sábado, 22 de agosto de 2015
sexta-feira, 21 de agosto de 2015
DA MULTIPLICAÇÃO DOS PÃES
AOS FAZEDORES DE TUDO
O Admirável Mundo Novo huxeliano agora está se tornando cada vez menos “admirável” e mais “enigmático”. Os resultados beiram a absurdidade. O formalismo kantiano parece ter imposto ao mundo um modelo apriorístico de desumanização.
Será que temos, todos, consciência do que acontece conosco e com o mundo? A transição – que dizem estamos atravessando – para onde nos levará?
Há mais de dois milênios, na antiga Galiléia, à beira do Mediterrâneo, em meio a pedras e relvas, uma multidão, de cerca de cinco mil pessoas, se reunia para ouvir as palavras de um profeta de origem judaica, humilde, acompanhado de discípulos, a maioria pobres, incultos pescadores. Chamava-se Jesus – o Mestre Jesus de Nazaré. A multidão reunida por algum tempo e vendo-a já faminta, o Mestre Jesus ordena a seus discípulos que alimentem aquelas pessoas. Mas como se eles só tinham cinco pães e dois peixes! Jesus toma os poucos pães e peixes, abençoa-os e manda distribuí-los. O fato está narrado nos Evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João. É a “Multiplicação dos Pães”.
Os partidários das ideologias de esquerda e dentre eles alguns sacerdotes católicos supostamente progressistas enfatizam que o Mestre, ali, não realizou milagre, com esse gesto simbólico. Ele, na verdade, quis passar a ideia de partilha, de distribuição, não só de pão, mas de bens, uma espécie de igualitarismo à guisa de fraternidade. Essa concepção tem sido maldosamente espalhada pelos áulicos do socialismo, para esconder o milagre, trocando a “multiplicação dos pães” por “distribuição de bens”, vale dizer, a socialização dos bens de produção e consumo, consequentemente desvirtuando as palavras do Mestre e toda a teologia cristã. Justifica-se, assim – pela boca do próprio fundador do cristianismo – a implantação do comunismo no mundo. E pior: como apanágio civilizatório.
A mídia e certos comunicadores imbuídos da magia ideológica têm, inclusive, se aproveitado de algumas assertivas descontextualizadas do atual Papa Francisco. Ocorreu na homilia do Papa em recente visita à Bolívia, dia 15.0715, em Santa Cruz, em cuja homilia, sobre essa célebre passagem dos Evangelhos, (Mt 14, 13-21 e 15,29-30; Mc 6,30-40 e 8, 1-18; Lc 9,10-17; Jo 6,1-13) ele disse:
Ora, lógica de comunhão de comunidade, como disse o Papa, não quer dizer necessariamente – como os ideólogos marxistas pensam – distributismo planejado, repartição compulsória de bens materiais, enfim, socialização de bens de consumo e produção. Trata-se, portanto, de uma distorção absurda, transformar o Salvador em porta-voz de uma doutrina instituída muitos séculos depois, cujos postulados, pragmáticos e espúrios, contradizem abertamente a doutrina de Jesus. Ele, Mestre dos Mestres, de origem divina, não fez sermão ideológico, Seu reino não era deste mundo. Suas mensagens são de justiça e paz. Sua vida justifica-se pela redenção da humanidade, inclusive para cumprir profecias anteriores.
E assim “caminha a humanidade” em sua evolução. Ou incompreensão nessa espécie de vertigem progressista, enigmática, sim, mas desumana. O mundo cada vez mais tecnológico. Mas por que se afasta tanto de seu élan simbólico, a transcendência, trocando-a por uma imanência estupefaciente, mas desumanizante?
Se avançamos tanto em tecnologia, por que ainda grassa tanta fome no mundo? A cada três segundos uma pessoa morre de fome, enquanto 1/3 de alimentos produzidos vai para o lixo. É o levantamento da ONU.
Segundo o Instituto Internacional de Investigação sobre Políticas Alimentares, da FAO, em 2010 mais de um bilhão de pessoas, portanto 7% da populacional mundial passa fome em regiões como a Africa Subsaariana e o sul da Ásia.
Agora veja-se o absurdo. A população mundial cresce num ritmo de 53% ao ano. Em 2.100, por exemplo, seremos possivelmente 11, 2 bilhões de pessoas habitando o planeta Terra.
