domingo, 24 de julho de 2022

ÉTICA DE ARISTÓTELES

 

ÉTICA DE ARISTÓTELES

 

 

                                             Murilo Moreira Veras

 

 

Discutiremos no próximo dia 28.07.22 o famoso livro do filósofo Aristóteles — Ética de Nicômaco. Segundo esta edição é uma das mais cultuadas obras do filósofo.

 

1.Preliminares

 

Aristóteles viveu no período clássico da Grécia. Aluno de Platão (384-aC- 322aC), foi por ele influenciado, assim por Sócrates, Pitágoras, Demócrito e Heráclito. De sua vez influenciou Kant e Newton e até hoje suas ideias são acolhidas, discutidas e de alguma forma norteiam o estudo e a prática filosófica no panorama cultural e filosófico da atualidade. Há até quem o considere o homem mais inteligente  de toda a história humana.

Vamos apenas expor, de forma o mais sinoticamente possível, os traços gerais dessa pequeno grande livro de uma das maiores inteligência dentre as de nossa espécie.

 

2.Súmula da Ética

 

A obra se constitui de temas sobre ética, estética, moral e política, distribuídos sob o rótulo de Livros, ao todo 10. Escrutinamos os mais importantes a nosso ver, como segue:

Livro I — Sobre o Bem

1.O que seria o bem, o bem derivado das vontades, que integra a felicidade.

2.O bem produz a virtude, e pode ser intelectual, isto é, compreendendo a sabedoria, a inteligência e a prudência — e moral, que é a liberdade e a temperança.

Livro II — Éticas do Meio-Termo e da Justa-Medida

Neste capítulo, o autor exprime em termos de ética as ações de comportamento e como proceder, observando sempre procurar o meio-termo e a justa-medida nas ações e procedimentos éticos.

               Livro III —  As paixões humanas.

1.Desdobram-se  em voluntárias e involuntárias.

2.Todas as ações humanas devem se orientar tendo por medida o meio-termo, ou seja, a graduação pela qual sejam medidas levando em conta, igualmente, a justa-medida.

3.As duas graduações são o ponto de equilíbrio  que devem nortear as ações ou paixões.

4.O exagero é sempre o fio da justiça em todos os casos, levando o ser humano à malversação e o desequilíbrio dos atos praticados.  

Livro IV — Liberalidade

1.Definição de liberal e do idealizado como tal.

2.Liberal, aquele com certa franqueza que pratica o bem ou ações benévolas.

3.Graduação do caráter do que atua com liberalidade.

4.Pródigo, aquele que age seus bens com desmandos.

5.Todos os casos sob justa-medida e meio-termo.

Livro V — Justiça

1.Justiça e injustiça constituem-se do meio-termo entre os extremos, portanto, o ato justo é o meio-termo.

2.A pessoa justa é  aquela que respeita o bem, portanto é o que é probo, enquanto a injusta é a que desrespeita a lei, é o improbo.

3.Ações justas, as que produzem e conservam a felicidade às partes e à comunidade pública.

4.Disse Eurípedes — Na justiça encontra-se, em suma, toda a virtude.

5.Na cidade nem sempre são iguais uma pessoa boa e um bom cidadão.

6.Justiça distributiva — refere-se a alguns méritos: para democratas serem livres; para os oligarcas, riqueza ou nobreza da raça; para os aristocratas, a excelência.

7.Justiça distributiva — não deve ser a cada qual na mesma proporção, por difícil numerá-la a cada um.

8.Juiz é o mediador — busca a justiça, também chamado de conciliador.

9.A justiça deve ter sentido recuperativo, embora às vezes a reciprocidade e a justiça corretiva possam estar em desacordo.

10.O dinheiro (nómisma) existe não por natureza, mas em virtude da lei (nómos) — portanto variável.

11.Dinheiro — espécie de penhor, em que tudo é medido.

12.A justiça é o meio termo, enquanto a injustiça é o extremo.

