FRATELLI TUTTI -
ENCÍCLICA CATÓLICA?
Tem sido matéria viralizada nas redes sociais a encíclica
publicada pelo Papa Francisco no dia 4 deste mês, no Mosteiro de São Francisco
de Assis. Com o sugestivo título de Fratelli Tutti — Todos Irmãos
— é constituída de oito capítulos, distribuídos em 285 tópicos. A primeira voz
que se levantou contra a encíclica foi do Mons. Carlos Maria Viganó, prelado
dos Estados Unidos. Faz crítica contundente a todo o conteúdo da encíclica,
imputando de herética a doutrina que ali inspira. Outros religiosos têm-se pronunciado,
inclusive o Frei Tiago de São José, da Ordem do Carmelo, Bragança Paulista. A
ponto de nas redes viralizar a informação de que há cerca de 1.000 religiosos
contra os atos, como esse da encíclica, do Papa Francisco.
Por enquanto, vamos nos ater às
inovações constantes da nova encíclica. Claro que não temos o conhecimento
teológico do Mons.Viganó, nem a coragem de Frei Tiago — este envolvido em
imbróglio religioso por Bispo da Diocese de São Paulo — o que não nos impede,
como leigos da Igreja Católica, de nos mantermos alertas e não nos eximirmos de
exercer nosso dever como tal, nos termos do Catecismo Católico, item 897 e
seguintes.
Logo no prefácio, a encíclica
conclama a todos — católicos e não católicos, de fé cristã, ortodoxa ou de
outros credos, mulçumanos, ateus, revolucionários e anarquistas — “ ... Sonhemos
com uma única humanidade, caminhantes da mesma carne humana, como filhos desta
mesma terra que nos alberga a todos, cada qual com a riqueza da sua fé ou das
suas convicções, cada qual com a própria voz, mas todos irmãos.” É um verdadeiro hino à fraternidade universal,
uma exortação ao conúbio em relação a todos os terráqueos, sejam alhos ou
bugalhos, sem distinção de credo, cor, convicções e que tais. Ora, a fraternidade
evangélica, assumida pelo dogma
católico, não nos parece coadunar com essa
fraternidade horizontalizada abraçando todos os povos, indiscriminadamente. Uma
coisa é sermos fraternos com todos, não os odiarmos, mas isto não significa
aceitarmos os erros, desvios e a diferença que separa o crente em Deus com o
descrente, adepto ao materialismo, ritos e costumes híbridos — seria praticamente
aderirmos à barbárie.
Segue-se saudação à trilogia
iluminista, haurida na Revolução Francesa — e também lema da Maçonaria Universal
— liberdade, igualdade e fraternidade. A saudação soa-nos imprópria, até
fora de propósito, hoje, num mundo inflado de tecnologia, a chamada aldeia
global, com diversidade de interesses e proposições, muitas vezes discordantes,
apenas vinculadas pela extraterritorialidade, discordantes em usos e costumes
et allia.
Outra hibridez do Papa: como
considera os direitos individuais — (item 111) ... “envolve uma concepção de
pessoa humana separada do todo o
contexto social e antropológico, quase como uma mônada “manás”, cada vez
mais insensível...” Ora, o direito individual é imprescindível à pessoa
humana, direito inalienável ou na comparação iluminada de G.K.Chersterton
de que a pessoa na vida e no mundo tem o direito mínimo de possuir um
alqueire e uma vaca, para se assumir como ser humano.
A encíclica propugna pelo enlace entre as culturas ocidentais e
orientais, resultante de acertos entre o Papa e Imã Ahmas Al-Tayyed — é
o que dispõe o itens 136 e 141. Temos que nos irmanar com os terroristas
islâmicos, pois “... Só poderá ter futuro uma cultura sociopolítica que inclua
o acolhimento gratuito.”
Como se obteria essa futura fraternidade
universal? Segundo a encíclica: “O caminho para a fraternidade é necessário
uma política melhor, a serviço do bem comum” (item 154). Para atender as
exigências dessa política melhor a legislação específica das nações teria que
se adaptar a elas, os conflitos seriam inevitáveis.
Sobre a filosofia liberal, a
encíclica a acusa de vários defeitos: item 167: “Há visões liberais que
ignoram este fator da fragilidade humana e imaginam um mundo que corresponde a
uma determinada ordem, que, por si só, poderia assegurar o futuro e a solução
de todos os problemas”. Visões liberais? Quer dizer que os liberais não têm
condições de melhorar o mundo, só a esquerda, os movimentos globalistas o
fazem? Enquanto no item 168, acusa o dogma de fé liberal de ... “um
pensamento pobre, repetitivo que propõe as mesmas receitas perante qualquer
desafio que surja.” E mais adiante: “O neoliberalismo reproduz-se sempre
igual a si mesmo, recorrendo à mágica teoria do derrame ou do gotejamento sem nomear — como única via para resolver os
problemas sociais. Por conseguinte, só o socialismo, o globalismo
ideológico é que são ricos em solução
dos problemas, só eles propiciam a salvação do mundo?
