perigosa caçada ao longo do rio Mississipi, no
Estado de Dakota do Sul, nos Estados Unidos. A ação é passada no século XIX, os
colonos americanos ainda às turras com os índios da tribo dos Akikara, que
povoavam aquelas áreas. Os caçadores – homens geralmente acostumados ao perigo
e à aventura, embrutecidos pela profissão – são comandados pelo capitão Andrew
Henry (Gleeson). Como Glass parece ser conhecido da tribo dos Pawnee, pois ele
anda com seu filho gerado por uma índia dessa tribo. O acampamento dos
caçadores é atacado pelos Akikara, que querem pilhar as peles dos caçadores,
para vendê-las aos aventureiros franceses que também rodeiam por ali e com os
quais fazem negócios, trocando peles por armas. As cenas são brutais, homens
sendo flexados e índios mortos à bala. Acabam fugindo pelo rio, mas por não ser
seguro acampam noutro lugar.
Uma manhã Glass
sai para caçar, quando é atacado por uma ursa, que defende seus filhotes. Ele
praticamente é estraçalhado pela sanha furiosa do animal, mas consegue
sobreviver. Para os caçadores agora é um problema, pois terão de carregar o
sobrevivente Glass, o que logo acham ser impossível cotntinuar a estafante
jornada de regresso ao forte onde têm sua força-tarefa. Então o capitão manda
que dois homens tomem conta de Glass, pois não têm esperança de que sobreviva
aos ferimentos. Um deles é Fitzgerald com outro companheiro, além do filho
indiano de Glass. Fitzgerald acaba convencendo o colega que não vale a pena
ficar esperando Glass morrer e acabam fugindo, deixando Glass semimorto, quase
enterrado vivo. Antes, Fitzgerald mata o filho de Glass.
Essa estranha
narrativa tem quatro versões, a última de Michael Punki (2002), na qual se
baseou Iñrritur para fazer seu filme, em pareceria com Mark L. Smith, especialista
em filmes de terror. Foi filmado no Canadá e na Argentina.
DiCaprio vive
esse personagem que regressa ao forte com intenção de se vingar, sobretudo pela
morte de seu filho. Passa por tudo quanto é dificuldade, sofre fome e sede, cai
de um precipío, é levado por uma enorme cachoeira, dorme dentro de barriga de
um cavalo morto e outras inúmeras desgraças. Quando finalmente consegue chegar
ao forte e vai ser tratado pelo médico, resolve acompanhar o capitão na
capitura do fugitivo Fitzgerald, agora ladrão e assassino. Glass encontra-se
com o fugitivo, lutam, a martelo e faca, os dois acabam morrendo e assim Glass
se vinga, enquanto um bando de índios passam por ele agonizante e não o
socorrem.
O fime tem sido
muito elogiado, cenário, fotografia, trilha sonora, interpretação dos atores.
Em termos de exegese do filme, o regresso pode significar a
humanização do ser humano, após seu período de barbárie, humanização que passa
pela aferição religiosa, a igreja em ruina, mas mesmo assim premunitória à
salvação. O ser humano se redime pelo sofrimento e assim pode superar suas
dores, sempre prevalente a vontade viver.
O filme merece
realmente ser indicado para o Oscar pelas qualidades extraordinárias que o
torna quase uma narrativa poética. DiCaprio, apesar de sua falta de
amadurecimento, se sai bem, certamente devido ao esforço do cineasta – aquele
mesmo esforço que o diretor George Stevens
fez com Alan Ladd para representar com êxito o papel do cowboy complexado, na
sua obra-prima “Shane” de 1953. Atribuimos ao filme quatro estrelas e talvez o
ainda imaturo DiCaprio obtenha o prêmio por isso. (PSJ).
AS SUFRAGISTAS
“Sufragettes”, Ingl. 2015 - Direção: Sarah Grovon – Astros: Merryl
Streep, Carey Mulligan, Anne Marie Duff, Helena Bonham Cartr, Bem Whisham,
Romola Garai, Samuel West, Brendan Gleeson, Adrian Schiller, Natalie Press
A
crítica especializada não gostou do filme dirigido por Sarah Grovon. Rubens
Ewald Filho comentou em seu blog: “Não podiam ter pensado em pior título, menos
comercial de que este “As Sufragistas”, uma expressão que é pouco usada e nada
atraente.” Para ele, o filme não deu certo, não rendeu mais do que 4,3 milhões
na América e 11 milhões no exterior.
Ora, penso que 15, 3 milhões para uma renda de filme
já é uma grande coisa. Acreditamos que é o roteiro que não ajuda, pois a
película não empolga. Streep, que sempre costuma alanvacar os filmes em que
participa, faz apenas uma ponta como Emmeline Pankhurst, enquanto Carey Mulligan,
que faz o papel principal, não tem elan, parece forçada. Segundo Ewald “...
Carey Mulligan é uma Sally Field piorada com cara de cachorro triste e em
nenhum momento tem garra ou presença para segurar o filme.”
Não é que seja uma má fita. Afinal é narrativa baseada
em fatos reais. Enfoca o movimento
feminista no Reino Unido, cuja lider, em 1913, era uma senhora chamada Emmeline
Pankhurst, que fazia comícios e viajava clandestinamene dando palestras e
incentivando a rebeldia das mulheres, na luta em favor de seus direitos, à
época, não reconhecidos. O filme Grovon trata sobre este episódio.
As mulheres londrinas foram combatidas, muitas presas,
trabalhavam como escravas, sem perspectiva de mudança. Até se rebelarem e logo
o movimento se expandiu no mundo todo. A palavra “feminismo e feminista” teria
sido inventada por Charles Fourier, socialista utópico francês, em 1837.
Feminismo aparece pela primeira vez na França e nos Países Baixos em 1872 e no
Reino Unido na década de 1890, enquanto nos Estados Unidos somente em 1910. Na
Inglaterra eram conhecidas como “suffragettes” ou sufragistas, faziam campanha
pelo sufrágio feminino. Em 1918, o “Representation
of the People Act” foi aprovado, concedendo o direito do voto às mulheres
acima de 30 anos, extensivo em 1928 a todas as mulheres acima de 25 anos.
A propósito do voto feminino, surpreende-nos a
informação de que a Suiça, de nível cultural altíssimo, como é sabido, só
permitiu o voto feminino em 1971 e no cantão de “Appenzell Interior”, só em
1991, quando forçado pelo Supremo Tribunal da Suiça.
Pelo menos o filme tem essa qualidade, de rever em
parte o movimento da rebeldia feminina. Atribuimos três estrelas por isso. (PSJ)
O MANTO
SAGRADO
“The Robe”, EUA, 1953 –
Direção: Henry Koster – Astros: Richard Burton, Jean Simmons, Victor Mature,
Michael Rennie, Ray Robinson, Dean Jagger, Richard Boone, Jeff Morrow, Ernest
Thesiger
“ Manto Sagrado”, filme de 1953, teve grande sucesso nas telas. Foi a
época de outros sucessos, no rastro das faraônicas películas de Cecil B. deMille,
como “Dez Mandamentos” e outras. O
enredo não parece de forma alguma plausível, como, por exemplo, foi “Spartacus”, de 1970, estrelando Kirk
Douglas, que se baseou em fatos históricos, ou seja, houve realmente uma
rebelião comandada por um escravo que ousou desafiar o poderoso império romano.
Outro na mesma linha, mas bem antes, em 1932, foi “O Sinal da Cruz”, direção de
B.deMille, com Fredric March. Todos esses filmes praticamente tratam do
cristianismo, de seu início, quando seus adeptos, os cristãos, foram
perseguidos e mortos, crucificados ou entregues a leões famintos, em Roma.
Trata-se de uma história inteiramente implausível, feita
apenas para emocionar o público, narrando o que aconteceu com o manto de Jesus
Cristo, depois de sua crucificação na Palestina. Hoje esse dito manto é objeto
de outra história também motivo de polêmica
–o Santo Sudário, que teria sobrevivido até nossos dias, guardado a sete chaves
no Vaticano. Geralmente são filmes que sempre são levados pelos canais de TV em
fim de ano ou em período de Semana Santa.
Estamos nos últimos dias de Tiberio Graco como Imperador
romano. O Império ainda exerce dominio sobre o mundo conhecido. Marcellus Graco
(Burton) é um tribuno romano que se dedica a mulheres e ao jogo. Acontece que
acaba de comprar, em leilão público, o escravo grego chamado Demétrius
(Mature), pela absurda quantia de 3.000 moedas de ouro, em disputa com Calígula
(Robinson), sucessor de Tibério no império, disputa que acaba vencendo.
Calígula considera o feito do tribuno uma desfeita à sua pessoa e manda que o
cinturião seja transferido imediatamente para a Palestina, o pior lugar do
Império. Marcello que é a paixão de Diana, que vive sob a tutela de Caligula,
tem de se separar dela. Mas, por motivos políticos, é chamado a Roma. Pilatos
(Boone) a quem está sujeito, antes de partir, dá-lhe o encargo oficial de
supervisionar o suplício e a crucificação de Jesús Cristo. Findo a tarefa, sem
escrúpulos, os soldados e o próprio centurião que os chefia, apostam quem fica
com o manto do mártir, que acaba de dar o último suspiro. Marcellus ganha e
fica com o manto, que dá para Demetrius, seu criado, guardar. O tribuno não
gosta do manto, acha que está enfeitiçado, no momento em que o toma, fica
imediatamento desorientado. Seu servo, Demetrius, que já se convertera ao
cristianismo nascente, imputa seu patrão de ter crucificado Jesus, resolve
fugir com o manto. De volta a Roma, Marcellus é chamado a prestar conta a
Tibério sobre sua ação na Palestina, mas o tribuno não está bem, todos acham
que perdeu a razão e que a causa é o tal manto do Rabino recém-crucificado.
Então Tibério dá-lhe a tarefa de procurar o servo e distruir o tal manto
enfeitiçado. O tribuno retorna a Palestina e acaba se encontrando com Pedro
(Renny) e os Apóstulos, e, depois, se convertendo.