13.A injustiça pode ser o excesso ou uma deficiência, posto que geradora de excessos.

14.O ser humano não governa por si próprio, mas, sim, mediante e sob o domínio das leis.

15.O ato involuntário, se não tiver vício, pode ser compreensível.

16.Os atos são justos e injustos, desde que medidos sob justiça.

17.Só os seres humanos praticam a justiça e o fazem em função de suas ações.

18.O equitativo não é o mesmo que o justo, posto que seus resultados não são idênticos — a lei é universal, portanto nem sempre é exata.

19.O erro da lei corrige-se pelo equitativo, em função da equidade — o que não interfere na justiça superior, na qual a equidade é apenas um ato  equalizador de moderação, espécie de justiça especial.

20.O suicídio pode ser considerado um crime contra a cidade, ou seja, contra o cidadão, pois cometido contra as leis da cidade — suscetível, portanto, o ato a ser computável em bens do suicida.

Livro VI —  As escolhas da Razão

1.Devemos sempre escolher o meio-termo, não a falta, obedecendo a razão correta.

2.Três são as ações da alma: sensação, intelecto e desejo.

3.O intelecto é afirmativo ou negativo:                                                                    .

   a) a arte: b) o conhecimento científico; c) a sabedoria prática; d) a sabedoria filosófica;  e) a razão intuitiva.

4.O conhecimento científico — é direcionado para um certo sentido, que são os princípios da ciência.

5.A arte ´uma invenção humana.

6.A sabedoria prática visa o bem, portanto, indemonstrável.

7.Péricles, sábio político, tinha sabedoria prática, pragmática.

8.A sabedoria acompanha a razão verdadeira, capaz de agir sobre o bem humano.

               9.A sabedoria filosófica objetiva demonstrar o princípio das coisas, pelo que se torna perfeita.

10.Anaxágora e Tales, por exemplo, eram filósofos, procuravam a sabedoria filosófica, mas não se tornaram úteis — eles não procuravam os bens propriamente humanos.

11.Os jovens padecem de imaturidade, de sabedoria prática, só alcançável com a idade.

12.Discernimento ao julgar é que faz realizar o fim equitativo.

13.Ao contrário dos jovens, os mais velhos são dotados de experiência e da sabedoria prática adquirida com os anos.

14. A sabedoria prática pode tornar as pessoas mais felizes.

15. A sabedoria prática e filosófica não produzem nada, alimentam a alma.

Nota: A nosso ver, as duas sabedorias podem contribuir para o enriquecimento pessoal das pessoas.  

16.Ter sabedoria prática é ser virtuoso.

17.Todas as virtudes são formas de saber prático, vinculadas à racionalidade.

18.A sabedoria não supera a filosofia.

19.A política governa os deuses, apesar disso respeita os assuntos da cidade, a lei dos seres humanos.

Nota: Seria como dizer que a política é divina, intocável, de tal modo de governar também os deuses ou a própria Divindade. Mas, Aristóteles viveu sob o governo da mitologia, os gregos criam em vários deuses. Resta a dúvida — mas os deuses mitológicos não eram soberanos e poderosos, como poderiam estar sujeitos a leis humanas?

Livro VII — Caráter.

1.Três são as espécies negativas de caráter: o vício, a incontinência e a brutalidade. Seus pilares positivos: o bem, a continência e bondade.

2.Continência refere-se a coisas virtuosas e incontinência, como a frouxidão, inclui-se entre as ações mais cesuráveis.

3.O homem, isto é, a pessoa humana agradável é melhor do que o  incontinente.

               4.Ter conhecimento — termo ambíguo, depende de como é utilizado.

5.Não fazem uso do conhecimento: o louco, o bêbado, as pessoas sob o domínio das paixões e dos apetites sexuais.

6.Os animais têm imagens e lembranças também.

Nota: Será que usam também habilidades cerebrais como os humanos?

