segunda-feira, 20 de junho de 2022

 

VERÔNICA, A VIDA E OS PINGUINS

  

 


 

                                      Murilo Moreira Veras

 

 

Verônica e os Pinguins é o livro em pauta no Clube do Livro, a autora Hazel Prior, selo da Gutenberg. São 314 páginas, a meu ver, bem aproveitadas. A autora, além de escrever, toca harpa e vive em Exmoor, sudeste da Inglaterra com o marido e um grande gato ruivo.

 

1.    Prólogo

 

Poucas pessoas conhecem ou se inteiraram sobre os pinguins, como vivem, se reproduzem. Pouca gente sabe que essas criaturas não são mamíferas, mas simplesmente aves, portanto ovíparas. Vivem em colônias aos milhares em terras frias, geleiras, o reduto a Antártica e as ilhas afins. São os pinguins-de adelia (pygoscelis adeliae). Pois este livro descreve um passeio de uma senhora de 86 anos às geleiras da Antártica, onde passa a conviver com cientistas que estudam e fazem pesquisas sobre os pinguins. O que se passa ali e o porquê dessa senhora se deslocar para viver algum tempo nessas paragens tão desérticas é o tour de force do livro da autora.

 

2.    Enredo

 

Verônica McGreedy é uma senhora de 85 anos, viúva, milionária e ao que parece sem herdeiros, pelo que ela saiba. Vive solitária numa mansão, na Escócia, cujos únicos empregados, que a servem, é Eileen, espécie de faz-tudo para ela e um jardineiro que cuida do jardim. Só iremos saber o miolo do livro, no desenrolar de uma história ao mesmo tempo trágica, aventureira e até engraçada. Aos poucos, inteiramo-nos de que Verônica teve infância e adolescência bastante trágicas, os pais falecidos a época da guerra, num desastre, ela entregue a uma tia que a distratava, depois levada para ser criada num convento de freiras. No convento, ainda adolescente é vítima de imbróglio amoroso com um tal Harry e sua namorada, depois sofrendo bullying na escola, acaba se envolvendo com Giovanni, rapaz italiano que é prisioneiro de guerra, com quem pretende fugir. Ocorre que Verônica está grávida do italiano, as freiras ficam horrorizadas, mas fazem o parto dela, ela agora está com o filho Enzo, as freiras cuidando dela e do filho. Mas por pouco tempo. Até que um dia, ela acorda e não encontra mais o filho — as freiras, à revelia da mãe, o entregam em adoção a um casal de certa posse. O tempo passa e Verônica, saindo do convento, se emprega numa empresa imobiliária cujo dono é milionário. Este se engraça de Verônica, que sempre foi muito bonita e se casa com ela. Ocorre que o milionário tem amantes, mas Verônica agora administra parte da imobiliária por conta própria, divorcia-se do marido, o certo é que logo ele falece e ela acaba ficando milionária, mas sozinha. Tudo isto é contado na forma de um diário, mais tarde lido por Patrick, neto de Verônica. Patrick é o filho do único filho de Verônica com o italiano.

Verônica agora é uma mulher milionária, solitária, voluntariosa, cuja vida não lhe parece ter sentido. Até quando descobre que tem um neto chamado Patrick,  filho de seu filho, alpinista, morto num acidente. Por sua vez, Patrick é um rapaz, criado sem família, de vida meio irregular, trabalha consertando bicicleta, puxa uma droga e é também desiludido do mundo e da vida. Enfim, Verônica se encontra com o neto, não o tolera a princípio. É quando ela é tomada pela ideia maluca de, assistindo a um programa sobre a sobrevivência dos pinguins na Antártica, resolve passar um tempo naquele ermo gélido e ajudar a salvar os tais pinguins-de-adélia. É praticamente a segunda parte do livro, narrando as peripécias de Verônica na ilha habitada por pinguins, onde vai conviver com os cientistas administradores de um programa científico, a moça Terry e os colegas Dietrich e Mike.

