ATENAS BRASILEIRA E
OS BONDES TURÍSTICOS
Certa feita, João Mohana, sacerdote e psiquiatra maranhense, também autor de duas obras-primas literárias — O Outro Caminho e Maria da Tempestade — segredou que um dos passeios que mais apreciava em São Luís, onde residia, era tomar o bonde e fazer o percurso da rua do Passeio até à Av. Rio Branco, final da linha do bonde Gonçalves Dias.
Pe. João Mohana, palestrante famoso, autor de muitas obras de catequese, hoje esquecido, diga-se de passagem, de há muito é falecido. E com ele também despareceram os famosos bondes de São Luís, capital do Maranhão.
Por que os bondes de São Luís foram retirados do trânsito? A resposta é simples: os prefeitos e políticos maranhenses decidiram bani-los todos, apregoaram ser para bem do trânsito da cidade, praticidade e modernização da capital ludovicense. E para substituírem os simpáticos meios de transporte da população, com ímpetos de galhardia modernista, à sanha de renovar tudo e demonstrar eficiência, assacaram as ruas com asfalto bruto, tornando-as ensolaradas e para completar a insanidade, decidiram fazer uma varredura nos arvoredos da cidade. Resultado: as ruas foram todas acimentadas, para dar vazão ao trânsito infernal e as árvores cortadas, a título de impregnadas de lacerdinhas.
Até que se compreende o arresto. Mas por que todas as linhas dos bondes? Por que não replantar as árvores nas praças e em determinados lugares passíveis de recreação? Por que não continuar com o bonde Gonçalves Dias, que fazia um dos melhores passeios turísticos da cidade — como disse nosso saudoso Pe. João Mohana, que de certo modo ousou, com o lume de suas obras, reavivar São Luís como suposta Atenas Brasileira pela quantidade e luminosidade de seus poetas e escritores?
Ora, vejam a incoerência dos detentores do poder maranhense. Lisboa e Porto, principais cidades de Portugal, jamais as autoridades políticas sequer ousariam retirar os bondes de suas ruas. Certamente enfrentariam o furor de toda a população. E o que fizeram os supostos rebeldes da ilha de São Luís — se acovardaram!
A solução do problema causado pelos bondes em São Luís era fácil de resolver. Que se banissem todas as linhas à guisa de modernização, mas jamais a linha Gonçalves Dias Av. Rio Branco. É simples. Era um passeio turístico, dos mais pitorescos da cidade. São Luís tinha característica de uma cidade turística, seria diante das belezas extraordinárias que o Maranhão possui e infelizmente até hoje são esquecidas ou apenas em parte aproveitadas — os Lenções Maranhenses, sem falar que São Luís é patrimônio da humanidade devido seus prédios históricos, as grades e azulejos de suas moradas. Nossos políticos esqueceram e continuam esquecendo tudo isso.
Imaginem retirarem-se os bondes dessas grandes cidades turísticas em todos o mundo, Lisboa, Porto, Amsterdam e até ali no nosso continente ao norte, a maior potência industrial, financeira e bélica do mundo, os Estados Unidos, Estado da Califórnia, a cidade de Los Angeles, os políticos resolverem banir seus bondes!
O maranhense — e precisamente os políticos — parece ainda não ter conseguido apagar de sua imagem humanística a pecha que lhe imputou o velho e erudito Pe. Antônio Vieira de gente possuidora da maranha.
CDL/BSB, 28.04.22
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