7.Sócrates :  O conhecimento só ocorre se for perceptível, portanto não movido pela paixão.

8.Os prazeres corporais — nutrição e necessidades sexuais — assim como a vitória, a honra, a riqueza e afins, são desejáveis.

9.Censuráveis, entretanto: a incontinência pelos prazeres físicos e o vício, naturalmente praticados em excesso.

10.A pessoa incontinente é incontrolável em suas ações e não exerce a capacidade de escolha.

11.Censurável também: as pessoas que amam as coisas em excesso.

12.Entre os incontinentes há atitudes até bestiais.

13.Causas naturais como a passividade da mulher nas cópulas não se consideram incontinentes. 

14.Loucos por motivo de doença, como a epilepsia, consideram-se mórbidos

Nota: Machado de Assis seria um caso mórbido?    

15.O colérico é vencido pela razão, mas se age por desejos naturais de todas as pessoas — é perdoado.

16.Se, entretanto, agir com perfídia, torna-se incontinente e culpado.

17.A bestialidade torna-se um mal menor do que o vício, pois uma pessoa má de forma viciada pode causar mais dano do que uma fera.

18.Os intemperantes são piores do que os incontinentes.

19.O efeminado é considerado frouxo, por isso infeliz.

20.A pessoa apaixonada por divertimentos torna-se intemperante.

21.O intemperante  pode se arrepender.

22.Os opinantes são obstinados, ignorantes e grosseiros.

23.O incontinente — ao contrário do continente, não se atem à razão.

24.O incontinente não se compara com aquele que sabe.

25.O estudo do prazer e da dor pertence à filosofia política.

26.A arte em si não produz o prazer, mas todo bem é um produto da arte.

27.Crianças assim como os animais buscam o prazer.

28.Prazeres  produzem dor e apetite, coisa que não é a contemplação em si mesma.   

29.Os prazeres são atividades e fins em si mesmas.

30.Que se evite a dor e se faça do prazer um bem.

31.Nenhuma felicidade é perfeita.

32.Segundo Eurípedes e OrestesA mudança é agradável em todas as coisas.

Livro VIII — Amizade

1.A amizade é necessária.

2.Ela socorre os jovens e os idosos.

3.As pessoas escolhem seus amigos pela amizade, sejam nobres ou os que lhes são agradáveis.

4.Seres humanos gostam dos que amam e lhes são agradáveis.

5.Os que desejam bem aos outros são benevolentes.

6.Há amizades que não permanecem, porque são frágeis, se tornam de alguma forma desagradáveis e inúteis.

7.Os jovens são amorosos por paixão, movidos quase todos pelo prazer.

8.Há amizades que são duradouras, porque permanecem.

9.Há amizades com base apenas na utilidade, às vezes são más ou simplesmente casuais.

              10.Deve ser cultivada, sim, pois: O silêncio destrói muitas amizades.

11.Amor é um sentimento, enquanto a amizade é uma qualidade, se são recíprocas o é por disposição do caráter.

12.Quando a amizade é por utilidade, pode ser considerada poética..

13.Amizade superior é a de pai para filho e de mãe para filho.

14.Pessoas desiguais podem ser amigos.

15.Na política, a amizade funciona em termos de prática de ações —assim há três espécies de constituições e seus respectivos desvios:

 a) monarquia

 b) aristocracia também dita timocracia ou plutocracia

 c) república             

Nota: Segundo Aristóteles, a mais qualificada, devida a autoridade filial e sagrada do Rei, seria a monarquia. As piores, seus desvios:

a) aristocracia, oligarquia ou timocracia

b) a democracia.

c) a tirania

16. Dentre as viciadas, é preferível a democracia.

17. A democracia é uma espécie de casa sem chefe, onde todos encontram-se em pé de igualdade — o chefe é frágil e cada qual faz o que quer.

