SÃO LUÍS — UMA VISÃO ATUAL
A vetusta cidade de São Luís, capital do estado do Maranhão, tenta vestir-se de nova roupagem urbana. Na verdade, o que acabamos de assistir soa algo diferente. Visitamos a cidade agora mesmo em agosto deste ano. São Luís realmente mudou muito, nem sempre para melhor.
Não há negar, a cidade modernizou-se, graças às pontes que ligaram o conjunto arquitetônico histórico, que passa a ser a cidade velha, para o outro lado da ilha, os bairros de Calhau, São Francisco, a península, hoje englobando a antiga Ponta d’Areia. Esta, por sinal, a parte de São Luís mais viralizada — ontem um logradouro quase desconhecido, verdadeiro pântano, com praias até ameaçadoras, como a de São Marcos.
Enquanto isso, a velha cidade supostamente fundada pelo francês Daniel de La Touche, Senhor de La Ravardière, desmorona-se, a nosso ver imposta pelo certificado de Patrimônio Histórico da Humanidade, que a estratificou no tempo.
Que não se negue à cidade seu valor como centro cultural e histórico — outrora badalada pela alcunha de Atenas Brasileira à custa da plêiade de escritores e eruditos que a consagravam. Não obstante, hoje São Luís parece um burgo em ruínas e o que nos causa mais espécie, sendo destruída aos olhos dos próprios habitantes, que assistem, impassíveis e até deleteriamente, os monumentos históricos, casarões e locais originais passadistas, ruírem dia a dia, à falta de reabilitação.
Basta-nos um passeio para reativar a memória e aquilatarmos a situação precária da cidade.
Eis-nos à Praça Deodoro, onde se encontra o ainda belo prédio estilo nouveau da Biblioteca Benedito Leite. Felizmente preservada, em meio à praça, hoje reconstruída em estilo moderno, apesar de desprovida do antigo arvoredo. Em frente, o famoso Panteão onde se abrigavam os bustos dos intelectuais maranhenses notáveis — por incrível que pareça apenas os suportes, desprovidos dos bustos dos escritores.
Em volta, o povaréu, transitando ao redor, a maioria, perambulando atoa. Aqui e ali uma aglomeração, principalmente à frente do Colégio Estadual do Maranhão, o antigo Liceu Maranhense — um absurdo porque oblitera a fachada do valoroso educandário. Ao lado, um conglomerado de barracas, à guisa de comércio — o camelódromo.
Atravessa-se a praça e alcança-se em frente a velha Rua do Sol, felizmente com seu nome original. Mas repleta de detritos, papeis e sujeira nas calçadas, cujos ínfimos tamanhos, faz com que o pobre turista a percorra com cuidado para não ser atropelado.
Mais adiante se acha o Museu Histórico e Artístico do Maranhão, outrora sofisticada residência da aristocracia maranhense. E adiante o belo edifício do Teatro Arthur Azevedo, felizmente intacto, após reformado.
Finalmente, depois de percorrer a estreita rua, alcança-se a Praça João Lisboa, onde, sentado em sua cadeira erudita vê-se a estátua do grande jornalista João Francisco Lisboa. A antiga praça foi reformada, mas despenaram-lhe do antigo arvoredo.
Sem fôlego, após atravessar a praça, já o sol a pino, o turista invisível e também inadvertido, desce a ladeira da rua de Nazaré, ao lado da Praça Benedito Leite — o grande feito é almoçar no restaurante do SENAC, enfim capaz de nos descontar dos desprazeres da travessia, graças aos acepipes da glamorosa cozinha maranhense que a casa nos oferece.
Refeito dos contratempo, o sol já brando com o cair da tarde, é dá-se uma chegada, ali perto no anfiteatro da arquitetura colonial, de que tanto se orgulha o povo ludovicense — o Projeto Reviver, onde ficava a antiga Praia Grande, o porto da cidade.
Enfim, neste nosso espécie de passeio memorial em que nos recordamos do tempo e dos momentos em que vivemos no passado na velha quadricentenária cidade, que dizem ter sido fundada pelos franceses, terminamos nosso dia com o espetáculo do por do sol no Café dos Poetas, ao lado da Prefeitura, em homenagem à literatura — com que se resgata o antigo pleito de São Luís como ATENAS BRASILEIRA, mesmo que não passe de um burgo apenas maranhense.
CDL/Bsb,01.09.22