E qual é a situação do Brasil?
Segundo o Pnad de 2013 – Pesquisa Nacional de Amostras de Domicílios sobre Segurança Alimentar, 7,2 milhões, ou seja 3,5% da população total do País à época de 200,4 milhões (Banco Mundial), passam fome. A despeito do “maravilhoso mundo novo brasileiro” proclamado pelo PT e seu desastroso governo.
Esse é o quadro tempestivo da fome no mundo – fome essa que decorre da condição ainda de quase eterna pobreza dos habitantes terrestres. Situação que perdura, em razão da geopolítica vigente no mundo que privilegia esse frenesi da humanidade pelo progresso e pela tecnologia.
Não é extremamente contraditório esse furor pelo progressismo e pela técnica, com seus fantásticos resultados? Enquanto boa parte da população mundial – 7% – vive sem comer ou em extrema pobreza?
A propósito, não serão esses os “fazedores de tudo” do amanhã?
Em entrevista recente à Veja (2.09.15), certo tecnólogo dentre esse grupo de gurus transformadores do mundo, declarou que no futuro próximo, máquinas surrealistas estarão prontas para produzir praticamente tudo: casas, utensílios, produtos de consumo – e quem sabe também seres humanos?
Tudo bem – mas será que acabarão com a fome no mundo?
Conseguirão saciar, também, a fome espiritual dos homens?
CDL/BSB, 5.09.15
VA VIDA TEM SENTIDO?
“Nem só de pão vive o homem” ( Mt.4,4) e
AOS FAZEDORES DE TUDO
O Admirável Mundo Novo huxeliano agora está se tornando cada vez menos “admirável” e mais “enigmático”. Os resultados beiram a absurdidade. O formalismo kantiano parece ter imposto ao mundo um modelo apriorístico de desumanização.
O ser humano,
protegido que foi pela armadura da intuição sensível baixa agora sua guarda
natural e perde a luta contra o empirismo científicista. Entretanto, engana-se
quem pensa que esse novo ser humano construirá um Mundo Novo. Longe disso: esse
midiático ser se propõe nada menos que implantar uma nova utopia – a utopia do
homem maquínico, cada vez mais desprovido de intuição e inteiramente formatado
pelo modelo ideológico, responsável e demolidor, a proclamar-se guardião apriorístico da sua
existência.
A partir desse
fenômeno, de globalização formal da razão abolido qualquer resquício dos
pressupostos do conhecimento sensível, a modernidade depara-se com um novo
paradigma, que é o de igualar as desigualdades sociais, culturais e
conjunturais. E o que vemos é o mundo entrar num processo de massificação das
massas, o igualitarismo funcional, sistêmico. Em outras palavras: o ser humano
troca a liberdade pela alienação, pela qual ao Estado delega-se a panaceia da
felicidade humana, competindo a ele atender nossas necessidades, da existência
à convivência, da imanência à supressão da transcendência. E o mundo passa a
ser um campo de batalha, para cuja liça nos apresentamos sem a necessária
defesa, porque o Estado nô-las roubou.
Encontramo-nos, por assim dizer, desamparados e indefesos. E pior:
incapazes de exercer nosso livre arbítrio e fazer valer nossa consciência.Será que temos, todos, consciência do que acontece conosco e com o mundo? A transição – que dizem estamos atravessando – para onde nos levará?
Há mais de dois milênios, na antiga Galiléia, à beira do Mediterrâneo, em meio a pedras e relvas, uma multidão, de cerca de cinco mil pessoas, se reunia para ouvir as palavras de um profeta de origem judaica, humilde, acompanhado de discípulos, a maioria pobres, incultos pescadores. Chamava-se Jesus – o Mestre Jesus de Nazaré. A multidão reunida por algum tempo e vendo-a já faminta, o Mestre Jesus ordena a seus discípulos que alimentem aquelas pessoas. Mas como se eles só tinham cinco pães e dois peixes! Jesus toma os poucos pães e peixes, abençoa-os e manda distribuí-los. O fato está narrado nos Evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João. É a “Multiplicação dos Pães”.