Enquanto isso, Patrick que lê o diário de vida que lhe envia sua avó Verônica, também se apaixona pela ideia de salvar os pinguins e sabendo que ela já se acha sozinha entre os cientistas, resolve se mandar para lá. Na ilha ele faz as pazes com a avó, ajuda na vida excêntrica dos cientistas e acaba se apaixonando por Terry. Ocorrem peripécias de todo jeito, pinguins morrendo, eles conseguem salvar um que eles chamam de Pip, Verônica fica muito doente, quase à morte, Dietrich e Mike agora já gostam da velha intrusa, fazem tudo para salvá-la. No final as coisas se arrumam algo diferente. Verônica se restabelece, retorna à sua mansão na Escócia e ao contrário do que dizia, vai fazer seu testamento e deixar seus milhões de libras a seu neto Patrick, ele que decida o que fazer com a grana, em vez de destinar, como queria, para salvar os pinguins. De sua vez, Patrick prefere ficar na ilha com os cientista e seu novo amor, a enigmática mas simpática Terry e seu blog dos pinguins.

 

3.    Apreciação

 

É bom que se diga que o livro de Hazel Prior não é um best-seller. Não tem seus ingredientes essenciais: sexo, violência, terror, palavrões, linguajar chulo. Ao contrário, está bem estruturado, a autora usa técnica literária bem moderna, como parte do enredo relativo ao diário de Verônica em feedback. Os capítulos são curtos, mas bem adaptados ao estilo da narrativa, o que faz com que o texto não fique enfadonho, além de despertar certo suspenso quanto ao desenrolar dos fatos. Tanto pode versar sobre uma aventura, como tratar de educação, comportamento e problemas familiares. Sem falar que um dos tour de force é a vida de uma pessoa idosa, o comportamento de Verônica, milionária, mas solitária e infeliz, depois o fato de conseguir ter um sentido da vida, mesmo que seja para salvar pinguins.

Claro que se trata de uma ficção, com seus arroubos, suas incongruências, uma senhora com 86 anos se mandar para a Antártica para ver e ajudar pinguins. Ora, não se trata de um trabalho científico. É uma história humana, com todas as falhas de um ser humano, como as de Patrick que muda totalmente de vida pelo amor, embora sob o empuxo da grana que irá receber da avó.

Confesso que gostei do livro, sobretudo devido esses aspectos positivos e interessantes que a autora ousou demonstrar na narrativa.

 

                                                      Em 18.06.22

 

 

 

 

 

 

AS MENINAS REBELDES

  


  

 

                              Murilo Moreira Veras

 

O livro em discussão no próximo dia 26 é As Meninas, de Lygia Fagundes Telles, edição da Companhia das Letras, 2009. Com este são três livros que lemos da autora no Clube. Como é sabido, Lygia faleceu há pouco, tendo sido grande perda nas letras nacionais, ela com 104 anos.

 

1.   Prólogo

 

Este livro foi escrito em 1973, a autora com 55 anos, em plena maturidade, em idade e espírito. Imagina-se que a autora o escreveu sob a atmosfera e cenário do chamados “anos de chumbo” da história política do País — epíteto que lhe tem dado a esquerda para o período do governo de Garrastazu Médici (1969-74). Tirante algumas exceções, artistas e escritores faziam coro contra o governo e a chamada Revolução de 64. Decantava-se a quatro ventos que vivíamos sob uma ditadura de ferro, não importa se o País recebesse benefícios, em economia e atualização. É neste clima e sob essa atmosfera, gerada inclusive pelos grupos subversivos que faziam ações terroristas em diversos recantos do País, que a autora Lygia Fagundes Telles escreve essa novela de 279 páginas. Certamente para acompanhar o séquito de alguns intelectuais que haviam aderido às ideias que diziam mais atualizadas e revolucionárias, provindas da Revolução Cubana, o mundo a encaminhar-se para uma etapa, que diziam progressista e libertária.

