terça-feira, 12 de novembro de 2019


      A TEORIA DO MEDALHÃO  
        
      EM  NOSSOS DIAS E TEMPO




Vem-nos à baila o caso do Medalhão — aquele conto de Machado de Assis, A Teoria do Medalhão.
Mas o que é o Medalhão, o que, quem é essa figura conhecida e reconhecida como Medalhão? Esclarecemos, antes que falem os tolos. Medalhão é a coisa mais corriqueira nos dias atuais, embora essa anomalia tenha frequentado de há muito a historiografia humana, expletivo do convívio social, basta uma consulta aos alfarrábios. Medalhões são aquelas pessoas, vultos conscientes e inconscientes que se distinguem em meio à corte, não por qualidades originais ou perfeitas, plenitudes sapienciais. O Medalhão acumula consigo o solecismo da esperteza, suas armas potenciais são a ousadia, a loquacidade e o devaneio ao manusear a arte de falar, embelezar a vida e o tempo, sublimar o amigo e vilipendiar o afoito adversário.  Explicação mais clara? Recorram aos escritos e às atuações dos figurões que habitam e habitaram nossa terra papagalis, imitando aqueles que afluíram mundo afora. A mediania tem viralizado desde que o mundo é mundo. Construíram-se, ergueram-se prédios, criaram-se coisas e loisas no vagar do tempo, inclusive essas figuras caricatas cujas ideias têm conseguido fazer séquito de incautos seguidores.
O Medalhão é um ser díspar, gênero dos moluscos recorrentes, que conseguem encantar dóceis e vulneráveis criaturas com suas falácias, aderir a seu bom e mal sofisma.
Distinguí-los? É fácil, basta recorrer ao nosso redor, a qualquer momento, vamos encontrar um exemplar, no rádio, na televisão, nos jornais — e agora nesse campo aberto, as redes sociais, neste vale tudo virtual de trivialidades. Há sempre um deles a postos, engravatado, cara rapada, voz tonitruante, ou de baba aparada, à guisa de monge cisterciense. Estalam e vomitam informações, criam conceitos, expelem modernas normas de conduta, volatizam as ideias mais atuais correntes na mídia, da anedota diária, do fundo do quintal do vizinho às estrelas do universo.
Se vivo fosse, nosso bom e puritano Machado não perderia o azo de escrever, não um conto como o fez com seu Medalhão, mas um manual que designaria ironicamente Tratado Geral dos Medalhões e subtítulo Como sofismar para ganhar a vida e mediocrizar amigos e inimigos.
E que nos perdoe nosso bom e conceituado Dale Carnegie que de há muito tenta influenciar pessoas. Sem querer, deu margem e fôlego aos nossos badalados Medalhões que, hoje em magote, nos infernizam a razão e a paciência com suas excrescências existenciais.
CDL/Bsb, 12.11.19