IMAGINÁRIO DE
UMA PANDEMIA
UMA PANDEMIA
O que
fazer numa paralisação pandêmica como a que vivemos agora? Dormir o tempo todo?
Esbravejar contra o Governo, as estrepolias da oposição, inventando mentiras
para apear o Presidente eleito do poder?
Tempos difíceis esses,
tenebrosos mesmos que estamos a viver. Será que nosso País e o mundo todo foram
pegos de outra espécie de epidemia, o histerismo coletivo de loucura viral?
Senão vejamos. Grassa a
anarquia entre os políticos, tudo vale tudo entre os pares. Não se sabe mais o
que é mentira e o que é verdade, foro íntimo não interessa, todos usam máscara,
a persona do que é sibilino, para a política e
a sociedade — não só para supostamente nos prevenir contra o Covid-19,
mas nos blindar de nossa própria insânia. Estamos todos à beira do niilismo
escatológico dos últimos dias. Exagero ou realmente indícios dos prolegômenos
apocalípticos?
Praza aos céus que tudo não
passe de um pesadelo, que atravessamos a duras penas — águas passadas não movem
moinho, mas desta feita parece que sim, movem consciências ou removem entulhos
de proficiências negativas. Sabe-se lá quanto e como.
O que fazer? É o que
aconselhamos: primeiro, desanuviar a mente, desacreditar na mídia falada e
escrita. Desenvolver nosso tirocínio, para além do raciocínio relativista. Ler
os clássicos, por exemplo: — Tolstói,
Dostoiévski, Goethe, Byron, Shelley, Shakespeare. Mas as bibliotecas, esses
templos do saber, estão fechadas, os autores novos podem atender nossos anseios
literários, caso tenhamos um punhado deles à mão.
Relembremos aquela escritora
provinciana, maranhense da antiga Província de Guimarães — Maria Firmina dos
Reis, resgatada há pouco tempo do anonimato. Afrodescendente, pobre, professora interiorana, assim mesmo
ela escreveu um romance em 1859, Úrsula, e o publicou, certamente
com ajuda de alguém importante, pois sem recursos. Fala-se em Sotero dos Reis tê-la ajudado, erudito, lexicólogo,
prestigiado na Capital ludovicense à época, por ser sua parenta
distante. Talvez seja a primeira mulher negra a escrever sobre a escravidão no
Brasil. Interessante seu romance, estilo ultrarromântico, talvez cinzelado,
aqui ou ali, no Cabana de Pai Tomás, obra viralizada no início do século
nos Estados Unidos.
De nosso pequena estante,
retiro um dos favoritos: Machado de Assis, velho conhecido, seus
maravilhosos contos: Missa do Galo, Religião do Diabo, O Espelho e tantos outros de sua inventiva. Romances: Dom
Casmurro, Helena. A Mão e a Luva, Obras Póstumas de Brás Cubas, Esaú e Jacó —
incomparáveis.
Mas colhamos escritores mais
novos. Vem-nos à mente logo Lygia Fagundes Telles, estilo mágico, prosa
primorosa. Outra é Clarice Lispector com seus contos fantásticos,
suis-generis. Na mesma linha, o chamado realismo mágico brasileiro, da estante
retiro José J. Veiga — A Hora dos Ruminantes, A Casca da Serpente,
este tenho autografado pelo autor.
Uma visita aos escritores
maranhenses. Em mãos a obra-prima de Josué Montello, Os Tambores de
São Luís, obra de fôlego, uma viagem
magistral através da cultura ludovicence. Outro não menos importante é João
Mohana, médico, escritor e sacerdote: O Outro Caminho e Maria da
Tempestade. Bom relê-los, Mohana inclusive foi premiado pela Academia
Brasileira de Letras.
Não só de pão vivemos, obtemperam as verdades
evangélicas pela voz do Mestre da Galileia. Alimentar o espírito também
é uma opção para garantir nosso poder de reflexão, tal qual a busca pela
verdade, o valor como medida valorativa da justiça e do bem no mundo. Este é o
assunto que nos desvia da literatura para a filosofia. E eis um livro precioso
que encontro na estante, algum tempo esquecido — Filosofia dos Valores,
o autor professor e filósofo alemão Johannes Hessen. Minucioso estudo
sobre o que é o valor e sua aplicação à nossa vida, pois, segundo o erudito
mestre alemão, é o valor e não o homem a medida de todas as coisas como
preconizou, erroneamente, o pré-socrático
Protágoras de Abdera (481-411 a.C).
São estas as reflexões que nos
impõe, por enquanto, esse extemporâneo isolamento das coisas e do mundo.
CDL/Bsb, 17.05.20
CDL/Bsb, 17.05.20
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