sexta-feira, 21 de agosto de 2015

           DA MULTIPLICAÇÃO DOS PÃES

          AOS   FAZEDORES   DE   TUDO

 

       O Admirável Mundo Novo huxeliano agora está se tornando cada vez menos “admirável” e mais “enigmático”. Os resultados beiram a absurdidade. O formalismo kantiano parece ter imposto ao mundo um modelo apriorístico de desumanização.
O ser humano, protegido que foi pela armadura da intuição sensível baixa agora sua guarda natural e perde a luta contra o empirismo científicista. Entretanto, engana-se quem pensa que esse novo ser humano construirá um Mundo Novo. Longe disso: esse midiático ser se propõe nada menos que implantar uma nova utopia – a utopia do homem maquínico, cada vez mais desprovido de intuição e inteiramente formatado pelo modelo ideológico, responsável e demolidor,  a proclamar-se guardião apriorístico da sua existência.
                A partir desse fenômeno, de globalização formal da razão abolido qualquer resquício dos pressupostos do conhecimento sensível, a modernidade depara-se com um novo paradigma, que é o de igualar as desigualdades sociais, culturais e conjunturais. E o que vemos é o mundo entrar num processo de massificação das massas, o igualitarismo funcional, sistêmico. Em outras palavras: o ser humano troca a liberdade pela alienação, pela qual ao Estado delega-se a panaceia da felicidade humana, competindo a ele atender nossas necessidades, da existência à convivência, da imanência à supressão da transcendência. E o mundo passa a ser um campo de batalha, para cuja liça nos apresentamos sem a necessária defesa, porque o Estado nô-las roubou.  Encontramo-nos, por assim dizer, desamparados e indefesos. E pior: incapazes de exercer nosso livre arbítrio e fazer valer nossa consciência.
Será que temos, todos, consciência do que acontece conosco e com o mundo? A transição – que dizem estamos atravessando – para onde nos levará?
                Há mais de dois milênios, na antiga Galiléia, à beira do Mediterrâneo, em meio a pedras e relvas, uma multidão, de cerca de cinco mil pessoas, se reunia para ouvir as palavras de um profeta de origem judaica, humilde, acompanhado de discípulos, a maioria pobres, incultos pescadores. Chamava-se Jesus – o Mestre Jesus de Nazaré. A multidão reunida por algum tempo e vendo-a já faminta, o Mestre Jesus ordena a seus discípulos que alimentem aquelas pessoas. Mas como se eles só tinham cinco pães e dois peixes! Jesus toma os poucos pães e peixes, abençoa-os e manda distribuí-los. O fato está narrado nos Evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João. É a “Multiplicação dos Pães”.
               Os partidários das ideologias de esquerda e dentre eles alguns sacerdotes católicos supostamente progressistas enfatizam que o Mestre, ali, não realizou milagre, com esse gesto simbólico. Ele, na verdade, quis passar a ideia de partilha, de distribuição, não só de pão, mas de bens, uma espécie de igualitarismo à guisa de fraternidade. Essa concepção tem sido maldosamente  espalhada pelos áulicos do socialismo, para esconder o milagre, trocando a “multiplicação dos pães” por “distribuição de bens”, vale dizer, a socialização dos bens de produção e consumo, consequentemente desvirtuando as palavras do Mestre e toda a teologia cristã. Justifica-se, assim – pela boca do próprio fundador do cristianismo – a implantação do comunismo no mundo. E pior: como apanágio civilizatório.
               A mídia e certos comunicadores imbuídos da magia ideológica têm, inclusive, se aproveitado de algumas assertivas descontextualizadas do atual Papa Francisco. Ocorreu na homilia do Papa em recente visita à Bolívia, dia 15.0715, em Santa Cruz, em cuja homilia,  sobre essa célebre passagem dos Evangelhos, (Mt 14, 13-21 e 15,29-30; Mc 6,30-40 e 8, 1-18; Lc 9,10-17; Jo 6,1-13) ele disse:
“... Por meios destas ações (tomada, benção e entrega) Jesus                          consegue transformar a lógica do descarte numa lógica de                               comunhão de comunidade.”    