18. Nas tiranias, amizade e justiça praticamente inexistem, enquanto nas democracias amizade e justiças são importantes, devido o interesse comum entre a igualdade dos cidadãos.

Livro IX — Ainda da Amizade

1.Amizades baseadas no caráter são duradouras.

2.Devem-se honrar pais e mães como honramos os deuses

3.A pessoa que é má não é amável.

4.A benevolência é uma amizade de pouca ação, mas pode se tornar amizade verdadeira.

5. As pessoas más sempre estão em desacordo.

6. Artistas e poetas amam suas produções.

7. Egoístas são censurados pelo egoísmo.

8. É nosso dever partilhar nossa amizade com nossos amigos.

9. Há um provérbio: Dos homens nobres, vêm as nobres ações.

Livro X — Do Prazer

1.As pessoa preferem as coisas agradáveis e evitam as dolorosas.

2.Segundo Eudoxo: Todos os seres tendem para o bem supremo.

3.Platão: O bem mais desejável é o do sábio, a sabedoria.

4.Prazer e dor são opostos.

5.Coisas que desejamos obter: visão, recordação, conhecimento e a posse dos estudos.

6.Em termos de prazer a forma é perfeita em qualquer momento.

7.O prazer se completa assim como o vigor da saúde se junta à flor da juventude.

8.O prazer possui tendência para o viver.

9.As atividades são afetadas em sentido oposto por prazeres e dores, que lhes são próprios.

10.O prazer, próprio à atividade virtuosa, é sempre bom, enquanto aquele próprio à atividade viciosa é mau.

11.Há extrema diversidade de prazeres.

12.A felicidade se basta a si mesma.

13.Felicidade é uma atividade conforme a virtude.

14.O ser humano é mortal, mas deve imortalizar sua parte mais nobre.

15.Felicidade perfeita é a contemplativa.

16.A pessoa boa deve receber educação exemplar.

 

Após essas considerações e diversidade de pontos e opiniões, podemos obter uma visão de conjunto para discernir o ser humano perante o mundo.

 

3.Considerações: Gerais e Finais

 

Aristóteles (384 a.C – 322 a.C) foi um dos homens mais eruditos — pelo menos no Ocidente. Ética a Nicômaco é um tratado que versa sobre ética, estética, moral, ciência, psicologia, mitologia e religião. Certo que ele viveu num mundo que respirava mitologia, toda a erudição e cultura sob influência de Homero, através de sua Ilíada e Odisséia. Foi o período clássico da Grécia, com a filosofia já nascente, sob influência dos filósofos pré-socráticos. Sabemos, sob a égide desses grandes pensadores, é que nasceu a filosofia. Sócrates (470a.C-399 a.C) já teria criado seu método filosófico, a maiêutica, com o qual ele, mediante perguntas ao consulente, conseguia levá-lo, por si próprio, a adquirir conhecimento. Aristóteles prefere ser um Mestre, como o foi Platão, através de seu centro do saber chamado Liceu (a escola platônica chamava-se Academia).

A ética aristotélica é tão importante que seus ensinamentos e regras dela decorrentes permanecem imorredouros até hoje, por exemplo, na Bioética, que disciplina a moral, a ética e a estética. Seus princípios políticos continuam praticamente vigentes.

Nosso cuidado foi o de apenas expor uma súmula das regras da Ética. Não temos o direito e  mesmo a proeza de discriminar ou desmerecer os ensinamentos de um sábio como Aristóteles, que dominou todos os ramos da ciência, inclusive do Direito e da Filosofia.

Praza aos céus, se no mundo atual onde reina a incredulidade, o devaneio, a incúria e o endosso do sofisma a prevalecerem nos juízos e nas configurações políticas e científicas, pudéssemos rever os juízos de valor pregados por Aristóteles — certamente a cidade, as pessoas, assim como os entes públicos e privados teriam outro comportamento — o mundo seria certamente mais humano e racional.