 

2.    Enredo

 

Em depoimento, a autora diz que partiu da realidade para a ficção. Trabalhou durante três anos na confecção da novela. É parte da vida de três personagens: Lorena Vaz Leme, Lia de Melo Schultz e Ana Clara Conceição. As três vivem hospedadas num pensionato das freiras Santa Marcelina, em São Paulo. Lorena é a mais intelectual delas, de família rica e tradicional, com propriedades de terras; Lia às vezes chamada Lião, se envolve em luta armada contra a suposta ditadura  junto com Max, seu amante, mas que ainda continua virgem e Ana Clara, a mais bonita de todas, mas detraqué, dependente de droga. Traduzir o imbróglio das três meninas rebeldes, o fio da meada narrativa criada pela autora é que se constitui um problema para o pobre do leitor. Sim, porque a autora utiliza o aclamado monólogo interior, na verdade o famigerado fluxo de consciência (streams of consciousness) utilizado por certos escritores, à guisa de serem  mais modernos que os outros. No pensionato, destaca-se a presença de Madre Alix, que em algumas ocasiões aconselha as três meninas, embora não as queira convertê-las. Elas, as meninas, são todas desmioladas, matriculadas em faculdades, mas pouco frequentam as aulas. Não sofrem restrição e fazem o que lhes dá na telha. Envolvem-se com namorados. No meio de toda essa balbúrdia, através de monólogos intermináveis, o leitor se perde nesse verdadeiro cipoal de pensamentos e elucubrações das três personagens, ora é fala de Lorena, ora é a de Lião se agatanhando com os amantes, cujo pensamento se imbrica com o de Ana Clara e de Lorena, a ricaça que decide desligar-se de sua prole. Como se diz em francês o enredo é um mélange, espécie de desbragamento orgíaco literário, cuja trama parece se dissolver num tropel olímpico de ideias e pensamentos.

 

3.    À Guisa de Apreciação

 

Haja leitura, haja entusiasmo, haja ânimo para desembrulhar essa narrativa. Que verdade seja dita, de Lygia, a escritora que morreu centenária, prefiro os seus contos curtos, mas palatáveis em gênero, número e grau. A autora — penso eu, com a devida vênia — enveredou-se no cipoal literário do fluxo de consciência, aquele modismo de uso e abuso de autores que se autorrotularam, supermodernos, a partir de James Joyce, Virgínia Woolf, William Faulkner, Marcel Proust, Edouard Dujardin. Também na mesma linha se acham José Saramago, Clarice Lispector e Hilda Hilst — esta amicíssima de Lygia. Arrisco a dizer que, nesse livro, a autora quer nos alertar sobre os problemas do mundo moderno. Sim, mas sua ótica é ideológica. Deixa-se imbuir de todos aqueles refrões esquerdistas, àquela época servindo como isca, principalmente ao público jovem, desorientado diante dos acontecimentos. Os militares — os mesmos que conseguiram evitar que o marxismo terrorista tomasse conta do País — não tiveram a devida sensibilidade de orientar a juventude, ao contrário tratou os jovens como também subversivos. Não tardou para que os  chamados intelectuais, os da linha esquerdistas, se rebelassem, quase em massa. Lygia deve ter ido também na onda.

À guisa de exegese, penso que as três meninas representam as três classes sociais: Lorena, é a classe alta, que esbanja arrogância, enquanto quer se alinhar às outras, ombreando-se com as outras classes; Ana Clara é a classe média que não tendo esperança nem força moral e econômica para fazer o contrapeso social, desilude-se e entra no mundo da droga; enquanto Lia, a classe mais baixa, revolta-se contra as injustiças e os desmandos da política, apelando  para a força bruta, o terrorismo — não é atoa que seu amante se chama Max, de Marx.