                Ora, lógica de comunhão de comunidade, como disse o Papa, não quer dizer necessariamente – como os ideólogos marxistas pensam – distributismo planejado, repartição compulsória de bens materiais, enfim, socialização de bens de consumo e produção. Trata-se, portanto, de uma distorção absurda, transformar o Salvador em porta-voz de uma doutrina instituída muitos séculos depois, cujos postulados, pragmáticos e espúrios, contradizem abertamente a doutrina de Jesus. Ele, Mestre dos Mestres, de origem divina, não fez sermão ideológico, Seu reino não era deste mundo. Suas mensagens são de justiça e paz. Sua vida justifica-se pela redenção da humanidade, inclusive para cumprir profecias anteriores.
               E assim “caminha a humanidade” em sua evolução. Ou incompreensão nessa espécie de vertigem progressista, enigmática, sim, mas desumana. O mundo cada vez mais tecnológico. Mas por que se afasta tanto de seu élan simbólico, a transcendência, trocando-a por uma imanência estupefaciente, mas desumanizante?
              Se avançamos tanto em tecnologia, por que ainda grassa tanta fome no mundo? A cada três segundos uma pessoa morre de fome, enquanto 1/3 de alimentos produzidos vai para o lixo. É o levantamento da ONU.
              Segundo o Instituto Internacional de Investigação sobre Políticas Alimentares, da FAO, em 2010 mais de um bilhão de pessoas, portanto 7% da populacional mundial passa fome em regiões como a Africa Subsaariana e o sul da Ásia.
             Agora veja-se o absurdo. A população mundial cresce num ritmo de 53% ao ano. Em 2.100, por exemplo, seremos possivelmente 11, 2 bilhões de pessoas habitando o planeta Terra.
             E qual é a situação do Brasil?
             Segundo o Pnad de 2013 – Pesquisa Nacional de Amostras de Domicílios sobre Segurança Alimentar, 7,2 milhões, ou seja 3,5% da população total do País à época de 200,4 milhões (Banco Mundial), passam fome. A despeito do “maravilhoso mundo novo brasileiro” proclamado pelo PT e seu desastroso governo.
             Esse é o quadro tempestivo da fome no mundo – fome essa que decorre da condição ainda de quase eterna pobreza dos habitantes terrestres. Situação que perdura, em razão da geopolítica vigente no mundo que privilegia esse frenesi da humanidade pelo progresso e pela tecnologia.
             Não é extremamente contraditório esse furor pelo progressismo e pela técnica, com seus fantásticos resultados? Enquanto boa parte da população mundial – 7% – vive sem comer ou em extrema pobreza?
             A propósito, não serão esses os “fazedores de tudo” do amanhã?
             Em entrevista recente à Veja (2.09.15), certo tecnólogo dentre esse grupo de gurus transformadores do mundo, declarou que no futuro próximo, máquinas surrealistas estarão prontas para produzir praticamente tudo: casas, utensílios, produtos de consumo – e quem sabe também seres humanos?
             Tudo bem – mas será que acabarão com a fome no mundo?
             Conseguirão saciar, também, a fome espiritual dos homens?
  

 
                 CDL/BSB, 5.09.15
 


















VA  VIDA  TEM  SENTIDO?

 

 

Vivemos a era de apologia ao sexo, pós-liberação sexual, liberdade absoluta de pensar, agir e fazer. Palavras de ordem nos espicaçam a mente. Uma espécie de laisser faire, laisser passer nos induz que tudo é permitido, contanto que nossos inflados egos sejam satisfeitos.

Ora, Dostoievski com sua filosofia de subsolo, mas, convenhamos plena de sabedoria já nos prevenia : “Se Deus não existe, então tudo é permitido.

Figuras em mentes supostamente progressistas e tecnólogos de plantão teimam por profetizar: “São os novos tempos, é o futuro do mundo!”

Em Roma, Cícero aquele que a história oficial considera um dos romanos mais eruditos preconizou, já na sua época – “Ó, tempos, ó costumes”... Previa na verdade o desmoronamento do Império Romano, não porque demolido pela mão humana ou em decorrência de um fenômeno natural, mas, sim, devido ao desregramento  da moral e dos costumes.

Então – nós seres humanos do século XXI, como ficamos, sobre cujas cabeças pesam crimes e castigos, ao mesmo tempo, que, em contraparte, somos capazes de ascender aos altos escalões no exercício da espiritualidade, a exemplo de Santo Agostinho, Santo Tomás de Aquino ou de São Francisco de Assis e Santa Tereza d’Ávila?