Agora toda a Roma procura pelo tribuno convertido à nova
seita, que Calígula, feito o novo Imperador,
começa a perseguir, principalmente a pessoa de Marcellus. Depois de
algumas peripécias, em que Marcellus consegue libertar Demetrius, ele acaba
sendo preso. Calígula então invoca o Senado para julgar Marcellus como traidor
do império e os senadores aprovam, condenando-o a morte. Ocorre que Diana
(Simmons) que ama Marcellus, na hora do julgamento, desanca Calígula e se diz
também cristã, acompanhando seu amado. O final do filme: ois dois, Marcellus e
Diana, deixam o Senado, com todo o povo olhando curioso. Talvez sejam, ambos,
trucidados pelos leões famintos – é o destino dos primeiros cristãos. Aliás,
esclareça-se ser esse também o final de “O Sinal da Cruz”, de Cecil B.deMille.
São muitos os absurdos, sobretudo as incongruências
históricas. Tibério Graco era cônsul e viveu entre 163 a.C e 133 a.C, portanto,
morreu aos 30 anos, mais de cem anos antes de Jesus Cristo. A história do manto
é quase ridícula, o próprio enredo infantil, sem falar nas péssimas atuações de
Richard Burton e de Victor Mature, este mais parecendo um boneco careteiro.
Talvez a única que se salva seja mesmo Jean Simmons, sempre muito bonita e
correta no seu papel. Apenas uma curiosidade: quase todos os atores são
falecidos – Burton, com 58 anos; Simmons, 81; Mature, 86; Boone, 63 e Rennie,
62.
Mesmo assim, ainda é um filme que prende nossa atenção.
Atribuimos quatro estrelas, pela performance de Jean Simmons, atriz de grandes
sucessos (MMV).
NO CORAÇÃO DO MAR
“In the
Haert of the Sea”, EUA, 2015 -
Direção: Ron Howard - Atores: Chris
Hemsworth, Benjamin Walker, Cillian Murphy, Bem Whishaw, Tom Holland, Brendan
Gleeson, Charlotte Riley, Frank Dillane
Peter Saint-John
O filme dirigido por Ron Howard “No
Coração do Mar”, infelizmente nada tem a ver com a considerada obra-prima da
literatura americana, “Moby Dick”, de Herman Melville. Então já começa
enganando o cinéfilo, ao trocar uma coisa pela outra.
Colhamos
algumas informações sobre este fato, porque o filme não é sobre o livro de
Melville, mas sobre “os fatos em que o autor se baseou para fazer sua ficção”.
Acontece que “a imitação muitas vezes sai pior que o original”– e parece que é isto
o que ocorre com esse filme de Rom Howard.
A versão
verdadeira foi a do filme dirigido por John
Huston em 1956, com Gregory Peck no papel do Capitão Ahab. Em 1998, Francis Ford Copolla produziu uma minissérie
para TV, com Patrick Stuart.
Dizem alguns
críticos que esta versão está anos luz da de Huston. Primeiro porque nesta, o
centro da história é o Cap. Ahab, enquanto na versão de Howard é o contramestre
Owen Chase (Hemsworth), o que certamente torna a coisa completamente diferente.
Herman Melville (1819-1891) contou em seu famoso livro uma saga, que foi a luta
entre o Cap. Ahab e uma baleia branca, assassina cuja fama espalhava-se pelos
meios marítimos à época. Ahab, em suas viagens como baleeiro, enfrenta certa
vez a “baleia assassina”, na verdade um “cachalote” de proporções gigantescas.
Na ficção, o barco de Ahab é afundado pelo violento animal marinho e perde toda
sua tripulação. Moby Dick, personifica o próprio demônio e torna-se uma espécie
de defensor do próprio mar, tendo como
protetor o terrível deus Netuno. No livro, Melville conta o horror que era a
pesca da baleia, em alto mar, um empreendimento perigoso, mas necessário à
época, por causa do óleo dela extraído e utilizado nas cidades, porque não
havia eletricidade ainda, tampouco tinha sido descoberto o petróleo. Há cenas
também de canibalismo, os náufragos que, para sobreviverem, tiveram que
executar seus companheiros – alusão ao “paroxismo do apetite humano”, que
caçava baleias, mas também era capaz de sacrificar seus próprios parceiros.
Tirante, pois,
esse fato de que o filme narra os fatos aproveitados para a ficção e não a
ficção em si de Melville, a película
perde seu “tour-de-force”, passando a ser apenas uma história sobre a pesca da
baleia e suas desventuras em turbulentos mares. As cenas são emocionantes em
terceira dimensão, mas o enredo, o cerne da questão, fica diminuído e estreito,
não tem a dimensão de uma saga humana, história de vingança, como é o livro de
Melville. Pois o autor vai muito além de uma simples aventura enfrentando o mar
tenebroso e um monstro marinho. É a luta do bem contra o mal, embora invertida,
porque significa a selvageria do próprio ser humano contra a fúria implacável
da natureza. Observe-se que esta história do Cap. Ahab tem muito a ver com o
livro de Ernest Hemingway “O Homem e o Mar”, Spencer Tracy no papel principal.
Pelas cenas
emocionantes e o trato minucioso na caraterização da narrativa, atribuímos quatro
estrelas ao filme de Howard, na realidade aquém de nossas expectativas,
proibido a menores de 14 anos (PSJ).
“Black
Mass”, EUA, 2015 - Direção:
Scott Cooper – Astros: Johnny Depp, Joel Edgertpm. Benedict Cumberbatch, Dalpta
Kpmspm. Kevin Bacon, Jesse Plemons, Peter Sarsgaard, Corey Stoll
Johnny Depp é ator dos mais conhecidos,
desde sua estreia no papel de “Mão de Tesoura”, quase um clássico no gênero
terror romântico. Tem uma lista já bem razoável de atuação em Hollywood, sendo
os mais recentes os filmes “Mortdecai – A Arte da Trapaça”, “Transcendence – A
Revolução”, “O Cavaleiro Solitário" , “Diário de um Jornalista bêbado” e “Sweeney
Todd – O Barbeiro Demoniáco da Ra Fleet
(2007)”, este último que lhe valeu a única indicação ao Óscar de sua carreira.
Renato
Hermsdorff, crítico do blog ADORO CINEMA considera esta “a melhor atuação da
carreira de Johnny Depp desde o filme "Sweeney Todd”.
Para entrar na
pele do gangster Whitey Bulger de Boston, nos anos 1970, Depp teve de fazer uma
caracterização, porque o personagem era muito feio: fez aplique capilar, seus
dentes foram manchados e teve de usar de lentes de contato, com olhos azulados.
Ele tem voz mansa, mas o olhar duro de fazer tremer qualquer um. É um sujeito
extremamente violento – e o foram todos esses contraventores e mafiosos, nos
Estados Unidos e em todo o mundo. Há a cena em que ele diz ao filho que pode
bater nos seus desafetos, contanto que ninguém veja. De outra feita, em jantar
em casa de seu amigo da FBI, John Connally ao ver que a esposa deste, Marienne,
não estar presente à mesa, que se diz doente, mas na realidade não quer
comparecer, porque não apoia o marido, Jimmy (seu apelido) vai ao quarto dela e
dá uma demonstração de violência psicológica, de arrepiar. Na mesma cena,
porque o outro comparsa, também do FBI, Morris, lhe passa gratuitamente certa
receita de família, duvida de sua fidelidade, depois diz estar brincando. O
gangster é um assassino frio, já tendo praticado mais de 11 mortes. Lembra-nos
Richard Widmark na cena do filme “O Beijo da Morte” (1947), em que o criminoso
(Widmark) empurra escada a baixo um cadeirante.
O filme é
narrado em “flasback” através de comparsas de Jimmy. Baseia-se em livro
homônimo de Dick Lehr e Gerald O’Neill. Tem irmão senador, Bill Bulger, que, de
certo modo, protege o irmão, que cumpre pena condicional, egresso inclusive da
prisão de Alcatraz.
Ele atua no
submundo de Boston nos anos de 1970/80. Connally foi seu companheiro de
infância, agora agente da BFI, interessado em crescer e ganhar postos na
entidade, faz um acordo com Jimmy para que seja informante e assim a polícia
consiga desbaratar quadrilha da máfia italiana. Na realidade, é uma maneira do
criminoso se livrar de seus próprios desafetos no crime. O filme tem um elenco
de atores famosos: Kevin Bacon, Dakota Johnson, Croy Stoll, Peter Sarsgaard,
Adam Scott, Juno Temple e outros. Durante duas décadas Jimmy torna-se
informante da BFI, sem que, contudo, o FBI obtenha avanços frente ao crime organizado
em Boston. Mas as coisas começam a se modificar, quando o novo promoter de
Justiça toma posse e a primeira providência é enquadrar Jimmy e grampear os
agentes que o estão ajudando, Connally e Morris. No final, o bandido é preso,
depois de alguns anos homiziado noutro País, pega “prisão perpétua” duas vezes
e os Agentes, seus amigos, destituídos das funções e também sentenciados à cadeia.
A película
integrou o 40º Festival Internacional de Cinema de Toronto, em setembro último.
A atuação de Johnny Depp impressiona, ele acostumado a fazer filmes leves, até
engraçados, com seus disfarces horríveis. Observe-se que não há cena de sexo,
mas violência pura, como violentos eram esses gangsters, razão por que se
impunham atemorizando as pessoas.
Merece quatro
estrelas e dá margem a muita reflexão no que se refere à corrupção de policiais
e políticos (MMV).
A
ILHA DO MILHARAL
“Sigminds kundzuli” – Georgia, França, Casquistão,
Alemanha, Rep.Techeca, 2015 – Direção: George
Onashvili – Elenco: Ilyas Salman, Mariam Buturishivili, Iraqkli
Samushia.
Produção pluricultural, como se vê
pelos Países envolvidos, que se juntaram neste projeto. É sem dúvida um filme
com características de “cult”, o que não agrada, senão a um público, também
cult. Quase todo mudo, os personagens atuam sem falar, quase. O enredo é extremamente simples. Um velho
camponês se muda com sua neta para uma pequena ilha no meio de um rio – que
seria o Enguri – para plantar milho.
Este rio separa a Geórgia da Abkhazia e já foi cenário de sangrentas lutas.
Soldados armados ainda patrulham o rio e por isto o ambiente é de perene
tensão. O ancião constrói sozinho, com a ajuda apenas da neta, uma casa de
madeira na ilha e faz uma plantação de milho, até bem sucedida. Depois de
algumas peripécias, em que o velho encontra um homem ferido e desacordado no
milharal, que ele cuida das feridas e parece curá-lo, o tempo passa. A neta se
sente muito solitária e sebe-se pela narrativa cinematográfica que seus pais
faleceram e ela vivia às expensas do avô.