Não dou descrédito ao livro de Lygia, nem ouso criticar seu talento literário. Sob minha ótica, sempre penso na literatura como arte, até certo ponto, sob a égide da ética e da estética. A atividade literária tenho-a sempre com a finalidade de elevar o sonho humano, portanto não me encho de orgulho de dizer isto — mas o ofício de escrever deve sempre que possível desviar-se da leviandade e do desconstrutivismo.

                                                  Bsb, 12.05.22  

 

 

 

                           

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

LYGIA : A DISCIPLINA DO AMOR

 

                                        Murilo Moreira Veras

 


 

 

 

O livro hoje — 26.04.22 — a ser discutido é A Disciplina do Amor, a autora Lygia Fagundes Telles, selo da Companhia das Letras. É mais um livro da autora que lemos no Clube do Livro.

1.    Preâmbulo

 

A autora, Lygia Fagundes Telles, faleceu no início do mês, sabe-se de falência dos órgãos. A mídia informa que ela tinha 98 anos, faltando poucos dias para completar 99. Pesquisamos e logo verificamos que, na realidade, ela faleceu com 103, quase 104 anos. É só consultar a Wikipédia. Acontece que Lygia, misteriosa como sempre, escondeu 5 anos de sua vida. Observe-se que ela era procuradora do Instituto de Previdência do estado de S. Paulo. Por mérito literário, pertencia a Academia de Letras de São Paulo e Academia Brasileira de Letras. Também pelo mesmo mérito, obteve quase todos os prêmios possíveis, Jabuti, até o maior galardão em língua lusófona, o Camões em 2005, pelo conjunto de sua obra. Foi ovacionada pela crítica, quase todos os seus livros premiados, sem falar que foi o quindim de ioiô dos luminares literários, Érico Veríssimo, Paulo Ronái, Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector e Hilda Hilst, as duas últimas  suas grandes amigas, segundo afirmou. Crítica escrita e falada, ela foi entrevistada, suas obras decantadas a quatro ventos. No entanto, declara que não vivia de livros, ela uma simples autora do terceiro mundo. Este livro inclusive recebeu o prêmio Jabuti e do IPCA. E mais: ela própria declara que é sua melhor obra. Afirma ser uma escritora engajada, certamente também com a realidade brasileira e mundial, embora, não seja política.

 

2.    Do Conteúdo e Filigranas

 

Os críticos quase todos concordam com o mérito deste livro escrito em 1980, acompanhando a aferição da própria autora. Vou discordar, não como crítico de carteirinha, que não o sou e se alguma observação qualitativa faço, apego-me sempre à discrição normativa de Machado de Assis, isto é, não demolir o autor, espelhar alguns aspectos de sua obra, sob a égide da ética e estética literária. Considero-me apenas um leitor atento.

Logo de início, o livro não me parece de contos, mas, sim, resultado de fragmentos de sonhos, impressões, convicções pessoais, observações e lembranças de viagens — quem sabe crônicas ou simples anotações de leituras. Não propriamente contos, embora Mário de Andrade tenha dito que se um escrito o autor disser que é conto, que seja conto. Tecnicamente a matéria literária, como a da autora, não tem o caráter do conto — uma estória curta, com começo, meio e fim. Não me convenço, como leitor de quase todos os livros da autora, que este A Disciplina do Amor seja seu melhor trabalho. É interessante, admira-se sua maneira de escrever, fazendo certas alusões simbólicas, crítica velada, o mistério escondido em certos momentos, cuidado e acuidade quanto à recepção do leitor — minudências em que ela, Lygia, é mestra, sobretudo em seus contos. Entretanto, faço algumas leves observações sobre o valor de seu pensamento e suas convicções expostas neste livro específico.

