terça-feira, 22 de dezembro de 2015




                        O   ANDARILHO DE SONHOS

                       

                                                  Murilo Moreira Veras

 

          No meio da estrada do mundo

                 tem uma pedra

                No meio do mundo tem uma

                 pedra na estrada.

                Caminhos do mundo

                estradas  da vida.

               Tem uma pedra no mundo?

               Tem uma pedra na vida?

               O primeiro dia do Novo Ano

               é mais uma pedra

               na estrada da vida,

              pedra  obstáculo

              nos obstáculos de pedra.

             Em cada coração uma pedra

             em cada pedra um coração.

            No primeiro dia do Ano

            não tem mais uma pedra,

            em vez de pedra, um coração.

            Pedra de utopia, talvez.

           Do convívio com o Tempo,

           nutre-se o Ideal

           – idealismo no tempo

           em tempo de idealismo.

           No meio da estrada do Tempo

          caminha o Andante do Novo Ano

         – no meio da estrada da Vida

         caminha o Andarilho

         de nossos Sonhos

                                              Bsb, 01.01.16

          

 

 

 



         O  ADVENTO  DO  NATAL

 
                                          Murilo Moreira Veras
 
 
Estes dias do Advento são como buscar 
a confiança neste mundo.
As aves não voam no limite do horizonte?
As flores não desabrocham saudando
a beleza da manhã?
Os lírios nos campos já não se vestem
com os fios da eternidade?
No berço, antes de dormir a criança recebe
a ternura da Mãe
enquanto os anjos lhe resguardam
                                  o sono,
embevecem-lhe os sonhos.
Jesus nascerá – os Magos  proclamam,
no manto da noite, uma estrela
                                   lucila,
sorri  de euforia.
As crianças se alegram.
Urge que haja alvorada no mundo.
 
Jesus vai nascer.
O tempo de espera já se cumpre.
É o fim dos tempos de Advento.
É tempo de esperança.
O mundo entoa um canto novo
– uma euforia se abre no campo
                                   dos sonhos:
É Natal – Jesus acaba de nascer.
 
          

                                      Bsb, 8.12.15

quinta-feira, 12 de novembro de 2015




 
                  PÁTRIA (DES) EDUCADORA:            

               O RETROCESSO IDEOLÓGICO

 
 


 

Os brasileiros parecem todos dormirem em berço esplêndido ao ignorarem o grande embuste que vem se tramando na educação. Quem não tem filhos nas escolas públicas, níveis elementar e fundamental, simplesmente  – como fazem os medrosos gansos enfiando os bicos em buracos – preferem se omitir e deixar o barco passar. E quem os tem, por preguiça mental ou negligência, dão uma de ouvido mouco,  se acomodam. Enquanto isso, o nível de conhecimento, o cabedal intelectual, o acervo cultural do brasileiro tudo vai se dissolvendo na poeira do tempo.

E tem pessoas que alardeiam que nosso País caminha a passos largos para o progresso. Ou regresso? Sim, regresso ou melhor, vivemos, isto sim, tempos de retrocesso, em termos de conhecimento, racionalidade e dimensão social, antropológica, econômica e humanística.

Observe-se, por exemplo, o descalabro que está ocorrendo no aprendizado escolar. Atente-se para esse monstrengo que constitui a Base Nacional Comum Curricular, espécie de planejamento global no âmbito da educação formal, proposto pelo Ministério da Educação. Trata-se de um plano objetivando a padronização dos currículos escolares, seja pública ou privada, pelo qual os estabelecimentos de ensino do País serão automaticamente orientados a compatibilizar o conteúdo de suas grades de ensino e o professor – que assim fica  mais acéfalo do que já está –  em sala de aula, obrigado a transmiti-lo a seus alunos.

Antes de mais nada já resultaria num absurdo impor às escolas e consequentemente aos alunos conteúdos obrigatórios, quando muito poderia ser diretrizes a título de orientação, nunca imposições de caráter ideológico. Sim, porque esse, em ultima instância, é o verdadeiro objetivo desse famigerado Plano: ideologizar o ensino brasileiro, desmontar o estudo tradicional, desmoralizar o ensino humanístico, pluralístico. O modelo tradicional de ensino foi inspirado no famoso método Trivium da escolástica que a Irmã Miriam Joseph, atualizou em obra  recente do mesmo título.