Tudo vai bem
até que sobrevêm uma grande tempestade e a enxurrada acaba levando tudo, casa e
o próprio velho, salvando-se pelo que parece apenas a garota, que escapa no
barco, no meio da noite.
É claro que o
filme implica uma metáfora. O rio pode significar a natureza que corre de forma
inexorável. No seu fluir, vai influenciando a atividade humana, que o velho
representa no caso a produção de milho, o milharal, a indústria, a evolução, o
progresso. O milharal é o sonho humano que sempre impõe sua força construtiva à
natureza e com ela luta, embora possa perder, mas nunca desistir. Observar que
a garota, a neta, consegue escapar, quem sabe para engendrar novo sonho. A
guerra, os conflitos humanos, no filme está representado pelos soldados, que
patrulham o rio, ora amigos ora inimigos – significando os eternos conflitos
havidos no mundo. Mas, vem a tempestade e um verdadeiro tsunami arraza com
tudo. Será que aponta para o futuro do mundo, que seremos destruídos em nossos
sonhos? É esse o grande enigma do filme. Pelo enigma que envolve, a película
merece quatro estrelas, inclusive pelo desempenho dos protagonistas(MMV).
“Bridge of Spies”, EUA,
2015 – Direção: Steven Spielberg – Elenco:
Tom
Hanks, Mark Rylance, Scott Sjhepher, Amy Ryan, Sebstian Kooch,
Alan Alda, Austin Stokwell, Peter MCrOBBIE
por
Peter Saint-John
Steven Spielberg agrega mais este filme
à sua já extensa cinematografia. É um filme de ação, mas sem utilizar efeitos
especiais, nem qualquer tipo de violência, senão o suspense psicológico. Por assim dizer é mais um filme com as
características de “cult”, com enquadramentos artísticos de câmara, iluminação
acompanhando a trama psicológica, sombreamentos para reforçar o intimismo e as
extraordinárias performances dos atores.
A trama versa
sobre espionagem, mas diferente dessas espécies de filmes, porque ao contrário
de focar o conflito em si, recai sobre a pessoa dos espiões e as consequências de
suas ações, quando são pegos. Propõe um enigma: o que fazer quando os espiões
forem capturados e da possibilidade de eles terem revelado segredos oficiais
aos órgãos de segurança das nações envolvidas.
O interessante
é que implica em duas situações: a captura de um espião russo, o fato de ele “abrir o bico”, contar ou não
às autoridades o que sabe . Outro fato é espião americano ser capturado em avião
inspecionando a fronteira do país “inimigo”. Então, surge o enigma: o que
fazer? A solução mais plausível, a
atender as duas partes, é a proposta a ser adotada pelos dois países: fazer a
troca dos dois, antes que sejam obrigados a falarem, contarem segredos. O
advogado, especialista em seguros, Donovan (Hanks) é indicado coercitivamente a
fazer a defesa do espião russo capturado, Rudolf Alba (Rylance). Depois,
encarregado de efetuar a troca dele com outro espião, americano, que se deixou
capturar nas fronteiras russas, quando fotografava do avião posições russas.
Ocorre que o advogado (Hanks) resolve defender com unhas e dentes o espião,
alegando os direitos humanos. Enquanto isso, na Rússia, o piloto Thomas Powers,
é processado por invasão do território e espionagem. Donovan a essa altura vai
fazer muitos inimigos, inclusive da parte da própria justiça americana, cujo
Juiz encarregado, já considera, de antemão, o espião culpado. O advogado
consegue modificar a pena, de pena de morte, para “prisão perpétua”, E faz dele
moeda de troca, para beneficiar o piloto prisioneiro na Rússia, alegando que
assim os segredos oficiais estariam garantidos, tanto do lado dos EUA, quanto
da Rússia.
Donovan agora
terá de seguir para a Alemanha, dividida pela Rússia, para efetuar a troca dos
espiões. Mas ai as coisas se complicam quando certo estudante americano é pego
pela polícia russa, fazendo uma pesquisa econômica na zona de conflito
(Alemanha Oriental) logo após o término da 2ª Guerra Mundial. Os russos acham
que se trata de mais um “espião americano”, quando na realidade Thomas Watters,
o estudante capturado, é inocente. Donovan,
que está na Alemanha, vai administrar esse perigoso imbróglio. Mas resolve
extrapolar sua ação e, estrategicamente, fazer a troca, em vez de 1 por 1, 1
por dois – ou seja, trocar o espião russo por dois americanos nas mãos dos
russos com que, assim, salvaria a vida do estudante. E ele só consegue, porque
Alba, o espião russo, colabora a favor, só aceitando entregar-se às linhas
russas, se os dois americanos forem devolvidos.
A troca se
passa numa ponte, a neve caindo, tudo no maior suspense, porque pairava a
dúvida se os russos aceitariam o acordo 1 por 2. Dai o título do filme “Ponte dos Espiões” (“Bridge of Spies”).
A crítica tem
elogiado o filme. Nós também, pois, valoriza mais os atores e suas
performances, a trama evidenciado o conflito de cada personagem, com interpretação
magistral tanto de Tom Hanks quando do espião interpretado por Mack Rylance.
Por todos esses
atributos e pela atmosfera cult do filme de Spielberg, não temos dúvida de
atribuir-lhe “cinco estrelas”, classificando-o como excepcional, sob nossa
ótica (PSJ).
TERRA
DE MARIA
“Tierra de Maria “ Esp.2015 –
Direção: Juan Manuel Cotelo – Carm Losa,
Juan Manuel Cotelo, Emilio Ruiz, Luis Roig, Lucia Ros,Elena Sanches, Cristina Ruikz,
Ruben Fraile,Clara Coleto
________________________________________________________________
É interessante,
algumas partes levando o espectador à emoção, dado tratar-se da vida de Maria,
Mãe de Jesus, a Mãe de Deus e Protetora da Terra, cujos habitantes são seus
filhos legados pelo próprio Criador.
Só não apreciei
o início, pois parecia uma imitação do Código
Da Vinci, baseado no espalhafatoso best-seller de Dan Brown, filme
estrelado em 2006 por Tom Hanks e Audrey Tautou. Tirante isso, o filme de
Cotelo dá bem seu recado, com um enredo bem moderno, certamente para atrair
quem não é muito religioso. Mas já surgiu um destes críticos de cinema de
plantão, dizendo que quem é cético, sai do filme mais cético ainda.
É claro que a
pessoa que não acredita em nada, senão em si mesmo e no propalado cientificismo,
não adianta apelar para a emoção, ou querer demonstrar o indemonstrável que são
as coisas do espírito, do coração, como preferem dizer os entrevistados, todos
tendo modificado suas vidas, ao serem “apresentados” a Maria, em Medjugorje. É
o ponto nevrálgico do documentário: revelar como as pessoas convertidas
transformaram suas vidas, tornaram-se mais solidários e dizem ter encontrado a
felicidade pela prática do bem.
Observe-se, a
propósito desse documentário, que Jean-Luc Godard, em 1985 produziu e dirigiu o
filme “Je vous salue Marie”, em que a personagem que seria Maria, Mãe de Deus, aparece
modernizada e vivendo situações as absurdas possíveis, inclusive como
prostituta. Chegou a ser proibido aos católicos assistirem essa heresia.
O documentário
é bem pertinente e adequado a nossos tempos, onde a fé tem sido relegada a
coisa desimportante, as pessoas afastadas das religiões. E o que se vê é um
mundo cada vez mais ateu e as pessoas, apesar de toda a modernidade, infelizes.
Atribuimos
QUATRO ESTRELAS ao filme de Coleto, sobretudo por sua criatividade em recriar a
figura de Maria, como a Mãe de Deus e dos homens´(MMV).
PERDIDO
EM MARTE
“The Martian”, EUA, 2015 – Direção: Riddle Scott – Astros: Matt
Damon,Jeff Daniels, Brian Caspe, Chen Shu, Chiwetel Ejiofor, Donal Golver, Eddy
Ko, Enzo Cilenti, Geoffrey Thomas, Kristen Wiig, Lili Bordan, Kate Mara,
Machenzie Davis, Sean Bean
____________________________________________________
Em cartaz, a mais recente produção do
cineasta britânico Riddle Scott, cuja cinematografia nos tem oferecido bons
filmes, como “The Dualist”; “Alien”; “Blade
Runner”, “Legend”, “Someone to Watch Over Me”; “Black Rain (1989)”,” Thelma
& Louise (1992)”; “Gladiator (2000)”, “Hannibal (2001)”; Black Hawk Down;
Kingdom of Heaven e mais recentemente “Prometheus”, “O Conselheiro do Crime” e “Êxodo”.
Com esse aforismo todo da NASA sobre o
planeta Marte, que planeja expedições em breve àquele planeta, Scott aproveita
a onda e produziu esse PERDIDO EM MARTE, baseado em best-seller de Andy Weir,
autor americano que começou essa alucinante narrativa num blog, com grande
aprovação dos internautas.
Mark Watney (Damon), fazendo parte de uma
expedição a Marte, devido a um incidente terrível, que foi uma tempestade
naquela planeta, é abandonado e dado como morto pelos companheiros, enquanto a
missão é repentinamente abortada e o foguete retorna à Terra, sem condições de continuar
o trabalho. Acontece que, passada a tempestade, Mark encontra-se semissoterrado, mas vivo. Vê-se, então,
sozinho num lugar inóspito, sem água e pouco mantimentos para sobreviver, distante
cerca de 225 milhões de quilômetros. O projeto de que faz parte só será
substituído por outro dentro de quatro anos, segundo a NASA e Mark terá de
sobreviver todo esse tempo.
O único jeito é adotar um manual de sobrevivência
totalmente inédito e até absurdo, salvo as licenças cinematográficas, sempre
inventadas pela magia do cinema, para contornar os inomináveis obstáculos, como,
por exemplo, fazer água potável e outros inúmeros itens de primeira necessidade,
que absolutamente inexistem em Marte.
Apesar do enredo não conter grandes sacadas
e se desenrolar de maneira seca, como aliás é o lugar onde as coisas ocorrem, o
filme atrai o espectador, sobretudo graças à performance do ator, Matt Damon, o
seu verdadeiro malabarismo para conseguir sobreviver. É uma espécie de primeiro
homo sapiens, lá pelos primórdios do surgimento da espécie humana, a fabricar
suas primeiras armas e utensílios, principalmente o fogo. No caso de Mark
(Damon) é “fazer” água, para poder plantar batatas, numa estufa, sem o que
certamente morreria de fome.