Os partidários das ideologias de esquerda e dentre eles alguns sacerdotes católicos supostamente progressistas enfatizam que o Mestre, ali, não realizou milagre, com esse gesto simbólico. Ele, na verdade, quis passar a ideia de partilha, de distribuição, não só de pão, mas de bens, uma espécie de igualitarismo à guisa de fraternidade. Essa concepção tem sido maldosamente espalhada pelos áulicos do socialismo, para esconder o milagre, trocando a “multiplicação dos pães” por “distribuição de bens”, vale dizer, a socialização dos bens de produção e consumo, consequentemente desvirtuando as palavras do Mestre e toda a teologia cristã. Justifica-se, assim – pela boca do próprio fundador do cristianismo – a implantação do comunismo no mundo. E pior: como apanágio civilizatório.
A mídia e certos comunicadores imbuídos da magia ideológica têm, inclusive, se aproveitado de algumas assertivas descontextualizadas do atual Papa Francisco. Ocorreu na homilia do Papa em recente visita à Bolívia, dia 15.0715, em Santa Cruz, em cuja homilia, sobre essa célebre passagem dos Evangelhos, (Mt 14, 13-21 e 15,29-30; Mc 6,30-40 e 8, 1-18; Lc 9,10-17; Jo 6,1-13) ele disse:
“... Por meios destas ações (tomada, benção
e entrega) Jesus consegue transformar a lógica do descarte
numa lógica de comunhão de comunidade.”
Ora, lógica de comunhão de comunidade, como disse o Papa, não quer dizer necessariamente – como os ideólogos marxistas pensam – distributismo planejado, repartição compulsória de bens materiais, enfim, socialização de bens de consumo e produção. Trata-se, portanto, de uma distorção absurda, transformar o Salvador em porta-voz de uma doutrina instituída muitos séculos depois, cujos postulados, pragmáticos e espúrios, contradizem abertamente a doutrina de Jesus. Ele, Mestre dos Mestres, de origem divina, não fez sermão ideológico, Seu reino não era deste mundo. Suas mensagens são de justiça e paz. Sua vida justifica-se pela redenção da humanidade, inclusive para cumprir profecias anteriores.
E assim “caminha a humanidade” em sua evolução. Ou incompreensão nessa espécie de vertigem progressista, enigmática, sim, mas desumana. O mundo cada vez mais tecnológico. Mas por que se afasta tanto de seu élan simbólico, a transcendência, trocando-a por uma imanência estupefaciente, mas desumanizante?
Se avançamos tanto em tecnologia, por que ainda grassa tanta fome no mundo? A cada três segundos uma pessoa morre de fome, enquanto 1/3 de alimentos produzidos vai para o lixo. É o levantamento da ONU.
Segundo o Instituto Internacional de Investigação sobre Políticas Alimentares, da FAO, em 2010 mais de um bilhão de pessoas, portanto 7% da populacional mundial passa fome em regiões como a Africa Subsaariana e o sul da Ásia.
Agora veja-se o absurdo. A população mundial cresce num ritmo de 53% ao ano. Em 2.100, por exemplo, seremos possivelmente 11, 2 bilhões de pessoas habitando o planeta Terra.
E qual é a situação do Brasil?
Segundo o Pnad de 2013 – Pesquisa Nacional de Amostras de Domicílios sobre Segurança Alimentar, 7,2 milhões, ou seja 3,5% da população total do País à época de 200,4 milhões (Banco Mundial), passam fome. A despeito do “maravilhoso mundo novo brasileiro” proclamado pelo PT e seu desastroso governo.
Esse é o quadro tempestivo da fome no mundo – fome essa que decorre da condição ainda de quase eterna pobreza dos habitantes terrestres. Situação que perdura, em razão da geopolítica vigente no mundo que privilegia esse frenesi da humanidade pelo progresso e pela tecnologia.
Não é extremamente contraditório esse furor pelo progressismo e pela técnica, com seus fantásticos resultados? Enquanto boa parte da população mundial – 7% – vive sem comer ou em extrema pobreza?
A propósito, não serão esses os “fazedores de tudo” do amanhã?
Em entrevista recente à Veja (2.09.15), certo tecnólogo dentre esse grupo de gurus transformadores do mundo, declarou que no futuro próximo, máquinas surrealistas estarão prontas para produzir praticamente tudo: casas, utensílios, produtos de consumo – e quem sabe também seres humanos?
Tudo bem – mas será que acabarão com a fome no mundo?