Ou como dizem em artigo de 8.11.15, na Folha de São Paulo, Demétrio Magnoli e Elaine Senise Barbosa, ao criticar a proposta do MEC: “... os autores (anônimos e, assim, “especialistas”) do documento do MEC investiram numa sociologia do multiculturalismo que esvazia a temporalidade e, com ela, a gramática da historiografia. De fato se aplicada, a proposta oficial significará o cancelamento do ensino da história.”

A verdade  que salta aos olhos é que esses supostos “especialistas” sabichões do MEC, que se escondem no anonimato,  ousam nos enfiar garganta a dentro, numa espécie de lavagem cerebral, essa demagogia espúria, esses dejectos de conhecimento, essas armadilhas ideológicas, que em última palavra nada mais são que o resultado de interpretações errôneas da história humana,  esse verniz corrosivo que se denomina sociologia do multiculturalismo, ou seja, a mais vil e nociva distorção da historiografia humana segundo sua vertente temporal.

E o que é pior, meter na cabeça de crianças de 11, 12 tais conceitos e depois, por extensão  nos currículos das Faculdades – outra coisa senão o método subliminar de terrorismo social, político e cultural criado por Gramsci (1891-1937) e adotado como bíblia pelas novas gerações neomarxistas, que formam hoje esse exército de saltimbancos corrompendo sistematicamente  os costumes, a moralidade, a política, a economia, a ciência de nosso tempo  – tudo isso com o auxílio da mistificação, do ceticismo violento e dessa monstruosidade chamada “desconstrutivismo”, responsável por desmoralizar, com seus conceitos espúrias, os pressupostos filosóficos que buscam a sabedoria.
Bsb, 11.11.15
 

 

 

 

 

 

 

 

domingo, 20 de setembro de 2015


BRASIL BRASILEIRO : PARA ONDE VAMOS?

 


 

Desde meus tempos do vetusto Liceu Maranhense, que é-me recorrente a lição de nosso velho mestre de Português, Professor Cardoso, de saudosa memória, que atribuía a queda do Império Romano, além de outros fatores, principalmente à decadência moral e dos costumes. E acrescentava o mestre: “toda cultura humana que alcança seu ápice de glória, quando seus integrantes se degeneram em moral e costumes,  sua queda torna-se invevitável.”

Dois grandes eruditos do passado escreveram sobre os motivos da Queda do Império Romano, que perdurou durante um milênio e cem anos, perdendo apenas para a civilização egípcia, com dois milênios: Montesquieu (1689-1775) e Edward Gibbons (1737-1799). Este, baseando-se no seu antecessor, e mais cético ainda, deu como motivos fatores diversos, sociais, econômicos, incriminando inclusive a religião. Já Montesquieu foi mais abrangente, apontou a invasão bárbara, mas principalmente a corrupção dos costumes, o ócio, a insanidade de seus imperadores, o crescente poder miliciano.

Este cenário nos vem  à mente, quando nos depararmos com a situação atual de nosso País. Esse “Brasil Brasileiro” de nosso Ary Barroso – para onde vai? Em que vai dar tudo isto a que assistimos. Muitas pessoas preferem se situar na dormência da omissão e, como se diz no vulgo “deixar o barco correr”.

Em livro recente, a colunista da Veja, a escritora Lya Luft em atitude  de atenção demonstra-se assustada e tece panorama realista, por vezes cruel, mas com surtos de esperança para com nossa nação.

E nós, que devemos fazer, dá-se ao arroubo de ficar olhando, cruzar os braços, recriminar-se, ir à luta – talvez inglória – ou simplesmente “ver a banda passar”, segundo o refrão da suposta ingenuidade do cantor esquerdista?

Que não me ouçam os deuses, Baco, Dionísio e Júpiter, nem nos açoitem os furiosos elísios de Netuno – mas o cenário que descortinamos afigura-se aterrador, o moral sobretudo. É incrível, mas predomina em nossa sociedade a insensatez, a gritante inversão de valores, a falta de caráter e indignidade das pessoas, a  impressionante falta de decoro de seus comportamentos. E, como não bastassem tais defeitos, o que se vê e se pode apurar, para nosso repúdio e espanto, é como tais atitudes vêm se espalhando para todos os lugares, enxovalhando não só pessoas, mas repartições públicas, órgãos oficiais, empresas, movimentos e até organismos religiosos. Sem falar no que é mais espúrio, a nosso ver, o mais terrível e desastroso nesse cenário, quase dantesco, em que vivemos: a contaminação a olhos vistos do Direito pelo viés ideológico. o Direito, cujos fundamentos se arraigam filosoficamente na Moral, nos Costumes, na Justiça, na Equidade e no Bom Senso.