Mas para sobreviver – a exemplo de outros
filmes de sobrevivência humana (“A Última Esperança da Terra”- 1971, com
Charlton Heston e “Náufrago” – 2000, com Tom Hanks; e “O Pianista” – 2002) –
Mark tem de dar nó em trilho e o absurdo é que ele consegue. O mais
estapafúrdio é que ele consegue ser resgatado, depois de dois anos, pela NASA,
passando toda sorte de agruras, mas que ele a tudo vence com criatividade e bom
humor, do contrário enlouqueceria.
Sem dúvida é um filme interessante graças à
esplêndida atuação de Matt Damon, ator já consagrado pelos papéis que já
representou no cinema. O script, a nosso
ver, apresenta muitos furos, inadequações, sofismas e outros fantasmas
inerentes à arte e técnica cinematográficas, os “efeitos especiais”. Mas é
difícil o espectador engolir, por exemplo, como Mark consegue fazer água,
através de uma combinação química aleatória e – o incrível que era ele ter
barbeador, para cortar sua enorme barba, antes de ser resgatado. Já o resgate,
também é estapafúrdio: ter de ser projetado de Marte num foguete desmontado, a
rolar pela atmosfera do planeta e, como não bastasse, acoplado no espaço por
uma astronauta, também projetada do foguete salvador, tudo isso no espaço
sideral – é o máximo.
O filme merece QUATRO ESTRELAS, sobretudo
pelo papel de Matt Damon e a magia dos efeitos especiais nas mãos de um expert
na matéria: Riddle Scott. (PSJ)
A
DAMA DOURADA
“Woman
in Gold” – EUA, 2015 – Direção: Simon Curtis – Astros: Helen Mirren, Ryan Reynolds, Daniel
Bruhl, Katie Homes, Max Irons, Charles Dance, Tatiana Maslany, Antje
Tram
Para tanto,
contrata advogado, conhecido de sua família, Randal Schoenberg (Raynolds),
embora sabendo se tratar de causídico que começa a carreira, inexperiente ainda
nas lides jurídicas.
Em “feedback”,
o filme vai mostrando a vida e os episódios sobre o sofrimento de sua família,
assim como os demais judeus, ao serem violentados nos seus direitos e, por fim,
submetidos aos fornos nazistas.
O filme
transita entre o drama e a tragédia procurando demonstrar as peripécias da ação
reclamatória de Maria, que tenta reaver o famoso quadro de Klint, mas tem de
enfrentar terrível oposição da parte das autoridades austríacas, que fizeram do
quadro, denominado “A Dama Dourada”, espécie de corifeu do País, como o quadro “Mona
Lisa” seria para a Itália. O referido quadro se encontra exposto em Museu da
Áustria. Maria é impulsiva e, às vezes, chega, em determinado momento das “acirradas”
lides dentro e fora dos tribunais, a desistir do intento, preferindo viver em
paz na Califórnia, com sua lojinha de enfeites. Mas seu advogado insiste,
porque agora ele colocou todas as fichas no caso, teve de abandonar o emprego
numa grande empresa jurídica, para tratar do rumoroso processo, tido, por
sinal, como causa perdida, porque nada iria demover o estado austríaco a
devolver o famoso quadro, mesmo sabendo que a verdadeira proprietária era
fugitiva do regime nazista e que estes simplesmente se apoderaram da obra de
arte, de propriedade particular da família judaica Bloc-Bauer.
A crítica
oficial foi desfavorável ao filme. Achou que era inconsistente, pois não
mostrou na realidade o embate nos tribunais, com vistas à solução de um
considerado quase impossível. Ao final, o filme acaba sendo uma apologia à
justiça americana que de certo modo obriga a instância jurídica austríaca a devolver o quadro a seu verdadeiro
dono, a austríaca Maria Altmann – a cobro talvez do holocausto, pois os pais da
demandante foram vítimas dos fornos nazistas, em campo de concentração.
Reclamam também da atitude do advogado, muito moço e inexperiente na carreira,
como conseguiria desafiar os advogados do governo austríaco.
Mas o certo é
que o suposto inexperiente advogado consegue que o Governo Austríaco devolva o
quadro à sua proprietária, depois de alguns imbróglios jurídicos. O filme não
enfoca de modo específico os embates jurídicos da causa, portanto não é uma
fita de suspense costumeira nos tribunais, pros e contras, réplicas e tréplicas
violentas. Mas não deixa de ser um bom filme. Os críticos deram DUAS ESTRELAS,
preferimos dar-lhe TRÊS, pelo
desempenho sempre perfeito de Helen Mirren e também de Ryan Reynolds, este até
se revelando um bom ator (EC).
QUE
MAL EU FIZ A DEUS?
“Qu’est-ce
qu’on a fait au Bom Dieu?”
França, 2015 – Direção: Phillippe
Chauveron – Astros: Christian Clavier, Chantal Lauby, Ary Abittan, Medi Sadoun, Frederique Bel, Noom, Diawara ,
Tatiana Rojo, Elie Semoun.
Eis uma comédia realmente hilariante.
Aliás, diga-se, os franceses sabem fazer um cinema hilário. Basta que nos
recordemos dos filmes impagáveis de Jacques Tati, cineasta dos anos de 1950,
que ocupou nossos cinemas ao lado do Totó italiano. É claro que em se falando
de comicidade, nada supera Charles Chaplin, gênio no qual se inspiraram os que
o seguiram, Tati, Totó, Mr. Beans e nossos simpáticos Oscarito e Grande Otelo.
Phillippe
Chauveron nos oferece, hoje, uma história de nos fazer rir à larga. Que o diga
o público, que, na estreia do filme, estourou de rir, pelo menos uma moça,
atrás de nós, bolava de tanto rir, até com gritos, uma pândega.
Claude e Marie
Vermeil (Christian Clauvier & Chantal Lauby) forma um casa francês
tradicional, católico com quatro filhas: Isabelle, Odile, Ségolène e Laure, a
mais nova e ainda solteira. As demais são todas casadas: Isabelle (Bel) com
Rachid, advogado (Sadoun), Odile com David, argelino (Abittan), Ségolène com
Chao, chinês. O casal acolhe os genros em sua residência, mas com desconforto,
pois são de religiões diferentes. A única filha solteira, Laure, eis que
resolve casar e anuncia sua decisão aos pais, informando-os que o noivo Koffi
(Diawara) é católico.
A princípio os
pais ficam radiantes com a notícia, afinal iam ter um genro católico. Mas qual
não é a surpresa, quando conhecem o jovem: é negro e pertence a tradicional
família africana. Marie, a mãe, fica em depressão e Claude, o pai,
decididamente não aceita aquela união. Assim sendo, ele parte para sabotar o
casamento e, pasmem, acompanha-o na ousadia o próprio pai do noivo, o Sr.
Koffi.
Depois de uma
série de trapalhadas, entre as duas famílias se digladiando, ambas por
preconceito, acabam concordando com o “famigerado” casamento entre os
pombinhos, um negro com uma branca, quando descobrem que Laure, a noiva, em
desespero, resolve abandonar tudo e voltar para París, onde trabalha.
Evidente que se
trata de uma sátira, bem feita por sinal, revelando os problemas gerados pelo
preconceito de ambas as raças, a branca contra a negra e a negra contra a
branca.
Observe-se que
esse problema de preconceito racial já foi abordado por vários filmes,
principalmente os americanos. Um dos mais significativos foi “Adivinha Quem Vem para o Jantar”
(1967), estrelado por Sidney Poitier, Spencer Tracy e Katherine Hepburn. Neste
filme, o casal recebe para um jantar o noivo da filha, mas tudo se transforma
quando defrontam-se com o rapaz negro. A
partir daí temos uma troca de preconceitos, pois o pai não aceita de jeito
nenhum esse relacionamento – interpretações magníficas dos protagonistas, em
especial o desempenhado por Poitier, um dos grandes atores de Hollywood, tempos
atrás.
O filme de
Chauveron parece inspirar-se nessa película de Stanley Kramer, mas agora com
pitadas absolutamente hilárias, destinado a divertir o público, sem deixar de
alfinetar o assunto “preconceito”.
Assinale-se
também que filmes cômicos parecem fervilhar na cinematografia, desde priscas
eras. Pense-se nas trapalhadas dos irmãos Marx, nos filmes de Dom Camilo, interpretados
pelo hilariante Fernandel, nos anos 1950, nos gracejos sem jeito das duplas
Abott e Costelo e Bing Crosby e Bob Hope, de Dany Kay, com aquela película
engraçadíssima “O Inspetor Geral” –sem falar nos filmes atuais, nos quais têm
brilhado atores como Jimmy Carey, protagonizando toda sorte de estripulias, Bem
Stiller, com suas aventuras no Museu e Adam Sandler, com outras tantas
películas loucas. Isto para não se falar no maior de todos os cômicos do cinema
que foi o genial Charles Chaplin, com
películas inolvidáveis como “Tempos Modernos”, “O Grande Ditador” e muitos
outros.
Todos os atores
do filme de Chauveron estão ótimos nos seus respectivos papéis. A fita é
simplesmente hilária, a despeito da sisudez do tema. Atribuímos quatro estrelas
ao filme, parabenizando todos os atores pela oportunidade que nos
proporcionaram de rir, da melhor forma possível. (MMV)
GEMMA BOVERY - A VIDA IMITA A ARTE
APENAS UMA
BRINCADEIRA
"Gemma Bovery - A Vida Imita a Arte", França, 2014 - Direção: Anne Fontaine - Astros : Fabrice Luchini, Gemma Arterton, Jason Flemying
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Maria Vilma Muniz Veras
O filme em cartaz no país, Gemma
Bovery – A Vida Imita a Arte, é quase uma brincadeira do cinema com o
romance de Gustav Flaubert, Madame Bovary. Brincadeira de bom
gosto, diga-se a bem da verdade. Como acontece no texto literário, numa pacata
cidade do interior da França uma bela e jovem mulher vem morar com o marido,
com quem se casa logo depois de uma decepção amorosa. Instalam-se em frente à
casa onde mora o padeiro Martin com a mulher e um filho, no local onde também
funciona seu comércio de pães sofisticados. A protagonista é decoradora e
chama-se Gemma Bovery, lógico que para fazer analogia com Emma Bovary,
mas é também o nome da atriz (Gemma Arterton). O marido tem o ofício de restaurador,
e pouca aparece em cena. A sedução do padeiro pela moça é de imediato, uma
tração fatal, revestida de forte suspeição. Equivocadamente ele vê
naquela mulher de expressão doce e sonhadora, a personagem que é a insatisfação
em pessoa, no romance de Flaubert, do qual Martin guarda na memória todos os
diálogos, como acontece também com Ana Karenina de Tolstoi.