                                                             

                                                            Bsb, 23.07.22

 

 

 

     

 

 

 

 

                      

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

 

 

     

 

 


 

 

ÉTICA DE ARISTÓTELES                                              

 

                                                                   Murilo Moreira Veras

 

 


 

 Discutiremos no próximo dia 28.07.22 o famoso livro do filósofo Aristóteles — Ética de Nicômaco. Segundo esta edição é uma das mais cultuadas obras do filósofo.

 1.Preliminares

 Aristóteles viveu no período clássico da Grécia. Aluno de Platão (384-aC- 322aC), foi por ele influenciado, assim por Sócrates, Pitágoras, Demócrito e Heráclito. De sua vez influenciou Kant e Newton e até hoje suas ideias são acolhidas, discutidas e de alguma forma norteiam o estudo e a prática filosófica no panorama cultural e filosófico da atualidade. Há até quem o considere o homem mais inteligente  de toda a história humana.

Vamos apenas expor, de forma o mais sinoticamente possível, os traços gerais dessa pequeno grande livro de uma das maiores inteligência dentre as de nossa espécie.

 2.Súmula da Ética

 A obra se constitui de temas sobre ética, estética, moral e política, distribuídos sob o rótulo de Livros, ao todo 10. Escrutinamos os mais importantes a nosso ver, como segue:

Livro I — Sobre o Bem

1.O que seria o bem, o bem derivado das vontades, que integra a felicidade.

2.O bem produz a virtude, e pode ser intelectual, isto é, compreendendo a sabedoria, a inteligência e a prudência — e moral, que é a liberdade e a temperança.

Livro II — Éticas do Meio-Termo e da Justa-Medida

Neste capítulo, o autor exprime em termos de ética as ações de comportamento e como proceder, observando sempre procurar o meio-termo e a justa-medida nas ações e procedimentos éticos.

               Livro III —  As paixões humanas.

1.Desdobram-se  em voluntárias e involuntárias.

2.Todas as ações humanas devem se orientar tendo por medida o meio-termo, ou seja, a graduação pela qual sejam medidas levando em conta, igualmente, a justa-medida.

3.As duas graduações são o ponto de equilíbrio  que devem nortear as ações ou paixões.

4.O exagero é sempre o fio da justiça em todos os casos, levando o ser humano à malversação e o desequilíbrio dos atos praticados.  

Livro IV — Liberalidade

1.Definição de liberal e do idealizado como tal.

2.Liberal, aquele com certa franqueza que pratica o bem ou ações benévolas.

3.Graduação do caráter do que atua com liberalidade.

4.Pródigo, aquele que age seus bens com desmandos.

5.Todos os casos sob justa-medida e meio-termo.

Livro V — Justiça

1.Justiça e injustiça constituem-se do meio-termo entre os extremos, portanto, o ato justo é o meio-termo.

2.A pessoa justa é  aquela que respeita o bem, portanto é o que é probo, enquanto a injusta é a que desrespeita a lei, é o improbo.

3.Ações justas, as que produzem e conservam a felicidade às partes e à comunidade pública.

4.Disse Eurípedes — Na justiça encontra-se, em suma, toda a virtude.

5.Na cidade nem sempre são iguais uma pessoa boa e um bom cidadão.

6.Justiça distributiva — refere-se a alguns méritos: para democratas serem livres; para os oligarcas, riqueza ou nobreza da raça; para os aristocratas, a excelência.

7.Justiça distributiva — não deve ser a cada qual na mesma proporção, por difícil numerá-la a cada um.

8.Juiz é o mediador — busca a justiça, também chamado de conciliador.

9.A justiça deve ter sentido recuperativo, embora às vezes a reciprocidade e a justiça corretiva possam estar em desacordo.

10.O dinheiro (nómisma) existe não por natureza, mas em virtude da lei (nómos) — portanto variável.

11.Dinheiro — espécie de penhor, em que tudo é medido.

12.A justiça é o meio termo, enquanto a injustiça é o extremo.

