REFLEXÕES PARA OS DIAS
ATUAIS
Não há nada de novo no front — desta feita no mundo dos fatos e das ideias.
A modernidade nem sempre é original. Já disse o filósofo francês Lavoisier:
“No mundo nada se perde, tudo se transforma.”
Às
vezes, nem sempre para melhor. Os dias que correm nos dão margem a algumas
reflexões, umas curiais, outras estarrecedoras, suscetíveis de discussão.
No
momento de intensa atmosfera política, os ânimos exaltados com expectativas de
mudanças importantes, preferimos o refúgio das ideias onde prelibam temas
históricos e filosóficos. Por sinal nada aleatórios à vista da veemência do
cenário a que assistimos.
Há
cerca de 2.400 anos, Platão, filósofo grego, no Livro VI de A República, em forma de diálogos, afirmou,
através de seus personagens, que a democracia não era o regime político tão
perfeito. Segundo ele, a democracia propiciava os eleitores a serem
influenciados pela aparência dos candidatos, ao invés de levar em conta suas
qualificações de governabilidade. Para ele, o Estado devia ser governado por
sábios, filósofos, treinados especialmente para geri-lo, pessoas
incorruptíveis, conhecedores da realidade e não indivíduos comuns, que seriam
ineptos e inaptos a tão importante missão. Com esta opinião tem também o
filósofo Nigel Warburton em série recente da BBC History of Ideas.
Observe-se
que fragmentos de A República foram encontrados no Egito, local chamado de
Oxyrhynechus.
Segundo
o grande filósofo — e trocando em miúdos os aspectos negativos que o regime
democrático produziria — o regime seria o governo do povo e devido seus
adotantes buscarem insanamente a igualdade, esclarece Platão, o desejo
insaciável de liberdade os levariam à tirania. Pois o excesso de liberdade gera
excesso de facções e multiplicidade de perspectivas, muitas cegas por
interesses mesquinhos, gerando o terreno fértil para surgir o tirano, que
manipularia as massas e subjugaria a democracia. Daí ele, Platão, concluir que o
governante ideal seria aquele que tomaria as decisões mais justas, prudentes e
sábias, orientado pela virtude e não pelas paixões.
Sabemos,
desde eras remotas, o quanto estas ideias têm influenciado a chamada
civilização ocidental, ora para o lado da tirania, ora para imbuir-se do
espírito democrático, sempre tendo como luz o raciocínio dos grandes
construtores do pensamento, os gregos, dos pré-socráticos aos que os seguiram,
como o próprio Platão, Sócrates e Aristóteles.
A
chamada modernidade, saída em primeira onda, pela esbórnia supostamente
salvadora da Revolução Francesa, tem nos legado, se de um lado os atavios da
liberdade, fraternidade e progresso, por outro tingiu o horizonte do
desenvolvimento humano com a praga do iluminismo materialista e do pedantismo
cientificista, vigentes até nossos dias.
E,
como se não bastasse, o eufemismo da social-democracia, filha mais nova bastarda
do ideal marxista, tem se revelado espécie de salvação política e econômica
para os males do mundo moderno, quando na verdade não passa de novíssima
invenção totalitária do chamado esquerdismo ideológico, agora influenciado
estranhamente por outra ou outras teorias nefastas, como o mundialismo, o
aquecimento global, Gaia e outras histerias que avassalam o planeta.
Enquanto
isso, em meio a essa mixórdia, do entrechoque dessas teorias esdrúxulas, sem
falar no desastroso rastro de retração social, econômica e política deixada por
uma inominável pandemia, nosso País projeta-se, a muito esforço, dentre as
nações, à busca do progresso com a justiça e a equidade possíveis.
Pois
agora querem travar essa ventura evolucionista, trocando-a por uma aventura
desastrosa, que nos querem impingir a utopia do socialismo, híbrido criado pela
esquerda hiperbólica. É hora de nos abrigar à sombra da verdade e da justiça,
para não sermos, mais uma vez, ludibriados pelo sofisma gramsciano.
Oxalá
tenhamos a nossos olhos as figuras imortais do passado e recentes de Frederik
Hayek, Alex de Tocqueville, Roger Scruton e em nossa história, Visconde de
Cairu, José Bonifácio de Andrade e Silva, Visconde de Mauá e mais recentemente
Meira Pena, José Murilo de Carvalho e Guilherme Merquior e nelas nos inspiremos para cumprir com nosso
dever cívico e não nos deixarmos cair
na armadilha da utopia asfixiante do esquerdismo.
CDL/Bsb, 7.10.22