O
padeiro amassa o pão com volúpia, sem conseguir matar o tédio, nem saciar a
fome da alma, o que faz lendo os clássicos da literatura, focada em
adultério coisa ultrapassada para os novos tempos de liberdade feminina. Gemma
veio a calhar para Martin, que desde sua chegada não mais desgruda dela,
acompanhando seus passos, ora de perto, ora de longe, com curiosidade, mesmo
vício, pensando, inclusive, em livrá-la do triste fim da personagem do livro de
Flaubert. O interior da França seria tão belo quanto monótono para quem vem de
uma cidade grande, e logo ele apressa-se em mostrar-lhe alguns locais, e
em oferecer-lhe o livro de Flaubert para ela ler e se conscientizar do perigo
que corre. A moça parece não se dar conta disso, da tragédia que Martin imagina
de antemão, pensando no quanto a vida imita a arte. Quando Gemma foi comprar
pão pela primeira vez em sua padaria, o padeiro fez com que ela provasse de cada
um dos seus sofisticados pães, para poder observar o quanto ela se delicia com
o produto. O pão que vai ser peça fundamental na tragédia final, uma farsa das
boas de se ver.
Quando
Gemma conversa com um rico e belo jovem local, Martin de longe sente o perigo
iminente na situação. Repete os diálogos que eles falam, os mesmos dos
personagens do livro, ciente do quanto a vida imita a arte. Uma tragédia que
pode, sim, ser induzida pela força do pensamento, a pessoa ser levada
inconscientemente a agir segundo a criação de uma mente doentia. O poder do
inconsciente de Martin, numa cruel contradição, como é a própria vida. Mas se a
alma da mulher é a mesma de sempre, sensível, ou fraca, em questões
sentimentais, na modernidade ela goza da liberdade, o que não existia no
passado. As circunstâncias as mesmas, mas não a mentalidade das pessoas
envolvidas. Só na cabeça do padeiro, no seu poder de intuir, através da ficção
realista do século XIX, o que não deve ser ignorado, mesmo nos tempos
atuais. O pão sofisticado e delicioso que o padeiro Martin oferece a
Gemma, é a metáfora do prazer primordial, presente em todos os tempos, que se
sofistica para continuar a causar tragédias, como essa, anunciada.
“Qu’est-ce qu’on a fait au Bom Dieu?” França, 2015 – Direção: Phillippe Chauveron – Astros: Christian Clavier, Chantal Lauby, Ary Abittan, Medi Sadoun, Frederique Bel, Noom, Diawara , Tatiana Rojo, Elie Semoun.
ENQUANTO SOMOS JOVENS
Segundo o crítico de cinema Antonio
Carlos Egypto do blog Pipoca Moderna, é uma comédia simpática. Josh (Stiller) e
Cornelia (Walls) formam um casal quarentão que vive bem em Nova York. Não têm
filhos, mas, para eles, não é problema. Outros casais amigos têm filhos e fazem
festinhas para as quais eles são convidados. Jamie (Adam) e Darby (Amanda) são
um casal espontâneo. Josh e Cornélia vêem-se atraídos por esse casal mais
jovem, de 25 anos. Dizem-se “hipsters” apelido dado a pessoas
atraídas pela tecnologia antiga, como máquina de escrever, vitrolas e LPs,
enquanto os demais, inclusive o casal Josh/Cornélia, usam “phones”, ipads e
Netflix. Então surgem as diferenças de geração: jeitos de viver, ambições e
maneira de solucionar problemas.
O cineasta Noah
Baumbach faz uma reflexão sobre tais comportamentos, a maneira como os
problemas são solucionados. O que nos parece errado, pode não ser
necessariamente por maldade, falta de caráter ou até mesmo bandidagem, mas,
sim, em virtude de outro padrão ético. Quanto aos valores, são relativos. O que
fazer? Desesperar-se, tentar mudar o mundo?
Em sua crítica
na Veja, Isabela Bostow resume o filme. O casal Josh & Cornélia são
quarentões e sofrem dos males de sua geração: indecisão, adolescência
prolongada. No momento, Josh está editando um documentário já há dez anos, sem
conseguir finalizá-lo. Cornélia, sua mulher, trabalha para o pai. Vêem-se acossados
pelo entusiasmo do casal mais jovem Jamie & Darby. O olhar de Josh é um
pouco míope com relação ao estilo “hipster” de Jamie & Darby – ele
aspirante a documentarista, ela faz sorvetes. Usam chapéu e sapato sem meia.
Quando as coisas degringolam entre os dois casais – em razão
dessa diferença de geração – no final
do drama Josh grita para Jamie com quem acaba se atritando: “Sou velho, sim.” E
ao dizer isso, ele não se sente derrotado, mas sua raiva funciona na realidade
como um triunfo.
O filme tenta
demonstrar, assim, que as gerações diferem uma das outras, em função quase
sempre dos costumes que mudam, a influência da mídia e da suposta modernidade.
Também, os comportamentos, com a consequente mudança de valores, inclusive
morais. O que Jamie, do casal moderninho, faz contra Josh, de outra geração que
não a sua, não foi nada de anormal, segundo seus valores, mas para Josh foi uma
traição, um comportamento aético do suposto amigo. Então ele prefere observar
seu próprio valor, com o qual costuma ainda ver o mundo.
Ocorre que o
papel Bem Stiller, representando esse meio ultrapassado Josh, não lhe cai muito
bem, fora de seus padrões normais, que é o de cômico, de fazer trapalhadas. Vez
por outra ele ousa ser dramático e quase sempre não se sai tão bem, como é o
caso deste filme. Atribuímos apenas três estrelas para essa comédia light e sem
muita pretensão. (EC).
MEU
PASSADO ME CONDENA 2
“Meu
Passado me condena”, Brasil, 2015 – Direção: Julia Rezende – Astros: Fábio Porchat, Miá Mello, Marcelo
Vale, Inez Viana, Ricardo Pereira,
Antonio Pedro, Ernani Morais
Renato Hermdorff, do site Adoro Cinema,
tem palavras de certo modo muito elogiosas sobre este filme dirigido pela
cineasta Julia Rezende. Segundo ele, é uma comédia com boa fotografia, luz e
figurino... “um capricho raro no gênero, no Brasil””. Continua dizendo que “...
é menos fantasioso no que se refere aos episódios que cercam o casal”.
Ora, pois, nós
discordamos e vamos dizer porquê neste comentário.
Primeiro uma
sinopse do enredo. Não difere muito do “Meu
Passado me Condena 1”, o inicial da série. Casal que se acha apaixonado,
Fábio (Porchat) e Miá (Mello), depois de três anos de casamento, descobre que
as coisas não andam muito bem, principalmente para o lado de Miá, que reclama
de tudo de seu marido, que ela chama de “crianção”, por ser desarranjado, não
cumprir os horários e as promessas. Miá logo pede um tempo, o que significa uma
separação. Fábio não aceita porque acha que a ama muito e seria um absurdo se
separarem tão cedo. É então que Fábio recebe um telefonema de Portugal
informando que sua vó faleceu. Seu avô Nuno (Pedro) mora em Portugal, onde tem
uma fazenda numa cidadezinha de apenas 200 habitantes. Resolvem viajar
imediatamente para assistir os funerais da avó que Fábio diz tanto amar.
Ocorre que o
conflito entre os dois só faz piorar, quando Fábio se encontra com uma antiga
paixão de infância, agora noiva de seu também amigo da mesma época Alvaro
(Pereira). Dá-se o imbróglio, quando Miá, que não vê melhoras no comportamento
desleixado do marido, decide retornar ao Brasil e se separar definitivamente
dele. Entrementes, como a preencher as lacunas no frágil enredo, acontecem
casos, por exemplo do avô Nuno (Pedro) que se embeiça pela suposta aparição da
mulher morta, na realidade a pilantra da Suzana (Viana) que quer dar um golpe
no inconformado viúvo – ou do ciúme de Álvaro diante da presença intrigante de
seu companheiro de infância, agora transformado em rival. É que Suzana recobra
sua paixão infantil pelo antigo namorado. E Miá acaba descobrindo o engodo e
parte para o retorno. Ainda há a aparição de suposto amigo do Fábio, o Cabeça
(Morais) fazendo toda sorte de gracejos, inclusive com apelos sexuais, não se
sabe bem se com o próprio Fábio ou com as parceiras do “crianção”.
É óbvio que o
filme se apoia num roteiro muito fraco, ao contrário do que afirmou o
comentarista do site Adoro Cinema. Cremos mais fraco que o do anterior,
original da série. E mais: é absolutamente inconsistente, porque não explora
inclusive o potencial dos atores, tornando-os, no filme, espécie de fantoches
da primeira versão, caso do casal de vigarista formado por Wilson e Suzana
(Vale e Viana), que se dispõem a fazer as mesmas graçolas caricatas.
O filme também
peca na sua direção. A cineasta parece não entender bem de cortes e de close
up, quando ou não explora esses instrumentos ou os faz mal, cortando as cenas e
deixando de aproveitar os atores mais vezes de perto. É óbvio que falta elã às
cenas. Além disso, o filme é falto em
ação, atos e fatos interessantes, ficando as cenas restritas a uma
cidadezinha de interior, o que acaba deixando a história cansativa, desprovida
de encano, quase medíocre.
Penso que as
comédias atuais oriundas da nova cinematografia brasileira não são melhores nem
piores do que as antigas chanchadas da Atlântida, com Oscarito e Grande Otelo.
Claro que hoje o cinema brasileiro já tem independência, usa da mais moderna
tecnologia, mas é notório que carece ainda de bons roteiristas e também bons
atores. É quase gritante a diferença da comédia americana para a nossa, por
mais brasileirófilos que queiramos ser, como recomenda o furor nacionalista em
que vivemos. Vejam-se, por exemplo, os filmes interpretados por Jimmy Carey ou
desses dois também atuais Adam Sandler e Ben Stiller – tirante alguns de seus
filmes que são horríveis, a maioria deles são bem feitos, com um roteiro bem costurado
e cenas realmente hilárias. Tudo depende de um bom roteiro e naturalmente o
desempenho dos atores, senão qualquer filme cai no vazio. Como chega a ser o
caso deste Meu Passado Me Condena 2.
