O PECADO MORA AO LADO DO PARAÍSO
Através de sua costumeira verve jornalística, José Carlos Gentili nos revive em seu último artigo fatos históricos sobre o descobrimento do Brasil em 1500, pelo português Pedro Alvares Cabral, um dos maiores feitos da navegação portuguesa, à conta de Dom Manuel, rei de Portugal. Como reza a história, o destino da viagem seria Calcutá, Índia, mas, por meios miraculosos inexplicáveis, a frota de Cabral se desviou e acabou atingindo as costas brasileiras, a chamada Terra de Santa Cruz, onde vicejava o pau-brasil, o ouro, apelidada de Terra Papagalis, à esbórnia dos críticos de prontidão.
O fabuloso evento — o achamento das novas e vastas terras — Pero Vaz de Caminha, escrivão oficial da frota, logo comunicou ao Rei, em carta entregue, em mãos, por Gaspar de Lemes. Depois de narrar as maravilhas do que seria um paraíso, Caminha não perde tempo, nem modéstia, em pedir a benevolência do Rei D. Manuel I para com seu genro Jorge de Osório, preso na Ilha de são Tomé, pela prática de delito, inclusive assalto à mão armada
Nosso historiador então finaliza:
“Isto nos induz, que a corrupção grassa nas terras tupiniquins até hoje, desde os primeiros tempos da chegada dos europeus.”
Como não bastasse o chiste de Terra Papagalis, cabe-nos mais este, o País onde campeia a corrupção. E, por incrível que pareça, ao lado de toda a parafernália tecnológica e midiática — sem falar no furor dos Togados Superiores e sua juridicidade extrema.
Dir-se-á que a corrupção não consta dos pecados capitais, sim, mas é sua contraparte, como se pecado fosse. Não se trata de uma simples benevolência. A corrupção age à omissão da norma, acarreta a assimetria dos poderes político-sociais, é um desvio da ética, da estética e da moral. Quando ocorre atinge virtualmente o todo, fere a dignidade de um País.
Observe-se que o Império Romano soçobrou devido a corrupção que avassalava a sociedade. Alguns historiadores apontam até que todas as civilizações crescem, têm seu clímax, depois sistematicamente declinam. Não há negar devido a corrupção.
Daí no concerto geral das Nações, cada uma delas adotarem medidas que visam se escudarem sempre nos preceitos da justiça, da moral, da ética e da estética.
Hoje, podemos dizer não somos a Terra Papagalis, mas não tenhamos tanta certeza disso. Cioso navegador que foi Cabral sabia que havia descoberto um tesouro naquele novo continente. Seu porta-voz, Caminha, é que com malícia soube escudar-se na fortuna para tirar proveito com a contradita da soltura do genro, a ferros na Ilha de São Tomé. Nasceu, assim, o primeiro ato de corrupção na Terra de Santa Cruz.
Possam os catecúmenos teólogos alegarem que corrupção não consta dos mandamentos salvíficos. Não nas Tábuas da Lei que Moisés recebeu no Monte Sinai. Corrupção é um dos maiores males criados pelo ser humano, o acepipe talvez mais prazeroso que Satanás encontrou para sabotar a criação divina.
Em nosso País, esse desvio tem corrompido pessoas e sistemas sociais, econômicos e políticos.
Oxalá, as perspectivas de melhoria tão necessárias à dignidade de nosso povo possam trazer maiores esperanças e que a Terra de Santa Cruz acorde o gigante Brasil e o torne uma nação realmente humanística.
Bsb,29.06.22
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