13.A injustiça pode ser o excesso ou uma deficiência, posto que geradora de excessos.

14.O ser humano não governa por si próprio, mas, sim, mediante e sob o domínio das leis.

15.O ato involuntário, se não tiver vício, pode ser compreensível.

16.Os atos são justos e injustos, desde que medidos sob justiça.

17.Só os seres humanos praticam a justiça e o fazem em função de suas ações.

18.O equitativo não é o mesmo que o justo, posto que seus resultados não são idênticos — a lei é universal, portanto nem sempre é exata.

19.O erro da lei corrige-se pelo equitativo, em função da equidade — o que não interfere na justiça superior, na qual a equidade é apenas um ato  equalizador de moderação, espécie de justiça especial.

20.O suicídio pode ser considerado um crime contra a cidade, ou seja, contra o cidadão, pois cometido contra as leis da cidade — suscetível, portanto, o ato a ser computável em bens do suicida.

Livro VI —  As escolhas da Razão

1.Devemos sempre escolher o meio-termo, não a falta, obedecendo a razão correta.

2.Três são as ações da alma: sensação, intelecto e desejo.

3.O intelecto é afirmativo ou negativo:                                                                    .

   a) a arte: b) o conhecimento científico; c) a sabedoria prática; d) a sabedoria filosófica;  e) a razão intuitiva.

4.O conhecimento científico — é direcionado para um certo sentido, que são os princípios da ciência.

5.A arte ´uma invenção humana.

6.A sabedoria prática visa o bem, portanto, indemonstrável.

7.Péricles, sábio político, tinha sabedoria prática, pragmática.

8.A sabedoria acompanha a razão verdadeira, capaz de agir sobre o bem humano.

               9.A sabedoria filosófica objetiva demonstrar o princípio das coisas, pelo que se torna perfeita.

10.Anaxágora e Tales, por exemplo, eram filósofos, procuravam a sabedoria filosófica, mas não se tornaram úteis — eles não procuravam os bens propriamente humanos.

11.Os jovens padecem de imaturidade, de sabedoria prática, só alcançável com a idade.

12.Discernimento ao julgar é que faz realizar o fim equitativo.

13.Ao contrário dos jovens, os mais velhos são dotados de experiência e da sabedoria prática adquirida com os anos.

14. A sabedoria prática pode tornar as pessoas mais felizes.

15. A sabedoria prática e filosófica não produzem nada, alimentam a alma.

Nota: A nosso ver, as duas sabedorias podem contribuir para o enriquecimento pessoal das pessoas.  

16.Ter sabedoria prática é ser virtuoso.

17.Todas as virtudes são formas de saber prático, vinculadas à racionalidade.

18.A sabedoria não supera a filosofia.

19.A política governa os deuses, apesar disso respeita os assuntos da cidade, a lei dos seres humanos.

Nota: Seria como dizer que a política é divina, intocável, de tal modo de governar também os deuses ou a própria Divindade. Mas, Aristóteles viveu sob o governo da mitologia, os gregos criam em vários deuses. Resta a dúvida — mas os deuses mitológicos não eram soberanos e poderosos, como poderiam estar sujeitos a leis humanas?

Livro VII — Caráter.

1.Três são as espécies negativas de caráter: o vício, a incontinência e a brutalidade. Seus pilares positivos: o bem, a continência e bondade.

2.Continência refere-se a coisas virtuosas e incontinência, como a frouxidão, inclui-se entre as ações mais cesuráveis.

3.O homem, isto é, a pessoa humana agradável é melhor do que o  incontinente.

               4.Ter conhecimento — termo ambíguo, depende de como é utilizado.

5.Não fazem uso do conhecimento: o louco, o bêbado, as pessoas sob o domínio das paixões e dos apetites sexuais.

6.Os animais têm imagens e lembranças também.

Nota: Será que usam também habilidades cerebrais como os humanos?