Poderia até
ter sido um bom filme, mas era preciso que nosso mogangueiro Porchat fizesse menos trejeitos e fosse mais criativo
em suas piadas, principalmente se tornasse menos roliço, a exemplo de Jimmy
Carey que, cinquentão, dá show com seu corpo saradão. Não podemos dar mais que
duas estrelas a este quase medíocre filme da cineasta Júlia Rezende, apenas com
a ressalva de não ter cenas picantes de sexo (PSJ).
SOB O MESMO CÉU
“Alaho””,
EUA, 2015 – Diretor: Cameron Crowe – Astros: Bradley Cooper, Emma Stone, Rachel
Adamas, Bill Murray, John Kravinski, Alec Baldwin
Alguns críticos acharam o último filme
do cineasta Cameron Crowe uma bela história de amor. Três atores de atuação
recentes valorizam o filme: Bradely Cooper, Rachel Adams e Emma Stone, além de
mais dois muito conhecidos – Bill Murray e Alec Baldwin. O enredo parece
bastante simples: Brian Gilcrest (Cooper) é um militar americano que teve
carreira brilhante, mas agora está em declínio, tentando se recuperar no Havaí,
como sabemos possessão americana. Na verdade ele tenta esquecer a ex-esposa,
(Rachel), que está casada com colega de base (Kravinski) e acaba se envolvendo
com uma colega, também militar Allyson Ng (Emma). Uma empresa particular de
artefatos nucleares, tenta colocar uma ogiva num satélite que está para ser
lançado. O dono da empresa é um milionário que quer tirar proveito do
empreendimento espacial americano, Welch (Murray) e, para tanto, contrata
Gilcrest, que trabalharam juntos noutros planos, para providenciar o
lançamento.
Enquanto isso,
Brian fica numa espécie de corda bamba porque ainda nutre amor por Tracy
(Rachel). A colega mlitar Allyson Ng cai de amores por Brian, ela é descendente
de havaianos. Os críticos oficiais dizem que o filme aborda o silêncio, ou
seja, a falta de palavras entre os relacionamentos, gerando os desequilíbrios.
Woody (Kravinski) fica intrigado com a volta do ex-marido e nasce assim um
conflito latente entre ele e Brian, o ex de sua mulher Tracy.
Há um imbróglio
no tal programa espacial patrocinado por Welch, o qual na realidade quer apenas
lucrar com a atividade. Reconhecendo as trapaças do amigo Welch, Brian aborta o
foguete que colocará uma ogiva nuclear num satélite, causando prejuízo ao
programa americano e vem de sofrer a fúria do Almirante (Baldwin). Assim, os
relacionamentos são quebrados, o militar e o pessoal, levando Brian a um
desânimo total. Tracy, sua ex parece assinalar querer voltar com ele, pois a
filha adolescente é fruto de sua união com ela, no passado. Ela está sempre
risonha e disposta.
No final, como
esperado, o ambicioso empresário é preso e Brian é reconhecido por ter agido corretamente.
Tudo se acerta no relacionamento pessoal. Tracy recebe o marido, que se
aborrecera com a presença do suposto rival e Brian, por sua vez, aceita se
apaixonar por Allyson Ng. E fica o dito por não dito, na santa paz, sob os
eflúvios espirituais do Havaí – o Alaho.
O filme
parece-nos entrever outra versão, que foge desse padrão cinematográfico. É possível vislumbrar
neste “Sob o Mesmo Céu”, influência
da obra-prima “Além da Eternidade” (1989), de Steven Spielberg. Apenas, este
não é uma obra-prima, mas uma imitação no que se refere ao conteúdo esotérico.
Também aqui temos uma base, agora para lançar foguetes, em vez de aviões para
apagar fogo nas florestas. Uma esposa que perde seu marido que a abandonou de
algum modo. E o atual dela precisa substituir seu amor perdido, mas tem
dificuldade, daí seu comportamento silencioso. Por outro lado, Brian, como se
vê por suas ações militares perigosas
anteriores, na verdade pode ter morrido e está ali, no Havai, um lugar também
mítico, eivado de lendas esotéricas, não ele, mas seu espírito que, assim, como
Dreyfuss, o piloto morto que acompanha sua mulher no filme de Spielberg,
procura concertar o errado no passado e fazer que a vida flua para Tracy mais
feliz. Enquanto isso ele, melhor, seu espírito, se perde na ilusão daquele
“alaho” com Allyson Ng, que seria a visão espírita, propriamente dita, segundo reza a seita de Alan Kardec.
Não se pode
taxar senão de apenas razoável essa película, talvez o mérito se deva
justamente a essa imitação, quase propedêutica, da maravilhosa sacada de
Spielperg. Três estrelas e meia, é a nossa avaliação - (ED).
MAPA PARA AS ESTRELAS
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Alguns comentarista assinalaram – com muita dose de razão, por sinal – que este último filme de David Cronenberg mais parece delírios de David Lynch em seu “Twin Peaks” (1992).
Dr. Stafford Weiss (Cusack) é um guru de autoajuda e sua mulher Christina (Williams) administram a carreira do filho Benjiie (Bird), mas sombras do passado acossam a família com o aparecimento repentino de Agatha (Wasikoska), que é contratada por uma estrela decadente Havana (Moore). Havana luta para obter o papel principal de filme sobre sua mãe, já falecida.
Na realidade trata-se sem dúvida de filme de categoria B ou C, repleto de pastiches, cenas de outras películas. Cronenberg, assim como outros cineastas com ele alinhados – uns mais outros menos, mas sempre usando o massacre como instrumento de trabalho – não precisa ser cinéfilo para concluir que ele abusa do método cinematográfico, empurrando para nós, espectadores, todos os preconceitos do mundo. Assim sendo não é de admirar que nesta película ele nos impinja esse horror. Também o fizeram Van Thier, Quentin Quarentino e outros: o objetivo de todos eles é simplesmente escandalizar a plateia, o pobre do frequentador, que tem de aturar tais idiossincrasias.
Segundo ouve-se nos bastidores da crítica cinéfila, Cronenberg quer neste filme atacar Hollywood, a meca do cinema. Diríamos até mais: ele parece não só arrasar com a indústria cinematográfica, mas denegrir os atores e atrizes. É um acinte, do ponto de vista do espectador, por exemplo, aquela cena de um dos últimos filmes de Von Thier, “Melancolia”, em que Kirsten Dunst, atriz não só linda mas retraída, aparece escandalosamente desnuda durante longo tempo. Pois não é menos escandaloso, e nesse caso até infamante, neste “Mapa para as Estrelas”, Julianne Moore, bela atriz com seus mais de cinquenta anos, fazer uma cena como a do filme, sentada no vaso sanitário, peidando e depois se limpando.
Por outro lado, não se sabe como uma atriz como Julianne Moore, que arrebatou, merecidamente, o Oscar 2015, se rebaixe a tal ponto. Fez por dinheiro? Em amor à arte? Mas que arte é essa?
O filme é terrível, tem cenas repugnantes, como essa feita por Julianne. Os atores todos parecem enlouquecidos, fazendo personagens sádicas, isso sem falar que sua trama – o plot que se constitui a espinha dorsal da narrativa – é inteiramente sádico, antiético e até imoral. Cusack é casado com a irmã, portanto, pratica o incesto; Christine, a mulher, transa fora do suposto casamento; Havana, a personagem de Julianne, é completamente louca, faz qualquer coisa para obter o papel do filme que está sendo planejado e transa com qualquer um, inclusive com o chofer que a conduz, o Fontana (Pattinson), e dentro do carro; a filha do casal Weiss, Agatha (Wasikoska) devido ter sofrido um acidente e ter o corpo todo queimado, torna-se (o filme não explica bem); uma delinquente e num ataque de fúria assassina Havana a pauladas (violentos golpes de um quebra-luz); seu irmão, Benjiie (Bird) com apenas 13 anos já é ator, mas faz tratamento de drogado e numa crise violenta acaba matando um garoto do elenco, seu companheiro de filmagem.
E o final – para encerrar com “chave de ouro”, mas de forma infernal – Benjiie e Agatha fazem um pacto de morte, os dois se prometem casar, irmão com irmã, como os pais já tinham feito. É de arrasar qualquer ser humano decente.
Atribuímos, a duras penas, duas estrelas, totalmente impróprio para menores de 18 anos (MMV).
GOLPE DUPLO
“Focus”,
EUA, 2015 – Direção: Glenn Ficarra – Astros: Will Smith, Margot Robbie, Rodrgio
Santoro, B.D.Wong, Gerald McRaney, Adrian Martinez, Dominic Fumusa, Griff Furst
O filme deixa a
desejar, talvez um dos piores de Will Smith, ele que protagonizou boas
películas, como “Independence Day” “Enemy
of the State”, “Wilde Wildd West”, “Men
in Black”, “The Pursuit of Happiness” e “I am Legend”. O filme é confuso, e
o que é pior, parece fazer uma apologia ao crime, sobretudo por revelar as
atividades criminosas dos “pick pockets”, delitos que grassam nos grandes
centros urbanos. O mérito do filme talvez resida no fato de servir de prevenção
às pessoas, para não caírem nessas armadilhas de rua.
A atuação do
galã brasileiro, Rodrigo Santoro, é
pequena e de tal ordem que seu nome só aparece nos créditos finais do filme,
quando devia aparecer na entrada, junto aos principais. Toda a ação é centrada
na dupla Smith/Robbie, Smith um pouco
fora de seu “metier! Que é de dar uma de brincalhão, geralmente aquele pobre
que busca por um lugar ao sol (“Em Busca
do Felicidade”).
Sob o prisma da
moral e da ética o filme está totalmente errado, pois em nenhum momento vê-se a
ação da polícia que parece nem existir, enquanto a cidade lá fora fervilha de
ladrões, vigaristas, golpistas, em todos os lugares, como se tudo isso fosse
normal. É uma espécie de panegírico à vigarice e à patifaria – tanto que o
próprio pai de Nicky (adotivo) no fim dá um golpe no próprio filho.
Não podemos
atribuir mais do que duas estrelas ao filme com restrição para menores de 16
anos (AC).
GAROTA EXEMPLAR
“Gone Girl”, EUA, 2014 –
Diretor: David Fincher – Astros: Bem Affleck, Rosamund Pike, Boyd Hobrook,
Carrie Coon, Casey Wilson, Emily Tatajkowski, Kin Dckens, Lee Norris, Missy
Pyle, Neil Patrick Harris, Patrick Fugit, Scoo McNairy, Sela Ward, Tyler Perry.
