sexta-feira, 3 de maio de 2019




JORNALISMO SERVILHANO :

UMA VISÃO PÓS-SEMANA SANTA



Do que vimos e experimentamos em viagem ao exterior, dentre outros aspectos, boa impressão nos causou as  matérias diárias dos jornais locais. O noticioso Diário de Servilla, por exemplo, no dia 22.04.19, após a Semana Santa, nos brindou com abordagens interessantes, sobretudo comentários inteligentes. Enquanto isso o jornalismo brasileiro muito de ressente quando troca a informação escorreita pelo rés do chão cru e cruel do veracismo. E, como sabemos, o que sai perdendo é a cultura, quando se lhe retira a essência da informação.
Apenas como exemplário, colhemos algumas matérias tratadas na edição 22.04.19. Alberto Gonzalez Troyano, em sua crônica sobre Livros, assinala o fato de, após o funesto incêndio da Catedral de Notre Dame, em Paris, ocorrido dias antes, as pessoas se voltarem para a magna obra de Victor Hugo -  O Corcunda de Notre Dame, como espécie de consolo. Diz o autor: “E agora, de novo, sua leitura tem levantado o ânimo de um povo (tradução nossa livre). Depois, ironiza que os políticos, naquele momento, em campanha esqueçam assuntos da Semana Santa, pois o mundo da cultura, para eles,  foi diluído, não se trata de questão prioritária.  Luis Sanchez-Moliní, com o título Spanish Tradition alerta que na tradição espanhola “há um barroco andaluz ascético e meditativo que pouco tem a ver o que se vende nas redes sociais” — prevenindo, portanto, para o mercenarismo religioso. Na sessão Opinião, Javier Gonzalez-Cotta opina sobre livro recém-lançado El Invento de Jesús de Nazaret, o autor Fernando Bermejo Rúbio. O livro trata da polêmica endêmica entre a pessoa de um Jesus autêntico, isto é, o taumaturgo exposto nos Evangelhos, ou simplesmente personagem mítica, oculta nos textos sagrados, menos revelável pela investigação  e mais pela imaginação dos crentes. Segundo o cronista, o autor vai mais além dessa  verdade plausível e do cenário da Paixão, para apresentá-Lo como  um fundamento de fé.
Na edição de 23.04.19, o mesmo jornal traz matéria bastante atual, até mesma abordando a tecnologia, com reportagem sobre autora uruguaia de 95 anos, Ida Vitale, que ganhou o Prêmio Cervantes, com sua obra despojada e misteriosa, onde trata “de temas como o deslumbramento ante a natureza e a função da linguagem” — tudo isso transcrito em seus poemas. Segundo o jornal, a poetisa poematiza a conexão da poesia com a natureza com o alerta de que em seus envolvimentos “um breve erro, torna-as ornamentais”, prevenindo o perigo que pode conter as palavras. Outro comentarista, Pablo Bujalance,   com seu artigo “Público y Laico”, ironiza a disputa entre o que é laico, público e sagrado, quando os partidários do laicismo, ao seu juízo,  voltam a condenar a excessiva ocupação das manifestações religiosas no espaço público dos últimos dias da Semana Santa. Assinala que a Espanha não é um estado laico, mas confessional, sendo permitido democraticamente que todas as manifestações culturais se realizem, inclusive no espaço público. E finaliza, sabiamente: “Eliminar das ruas a dimensão transcendente do ser humano faria das cidades lugares menos humanos.”
Oxalá nossos jornais, TVs e toda nossa parafernália de comunicação nos ensejassem, em seus veículos, informações desse jaez cultural, com juízos mais bem elaborados, veiculados em linguagem menos vexatória, conceitos e pensamentos à altura de um jornalismo de escol, realmente informativo e não essa enxurrada de fatos e intrigas políticas de baixo nível, com que nos defrontamos diariamente,  às vezes até atentatórios à Moral e aos bons costumes da vida em sociedade.
CDL/Bsb, 4.05.19

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