7.Sócrates :  O conhecimento só ocorre se for perceptível, portanto não movido pela paixão.

8.Os prazeres corporais — nutrição e necessidades sexuais — assim como a vitória, a honra, a riqueza e afins, são desejáveis.

9.Censuráveis, entretanto: a incontinência pelos prazeres físicos e o vício, naturalmente praticados em excesso.

10.A pessoa incontinente é incontrolável em suas ações e não exerce a capacidade de escolha.

11.Censurável também: as pessoas que amam as coisas em excesso.

12.Entre os incontinentes há atitudes até bestiais.

13.Causas naturais como a passividade da mulher nas cópulas não se consideram incontinentes. 

14.Loucos por motivo de doença, como a epilepsia, consideram-se mórbidos

Nota: Machado de Assis seria um caso mórbido?    

15.O colérico é vencido pela razão, mas se age por desejos naturais de todas as pessoas — é perdoado.

16.Se, entretanto, agir com perfídia, torna-se incontinente e culpado.

17.A bestialidade torna-se um mal menor do que o vício, pois uma pessoa má de forma viciada pode causar mais dano do que uma fera.

18.Os intemperantes são piores do que os incontinentes.

19.O efeminado é considerado frouxo, por isso infeliz.

20.A pessoa apaixonada por divertimentos torna-se intemperante.

21.O intemperante  pode se arrepender.

22.Os opinantes são obstinados, ignorantes e grosseiros.

23.O incontinente — ao contrário do continente, não se atem à razão.

24.O incontinente não se compara com aquele que sabe.

25.O estudo do prazer e da dor pertence à filosofia política.

26.A arte em si não produz o prazer, mas todo bem é um produto da arte.

27.Crianças assim como os animais buscam o prazer.

28.Prazeres  produzem dor e apetite, coisa que não é a contemplação em si mesma.   

29.Os prazeres são atividades e fins em si mesmas.

30.Que se evite a dor e se faça do prazer um bem.

31.Nenhuma felicidade é perfeita.

32.Segundo Eurípedes e OrestesA mudança é agradável em todas as coisas.

Livro VIII — Amizade

1.A amizade é necessária.

2.Ela socorre os jovens e os idosos.

3.As pessoas escolhem seus amigos pela amizade, sejam nobres ou os que lhes são agradáveis.

4.Seres humanos gostam dos que amam e lhes são agradáveis.

5.Os que desejam bem aos outros são benevolentes.

6.Há amizades que não permanecem, porque são frágeis, se tornam de alguma forma desagradáveis e inúteis.

7.Os jovens são amorosos por paixão, movidos quase todos pelo prazer.

8.Há amizades que são duradouras, porque permanecem.

9.Há amizades com base apenas na utilidade, às vezes são más ou simplesmente casuais.

              10.Deve ser cultivada, sim, pois: O silêncio destrói muitas amizades.

11.Amor é um sentimento, enquanto a amizade é uma qualidade, se são recíprocas o é por disposição do caráter.

12.Quando a amizade é por utilidade, pode ser considerada poética..

13.Amizade superior é a de pai para filho e de mãe para filho.

14.Pessoas desiguais podem ser amigos.

15.Na política, a amizade funciona em termos de prática de ações —assim há três espécies de constituições e seus respectivos desvios:

 a) monarquia

 b) aristocracia também dita timocracia ou plutocracia

 c) república             

Nota: Segundo Aristóteles, a mais qualificada, devida a autoridade filial e sagrada do Rei, seria a monarquia. As piores, seus desvios:

a) aristocracia, oligarquia ou timocracia

b) a democracia.

c) a tirania

16. Dentre as viciadas, é preferível a democracia.

17. A democracia é uma espécie de casa sem chefe, onde todos encontram-se em pé de igualdade — o chefe é frágil e cada qual faz o que quer.