Parece mentira, mas é verdade, agora já obtém sanção de ato jurídico perfeito casamento celebrado no Rio,  nada menos que o triunvirato de pessoas do mesmo sexo, não apenas dois seres do mesmo gênero, feminino ou masculino, mas três e porque não quatro ou cinco. É a insânia, em seu mais alto grau. “Deus, ó Deus, onde estás que não respondes?

É o brado que clama aos céus.

Oxalá ainda tenhamos uma réstea de esperança, com juízes das instâncias e Tribunais de Alçada,  a batalharem diuturnamente para o que ainda resta de Justiça, neste Pais, celebrando a propedêutica filosófica.
CDL/Bsb, 22.1015

    

 

 HOMO NALEDI  OU  HOMO CULTUS?

 

 
 
 
 

Os cientistas, adeptos fervorosos do darwrinismo, alardeiam a quatro ventos haverem descoberto a pista do celebrado “elo perdido”. A mais famosa revista científica NATIONAL GEOGRAPHIC estampou em sua edição recente a face de um troglodita, com os dizeres bombásticos: “ALMOST HUMAN”

A todo momento esses apressados antropólogos, militantes escavadores de fósseis ao redor do mundo, se vangloriam dos resultados de suas explorações, muitos à custa de empreendimentos milionários. E costumam produzir informações estapafúrdias – como bem refere Michelson Borges no site www.cienciaefe.net – eles se pavoneiam em “humanizar os macacos e macaquear os humanos”.

Se olharmos o fato com senso mais crítico, parece ser isto o que está sucedendo no mundo sempre imprevisível dos seres humanos. No petit comité dos macacos, ao que nos consta, até hoje não nos parece haver mudança de comportamentos que os tornem humanos ou humanizados. Já do lado de cá dos humanos – considerados seres iluminados por suposta sapiência e ungidos dos eflúvios divinos da civilização, estes, sim, afiguram-se  cada vez mais agirem como verdadeiros macacos.

Ora, é esse ser que, segundo os teóricos fanáticos do evolucionismo, acreditam ser a matriz do humano, mediante transformações sistêmicas e totalmente aleatórias como a natureza, depois de “n” tempo até atingir o grau máximo de “homo sapiens” e graduá-lo ainda como “homo sapiens, sapiens”. No passado, já foi  homo habilis”, “homo rudolfiensis”, “homo engaster” e “homo primitivo”.

Pois bem, agora os pesquisadores apresentam o HOMO NALEDI – o mais recente  brucutu candidato a ser humano. Quem sabe vemo-lo passeando por nossas ruas. Ou dirigindo uma super limosine de 2, 5 milhões num bairro carioca, o rádio a altos brados, flanando num ato de, convenhamos, extrema barbárie.

Então é isto: a espécie “Homo Naledi” permanece entre nós, o tal “Sapiens, sapiens” é um mito, digamos, antropológico? Será por isso que o ser humano cultiva ainda atos e comportamentos que não condizem com o grau “sapiens”, ou seja, essa espécime perdeu o mérito sapiencial?

Antes da era crística, Aristóteles (384-322 a.C) já havia classificado o ser humano um “animal político” – certamente característica fundamental que o distingue da irracionalidade.

Mas, como explicar, por exemplo, ser alérgico à política, uma pessoa que se qualifica literato, portanto, dominar a escrita e se expressar mediante signos midiáticos pelo mundo da escritura? O alienar-se não significaria na verdade a pessoa furtar-se ao contraditório, não aceitar as ideias opostas às nossas?

Marshal McLuhan (1916-1980) foi o esquerdista moderno  que definiu o mundo como “uma aldeia global”. Como deixar de auscultar agora  os ruídos desastrosos que fazem essas “tribos globais”? Como não se estarrecer diante das ignomínias praticadas pelos djardistas, dessa monstruosa organização chamada de Estado Islâmico, responsável pela degola, ao vivo, de seus supostos inimigos – tudo em nome da fé islâmica, totalmente distorcida?

Enquanto isso, hordas e mais hordas de fugitivos abandonam seus lares na Síria, receosos de caírem nas garras desses extremistas radicais, assassinos cruéis e desumanos. Seriam descendentes do “Homo Naledi”?

