quinta-feira, 11 de junho de 2020






            PANDEMIA: ATOS E FATOS 
                       PARA REFLEXÃO













Em crônica admirável, Innocêncio Viégas, amigo e Confrade — este que vos escreve e ele ambos pertencemos à Academia de Letras de Brasília – ACLEB — nos revela, sempre ao saber de sua verve peculiar, sentir-se desconfortável com essas práticas a vigerem no período de quarentena, adotadas  por causa de um ataque virótico, no País e no mundo, chamado coronavirus. As pessoas agora não podem mais se abraçar, se solidarizarem uns com outros, como dantes, efusivamente, um aperto de mão, beijar os filhos, afagar com doçura os netos. Tudo se tornou defeso, um poderoso inimigo, de origem microbiológica, tomou de assalto as relações humanas.
Que reflexão podemos fazer de tudo isso, é o que nos tem preocupado também ao viver esses tempos sombrios. Será que nos tornamos, pessoas cordiais, honestas, de repente inimigos um do outro, até de falarmos perto, contarmos um segredo? Dá-nos a estranha sensação de que nós, humanos, seres por excelência sociáveis, fomos atacados por uma doença torpe, que nos afasta do outro, aquele que é nosso próximo, considerá-lo nosso desafeto em vez de um irmão. Sinal dos tempos, a fraternidade sumindo do mundo?
Sempre atento aos ensinamentos religiosos, teólogo que é na sua formação, o cronista acadêmico nos traz a lume o exemplo daquele momento, inscrito nos Evangelhos, em que Jesus recém ressuscitado do túmulo diz a Maria Madalena, sua discípula: Noli me tangere — avisa-a que não lhe tocasse porque Ele ainda não tinha ido ao Pai (Jo 20, 1-17). Ele, o Salvador do mundo, antes de servir ao mundo, precisava do beneplácito de Deus. Nós, míseros mortais, que nos supomos sapiens, nos afastamos um dos outros, não por falta da permissão divina, mas, sim, por nos tornarmos impuros, contaminados por um vírus infamante.
Sem ser teólogo como meu digníssimo confrade o é, não me furto a lucubrar sobre certas sutilezas evangélicas, aquela passagem   em que o Mestre, sóbria e filosoficamente, responde aos maliciosos saduceus, que lhe queriam confundir com sofismas sobre ressurreição, que estavam errados, pois as leis do Reino de Deus seriam estas: Amai a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo (Mt 22 23-33).
E tantas outras reflexões podem nos advir nesse período pandêmico, em que desavenças políticas, sociais e familiares se acendem, talvez trazidas pelo próprio ar que se tornou iníquo, nas telas de TV, nos jornalecos e nas vozes de muitos sofisticadores, que, envenenados pelo Covid-19, imitam hoje aqueles antigos saduceus que achacaram o Mestre e fazem a cabeça de nossa geração.

CDL/Bsb, 11.0620

  

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