Conseguirão saciar, também, a fome espiritual dos homens?
VA VIDA TEM SENTIDO?
Vivemos a era de apologia ao sexo, pós-liberação
sexual, liberdade absoluta de pensar, agir e fazer. Palavras de ordem nos
espicaçam a mente. Uma espécie de laisser faire, laisser passer nos
induz que tudo é permitido, contanto que nossos inflados egos sejam
satisfeitos.
Ora,
Dostoievski com sua filosofia de subsolo, mas, convenhamos plena de sabedoria
já nos prevenia : “Se Deus não existe,
então tudo é permitido.”
Figuras em
mentes supostamente progressistas e tecnólogos de plantão teimam por
profetizar: “São os novos tempos, é o
futuro do mundo!”
Em Roma, Cícero
aquele que a história oficial considera um dos romanos mais eruditos preconizou,
já na sua época – “Ó, tempos, ó costumes”...
Previa na verdade o desmoronamento do Império Romano, não porque demolido pela
mão humana ou em decorrência de um fenômeno natural, mas, sim, devido ao
desregramento da moral e dos costumes.
Então – nós
seres humanos do século XXI, como ficamos, sobre cujas cabeças pesam crimes e
castigos, ao mesmo tempo, que, em contraparte, somos capazes de ascender aos
altos escalões no exercício da espiritualidade, a exemplo de Santo Agostinho,
Santo Tomás de Aquino ou de São Francisco de Assis e Santa Tereza d’Ávila?
Dir-se-á que o
mundo encontra-se numa encruzilhada cuja melhor saída ainda nos é desconhecida.
Melhor – a verdade é que nós não temos
tido capacidade de efetuar a escolha certa – porque até o momento nos falta a
plenitude da sapiência necessária para encontrarmos o rumo certo.
Mas que rumo
seria este?
Com a devida
vênia, arguimos nós: é o “sentido da vida” – de nossa vida.
Um teólogo
moderno, mas conservador – Pe. Paulo Ricardo – nos responde com absoluta
convicção: “ o sentido de nossa vida é o
céu...”
Evidente que
esta é a meta do cristão, a visão crística.
Mas – argumenta
o Padre – “Será que é prudente a pessoa
cujo o único objetivo na vida seja ficar rico, gozar de todos os prazeres
mundanos, desfrutar de todas as experiências da matéria?”.
Concluímos por
dizer que a prudência nos ensina, pela experiência de milhares de anos de
vivenciamento civilizacional que é da índole humana buscar incessantemente o
sagrado. Nascemos matéria, mas com o gosto para o alto, para a espiritualidade.
Se assim não o fosse – por que nos preocuparíamos tanto com as estrelas que
enxameiam o céu, como elas nascem, incendeiam-se e de repente se apagam, para
renascer novamente como supernovas?
Significativas
se nos afiguram as palavras do Mestre:
“Na casa de meu Pai, há muitas moradas” (Jo.
14, 1-2)
Aliás, uma
delas, quem sabe – se formos
suficientemente prudentes – não estará reservada para nós?
Bsb. 21.08.15
quarta-feira, 12 de agosto de 2015
ARGUMENTOS RACIONAIS À INDIGNAÇÃO
Vivemos dias difíceis, o país
mergulhado numa espécie de convulsão na economia, na política, a sociedade
pasma diante do estado de choque em que se encontra. Será lícito – nos diz o
bom senso – toda uma Nação se vê sob tão repugnante situação e, mesmo assim,
permanecer calada?
O mesmo bom
senso parece nos sugerir que não. Ora,
se a razão que deve comandar a ação e uma vez que essa mesma ação se determine
ao largo da razão, então essa ação
tornar-se-á, no mínimo, inócua, posto que não orientada pela boa razão.
Diante desse
raciocínio, que se poderia dizer, intrinsicamente dialético, os governos só são
considerados justos, quando sua ação tenha como resultado o bem comum, a
felicidade dos governados, o bem estar geral da sociedade. É um princípio
básico, fundamento, por sinal, ínsito à própria democracia, como governo do
povo, pelo povo. Eis a essência da democracia grega, modalidade de governo
citada por Platão, ao lado da aristocracia gerida pelos nobres e aquela
contraponto à tirania, dos três regimes
o mais nefasto – segundo o filósofo. Observe-se, a propósito, que Platão se
inclinava para a república dos sábios e para ele a dita democracia seria regime
suscetível de contaminação. Muita gente hoje – constitucionalistas e sociólogos
ufanistas – desconhecem essa interpretação platônica ou ousam ignorá-la.