Ora, pois. Esses seres humanos, mesmo os alienados e utópicos, assim como os terroristas, não deixam de ser humanos – apenas perderam a capacidade de raciocinar ou simplesmente trocaram a intuição natural pela concepção apriorística da verdade – espécie de máscara preconcebida que uma pessoa usa, mas despreparada para os desafios da atualidade.

Proféticas a palavras do Papa Bento XVI, hoje Emérito, ao assegurar quando esteve no Brasil: “... o homem não é produto da natureza, mas da cultura.

Cada vez que o ser humano mais se aproxima de um hominídio da espécie simiesca, menos é desprovido do verniz cultural. Não pelo fato de ele ser originalmente um símio, mas porque ele ousou apagar a luz que lhe ilumina a mente, enterrou seu talento humanístico. Consequentemente mais irracionais serão seus atos. E é a cultura que  é responsável, digamos, pela  costomização” do ser humano no mundo, ajustando-o em termos de costumes, moralidade, justiça, bom senso, adaptabilidade e outros condicionamentos do espírito, como a fé e a espiritualidade.

Temos a firme convicção, por intuição mais do que pelo formalismo apriorístico – nos moldes kantiano – que ser humano, esse designado pela ciência de “homo” da linhagem (específica e única) “SAPIENS’ não deriva do macaco, embora mínima seja sua proporção, cerca de 1%, que o separa do dito cujo – mas é a distância suficiente exigível à magnitude do seu cérebro, tornando-o inteligente.

Por outro lado,  capacidade cerebral extraordinária não justifica absolutamente os erros, as atrocidades que dito ser humano vem praticando. É justamente por isso que, sem a portabilidade moral de suas ações, desprovido do manancial da fé e da transcendência, a vida sem sentido pelo apego à matéria – com todos esses aparatos negativos, ai, sim, o ser humano assumirá realmente o clone do macaco, talvez em estado até mais animalesco que os orangotangos originais.

É que esqueceram de aprender e se aprimorarem culturalmente.

 

                                                              CDL/Bsb, 21.09.15    

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

           DA MULTIPLICAÇÃO DOS PÃES

          AOS   FAZEDORES   DE   TUDO

 

       O Admirável Mundo Novo huxeliano agora está se tornando cada vez menos “admirável” e mais “enigmático”. Os resultados beiram a absurdidade. O formalismo kantiano parece ter imposto ao mundo um modelo apriorístico de desumanização.
O ser humano, protegido que foi pela armadura da intuição sensível baixa agora sua guarda natural e perde a luta contra o empirismo científicista. Entretanto, engana-se quem pensa que esse novo ser humano construirá um Mundo Novo. Longe disso: esse midiático ser se propõe nada menos que implantar uma nova utopia – a utopia do homem maquínico, cada vez mais desprovido de intuição e inteiramente formatado pelo modelo ideológico, responsável e demolidor,  a proclamar-se guardião apriorístico da sua existência.
                A partir desse fenômeno, de globalização formal da razão abolido qualquer resquício dos pressupostos do conhecimento sensível, a modernidade depara-se com um novo paradigma, que é o de igualar as desigualdades sociais, culturais e conjunturais. E o que vemos é o mundo entrar num processo de massificação das massas, o igualitarismo funcional, sistêmico. Em outras palavras: o ser humano troca a liberdade pela alienação, pela qual ao Estado delega-se a panaceia da felicidade humana, competindo a ele atender nossas necessidades, da existência à convivência, da imanência à supressão da transcendência. E o mundo passa a ser um campo de batalha, para cuja liça nos apresentamos sem a necessária defesa, porque o Estado nô-las roubou.  Encontramo-nos, por assim dizer, desamparados e indefesos. E pior: incapazes de exercer nosso livre arbítrio e fazer valer nossa consciência.
Será que temos, todos, consciência do que acontece conosco e com o mundo? A transição – que dizem estamos atravessando – para onde nos levará?
                Há mais de dois milênios, na antiga Galiléia, à beira do Mediterrâneo, em meio a pedras e relvas, uma multidão, de cerca de cinco mil pessoas, se reunia para ouvir as palavras de um profeta de origem judaica, humilde, acompanhado de discípulos, a maioria pobres, incultos pescadores. Chamava-se Jesus – o Mestre Jesus de Nazaré. A multidão reunida por algum tempo e vendo-a já faminta, o Mestre Jesus ordena a seus discípulos que alimentem aquelas pessoas. Mas como se eles só tinham cinco pães e dois peixes! Jesus toma os poucos pães e peixes, abençoa-os e manda distribuí-los. O fato está narrado nos Evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João. É a “Multiplicação dos Pães”.
               Os partidários das ideologias de esquerda e dentre eles alguns sacerdotes católicos supostamente progressistas enfatizam que o Mestre, ali, não realizou milagre, com esse gesto simbólico. Ele, na verdade, quis passar a ideia de partilha, de distribuição, não só de pão, mas de bens, uma espécie de igualitarismo à guisa de fraternidade. Essa concepção tem sido maldosamente  espalhada pelos áulicos do socialismo, para esconder o milagre, trocando a “multiplicação dos pães” por “distribuição de bens”, vale dizer, a socialização dos bens de produção e consumo, consequentemente desvirtuando as palavras do Mestre e toda a teologia cristã. Justifica-se, assim – pela boca do próprio fundador do cristianismo – a implantação do comunismo no mundo. E pior: como apanágio civilizatório.
               A mídia e certos comunicadores imbuídos da magia ideológica têm, inclusive, se aproveitado de algumas assertivas descontextualizadas do atual Papa Francisco. Ocorreu na homilia do Papa em recente visita à Bolívia, dia 15.0715, em Santa Cruz, em cuja homilia,  sobre essa célebre passagem dos Evangelhos, (Mt 14, 13-21 e 15,29-30; Mc 6,30-40 e 8, 1-18; Lc 9,10-17; Jo 6,1-13) ele disse:
“... Por meios destas ações (tomada, benção e entrega) Jesus                          consegue transformar a lógica do descarte numa lógica de                               comunhão de comunidade.”    

