O BANQUETE DE PLATÃO
— A ESCADA DO AMOR
Nada mais justo que celebremos o Dia Internacional da Mulher, 8 de março, relembrando nada menos que o Banquete de Platão. Essa peça do famoso filósofo grego é considerada, dentre as muitas que escreveu, das mais brilhantes.
Como sabemos, desde nosso ginásio em diante, Platão, cujo verdadeiro nome era Aristocles, viveu e morreu antes de era cristã (Atenas 428-348 a.C), foi um filósofo grego notável, com a definição de ter plasmado toda a civilização ocidental.
Sua vasta obra ele a compôs em diálogos, os celebrados diálogos de Platão. Pois destacamos, hoje, como nossa homenagem ao Dia da Mulher, o Banquete, no qual, cerca de dez convivas para um jantar oferecido pelo poeta Agatão, discursam sobre tema específico — o Amor, o deus Eros.
O notável nesse Banquete é que um dos convidados é nada menos que uma mulher, de nome Diotima, originária de Mantineia, sacerdotisa, filósofa e cortezã. Esse feito é bastante singular, pois à época entre os gregos e toda a civilização grega, prevalecia a misoginia, mulheres não era permitido frequentar banquetes masculinos — haja vista sua proibição nos jogos olímpicos.
Diotima teria sido convidada especial de Sócrates, o homenageado no ágape. O Banquete foi escrito em 380 a.C, aliás um eufemismo, pois, em grego seria Simpósio (Tò Sumposion). O objetivo era venerar o Amor. Daí certamente a razão de Sócrates tê-la convidado para o encontro, também pelo fato de ela, Diotima, ser filósofa.
Nesse ágape, de encenação simbólica por suas ilações filosóficas e culturais, interessa-nos apenas destacar a atuação de Diotima, o leitor inteligente e ávido de maiores encômios sobre o tema que recorra aos alfarrábios — como diria um antigo mestre em tempos passados. No momento, ficamos com a sacerdotisa, filósofa e, por incrível que pareça, cortezã.
Diotima se destaca em todo o palavrório dos convidados, sobretudo por suas ideias, não só expondo concepções filosóficas, como conhecimento sobre o imaginário do Amor. Ela chega a discordar do próprio Sócrates e faz uma genealogia do Amor, o deus Eros, que seria filho de recurso (poros) e pobreza (penia). Ele, o Amor, leva a pessoa a buscar a Beleza, primeiro a terrena ou dos corpos bonitos, para despois crescer em sabedoria, percorrendo, assim, a Escada do Amor. O amante cresce em sabedoria, em beleza espiritual ou das almas bonitas, segundo Platão. Daí direcionaria sua mente para a filosofia.
Só para termos uma ideia do pensamento superior dessa suposta cortezâ, eis sua fala dirigida a Sócrates:
“... dirijo meu olha a partir de agora para a beleza como um todo, o amante deve se voltar para a beleza, para o grande oceano da beleza e, ao contemplá-la, deve dar origem a muitos discursos e belos e magníficos pensamentos na abundância da filosofia.”
Nada nos parece mais justo do que, portanto, relembrarmos esse retalho reminiscente de uma mulher filósofa, Diotima, como a epígrafe mais honrosa neste maravilhoso dia em que a figura edênica da Mulher deve ser preciosa a todo coração humano.
CDL/Bsb, 7.03.22
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