Rubens Edwald
Filho, o renomado crítico de cinema brasileiro, elogiou o filme, principalmente
pela escolha do elenco. Considera o papel de Rosamund Pike (Ammy) maravilhoso,
por isso e por outros aspectos, ele, Edwald Filho aponta como páreo ao Oscar
2015. Coisa, como se sabe que não aconteceu. Elogia também a atuação de Tyler
Perry, que está perfeito como advogado, ao defender Nick (Affleck), assim como
Neil Patrick-Harris, como o ex-namorado de Ammy.
Afflec é um
ator de atuação sempre muito segura, que também é diretor, com uma folha de
serviços cinematográficos expressiva.
Mas vamos ao
filme, para se ter uma ideia de seu plot
. Nick é um escritor medíocre que tem um bar em sociedade com a irmã. Conhece
Ammy (Rosamund), escritora de livros infantis, novaiorquina, considerada
brilhante pela mídia. Apaixonam-se à primeira vista e resolvem se casar. O
filme passa a relatar a vida do casal, cada um a seu lado, sempre em off, Nick relembrando cenas passadas em feedback e Ammy através de um diário,
onde ela relata os pros e os contras de seu casamento com o galã Nick.
No início, Nick
acorda e não encontra a mulher, enquanto observa certos detalhes curiosos, um
móvel de vidro quebrado, por exemplo, sinal de algo errado. A partir daí dá-se
o suspense: Ammy sumiu de casa, sem deixar vestígios. Sequestrada? Assassinada?
Nick naturalmente chama a polícia, mas sua conduta pessoal não convence. As
investigações acabam encontrando pistas que o apontam como suspeito. Agora Nick
se acha em grande apuro e sua inocência constestada, não só pela polícia, mas,
principalmente pela mídia. É preso e solto em seguida mediante fiança, graças à
ação do advogado (Tyler) que recentemente contratou.
As pistas foram
deixadas no diário de Emmy, todas muito óbvias, mas suficientes para que Nick
seja tratado como assassino da própria esposa. O expectador fica em suspense
até o final do filme, se tudo não passa de uma acusação “fabricada”, pela
suposta vítima, para incriminar o marido.
Aos poucos
vamos percebendo, no desenrolar das cenas, que Emmy é uma personagem psicótica.
Ela some de casa, tem vida dupla, muitos fatos e ocorrências se dão ao longo da
narrativa. Mas será preciso assistir duas horas e meia de filme até se chegar
ao final, na verdade surpreendente.
Vale dizer que
o enredo deste Garota Exemplar não é
absolutamente original. Já foi tratado por “n” filmes, inclusive películas
antigas. Observe-se, por exemplo, o filme “A Malvada” estrelado por Betty Davis.
Temos a impressão que os roteiristas de Hollywood esgotaram seu cabedal de
talentos e agora parecem estar rateando, isto é, copiando ideias e roteiros
anteriores, enxertando e maquiando outros, para sob novo rótulo, apresentar ao
público, que raramente vai perceber, exceto os cinéfilos inveterados.
Atribuímos três
estrelas e meia pela atuação do
casal Affleck & Pike e pelo desenrolar da trama dirigida por David Finsher,
que nos apresentou um razoável “thrilling” (EC).
PARA SEMPRE ALICE
“Still
Alice”, 2015, EUA,2014 – Direção: Richard Glatzer e Wash Westmoreland –
Astros: Julianne Moore, Alec Baldwin, Kristen Stewar, Kate Bosworh, Shane
McRae, Hunter Parrish, Victoria Cartagena.
Virou moda
falar de Alzenheimer, terrível mal que ataca o cérebro das pessoas e as tornam,
às vezes, absolutamente incapazes. É o mal do século.
Esse filme,
dirigido por dois cineastas – o que já é de si uma coisa muito estranha – e
estrelado pela vip Julianne Moore, fazendo a personagem Alice, acometida de
Alzenheimer precoce.
Segundo Rubens
Edwal Filho – expert em cinema – o filme baseia-se em fato real. Os dois
diretores são gays e casados e quiseram narrar sua própria história de vida –
Glatzer, um deles, está realmente com Alzenheimer e piorando a cada dia. Apenas
por estratégia, apresentam o caso como ocorrido com uma mulher, Alice, no caso.
Não há negar: o
filme é muito dramático, embora os cineastas tenham tentado dourar a pílula
para depois vendê-la ao público. A interpretação de Julianne é fantástica, pois
ela não se deixa trair por trejeitos, como ocorre, por exemplo, com Merryl
Streeps e Anthony Hopkins, cujas interpretações são eivadas de mugangos, muxoxos
e outros trejeitos estilísticos que às vezes incomodam e causam espécie ao expectador
atento.
Alice é uma
professora universitária, linguista famosa, com 50 anos, portanto na meia idade,
que, de repente, sente a memória falhar, quando está fazendo seu cooper na rua. A princípio pensa ser
apenas um lapso, desimportante e passageiro, mas a coisa vai num crescendo que
se torna insuportável, fazendo com que recorra urgente ao neurologista.
Descobre, mediante exames e entrevistas com o especialista, que está doente, com
Alzenheimer já bem adiantado e o que é pior, tem origem genética e, para
completar o quadro de infelicidade, tem 50% de chance de seus filhos (são três:
um rapaz duas moças, um a delas casada e esperando filho e a outra, mais nova,
estuda teatro).
Alice é
professora, tem de continuar o magistério, já fez, inclusive, conferências ao
redor do mundo. Numa palestra, programada para falar sobre a doença que lhe
acometeu, em plena audiência, os papéis do discurso caem no chão, mas ela chega
a fazer até blague e sorridente, ao final, recebe aplausos – aliás, uma cena
até constrangedora à vítima, até dispensável, mas talvez para marcar mais o
quanto o mal é perverso, levando a pessoa ao ridículo.
O papel do
marido coube a Alec Baldwin, o qual parece vem se redimindo dos personagens
escroques que já fez ultimamente, fato, por sinal, que combina com seu ego de
arruaceiro e deselegante na vida real. Mas no filme, ele está impecável,
solícito, amoroso, como manda o figurino.
Dia a dia, as
coisas vão piorando – e deve ser o caso de Glatzer com a doença. E torna-se
horrível ver uma pessoa culta, erudita até, que passou a vida manipulando fatos
e atos linguísticos, como é o caso de Alice, ver desmoronar sua personalidade,
esquecer ou trocar o nome das pessoas, não saber mais onde se encontra,
vagarosa mas insidiosamente ir perdendo sua consciência. O filme acaba mexendo
com o expectador e penso que foi esse o objetivo dos cineastas, plenamente
alcançado, principalmente com a interpretação extraordinária de Julianne Moore.
Interpretando-se
o filme dessa dupla de cineastas gays, o que podemos concluir é que talvez com
esse episódio dramático, suscetível de acontecer a qualquer um, a película
sinalize para o fato de que o ser humano
é um ser extremamente frágil e falível e que a erudição adquirida pode,
paradoxalmente, se constituir veículo propício ao ataque do Alzenheimer, o lidar
com as palavras, a linguagem, a repetição sistemática de um assunto, ações e
procedimentos, o caminho para o ataque do mal.
Julianne Moore
mereceu o Oscar recente. Aliás, ela já ultrapassou a própria Streep, além de
ser muito bonita, simpática e talentosa. Atribuimos ao filme quatro estrelas, sobretudo
pela mensagem de alerta e circunstancial que nos oferece, sem proibição de
exibição. (MMV).
INTERESTELAR
“Interstellar”,, Inglaterra/EUA, 2014 – Direção: Cristopher Nolan – Astros: Mathew McConaughey, Anne Hathaway,Wes Bentley, Jessica Chastain, Matt Damon, Mackenzie Foy, Elyas Gabel, Michael Caine, Casey Affleck, Topher Grace, Ellen Bustyn, John Lithgow
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Cristopher Nolan é cineasta que tem sido bafejado com a fama na meca do cinema. Assinale-se sucessos e insucessos em sua carreira. Fez filmes como Amnésia (2000), Insônia (2002), a Trilogia do Batman-Cavaleiro das Trevas, O Grande Truque (2006) e Origem (2010). E agora este Interstellar, filme que a mídia vem elogiando.
Convém façamos um prólogo antes de qualquer comentário. O filme tem semelhanças com a obra-prima de Stanley Kubric, Odisséia no Espaço. Seu script baseia-se nas teorias mais ou menos excêntricas de um físico americano, Kip Thorne, especialista em assuntos cosmológicos, como buraco-negro, buraco-minhoca, deformações do espaço-tempo e ondas gravitacionais, tendo sido ele mentor de certas ideias divulgadas por Stephen Hawking. Pois o cineasta que aceitou o projeto do filme tenta dar corpo a essas teorias extravagantes, adaptá-las à cinematografia. E o resultado é o que o público vê nesse recente hit nas telas.
Tem como trama o seguinte. A terra encontra-se em estado de alerta geral, devido a crise que se abate sobre a produção de alimentos, com a devastação das plantações dos produtos alimentícios. Está prestes de se extinguirem as fontes de alimentos no planeta, sem que se tenha solução definitiva para a calamidade pré-anunciada. O filme, porém, se limita a exibir uma situação, numa pequena fazenda do interior, longe de se considerar uma calamidade planetária, mas restrita a um estado americano. Sugere que grassam a fome e o sofrimento, embora apenas sub-repticiamente – situação inspirada na grande crise de 1930, nos Estados Unidos.
Prevendo o pior, a NASA prepara um programa espacial ambicioso: transportar a humanidade para outro planeta que tenha condições semelhantes às da Terra. Mas a coisa fica totalmente em segredo, para não amedrontar as pessoas. Cooper (McConaughey), ex-astronauta e agora fazendeiro, já aposentado da função, devido certo estratagema da mesma NASA é cooptado a aceitar o comando da nave especial que levará tripulação escolhida numa viagem galáctica. O gestor da ideia é um professor meio cientista maluco, que bola a possibilidade. A equipe é formada, mas Cooper tem de convencer seus familiares a aceitarem-no partir para uma viagem espacial, cheia de perigos e talvez com a possibilidade de nunca mais voltar. O filme procura explorar essa parte emocional familiar dos protagonistas. Dizem os críticos que todos os filmes de Nolan exploram esse campo.
