quinta-feira, 19 de setembro de 2024

                          LONGA PÉTALA DE MAR

— EPOPEIA OU TRAGÉDIA?

 

                                                     Murilo Moreira Veras

 

O livro em discussão no próximo dia 26.09.24 no Clube do Livro é da escritora peruana Isabel Allende com o título Longa Pétala de Mar. Informo que não foi minha opção.

1.    Prólogo

 

Na realidade o livro é a história, romanceada, da Guerra Civil Espanhola, ocorrida em 1936 e finda em 1939 — portanto três anos de violência, mortes, brutalidade de ambos os lados do entrevero, tanto do General Franco, quanto dos chamados republicanos, alinhados ao comunismo mundial. Franco, referem os historiadores, aliado ao nazismo de Hitler e ao ditador Mussolini, enquanto os ditos republicanos, tutelados pelo comunismo de Stalin. A guerra deixou um saldo de cerca de 2 milhões de mortos, segundo a Wikipédia.

 

2.    À guisa de Enredo

 

Numa atmosfera de romance trágico,   a autora cria uma narrativa tendo como pano de fundo a guerra que inundou a Espanha de sangue, abalando o mundo por idealismos partidaristas. O ator principal que transita por toda a tragédia é Victor Dalmar e sua família, ele combatente ao lado dos republicanos, primeiro como paramédico, depois médico formado. Ele e familiares, envolvidos. O irmão Guillem curte a violência, acaba se casando com Roser, uma moça abandonada, criada em convento de freiras, mas maltratada e até vilipendiada. Pai e mãe unidos pelo mesmo ideal de liberdade, ambos agnósticos, contra o catolicismo e crentes na solução de que serão libertos pelo comunismo universal. Traídos por Stalin, que abandona seus pupilos e atraídos por uma fé num suposto companheirismo universal, na realidade não passando de utopia, os tais revoltosos perdem o entrevero, cruelmente. E então surge o salvador da pátria no imbróglio, espécie de herói épico — Pablo Neruda, poeta chileno, prêmio Nobel. Com a derrocada total dos revolucionários, embaixador do Chile à época, Neruda ajuda a transportar os desterrados da guerra para o Chile, que os aceita, graças a autoridade do famoso poeta. Então, os imigrantes, refugiados da guerra civil, são levados para o Chile.

O título do livro a autora retira de trecho de poema de Neruda — longa pétala de mar — o navio que transporta os imigrantes tem o nome  de Winnepig, cujo capitão odiava comunistas e suspeito de que desviaria o curso do tal navio, mas que, afinal, foi absolutamente correto na empreitada. Os agora apátridas foram recebidos com ovações populares, graças a Salvador Allende, pouco depois tornado Presidente do Chile.

No Chile, Victor Dalmau é muito bem recebido, com emprego como médico, já formado, graças a Allende, do qual se torna amicíssimo, a ponto de os dois jogarem xadrez juntos. Mas, eis uma reviravolta na história da prodigiosa autora, sobrinha de Allende. Dá-se uma reviravolta na política chilena. O Chile , então esquerdista, é retomado à força pelo exército, à frente o famigerado General Augusto Pinochet em golpe de estado. Agora os comunistas são perseguidos, inclusive nosso protegido de Allende. Pois em defesa de seu regime Allende é morto, defendendo seu governo e todo o regime influenciado por Fidel Castro, ditador cubano. Resultado — Dalmau de novo é repatriado para um campo de concentração por ter sido amigo de Allende.

Entrementes, espécie de entreato na epopeia de Victor Dalmau, a autora cria um suspense de amor proibido entre ele, médico já famoso, com uma dondoca de família rica chilena, cujo pai e filhos são a favor de Pinochet e contra os comunistas. É a estória de Ofélia del Soler, que se apaixona por Victor, os dois mantêm um conúbio amoroso durante muito tempo, embora o médico seja casado com Roser, mas apenas de fachada — Roser na realidade era a paixão de Guillen, irmão de Victor, morto em batalha. O romance é quebrado, Ofélia se desencanta com o conúbio proibido pela família, casa-se com antigo noivo.

 Grosso modo, este é o panorama da tragédia de Victor Dalmau, espécie de pivô do devaneio famélico criado pela Guerra Civil da Espanha e a tragédia decorrente,  astuciosamente explorado pela autora.

 

3.   Conclusão

 

Como especifiquei, não foi minha opção de leitura, o tema não me agrada, minha idade não se adunca com esse tipo de temática. Toda revolução implica em terrorismo, desordem social, capaz de gerar apopléticas discussões. Prefiro, hoje, me enternecer e acolher assuntos com temas de beleza, amor, o sentido da vida, como viver neste mundo de transformações violentas. Não me trazem benefício algum esses temas abordados .Pelo sim pelo não, para não me entenderem como espécie de pessoa blasée, só tenho que dizer o seguinte — tudo não passa de memes, invectivas de mal gosto. Isto para não ser alvo de cadeirada, agora em uso como resposta midiática.

                                                          

                                                                              Bsb, 19.09.24

 

 

 

 

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