18. Nas tiranias, amizade e justiça praticamente inexistem, enquanto nas democracias amizade e justiças são importantes, devido o interesse comum entre a igualdade dos cidadãos.

Livro IX — Ainda da Amizade

1.Amizades baseadas no caráter são duradouras.

2.Devem-se honrar pais e mães como honramos os deuses

3.A pessoa que é má não é amável.

4.A benevolência é uma amizade de pouca ação, mas pode se tornar amizade verdadeira.

5. As pessoas más sempre estão em desacordo.

6. Artistas e poetas amam suas produções.

7. Egoístas são censurados pelo egoísmo.

8. É nosso dever partilhar nossa amizade com nossos amigos.

9. Há um provérbio: Dos homens nobres, vêm as nobres ações.

Livro X — Do Prazer

1.As pessoa preferem as coisas agradáveis e evitam as dolorosas.

2.Segundo Eudoxo: Todos os seres tendem para o bem supremo.

3.Platão: O bem mais desejável é o do sábio, a sabedoria.

4.Prazer e dor são opostos.

5.Coisas que desejamos obter: visão, recordação, conhecimento e a posse dos estudos.

6.Em termos de prazer a forma é perfeita em qualquer momento.

7.O prazer se completa assim como o vigor da saúde se junta à flor da juventude.

8.O prazer possui tendência para o viver.

9.As atividades são afetadas em sentido oposto por prazeres e dores, que lhes são próprios.

10.O prazer, próprio à atividade virtuosa, é sempre bom, enquanto aquele próprio à atividade viciosa é mau.

11.Há extrema diversidade de prazeres.

12.A felicidade se basta a si mesma.

13.Felicidade é uma atividade conforme a virtude.

14.O ser humano é mortal, mas deve imortalizar sua parte mais nobre.

15.Felicidade perfeita é a contemplativa.

16.A pessoa boa deve receber educação exemplar.

 

Após essas considerações e diversidade de pontos e opiniões, podemos obter uma visão de conjunto para discernir o ser humano perante o mundo.

 

3.Considerações: Gerais e Finais

 

Aristóteles (384 a.C – 322 a.C) foi um dos homens mais eruditos — pelo menos no Ocidente. Ética a Nicômaco é um tratado que versa sobre ética, estética, moral, ciência, psicologia, mitologia e religião. Certo que ele viveu num mundo que respirava mitologia, toda a erudição e cultura sob influência de Homero, através de sua Ilíada e Odisséia. Foi o período clássico da Grécia, com a filosofia já nascente, sob influência dos filósofos pré-socráticos. Sabemos, sob a égide desses grandes pensadores, é que nasceu a filosofia. Sócrates (470a.C-399 a.C) já teria criado seu método filosófico, a maiêutica, com o qual ele, mediante perguntas ao consulente, conseguia levá-lo, por si próprio, a adquirir conhecimento. Aristóteles prefere ser um Mestre, como o foi Platão, através de seu centro do saber chamado Liceu (a escola platônica chamava-se Academia).

A ética aristotélica é tão importante que seus ensinamentos e regras dela decorrentes permanecem imorredouros até hoje, por exemplo, na Bioética, que disciplina a moral, a ética e a estética. Seus princípios políticos continuam praticamente vigentes.

Nosso cuidado foi o de apenas expor uma súmula das regras da Ética. Não temos o direito e  mesmo a proeza de discriminar ou desmerecer os ensinamentos de um sábio como Aristóteles, que dominou todos os ramos da ciência, inclusive do Direito e da Filosofia.

Praza aos céus, se no mundo atual onde reina a incredulidade, o devaneio, a incúria e o endosso do sofisma a prevalecerem nos juízos e nas configurações políticas e científicas, pudéssemos rever os juízos de valor pregados por Aristóteles — certamente a cidade, as pessoas, assim como os entes públicos e privados teriam outro comportamento — o mundo seria certamente mais humano e racional.

                                                             

                                                            CDL/Bsb, 23.07.22