                Ora, lógica de comunhão de comunidade, como disse o Papa, não quer dizer necessariamente – como os ideólogos marxistas pensam – distributismo planejado, repartição compulsória de bens materiais, enfim, socialização de bens de consumo e produção. Trata-se, portanto, de uma distorção absurda, transformar o Salvador em porta-voz de uma doutrina instituída muitos séculos depois, cujos postulados, pragmáticos e espúrios, contradizem abertamente a doutrina de Jesus. Ele, Mestre dos Mestres, de origem divina, não fez sermão ideológico, Seu reino não era deste mundo. Suas mensagens são de justiça e paz. Sua vida justifica-se pela redenção da humanidade, inclusive para cumprir profecias anteriores.
               E assim “caminha a humanidade” em sua evolução. Ou incompreensão nessa espécie de vertigem progressista, enigmática, sim, mas desumana. O mundo cada vez mais tecnológico. Mas por que se afasta tanto de seu élan simbólico, a transcendência, trocando-a por uma imanência estupefaciente, mas desumanizante?
              Se avançamos tanto em tecnologia, por que ainda grassa tanta fome no mundo? A cada três segundos uma pessoa morre de fome, enquanto 1/3 de alimentos produzidos vai para o lixo. É o levantamento da ONU.
              Segundo o Instituto Internacional de Investigação sobre Políticas Alimentares, da FAO, em 2010 mais de um bilhão de pessoas, portanto 7% da populacional mundial passa fome em regiões como a Africa Subsaariana e o sul da Ásia.
             Agora veja-se o absurdo. A população mundial cresce num ritmo de 53% ao ano. Em 2.100, por exemplo, seremos possivelmente 11, 2 bilhões de pessoas habitando o planeta Terra.
             E qual é a situação do Brasil?
             Segundo o Pnad de 2013 – Pesquisa Nacional de Amostras de Domicílios sobre Segurança Alimentar, 7,2 milhões, ou seja 3,5% da população total do País à época de 200,4 milhões (Banco Mundial), passam fome. A despeito do “maravilhoso mundo novo brasileiro” proclamado pelo PT e seu desastroso governo.
             Esse é o quadro tempestivo da fome no mundo – fome essa que decorre da condição ainda de quase eterna pobreza dos habitantes terrestres. Situação que perdura, em razão da geopolítica vigente no mundo que privilegia esse frenesi da humanidade pelo progresso e pela tecnologia.
             Não é extremamente contraditório esse furor pelo progressismo e pela técnica, com seus fantásticos resultados? Enquanto boa parte da população mundial – 7% – vive sem comer ou em extrema pobreza?
             A propósito, não serão esses os “fazedores de tudo” do amanhã?
             Em entrevista recente à Veja (2.09.15), certo tecnólogo dentre esse grupo de gurus transformadores do mundo, declarou que no futuro próximo, máquinas surrealistas estarão prontas para produzir praticamente tudo: casas, utensílios, produtos de consumo – e quem sabe também seres humanos?
             Tudo bem – mas será que acabarão com a fome no mundo?
             Conseguirão saciar, também, a fome espiritual dos homens?
  