 

3.   Impressões Pessoais

 

Vou expor apenas algumas digressões sobre o livro, reproduzindo o que escrevi em certas páginas:

Pag. 140 – Frases Fatais : Nesta pequena crônica, evidencio a contradição da autora, que esquece fundamentar seu juízo. As feministas são por demais extremadas, exorbitam da verdadeira razão de serem acima dos homens — esquecem que são a contraparte do homem. Recorrer a Che Guevara não é bom argumento: ele na verdade foi um monstro transviado de libertador, sabe-se que chegou a matar seus próprios companheiros desafetos, cinicamente sorrindo.

Pag. 143 – Revolução na Igreja: Vê-se, nas entrelinhas, que a autora se contagiou dessa virulenta interpretação à teologia católica, que é a ideologia  marxista, a chamada esquerda católica. Se alguns padres empederniram a Igreja com regras medievais, esse desvio não deve macular os ensinamentos preconizados pela fé católica, uma parte podre não deve contaminar o todo. Essa doutrina desvirtuada pelo Vaticano II talvez tenha contribuído para essa invasão espúrias às hostes católica, contrária aos ensinamentos crísticos, que foi e continua sendo a Teoria da Libertação. A autora se apoia em Tristão de Athayde, o venerável escritor católico que defendeu a politização do País através do esquerdismo. Alceu de Amoroso Lima, seu verdadeiro nome, deixou-se enganar, entrando na onda da maioria dos escritores, artistas e aproveitadores sociais. A autora esquece que a Igreja é representada pela ortodoxia verdadeira, vultos de pessoas sábias, do passado e do presente, como, por exemplo, G.K. Chesterton. Sem falar nos seus construtores: Sto.Agostinho, Sto.Tomás de Aquino, Santa Tereza d’Ávila. Sem desmerecer os méritos literários da autora, é de se esperar que ela recorresse à leitura da história da Igreja e não fizesse julgamento prévio à esquerdista, na pressuposição de salvar o Brasil e o cristianismo da direita fascista.

Pag. 150 — O Escritor e o Leitor: Nesse breve anúncio Lygia assegura que ...”O escritor pode ser corrompido mas não corrompe. Pode ser louco, mas não vai enlouquecer o leitor, ao contrário, poderá até desviá-lo da loucura.” Em entrevistas ela confirma essa sua convicção. Discordo. O escritor não está imune de, através de seus escritos, se tornar perigoso. O ofício de escrever deve se manter ao nível da ética e da moral. Não se trata de censura que o obrigaria a deixar de escrever, mas de uma obrigação moral. Escritores há e houve que fizeram grande mal à humanidade, embora tenham sido grandes e apreciados autores. À guisa de exemplário, eis alguns:

- Marquês de Sade e Emil Cioran, ambos de escrita execrável.

- Goethe, com seu livro Werther cuja leitura acarretou muitos suicídios no mundo inteiro.

- Shopenhauer, com seu desastroso pessimismo.

- Nietzsche, pelo seu nihilismo, desnorteando as pessoas.

- Baudelaire, com suas poesias negativas, as Flores do Mal.

- Montaigne, devido seu exagerado ceticismo.

- Diógenes, filósofo grego que inundou o mundo com seu cinismo filosófico. E tutti quanti mais.

 

4.   À Guisa de Conclusão

Essas nossas ressalvas, tanto  ou quanto pessoais, não denigre de maneira alguma a obra de Lygia Fagundes Telles, escritora de tantos dotes literários, já traduzida para meio mundo (Paulo Coelho também o foi, mas descabe qualquer comparação). Reconheço-a como a grande dama da literatura brasileira atual. Seu passamento deixa um vazio nas letras, além de ter sido pessoa admirável e admirada, inclusive por este que subscreve essas sinuosas, mas sinceras linhas.

                                                                        Bsb. 14.04.22

 

 

quarta-feira, 1 de junho de 2022


A IDEOLOGIA SALVARÁ O MUNDO?