E vai mais além a encíclica
supostamente progressista do Papa Francisco: a recomendação de uma nova
ordem... “os Movimentos Populares”, capazes de “animar as estruturas de
governos locais, nacionais internacionais com aquela torrente de energia moral
que nasce da integração dos excluídos na construção do destino comum “(item
169). É a confirmação do pensamento socialista do Papa — apoia movimentos,
ditos sociais, como o MST no Brasil? Não há absurdo maior.
Quanto à globalização, o Papa a
defende como capaz de acabar com a fome no mundo, evitar o desperdício de alimentos, bem como conter o tráfico humano
(item 189). Ora, a realidade tem sido bem diferente, o movimento mundialista
acaba com as fronteiras das nações, facilitando o tráfico, anulando as
legislações nacionais, sem falar que destrói culturas desqualificando suas motivações,
inclusive o amor à pátria.
Já noutro item, a encíclica
aborda o tema “Diálogo e Amizade Social”, anatematiza a falta de diálogo
no sistema atual, o que, ao contrário, seria acolhido plenamente com a
globalização (item 202), diálogo este
que visaria o bem comum. Não seria o reverso, não passaria de um monólogo
monocrático pela ideia socialista, tudo
sendo nivelado por baixo, política, religião, pensamento e atividades?
O assunto agora é a paz, para a
qual se faz necessário uma “arquitetura
da paz” sustentada por um suposto “artesanato” a envolver a todos
(itens 231). O que significa arquitetura da paz? Um complô visando a implantação
do globalismo, uma política audaciosa de transformação planetária segundo a
ideologia social-democrática? Para apoiar
essa tal “arquitetura da paz”, a encíclica recomenda que os ocupantes de cargos
importantes se tornem os “principais protagonistas do destino da própria
nação” (referência a discurso do Papa no encontro com autoridades do corpo
diplomático da sociedade civil, em
Matuto, Moçambique, em 5.09.19 – cfe. Osservatore Romano). Uma incongruência,
pois como num mundo globalizado, através do qual as nações são massificadas,
pode gerar o protagonismo desta ou aquela nação? A rigor, as nações estariam totalmente
apagadas.
No item 238, a tecla é a
violência e a encíclica adverte: “Jesus Cristo nunca convidou a fomentar a
violência ou a intolerância.”
Observe-se, a propósito, que Jesus em seus ensinamentos, como mandatário
divino, sempre age com justiça não aceitando generosamente o erro, o pecado, a
ignomínia. Em Mt.10:34-36, Ele alerta que não veio para a paz, mas para a
espada; em Mt.21: 12 e Mc 11:15-17, expulsa os vendilhões do templo, por
difamá-lo. Também no caso da mulher adúltera, quando a livrou de ser apedrejada
pelos fariseus seguindo a lei judaica (Jo: 8-11), observe-se que a admoestou: “Vai
e não peques mais!”, isto é, se ela continuasse a pecar, não seria perdoada
— é o perdão responsável!
Já na sua parte final, o Papa
trata do que ele diz ser “A Injustiça da Guerra” , enquanto no item 258
assinala: “O Catecismo da Igreja Católica fala da possibilidade de uma
legítima defesa por meio da força militar, o que supõe demonstrar a existência
de algumas “condições rigorosas de legitimidade moral” (CIC – 2039). A
encíclica parece ser totalmente contra a qualquer espécie de guerra, o que, de
certa forma, contradiz o disposto no Catecismo da Igreja, regra fundamentada em
Sto. Tomás de Aquino, em sua Suma Teológica – Parte II Questão 40 — por onde
aceita a chamada guerra justa, desde que tenha três requisitos: a)
autoridade do governante; b) causa justa e c) promova o bem comum para evitar o
mal. O Para Francisco para ser mais realista do que o rei desrespeita a justiça
crística da contemporização responsável.
Por final, nos itens 285 e 287 o
Papa enfeixa sua encíclica, a título de chave de ouro, com seu apelo
apologético à “fraternidade universal” , tomando emprestado,
intempestivamente, a vivência de São Francisco de Assis — em cuja vida
glorificou a natureza, mas não a apoplexia do naturalismo e o compara com outros irmãos não católicos: Martin
Luther King, Desmond Tutu, Mahatma Gandhi e outros que tais.
Em linhas gerais e sem escoimá-la
de muitos outras distorções, ali contidas,
esta foi a má impressão que nos causou a última encíclica do Papa Francisco — Fratelli
Tutti — Irmãos Todos, uma mistura de alhos com bugalhos tudo junto no oceano da
mais falsa das fraternidades: o Condomínio da Permissividade Universal.
Em 20.10.20
Grande Murilo,
ResponderExcluirLouvo vossa coragem para discordar e mesmo criticar a referida encíclica, mas com elegância e conhecimento de causa.
ABs
EVALDO FEITOSA