 
                 CDL/BSB, 5.09.15
 


















VA  VIDA  TEM  SENTIDO?

 

 

Vivemos a era de apologia ao sexo, pós-liberação sexual, liberdade absoluta de pensar, agir e fazer. Palavras de ordem nos espicaçam a mente. Uma espécie de laisser faire, laisser passer nos induz que tudo é permitido, contanto que nossos inflados egos sejam satisfeitos.

Ora, Dostoievski com sua filosofia de subsolo, mas, convenhamos plena de sabedoria já nos prevenia : “Se Deus não existe, então tudo é permitido.

Figuras em mentes supostamente progressistas e tecnólogos de plantão teimam por profetizar: “São os novos tempos, é o futuro do mundo!”

Em Roma, Cícero aquele que a história oficial considera um dos romanos mais eruditos preconizou, já na sua época – “Ó, tempos, ó costumes”... Previa na verdade o desmoronamento do Império Romano, não porque demolido pela mão humana ou em decorrência de um fenômeno natural, mas, sim, devido ao desregramento  da moral e dos costumes.

Então – nós seres humanos do século XXI, como ficamos, sobre cujas cabeças pesam crimes e castigos, ao mesmo tempo, que, em contraparte, somos capazes de ascender aos altos escalões no exercício da espiritualidade, a exemplo de Santo Agostinho, Santo Tomás de Aquino ou de São Francisco de Assis e Santa Tereza d’Ávila?

Dir-se-á que o mundo encontra-se numa encruzilhada cuja melhor saída ainda nos é desconhecida. Melhor –  a verdade é que nós não temos tido capacidade de efetuar a escolha certa – porque até o momento nos falta a plenitude da sapiência necessária para encontrarmos o rumo certo.

Mas que rumo seria este?

Com a devida vênia, arguimos nós: é o “sentido da vida” – de nossa vida.

Um teólogo moderno, mas conservador – Pe. Paulo Ricardo – nos responde com absoluta convicção: “ o sentido de nossa vida é o céu...

Evidente que esta é a meta do cristão, a visão crística.

Mas – argumenta o Padre – “Será que é prudente a pessoa cujo o único objetivo na vida seja ficar rico, gozar de todos os prazeres mundanos, desfrutar de todas as experiências da matéria?”.

Concluímos por dizer que a prudência nos ensina, pela experiência de milhares de anos de vivenciamento civilizacional que é da índole humana buscar incessantemente o sagrado. Nascemos matéria, mas com o gosto para o alto, para a espiritualidade. Se assim não o fosse – por que nos preocuparíamos tanto com as estrelas que enxameiam o céu, como elas  nascem,  incendeiam-se e de repente se apagam, para renascer novamente como supernovas?

Significativas se nos afiguram as palavras do Mestre:

 “Nem só de pão vive o homem” ( Mt.4,4) e

“Na casa de meu Pai, há muitas moradas” (Jo. 14, 1-2)

 

Aliás, uma delas, quem sabe  – se formos suficientemente prudentes – não estará reservada para nós?
Bsb. 21.08.15

   

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

ARGUMENTOS RACIONAIS À INDIGNAÇÃO  

 

 

Vivemos dias difíceis, o país mergulhado numa espécie de convulsão na economia, na política, a sociedade pasma diante do estado de choque em que se encontra. Será lícito – nos diz o bom senso – toda uma Nação se vê sob tão repugnante situação e, mesmo assim, permanecer calada?

O mesmo bom senso parece nos sugerir que não.  Ora, se a razão que deve comandar a ação e uma vez que essa mesma ação se determine ao largo da razão, então essa  ação tornar-se-á, no mínimo, inócua, posto que não orientada pela boa razão.