 

 

 

Aldous Huxley (1894-1963), escritor inglês, em 1932 escreveu o livro O Admirável Mundo Novo, que se tornou praticamente um best-seller tal o impacto causado pela sua leitura. Na verdade, o escritor lançou um repto ao mundo, denunciando como será o futuro do mundo governado pelo cientificismo, na forma de um robô humanoide ditatorial chamado Big Brother. Ele controlava tudo, sociedade, pessoas, tempo, qualquer ação ou pensamento. Era o Grande Irmão manobrando o mundo.

 Anos depois, o escritor escreveu, uma espécie de atualização do Big Brother, O Regresso do Admirável Mundo Novo, tentando, por assim, tapar o sol com a peneira, citar algumas alternativas para o que seria a catástrofe da dominação do mundo.

Huxley nada fez do que contrapor seu Big Brother a Utopia de Thomas More (1478-1535), isto é, seu livro é uma Distopia ou Antiutopia — como também o são 1984 de George Orwell e Fahrenheit 452 de Ray Bradbury.

Transportemo-nos para nossa atualidade, os dias que correm. Será que aprendemos a lição que nos impôs o visionário Huxley em sua invectiva de escravização da humanidade via ciência? Ora, o físico, por sinal brasileiro, Marcelo Gleizer tem blasonado, sempre que pode, que temos que acreditar na ciência, a ciência é uma espécie de salvação do ser humano, encantatória da inteligência e do saber.

Enquanto isso Aldous Huxley tomava a droga LSD, para entrar em contato com a mística profunda, acabou no budismo da despersonalização.

E nós outros, o que fazemos se o cenário do mundo vem se desdobrando inauditamente para tornar realidade a ficção distópica de Huxley, Orwell e também no Fahrenheit 452?

Fala-se em artefatos engenhosíssimos, como o robô humanoide, aliás já sendo criado um exército desse tipo de engenhoca, dita pensante. Ora, Isaac Asimov, um dos maiores nomes na FC, apregoava que os robôs nunca poderiam se igualar aos humanos e escravizá-los, devido regras impeditivas natas.

Mas os fatos vêm se revelando diferente. E — contraditando — se dissermos que a humanidade caminha a passos largos para o compartilhamento total, que movimentos espúrios, cada vez mais eficientes, sinalizam, lutam e se fortificam cada vez mais pela globalização do mundo? Vige hoje uma verdadeira idolatria pelo universalismo, não só na economia ou finanças, mas quanto à igualdade das sociedades, visando o controle dos fatos e das pessoas. É a psicose em favor do comunitarismo social, econômico. Não é isso que está embutido nesses movimentos globalistas de aquecimento global, Mãe Terra, 3ª Via, até o eufemismo roubado da religião, o ecumenismo ideológico? Todos esses movimentos apócrifos, porque escondem seu verdadeiro sentido, a finalidade  nada mais é do que nos escravizar, não só social ou economicamente, nos roubar a alma, a fé na espiritualidade. Queiramos ou não, o Grande Irmão é o eufemismo do socialismo ideológico, da transformação do mundo para uma sociedade igualitária, protofascista, mascarada no que esses pinguins do cientificismo apregoam como sendo o Mundo Melhor, à guisa do profetismo bíblico.

Não, essas ideologias em voga, que não passam de velharias já de há muitas suspeitas, que agora se renovam pelo gramscianismo retórico, são por demais conhecidas — é o velho surrado materialismo dialético, envolto em nova roupagem. Piorado, meus amigos, é a menina dos olhos dos grandes aglomerados internacionais, as Fundações dos grandes magnatas. Ninguém se engane, eles não têm coração, nem Deus — são materialistas convictos, corruptos por natureza.

Quem salvará o mundo? — somos nós, os que cultuam o personalismo cristão, conservadores dos bens e que têm por escopo cultuar e cultivar a moral, a estética e o simbolismo axiológico em que se fundamenta a verdade, responsáveis pela construção do nosso monumento civilizatório.

                                                          

                                                               Bsb, 1.06.22