O filme é para tratar dessa viagem extraordinária, em que os astronautas, numa nave espacial superequipada, inclusive com um computador top de linha – assim como ocorreu com o da Odisseia no Espaço – com a diferença de que este é bonzinho, não quer destruir os humanos, responde tudo o que lhe pergunta e age como um expert da área. Como é de se esperar, surgem os atropelos, as dificuldades, as terríveis surpresas a que se sujeita esse tipo de atividade, que é a realização de uma viagem interplanetária, inclusive, segundo o filme, intergaláctica – e o que é pior, a nave terá de atravessar um buraco-de-minhoca (wormhole, em inglês). Começam então as tragédias, agora, lá nas estrelas, num planetoide desconhecido, onde já se encontra outro astronauta, também da NASA, enviado anos antes. Doravante a película se complica, o cineasta coloca muitas cenas estrambóticas de difícil compreensãol, utilizando técnicas de flashbacks e outros artifícios. Na realidade, acaba misturando, no enredo, ficção científica com espiritismo, coisa que Spielberg fez, por exemplo, em Além da Eternidade, mas com muito mais maestria.
Depois de muitas peripécias nessa espécie de infinito galáctico – o filme tem três exageradas horas de duração – Cooper, através de um estratagema decorrente de interpretação do espaço-tempo e da gravidade, o certo é que ele consegue, lá das galáxias, retornar à Terra. Mas ai já é decorrido quase um século e ele agora vai encontrar a querida filha Murph (alguma coisa com a Lei Murph?) muito mais velha do que ele, o pai, cuja idade foi encurtada pelo fenômeno do espaço-tempo devido a viagem interplanetária.
Como se depreende, é visível a semelhança com a Odisseia de Kubric. O que ocorre é que Nolan não chega aos pés daquele. Faz um filme confuso, mas supostamente fundamentado na FC, ou seja, nessas teorias mais modernas derivadas da física quântica ou influenciadas por vezes em inúmeros conceitos e interpretações gerados por essa teoria. Ora, em termos de FC, não se pode desprezar as diversas versões cinematográficas da bem sucedida série Jornada nas Estrelas (Star Trek, em inglês), a nosso ver mais palatáveis, por serem mais fantasiosas.
Não há negar que o filme explora trama interessante, que é o drama pessoal das pessoas ao experimentarem alguma dia as tais viagens interplanetárias. As complicações são imensas. A trama se desenrola em torno do problema da gravidade e dos famigerados buracos-negros e seu similar, não menos catastrófico, que são os chamados buracos-minhocas (wormholes, em inglês).
Vale uma ligeira explicação sobre esses buracos-minhocas. Trata-se de uma teoria criada e desenvolvida pelo físico Kip Thorne, cientista de ponta, que já orientou filmes de FC, como Contato (1997), atualmente consultor da NASA. Trata-se de um desdobramento da Teoria da Relatividade de Einstein. É uma ruptura no espaço-tempo, sendo este o “tecido do universo”, ou seja, o ambiente dinâmico onde os acontecimentos ocorrem. Como as viagens interplanetárias são fisicamente impossíveis nos termos da física atual, devido as distâncias impressionantes dos entes estelares, os cientistas mais criativos ousam sugerir que as distâncias sejam encurtadas, para tornar tais viagens plausíveis e realizáveis. Os buracos-minhocas funcionariam como verdadeiros túneis de escape e atalhos no tecido galáctico, encurtando consideravelmente as distâncias. O planeta mais semelhante ao nosso é o KEPLER, que dista da Terra cerca de 500 anos-luz (a medida utilizada em astronomia). Para alcançá-lo, com nossa atual tecnologia, ou seja, uma nave viajando a 1% da velocidade da luz, levaria cerca de 50.000 anos, portanto, fora de cogitação. Utilizando a hipótese do buraco-minhoca, talvez a viagem levasse apenas 5 anos. Ora, quem assistiu os filmes da série Jornada nas Estrelas sabe que, lá, os astronautas utilizavam a chamada “velocidade de dobra” nas suas navegações, quer dizer, velocidade para além da velocidade da luz, impensável humanamente. O termo buraco-minhoca foi criado em 1957 pelo físico John Archibald Wheeler e eles seriam possíveis por causa da chamada “matéria exótica”, que seria uma substância teórica possuidora de densidade de energia negativo – ambos os conceitos não são provados pela ciência atual. Kip Thorne imaginou um buraco-minhoca transponível.
O que se pode depreender do filme de Nolan é que as viagens interplanetárias ainda constituem um ponto de interrogação, no que se refere à sua viabilidade. A migração dos habitantes da Terra para outro planeta é tema futurista, de longínqua efetivação. Segundo a classificação galáctica prevista por Carl Sagan, a civilização terrestre encontra-se ainda em estágio incipiente, incapacitada de intentar uma aventura interestelar.
Quanto ao retorno espetacular de Cooper, narrado no final do filme, talvez tenha ocorrido o mesmo da personagem do best-seller Contato de Sagan: ele nunca saiu da Terra, tudo não passou de imaginação. Pelas atuações dos atores e assim mesmo achando que de certo modo Sandra Bullock (Gravidade) foi melhor do que Anne Hathaway, atribuímos quatro estrelas ao filme, com possibilidade de ser indicado para o próximo Óscar 2015. (MMV)
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BIRDMAN OU (A INESPERADA VIRTUDE
DA IGNORÂNCIA)
“Birdman(or
The Unexpected Virtue of Ignorance)”, 2014, EUA – Direção: Alejandro
González Iñarritu – Astros: Michael Keaton, Naomi Watts, Zachj Galifianakis,
Edward Norton, Emma Stone.
Depois de ter feito várias tentativas
para entrar no rol dos grandes cineastas hollywoodianos – com filmes como Amores Brutos (2000) e Babel (2006), eis que Alejandro González Iñarritu, cineasta
mexicano, agora se candidata com este “Birdman”,
indicado nada menos que a nove categorias do Oscar/2015: melhor filme, direção,
ator (Keaton), ator coadjuvante (Norton), atriz coadjuvante (Stone), roteiro,
fotografia, edição de som e mixagem de som. Dizem os tecnólogos de cinema
tratar-se de “... um trabalho fenomenal
de câmera, montagem, iluminação e interpretações com uma carga intensa de
adrenalina.”
Não há dúvida
que é um filme interessante, cult, embora não difira das atuais películas
ultramodernas que abusam da profusão cênica e da tecnologia, tornando-os, quase
sempre, confusos e ininteligíveis.
A interpretação
de Michael Keaton é revolucionária, aliás, ele tem sido assim em quase todos os
papéis que realizou no cinema. Veja-se, por exemplo, em “Os
Fantasmas se Divertem” e nos dois filmes em que encarnou o Batman –– segundo alguns críticos o ator
que melhor viveu a figura do Homem Morcego.
Em “Birdman”,
Keaton é Riggan, um ator decadente que, após representar três vezes o
super-heroi Birdman, caiu em certo ostracismos. Sua intenção é dar a volta por
cima e faturar, estreando uma peça na Brodway, inspirada num conto de Raymond
Carver, com que ele pretende se reabilitar como ator e também financeiramente,
pois está com dificuldade nas finanças pessoais. O filme todo se passa praticamente
nos corredores dos camarins do teatro, onde estreará a suposta peça, os
movimentos dos atores, suas emoções e os embates passionais decorrentes, como a
luta entre os dois egos: Riggan X seu parceiro em cena (Keaton x Norton). Nesse
interim, ele, Riggan (Keaton) tem de administrar uma filha inquieta (Watts), um
produtor angustiado (Zach) e ainda seu terrível super-ego, o Birdman, que ora o
rebaixa, ora eleva seu austral. Em meio a
todo esse distúrbio vivencial, ele tem de satisfazer sua imaginação, se
passando por Pégaso, voando através dos imensos skyscrappers de Nova York.
O grande mérito
do filme de Iñarritu não está no que narra o roteiro, mas no seu simbolismo,
isto é, no que ele significa, as múltiplas representações que ele sugere, no
que se pode ou não ser explicado subliminarmente.
Na realidade, o
cineasta nos insinua uma representação da realidade, ou seja, fala sobre o
próprio cinema, ou utiliza a metalinguagem para celebrar ou criticar a 7ª arte.
Melhor dizendo, o cinema dentro do próprio cinema, o interior ou o avesso da
arte como expressão cultural, mas em sentido contrário, aquilo que representa
ou pode fazê-lo, através do choque de imagens.
Não seria então
uma crítica à própria arte cênica, visto que o filme é passado num camarim de
teatro? Crítica inclusive do cinema, assim como de seus intérpretes? A nosso
ver, o teatro, em si, como arte é uma atividade ambígua por natureza, pois os
atores têm de demonstrar aquilo que não são, e, consequentemente, agir e
interagir, como se não fossem eles próprios, mas outras pessoas. Dai se origina
um grande conflito de personalidade, do representante para o representado. O
ator tem de se desnudar de sua personalidade para assumir a de outrem,
transfigurando com isto a realidade, que passa, assim, a espelhar uma meta-realidade,
ou uma virtualidade, cuja resultante é a corrupção dessa mesma realidade,
podendo atingir o cerne do ser, que passa a ser um “não-ser” com o preenchimento do lugar por outro “não-ser”. Em outras palavras, o teatro,
a encenação, enfim a ficção, pode favorecer a ruptura do ser-do-ente, tanto que
talvez seja por isso que Platão interditou os poetas a participarem da sua
República, como loucos, porque poderiam desvirtuar a realidade.
No nosso
entendimento, o grande mérito é a magistral jogada do cineasta neste filme,
contrapondo à realidade uma virtualidade capciosa, a ponto de o eu-ser
enganar-se a si próprio, semelhantemente a um novo Pégaso – dai os voos rasantes
que o personagem faz pela metrópole,
tudo comandado por um super-ego (Birdman). Aliás, nas suas entrelinhas o filme
de certo forma faz renascer o mito do
cavalo-voador – apenas com a diferença de que, por serem de cera, as asas do
Pégaso derreteram ao sol, ele e quem o montava, caíram no abismo. No nosso
caso, Riggan/Pégaso fica flutuando no espaço. Mas até quando?
O filme faz jus
a indicação ao Oscar/2015, principalmente devido ao simbolismo de sua aplicação ao muito atual,
cheio de contradições, irrealismos e virtualidades mórbidos, quantos birdmen não estão voando por ai. Atribuimos ao filme quatro estrelas. (MMV)
Sinto falta de novos títulos, gosto muito das críticas do Blog.
ResponderExcluirRômulo