MÍDIA ATUAL BRASILEIRA —
UM DESSERVIÇO À NAÇÃO
Iniciam-se
as prévias das entrevistas dos candidatos às eleições de 2018. São as
apresentações dos presidenciáveis na mídia — notadamente nos canais de TV.
Têm
sido um verdadeiro descalabro. Não propriamente da parte dos candidatos que,
ali, fazem da tribuna seus planos de ação, o que pretendem realizar se eleitos
forem para o mais alto cargo da Nação. É onde dão vezo a toda espécie de
promessa, comprometem fazer o possível e o impossível, num verdadeiro vale-tudo
de realizações, muitas inúteis, impraticáveis quando não simplesmente
sonhadoras. Prometer é possível, fazer é
que são elas. É a tribuna ideal para o boquirroto, o falastrão. Sabem que
promessas de campanha não passam de prosopopeias — como aquela feita por certo
candidato de “zerar” os endividados
junto ao SPC, para recuperarem, via oficial, seus poderes de consumir e, assim,
possibilitar o País crescer. Antes — todos sabemos houve no passado apresamento obrigatório da
poupança, miserabilizando a população dos pequenos poupadores.
Tais
promessas até que são aceitáveis, como que alimentam a fantasia dos eleitores,
dá-lhes certo alento, tal é o estado de desesperança que nos encontramos, o
País em paralisia econômica e financeira. Não custa navegar um pouco na
maionese do ardiloso candidato. São os tais “salvadores da Pátria” que se aproveitam
dos distraídos, aquele eleitor que vai na onda, na fala encantatória do dito
cujo. Todos já vimos este filme e o País pagou pela inadvertência do eleitorado.
O
que queremos aqui nos referir é especificamente à mídia, essa intermediária da
informação, àqueles que sinalizam para a notícia, enfim, ao jornalismo, àqueles
que se arvoram do direito de informar o público ouvinte, torná-lo mais
consciente, capacitando-o a melhorar seu
nível de conhecimento. Este, sim, é o que nos parece o verdadeiro papel da
mídia como canal de comunicação.
Ocorre
que logo às primeiras entrevistas, o que saltou aos olhos do ouvinte foi a
impudicícia dos entrevistadores. Em vez de darem sentido mais ético às suas
interlocuções, primaram por construir estratagemas, pregar peças ao candidato,
fazendo perguntas rasteiras, lançando aleives, armando arapucas para
surpreender o candidato, que, de sua vez, desnorteado, como nocauteado,
respondem inadequado, quando não tergiversam, desabafando, nem sempre na justa
medida — justamente a que objetiva esse tipo de jornalismo. Em vez de fazerem
da entrevista um encontro de ideias, fazem-na um circo, em cujo picadeiro o
candidato é desafiado, se atrapalha, se contradiz e acaba passando a figura de
um imbecil. Às vezes, o tiro sai pela culatra e o entrevistador pela
pilantragem da pergunta, cai no ridículo, desmoralizando-se perante o público
ouvinte, como aconteceu em recente entrevista na rede Globo.
A
atual mídia brasileira — salvo raras exceções — é de uma mediocridade de fazer
dó. Mas é o que caracteriza o chamado “jornalismo marrom”, voltado para o
rasteiro da informação, a ponto de jornalistas de certo conceito se servirem
desse instrumento sórdido, que é a trapaça, a dita “casca de banana” para o entrevistado
resvalar e cair, método sem dúvida dos biltres, dos trapaceiros da informação,
que usam e abusam da insídia e do simulacro. Tudo que descaracteriza um
encontro jornalístico ético, o entrevistador de boa formação, moral e cultural.
Mídia,
escrita, falada ou vista, que adotam esses princípios, que se sabem desconstrutivos,
a nosso ver, prestam um verdadeiro desserviço à Nação. Tornam-se exemplos de
mediocridade, ineficiência, evidenciando estado de assilabia mental dos
transmissores, estado esse, infelizmente, em que tem se estagnado o jornalismo
brasileiro.
Dos
seus túmulos épicos, revolvem-se, envergonhados, os luminares do jornalismo: Nísia
Floresta, a primeira jornalista profissional no Brasil, João Francisco Lisboa,
José do Patrocínio, Rui Barbosa, Nascimento de Moraes, Carlos Lacerda, Lago Burnett e todos os que fizeram e
fazem, da profissão, um instrumental da verdade, não a fanfarronice do engodo.
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