É impressionante como nosso País tem evoluído, mas perdendo cada vez mais sua afinidade clássica, desfiliando-se da ética, estética e moral, no contexto civilizatório.
Se examinarmos, sob esse ângulo, nossa historiografia, podemos perceber seu desgaste no tempo. Outrora parece que as camadas sociais se mantinham mais altaneiras, ciente de suas qualidades conservadoras. morais, éticas e esteticamente. Ou seja, as pessoas, as famílias procuravam manter-se nesses níveis, não se deixarem decair, desvalorizarem-se na sociedade, até mesmo as mais pobres.
Hoje, o que se observa é o desgaste das famílias, dos comportamentos das pessoas, no ensino, nos governos, nos fatos e atos políticos.
Exemplo típico desse desgaste ocorreu no Maranhão, onde a sociedade, embora preconceituosa sob o olhar do Pe. Antônio Vieira, alcançou a certa altura, estágio cultural brilhante, graças à plêiade de talentos surgidos, tanto que ousou obter a comenda de Atenas Brasileira. São Luís, a capital, tornou-se celeiro de grandes poetas, escritores e jornalistas. Hoje, infelizmente seu status é tão raso que dizem ser Apenas Brasileira. Tal desaire cultural tende a ocorrer em todo o País. Espécie de involução cultural, moral, ética e esteticamente, a despeito do progresso estrondoso da ciência e tecnologia modificando o mundo atual.
O Rio Grande do Norte não foge a essa regra. Um pouco de história. Em 1530, com a divisão do Brasil em capitanias por D. João III, as terras riograndenses couberam a João de Barros e Aires da Cunha, os quais, por descuido de proprietários, foi objeto de disputa dos piratas franceses e holandeses. Submetidas ao Governo Geral, acabaram por pertencer à capitania de Pernambuco, passando, em 1882, a província, após a independência do Brasil de Portugal. Tais fatos foram narrados em 1955 pelo historiador e etnólogo, Luís da Câmara Cascudo, ilustre figura natalense.
Se o Maranhão foi a Atenas Brasileira, no passado, o RGN também teve suas figuras notáveis, na política e nas letras. Eis alguns exemplos de mulheres: Clara Felipa Camarão, indígena da tribo potiguar de Igapó, heroína nas lutas contra os holandeses. Nísia Floresta (1810-85), educadora, escritora e poetisa. Atua de Souza (1876-1901) poeta de grande valor estético. Celina Guimarães, 1ª eleitora do Brasil. Alzira Soriano, primeira mulher prefeita no País. Maria do Céu Fernandes, primeira deputada estadual. Ademilde Fonseca(1921-2012), maior intérprete reconhecida como rainha do choro. Débora Seabra, primeira professora com síndrome de Down, no País. E de homens: Murilo Melo Filho, jornalista, pertenceu a ABL. Antônio de Souza, governador e literato. Lenine Pinto, pesquisador e escritor. Augusto Severo, advogado, 1º Desembargador do Tribunal de Justiça do RGN. Otto de Brito Guerra, advogado, Diretor da Faculdade de Direito de Natal. Luís da Câmara Cascudo, historiador, etnólogo, antropólogo famoso, folclorista. Djalma Marinho, deputado federal pelo RGN, professor e jurista.
Natal foi fundada há 420 anos, em 1599, às margens do rio Potengi, assim, é mais antiga do que São Luís (1612).
Estarrece-nos hoje — nós que moramos alguns anos em Natal — saber que tais fatos ocorrem na cidade, violência, crimes, revoltas de delinquentes, os cidadãos aflitos. Natal sempre foi uma cidade pacata, o povo bastante hospitaleiro. Onde está o governo do Estado que não atua? Afinal, é um governo ou um desgoverno?
A que se deve tal calamidade, a capital do Estado em estado de emergência — berço de tantos homens e mulheres ilustres? Só podemos atribuir ao estado de acefalia em que se encontra seu governo. Mas não foi o povo que escolheu seus governantes?
Então é de se concluir que o eleitor potiguar parece ter perdido a tramontana. Ou enganado por uma falsa politicagem, hoje trivial em nossa País.
A nós outros que ainda nos resta alguma esperança nesse mundo, haja paciência e lucidez diante de tanta impudicícia e afasia mental.
À vista de tanta escuridão no nosso País e no mundo, recordemos as últimas palavras de Goethe — “mais luz!”
Bsb, 22.03.23
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