sábado, 10 de junho de 2017




       OS HOMENS E OS LIVROS DE UMA NAÇÃO


           



             Monteiro Lobato – nosso grande escritor e empresário cultural – certa feita declarou: “Uma Nação se constrói com Homens e Livros.
Nos tumultuados dias de hoje as palavras do mestre ecoam enigmáticas e parecem se diluir na formidável catapulta de fatos e ocorrências em que se acha envolvido nosso País.
                  – Onde se encontram os homens e os livros com que devemos contar para a salvação da Pátria? — seria de perguntarmos estarrecidos.
                    Outrora, às primícias civilizatórias, os sonhos humanos eram acolhidos pela pletora de grandes sábios: Péricles na proclamação da Era de Ouro aos atenienses, quatro séculos antes da era crística. Túlio Cícero quando acusa no Senado Romano a rebeldia de Catalina, para salvação de Roma. Paulo de Tarso, judeu drasticamente convertido cuja tenacidade apostólica disseminou a semente do Evangelho da Boa Nova cristã na antiguidade. Abrãao Lincoln,  com dignidade e coragem, ousou estancar a sangria da escravatura nos Estados Unidos conflagrados. E quantos quejandos mais...
                     Em nossas plagas, não se dirá menos: o espírito nacionalista no exemplar patriotismo de José de Bonifácio de Andrade e Silva, junto ao Império de Dom Pedro II; o empreendedor extraordinária que foi João Evangelista de Souza, o Visconde de Mauá – verdadeiro precursor do desenvolvimento nacional; patriotas como José do Patrocínio, Castro Alves e Joaquim Nabuco, cujas vozes retumbantes contribuíram para execrar de uma vez por todas a escravidão no Brasil;  João Francisco Lisboa cuja tribuna, com audácia e inteligência, com seu jornal Timon, em Lisboa, defendeu a cultura e o nacionalismo de sua Pátria. E o que dizer de nossos protomártires e mártires, cujas vidas foram sacrificadas em favor de um ideal libertário? Manuel Bequimão no Maranhão, Frei Caneca em Recife e o alferes José Joaquim da Silva Xavier, em Ouro Preto?
                   São apenas meros exemplos, pinçados ao alvedrio do pensamento, enquanto inúmeras outras figuras, hoje, diluem-se na poeira inexorável do tempo, que as páginas da historiografia moderna , injustificavelmente ousa sufocar no esquecimento.
Indagar-se-á então: e hoje, onde estão os homens e mulheres que resgatarão o País da ignomínia? Não temos resposta, pelo menos por enquanto.
                     E quanto aos livros, como responder ao Mestre Lobato, com seu maravilhoso sonho de transformar o País pela leitura e modernidade?
Ah, meu nobre Mestre de cuja pena lúdica nasceram personagens tão fabulosas para crianças e adultos – os livros que agora empanturram as prateleiras e balcões das nossas livrarias são de autores desconhecidos, os chamados “best-sellers” – esses são lidos apenas para divertir, depois jogados no lixo, por inúteis. E os nossos clássicos, os cultores do idioma, os artistas no ofício de escrever, aqueles que enobreceram nossa cultura e defenderam nossos anseios narrando com desassombro a aventura do viver? Onde estão nossos clássicos, senhores?
                      Júlia Lopes de Almeida, Constantino Paleólogo, Cornélio Pena, Casimiro de Abreu, Castro Alves, Sousândrade, Paulo Setúbal, Graça Aranha, Aluizio e Arthur Azevedo, Olavo Bilac, Afonso Celso, Gastão Cruls, Humberto de Campos, J.G. de Araújo Jorge, Dinah Silveira de Queiroz, Maria José Dupré, Oswaldo França Jr., Breno Aciolly. Josué Montello,  e tantos outros mais...
                      Dir-vos-ei: desapareceram, os editores os eliminaram das prateleiras,   consideram-nos, todos, impublicáveis, por obsoletos!
Agora, só resta nos contentar com o reverso da pergunta de Monteiro Lobato: “Uma nação se destrói  sem homens e sem livros.
                       CDL/Bsb, 11.06.17