Diante desse raciocínio, que se poderia dizer, intrinsicamente dialético, os governos só são considerados justos, quando sua ação tenha como resultado o bem comum, a felicidade dos governados, o bem estar geral da sociedade. É um princípio básico, fundamento, por sinal, ínsito à própria democracia, como governo do povo, pelo povo. Eis a essência da democracia grega, modalidade de governo citada por Platão, ao lado da aristocracia gerida pelos nobres e aquela contraponto  à tirania, dos três regimes o mais nefasto – segundo o filósofo. Observe-se, a propósito, que Platão se inclinava para a república dos sábios e para ele a dita democracia seria regime suscetível de contaminação. Muita gente hoje – constitucionalistas e sociólogos ufanistas – desconhecem essa interpretação platônica ou ousam ignorá-la.

Queiramos ou não, havemos de convir que nossa democracia se encontra doente, em estado de paralisia, suas raízes sub-repticiamente contaminadas – e o pior tendente a se transforar numa espécie de tirania socializante, em que o estado, sub-rogando-se novo Leviatã, avassala seus súditos e os escraviza a uma ideologia que só tresanda a atos e procedimentos arcaizantes, nos quais estão ínsitos paixões e objetivos asfixiantes, lesivos à liberdade e absolutamente contrários aos ideais patrióticos, cristãos e condizentes com o livre-arbítrio de autodeterminação.

Ora, o que vemos, em nosso País é um cenário absolutamente corrosivo, onde grassam o vilipêndio, a falta de ética, o despudorado dilapidar dos bens públicos, como método e ação corriqueiros. O que vemos, estarrecidos, não é só triunfar as nulidades naquela previsão escatológica de Rui Barbosa, que tanto o apavorou, no passado. È muito pior, estratosfericamente danoso: o que se vê é o roubo descarado dos cofres públicos, o assalto armado de colarinho branco às instituições, aos órgãos públicos e privados, sem nenhum pejo, às escâncaras, inclusive à luz e sob a leniência da Justiça, da Lei, da Constituição.

Observem-se isto, a propósito. O povo encontra-se acuado, desesperançado, de certo modo traído por uma eleição contestável, cujo programa de ação é falível e inexequível, por ineficiência e incapacidade de gestão, só tem uma saída dignificante – protestar, em atos de inconformidade, nos panelaços, nos buzinaços  até culminar  nas passeatas gigantes nas ruas.

Evidente que somos avessos ao golpismo, ao intervencionismo irresponsável, conscientes de nossas garantias constitucionais e republicanas, bens obteníveis ao longo de nossa história. Mas, atentemos para o que grandes filósofos, católicos inclusive, ensinaram a respeito do que seria “uma guerra justa”:

Diz Santo Agostinho (sobe o livre arbítrio, I, 5,33, C.Chr. XXIX, 217):

“Não se vê ser lei a que não for justa.”

Sobre a dita “guerra justa”, explicita Agostino que os cristãos deviam ser pacifista, mas podiam usar a força como meio de preservar a paz a longo prazo. O pacifismo, argumenta, não é contrário à defesa dos inocentes ou à autodefesa, necessário, às vezes, o uso da força.

Quanto à observância das leis, refere o mesmo Agostinho, citando Atos 5,29: “É mister obedecer antes a Deus que aos homens.” E doutrina:

“Se o povo é bem moderado e grave, guardião diligentíssimo da utilidade comum, é reta a lei que estabelece ser lícito a tal povo criar os magistrados pelos quais seja a coisa pública administrada. Mas, se, paulatinamente, tal povo se deprava tornando venal o seu sufrágio e confia o regime a homens ESCANDALOSOS e CELERADOS, é correto tirar-se tal povo do poder de atribuir as honras, sendo este de novo confiado ao arbítrio de uns poucos bons”. (sobre o livro-arbítrio, 1, 6,45.C.Chr XXIX, 219) – grifos nossos.

De sua vez, Santo Thomás de Aquino, sobre se a lei humana deve ser mudada: “Deve dizer-se, como se disse, a lei humana é corretamente mudada na medida em que por sua mudança se provê a utilidade comum.”

Sobre a tirania, o  regime tirânico:

“... E, se é insuportável o excesso de tirania, pareceu, a certos, competir ao valor dos homens fortes matar o tirano e exporem-se aos perigos de morte pela libertação da multidão, coisa de que há exemplo até no Velho Testamento” (Jz 3, 15-28).

