POESIA, AMOR E SANTIDADE
Nesses dias pré-carnavalescos, seria de
boa ordem nos prevenir do fastígio momesco. Parodiamos as belas palavras de
Olavo Bilac “Ora, direis, ouvir estrelas...”
e consultemos o que esses dias nos diz sobre outros fatos, outros temas.
Deixemos de lado os prolegômenos destes nossos dias, tempo de bivalência,
estorvos e niilismo cultural.
Falemos,
pois sobre o livro do escritor, professor e dicionarista notável Deonísio da Silva e o livro que nos veio
gentilmente à mão pelo autor, com o título Teresa d”Avila. O romance foi premiado
pela Biblioteca Nacional.
Pelo
pouco que hoje se sabe sobre santos — Teresa d’Ávila (1.515-82), nascida Teresa Sanchez de Cepeda y Ahumada, foi
uma freira carmelita da ordem das Carmelitas Descalças. De família abastada em
Espanha, entrou aos vinte anos no convento, por convicção própria, em tempo de
desordem e inconfiabilidade reinantes nestes redutos religiosos. Indisposta com
a liberalidade dos conventos, resolve tomar a si a reforma desse estado de
coisa e bateu de frente com a poderosa Inquisição, ela e
seu grande amigo João da Cruz.
Os inquisidores tentaram prendê-la em virtude
de seus escritos, para eles sacrílegos,
poemas e pensamentos de Teresa — os quais versavam sobre arrebatamento e espiritualidade, tendo
Jesus como seu amado. Não conseguiram enquadrá-la nos alfarrábios criminais da
Inquisição. Tanto ela como seu suposto
cúmplice Frei João Cruz. Livrou-se da Inquisição, mas caiu nas malhas maledicentes
de nossos modernos psicanalistas de plantão, Freud, o principal deles, seguido
de Lacan, Foucault. Para eles, Teresa não passava de uma freira atacada de
histerismo.
Reconduzida
com justiça a seu patamar merecido na Igreja foi canonizada e alçada à extrema
regalia de Doutora, como o foram Santo Agostinho e Tomás de Aquino.
Então,
tenho em mãos esse interessante livro de Deonísio da Silva, confrade na
Academia de Letras de Brasília – ACLEB, escritor, professor emérito e
dicionarista. Não se trata de biografia, esta já se encontra gravada nos devidos anais da Igreja,
seus livros repositório de sabedoria e espiritualidade, como o merece.
O
livro do autor descreve a santa sob o olhar de um adolescente seminarista,
enquanto no Seminário ele relata suas peripécias com colegas, dúvidas e
atropelos de um rapaz ainda a fazer seu próprio caminho. Mais tarde, já ex-seminarista, torna-se escritor, professor e constrói, em
memória, os eventos, em estilo mais ou menos realista, mas com graça e
naturalidade, ensejando merecer o que mereceu — sua obra ser premiada pelo
Biblioteca Nacional.
Assim
como o Professor Deoníseo, também amamos Teresa d’Ávila, conhecemos sua obra,
mas principalmente aquele inefável soneto, seu legado espiritual dos mais
significativos, que começa assim:
No me mueve, mi Diós, para querer-te,
El cielo que me tienes prometido,
Ni mi mueve el infierno tan temido,
Para dejar por eso de ofender-te.
Lá,
no limiar de seu resplendor, Santa Teresa d’Ávila há de elogiar seu fã, Deonísio,
que lhe dispensou tanto carinho aqui em nosso ermo, assim como este servo que estas linhas
subscreve.
Bsb, 19.O2.25