Queiramos ou
não, havemos de convir que nossa democracia se encontra doente, em estado de
paralisia, suas raízes sub-repticiamente contaminadas – e o pior tendente a se
transforar numa espécie de tirania socializante, em que o estado, sub-rogando-se
novo Leviatã, avassala seus súditos e os escraviza a uma ideologia que só
tresanda a atos e procedimentos arcaizantes, nos quais estão ínsitos paixões e
objetivos asfixiantes, lesivos à liberdade e absolutamente contrários aos
ideais patrióticos, cristãos e condizentes com o livre-arbítrio de
autodeterminação.
Ora, o que
vemos, em nosso País é um cenário absolutamente corrosivo, onde grassam o
vilipêndio, a falta de ética, o despudorado dilapidar dos bens públicos, como
método e ação corriqueiros. O que vemos, estarrecidos, não é só triunfar as
nulidades naquela previsão escatológica de Rui Barbosa, que tanto o apavorou,
no passado. È muito pior, estratosfericamente danoso: o que se vê é o roubo
descarado dos cofres públicos, o assalto armado de colarinho branco às
instituições, aos órgãos públicos e privados, sem nenhum pejo, às escâncaras,
inclusive à luz e sob a leniência da Justiça, da Lei, da Constituição.
Observem-se
isto, a propósito. O povo encontra-se acuado, desesperançado, de certo modo
traído por uma eleição contestável, cujo programa de ação é falível e
inexequível, por ineficiência e incapacidade de gestão, só tem uma saída
dignificante – protestar, em atos de inconformidade, nos panelaços, nos
buzinaços até culminar nas passeatas gigantes nas ruas.
Evidente que
somos avessos ao golpismo, ao intervencionismo irresponsável, conscientes de
nossas garantias constitucionais e republicanas, bens obteníveis ao longo de
nossa história. Mas, atentemos para o que grandes filósofos, católicos
inclusive, ensinaram a respeito do que seria “uma guerra justa”:
Diz Santo
Agostinho (sobe o livre arbítrio, I, 5,33, C.Chr. XXIX, 217):
“Não se vê ser
lei a que não for justa.”
Sobre a dita
“guerra justa”, explicita Agostino que os cristãos deviam ser pacifista, mas
podiam usar a força como meio de preservar a paz a longo prazo. O pacifismo,
argumenta, não é contrário à defesa dos inocentes ou à autodefesa, necessário,
às vezes, o uso da força.
Quanto à observância
das leis, refere o mesmo Agostinho, citando Atos 5,29: “É mister obedecer antes
a Deus que aos homens.” E doutrina:
“Se o povo é
bem moderado e grave, guardião diligentíssimo da utilidade comum, é reta a lei
que estabelece ser lícito a tal povo criar os magistrados pelos quais seja a
coisa pública administrada. Mas, se, paulatinamente, tal povo se deprava
tornando venal o seu sufrágio e confia o regime a homens ESCANDALOSOS e
CELERADOS, é correto tirar-se tal povo do poder de atribuir as honras, sendo
este de novo confiado ao arbítrio de uns poucos bons”. (sobre o livro-arbítrio,
1, 6,45.C.Chr XXIX, 219) – grifos nossos.
De sua vez,
Santo Thomás de Aquino, sobre se a lei humana deve ser mudada: “Deve dizer-se,
como se disse, a lei humana é corretamente mudada na medida em que por sua
mudança se provê a utilidade comum.”
Sobre a
tirania, o regime tirânico:
“... E, se é
insuportável o excesso de tirania, pareceu, a certos, competir ao valor dos
homens fortes matar o tirano e exporem-se aos perigos de morte pela libertação
da multidão, coisa de que há exemplo até no Velho Testamento” (Jz 3, 15-28).
O mesmo
filósofo denominado Angélico estabeleceu três condições que justificam à
chamada “guerra justa”:
(a) deve
ocorrer por causa BOA E JUSTA;
(b) ser
declarada por autoridade legal; e
(c) ter
como motivação central a PAZ.