O mesmo filósofo denominado Angélico estabeleceu três condições que justificam à chamada “guerra justa”:

(a)  deve ocorrer por causa BOA E JUSTA;

(b) ser declarada por autoridade legal; e

(c)  ter como motivação central a PAZ.

 

Pensamos, com a devida reserva, que todas as condições parecem justificar a irascibilidade atual do povo e arrastá-lo às ruas, única ágora democrática justificável diante de tanta indecência, má gestão,  injustiça e irresponsabilidade na gestão do Estado.
 CDL/BSB, 13.08.15

 

 

sexta-feira, 31 de julho de 2015


TROCA SOLIDÁRIA SALVARÁ O MUNDO?

 

 

É voz geral: estamos em estado de crise. Crise geral, quiçá irreversível. Nações em descontrole, o caso gritante da Grécia, o terrorismo aterrorizando com mais atrocidades do que nunca, haja vista os desmandos praticados no Oriente Médio pelo famigerado Estado Islâmico.

Os articulistas de nossa mídia, a começar pela televisiva, também falada e escrita, não poupam críticas ao governo, a maneira como o País vem sendo administrado.

Na revista Veja, por exemplo, semanalmente seus repórteres, cronistas e editorialistas apontam as inúmeras ações que vêm obstruindo o itinerário correto da Nação, cujo resultado tem sido a resseção, um desvio temerário e inconsequente. Só se fala em dificuldades, o consumo em marcha ré, com o aumento do desemprego e o desânimo popular em alta. E para piorar esse cenário quase desolador, os políticos nas suas atitudes contraditórias, contra ou a favor da governança, insinuam moções drásticas, ninguém sabe até que ponto lesivas, como o impeachment da presidente e outros imbróglios institucionais. Tudo em decorrência da ação demolidora dos desdobramentos das operações criminais, a “lava jato” impetrada e levada a seu extremo pela Polícia Federal.

A corrosão política, social e econômica chega a tal ponto de Lya Luft, cronista da Veja, sempre muito equilibrada em suas observações, definir a Pátria, em vez de “educadora” como alardeia o governo, “madrasta”, dada a ineficácia da administração. Enquanto isso, em entrevista à mesma revista, certo demógrafo do IBGE acusa o governo de não ter aproveitado a época 1970 da  “... vantagem de ter uma população ativa majoritária” que, segundo ele,  se encerrará em 2030, mas, a essa altura, praticamente perdida nossa chance de se tornar uma grande nação, em termos de progresso – espécie de “pedaladas demográficas” por negligência,  executadas na contramão do desenvolvimento.

A falta de perspectiva não acontece só no Brasil, mas se reflete no mundo todo, basta consultarmos as mídias.

Pois é de Portugal que nos vem uma notícia, no mínimo auspiciosa: a existência de um Banco “onde a moeda não é o dinheiro e sim o tempo.”

Parece incrível, mas este “Banco” é um sistema de troca de ações solidárias. Diz o informativo da entidade: “A instituição troca o dinheiro pelo tempo para que as pessoas possam fazer serviços uma às para as outras”. Portanto, trata-se de uma rede de solidariedade em que as pessoas se ajudam trocando, em vez de palavras, serviços. Tudo feito através de um coordenador geral que é o Banco. O serviço é pago com um “cheque do tempo”. Quem prestou o serviço deposita o cheque, que é creditado em sua conta e pode a partir dai obter serviços oferecidos pelos outros membros do Banco.

Com as devidas proporções, o serviço tem alto valor humanitário e se efetiva através de ações e atitudes voluntárias. Há coisa mais maravilhosa do que isto, fazer que as pessoas se desprendam de seus egoísmos e prestem serviços a outras, afastando a hipótese de dinheiro? É uma espécie de voluntariado de serviços, capaz, inclusive, de criar vínculos de amizade entre as pessoas.

Nós brasileiros, acostumados apenas a reclamar de tudo e ao mesmo tempo incapazes de prodigalizarem exemplos de solidariedade, exceto em circunstâncias extremas – que tal mudar esse cenário e criarmos também nosso Banco do Tempo?

Oxalá a novidade encontre resposta em nosso meio e. a exemplo de nossos patrícios do outro lado do Atlântico,  nos tornemos mais solidários, mais disponíveis, adotando esse sistema de troca.

A troca solidária pode não salvar o mundo, mas certamente nos tornará seres realmente dignos da humanidade.
CDL/BSB,1.08.15