terça-feira, 31 de março de 2020




A  NOVA CAVERNA DE PLATÃO




Reflexão das mais significativas nos traz o texto base  da Missa Pascoal deste domingo, 29.03.20. Trata-se da narrativa do Apóstolo João, cuja simbologia  tem sentido escatológico. O Apóstolo narra o episódio em que o Mestre sabe, por suas irmãs Marta e Maria, da morte de Lázaro, a quem estimava. Jesus havia se retirado de Betânia e dirigia-se para outro lugar da Judeia, mas retorna diante da notícia. Lá chegando as irmãs o advertem de que Lázaro jazia há quatro dias. Mesmo assim, ele  vai ao local do jazigo, manda remover a pedra que o fecha e chama em voz forte: “Lázaro, vem para fora! Então, Lázaro que estivera morto quatro dias, sai vivo do sepulcro.
Observemos a dinâmica do milagre, transportemos a epifania do fato extraordinário para os dias que vivemos no País — essa famigerada pandemia que assola o mundo e ora nos ataca. Resultado: todos estamos em quarentena, observando ordens superiores. Não seria espécie de caverna como aquela alegoria de Platão? Presos e até mesmo apavorados, encontramo-nos sepultos em nossos jazigos residenciais — do mundo exterior só vislumbramos as sombras. O Big Brother da toda poderosa OMS nos emboscou em nossas cavernas individuais, da realidade da vida cotidiana só lobrigamos as sombras. Impediram-nos de sair, de viver a realidade. Fizeram-nos prisioneiros das sombras.
Mas o Mestre — que também é o Mestre da vida nos está chamando: Vem, homem de pouca fé, vem para fora.
Na realidade, não passamos de sombras, a realidade da vida nos é simplesmente furtada por um vírus, misterioso, invisível. Realiza-se a profecia maligna de O Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley, o Grande Irmão já nos comanda o que fazer e o que não fazer. E nossos dias, a beleza da vida, a realidade que nos ressuscita das sombras, tornam-se em dias vividos em Terra Devastada, as ruas desertas, o povo amedrontado, aprisionado em suas celas.  Disso já nos advertia no século XX o grande profeta dos Quatro Quartetos — T.S. Eliot.
O que nos resta a fazer senão orar? Ou não  temos ouvido para ouvir o chamado que vem da Luz a nos advertir? 
Lázaro, vem para fora!


CDL/Bsb, 31.03.20 



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