Pensamos, com a devida reserva, que todas
as condições parecem justificar a irascibilidade atual do povo e arrastá-lo às
ruas, única ágora democrática justificável diante de tanta indecência, má
gestão, injustiça e irresponsabilidade
na gestão do Estado.
CDL/BSB, 13.08.15
sábado, 8 de agosto de 2015
sábado, 1 de agosto de 2015
sexta-feira, 31 de julho de 2015
TROCA SOLIDÁRIA SALVARÁ O MUNDO?
É voz geral: estamos em estado de
crise. Crise geral, quiçá irreversível. Nações em descontrole, o caso gritante
da Grécia, o terrorismo aterrorizando com mais atrocidades do que nunca, haja
vista os desmandos praticados no Oriente Médio pelo famigerado Estado Islâmico.
Os articulistas
de nossa mídia, a começar pela televisiva, também falada e escrita, não poupam
críticas ao governo, a maneira como o País vem sendo administrado.
Na revista
Veja, por exemplo, semanalmente seus repórteres, cronistas e editorialistas
apontam as inúmeras ações que vêm obstruindo o itinerário correto da Nação,
cujo resultado tem sido a resseção, um desvio temerário e inconsequente. Só se
fala em dificuldades, o consumo em marcha ré, com o aumento do desemprego e o
desânimo popular em alta. E para piorar esse cenário quase desolador, os
políticos nas suas atitudes contraditórias, contra ou a favor da governança,
insinuam moções drásticas, ninguém sabe até que ponto lesivas, como o
impeachment da presidente e outros imbróglios institucionais. Tudo em
decorrência da ação demolidora dos desdobramentos das operações criminais, a
“lava jato” impetrada e levada a seu extremo pela Polícia Federal.
A corrosão
política, social e econômica chega a tal ponto de Lya Luft, cronista da Veja,
sempre muito equilibrada em suas observações, definir a Pátria, em vez de
“educadora” como alardeia o governo, “madrasta”, dada a ineficácia da
administração. Enquanto isso, em entrevista à mesma revista, certo demógrafo do
IBGE acusa o governo de não ter aproveitado a época 1970 da “... vantagem de ter uma população ativa
majoritária” que, segundo ele, se
encerrará em 2030, mas, a essa altura, praticamente perdida nossa chance de se
tornar uma grande nação, em termos de progresso – espécie de “pedaladas demográficas”
por negligência, executadas na contramão
do desenvolvimento.
A falta de
perspectiva não acontece só no Brasil, mas se reflete no mundo todo, basta
consultarmos as mídias.
Pois é de
Portugal que nos vem uma notícia, no mínimo auspiciosa: a existência de um
Banco “onde a moeda não é o dinheiro e sim o tempo.”
Parece
incrível, mas este “Banco” é um sistema de troca de ações solidárias. Diz o
informativo da entidade: “A instituição troca o dinheiro pelo tempo para que as
pessoas possam fazer serviços uma às para as outras”. Portanto, trata-se de uma
rede de solidariedade em que as pessoas se ajudam trocando, em vez de palavras,
serviços. Tudo feito através de um coordenador geral que é o Banco. O serviço é
pago com um “cheque do tempo”. Quem prestou o serviço deposita o cheque, que é
creditado em sua conta e pode a partir dai obter serviços oferecidos pelos
outros membros do Banco.
Com as devidas
proporções, o serviço tem alto valor humanitário e se efetiva através de ações
e atitudes voluntárias. Há coisa mais maravilhosa do que isto, fazer que as
pessoas se desprendam de seus egoísmos e prestem serviços a outras, afastando a
hipótese de dinheiro? É uma espécie de voluntariado de serviços, capaz,
inclusive, de criar vínculos de amizade entre as pessoas.
Nós
brasileiros, acostumados apenas a reclamar de tudo e ao mesmo tempo incapazes
de prodigalizarem exemplos de solidariedade, exceto em circunstâncias extremas
– que tal mudar esse cenário e criarmos também nosso Banco do Tempo?
Oxalá a
novidade encontre resposta em nosso meio e. a exemplo de nossos patrícios do
outro lado do Atlântico, nos tornemos
mais solidários, mais disponíveis, adotando esse sistema de troca.
A troca
solidária pode não salvar o mundo, mas certamente nos tornará seres realmente
dignos da humanidade.
