segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

  

 

FÁBRICA DE SONHOS E A DUREZA DO REAL

 







É de ver-se, mesmo na urdidura desta vida, que nem só de pão vive o ser humano. O sonho também constitui um alimento. Em contrapartida, há os que agem não como sonhadores, mas como loucos. De todos os gêneros, se  nos propusermos a distinguí-los por área de atuação e de vivência.

Neste mundo de meu Deus ou sob o pregão de outros deuses, visualizamos beleza, felicidade, justiça, humanidade, perdão — mas na balança do julgamento vicejam pessoas desumanas, egoistas, ladrões e assassinos. E o pior: temos que conviver com a escória, o que na linguagem crística corresponde ao joio que se mistura ao trigo, capaz de sustentar ainda muitos corações, infensos ao veneno do agnosticismo.

Neste iniciar de ano, é desejável que procuremos nos prover de todos os nossos sonhos, desde que plausíveis e não nos deixemos levar pelos escaninhos da indiferença e da apatia, como o fazem alguns, sob o lema de viver por viver, deixa a vida me levar e outros atos lesivos aos pensamentos.

Ainda é tempo de nos acautelarmos contra os venenos que a vida nos intoxica, melhor, mediante os apetrechos, sinecuras, desvios físicos e culturais — essa ciranda de afasia transmitida pelas mídias, responsáveis pelo ensandecimento sistemático de  nossos cérebros, almas e corpos, numa cumplicidade sistêmica com essa suposta visão de harmonização do mundo, o decantado Mundo Novo, a globalização como salvação e unificação dos povos a pretexto de aperfeiçoamento da civilização.

Vez em quando a própria tecnologia nos faz lembrar de nossos sonhos esquecidos, reviver nossas esperanças. Não nesse  Mundo Novo preconizado pelo socialismo ecumênico, também do falso esoterismo, mas o sonho que edificamos com nossa realidade auferida no trabalho, através de nossas forças vitais, adquiridas e sustentadas na moral, na ética e estética.

Sonho é o que vemos no filme do Netflix Fábrica de Sonhos — Ousar Sonhar, dirigido pelo cineasta alemão Martin Schreier e um elenco de notáveis atores e atrizes. Numa grande empresa cinematográfica, um simples extra se apaixona por uma dublê da dançarina principal de um filme, ambas, dançarina e sua dublê, retornariam a Paris, após terminadas as gravações da película que estavam rodando. Decepcionado e sem perspectiva no estúdio, o rapaz usa de estratagema, ousando passar-se por cineasta e monta um filme, tendo como atriz principal, no papel de Cleópatra, a dançarina e sua dublê Milou.  Depois de muitas peripécias, finalmente o extra  apaixonado consegue realizar seu sonho, que é o amor de Milou. É uma das fitas mais interessantes que assistimo sobre a temática sonhos.

Oxalá, apesar de todos os contratempos desse famigerado 2020, que este que se inicia nos traga esperança de melhores dias e que não nos esqueçamos nunca de que sem o sonho jamais o ser humano alcançaria tal nível de especificidade, sonho que está eivado do devenir esperançoso, de que algo de bom acontecerá — aliás como Ferreira Gullar intitulou seu primeiro livro de poesia Um Pouco Acima do Chão, embora a rigor lhe  faltasse espiritualidade nos seus poemas.

Parodiando outro poeta, o português Fernando Pessoa, dir-se-á:

“... Navegar é preciso

     Mas Sonhar é mais preciso.”


CDL/Bsb, 18.01.21 

 

 

 

 

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