CDL/BSB,1.08.15segunda-feira, 29 de junho de 2015
LAUDATO SI – A ENCÍCLICA
ECOLOGICA DE FRANCISCO
“Louvado
Seja, Meu Senhor” – esse o título da encíclica publicada em 26.05.15
pelo Papa Francisco, em Roma. O título é extraído de um cântico de São
Francisco de Assis: “Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa, a mãe terra, que
nos sustenta e governa e produz variados frutos e com flores coloridas e
verduras” (Cantico delle creature: Fonti Francisco, 263).
Contém o
documento pontifício 246 tópicos e todos o seu conteúdo é demonstrado ou
fundamentado em 172 fontes bibliográficas, o que pressupõe a garantia dos
conceitos ali expostos.
O próprio Papa
admoesta ser uma “longa reflexão jubilosa e ao mesmo tempo dramática”.
Percebe-se logo que, com sabedoria e grande pertinácia, o Pontífice se desvia
do proceder dos chamados “ecoxiitas”, quando querem impor ao mundo e às nações
certos conceitos e ações, às vezes temerários de que se julgam portadores de
forma absoluta.
Podemos dizer
que a encíclica se apoia em dois principais pressupostos:
(a) uma
reflexão jubilosa
(b) uma
propositura dramática de ações
Sob a égide reflexiva, a encíclica faz
uma exortação maravilhosa sobre a natureza e a Criação de Deus, tendo por
paradigma a luminosa figura de São Francisco de Assis. Aliás, sabemos que o
santo inspirou o título do Papa ao
exercer seu vaticanato.
À guisa de proêmio, a encíclica
premune-se de exortações e elegias antes de fazer as advertências e as
orientações que considera imprescindíveis à guarda e proteção do meio ambiente.
Depois, na sua segunda etapa, é um conjunto de medidas e ações concretas a
serem observadas por toda a Igreja, extensiva também às pessoas de boa vontade,
independente da religião que professam.
Não se trata, evidentemente, de um
documento qualquer, mas uma mensagem de alto teor teologal indutor de salutares
e virtuosas ideias, de cunho propedêutico, de grande alcance e repercussão na
sociedade, inclusive a laica.
Assim, apoiado nesses dois pressupostos,
um elegíaco e outro admoestativo – sem perder o horizonte da melhor doutrina
católica – o Pontífice afastou-se estrategicamente das ações de caráter
ecoxiita, espécie de terrorismo ecológico disfarçado.
Isso não implica que o Supremo Pontífice
deixe de condenar os atentados praticados à natureza e, inclusive, se mobilize a recomendar a adoção, pela sociedade
e pelos organismos pertinentes, medidas políticas eficazes e de alcance
duradouros, ações que, em conjunto com
os movimentos éticos e ecológicos, envolvendo a sociedade humana,
obtenham êxito na luta contra a degradação ambiental.
As diretrizes do novo documento papal não
considera, como foco crucial da questão, as ostensivas pretensões dos
ecoxiitas, mas prefere fazer um diagnóstico da situação, pedindo o apoio de
toda sociedade, para que, num esforço coordenado, procurem encontrar as melhores
soluções possíveis.
E nesse sentido, não tem receio de
apontar também como coadjuvante na degradação ambiental, o próprio ser humano,
na medida em que se torna individualista ou, o que é pior, se omite no
enfrentamento do problema, inclusive quando endossa campanhas meramente
evasivas, com resultados ineficazes.
Sem deixar de demonstrar o lado perverso
da problemática sobre o qual tanto demonizam os que defendem a bandeira
ecológica radical, o Papa Francisco apela para o bom senso dos seres humanos,
propondo como modelo e conduta admiráveis, seu patrono no Vaticano – São
Francisco de Assis.
Destarte, a encíclica, Laudato
Si, além do mérito educativo e religioso que está implícito em seu
modus operandi, novo júbilo se desprende de seus 247 tópicos – um hino de louvor
à Criação, à sapiência do Criador – enquanto alimenta a esperança, sob a mais
lídima fé, de que os seres humanos se solidarizem como guardiões da natureza e
adotem novos estilos de vida. E que façam de seus dias um continuado ato de
louvor a Deus, em sua múltipla transcendência.
CDL/Bsb,
29.06.15
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