Dir-se-á que o mundo encontra-se numa encruzilhada cuja melhor saída ainda nos é desconhecida. Melhor –  a verdade é que nós não temos tido capacidade de efetuar a escolha certa – porque até o momento nos falta a plenitude da sapiência necessária para encontrarmos o rumo certo.

Mas que rumo seria este?

Com a devida vênia, arguimos nós: é o “sentido da vida” – de nossa vida.

Um teólogo moderno, mas conservador – Pe. Paulo Ricardo – nos responde com absoluta convicção: “ o sentido de nossa vida é o céu...

Evidente que esta é a meta do cristão, a visão crística.

Mas – argumenta o Padre – “Será que é prudente a pessoa cujo o único objetivo na vida seja ficar rico, gozar de todos os prazeres mundanos, desfrutar de todas as experiências da matéria?”.

Concluímos por dizer que a prudência nos ensina, pela experiência de milhares de anos de vivenciamento civilizacional que é da índole humana buscar incessantemente o sagrado. Nascemos matéria, mas com o gosto para o alto, para a espiritualidade. Se assim não o fosse – por que nos preocuparíamos tanto com as estrelas que enxameiam o céu, como elas  nascem,  incendeiam-se e de repente se apagam, para renascer novamente como supernovas?

Significativas se nos afiguram as palavras do Mestre:

 “Nem só de pão vive o homem” ( Mt.4,4) e

“Na casa de meu Pai, há muitas moradas” (Jo. 14, 1-2)

 

Aliás, uma delas, quem sabe  – se formos suficientemente prudentes – não estará reservada para nós?
Bsb. 21.08.15

   

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

ARGUMENTOS RACIONAIS À INDIGNAÇÃO  

 

 

Vivemos dias difíceis, o país mergulhado numa espécie de convulsão na economia, na política, a sociedade pasma diante do estado de choque em que se encontra. Será lícito – nos diz o bom senso – toda uma Nação se vê sob tão repugnante situação e, mesmo assim, permanecer calada?

O mesmo bom senso parece nos sugerir que não.  Ora, se a razão que deve comandar a ação e uma vez que essa mesma ação se determine ao largo da razão, então essa  ação tornar-se-á, no mínimo, inócua, posto que não orientada pela boa razão.

Diante desse raciocínio, que se poderia dizer, intrinsicamente dialético, os governos só são considerados justos, quando sua ação tenha como resultado o bem comum, a felicidade dos governados, o bem estar geral da sociedade. É um princípio básico, fundamento, por sinal, ínsito à própria democracia, como governo do povo, pelo povo. Eis a essência da democracia grega, modalidade de governo citada por Platão, ao lado da aristocracia gerida pelos nobres e aquela contraponto  à tirania, dos três regimes o mais nefasto – segundo o filósofo. Observe-se, a propósito, que Platão se inclinava para a república dos sábios e para ele a dita democracia seria regime suscetível de contaminação. Muita gente hoje – constitucionalistas e sociólogos ufanistas – desconhecem essa interpretação platônica ou ousam ignorá-la.

Queiramos ou não, havemos de convir que nossa democracia se encontra doente, em estado de paralisia, suas raízes sub-repticiamente contaminadas – e o pior tendente a se transforar numa espécie de tirania socializante, em que o estado, sub-rogando-se novo Leviatã, avassala seus súditos e os escraviza a uma ideologia que só tresanda a atos e procedimentos arcaizantes, nos quais estão ínsitos paixões e objetivos asfixiantes, lesivos à liberdade e absolutamente contrários aos ideais patrióticos, cristãos e condizentes com o livre-arbítrio de autodeterminação.

Ora, o que vemos, em nosso País é um cenário absolutamente corrosivo, onde grassam o vilipêndio, a falta de ética, o despudorado dilapidar dos bens públicos, como método e ação corriqueiros. O que vemos, estarrecidos, não é só triunfar as nulidades naquela previsão escatológica de Rui Barbosa, que tanto o apavorou, no passado. È muito pior, estratosfericamente danoso: o que se vê é o roubo descarado dos cofres públicos, o assalto armado de colarinho branco às instituições, aos órgãos públicos e privados, sem nenhum pejo, às escâncaras, inclusive à luz e sob a leniência da Justiça, da Lei, da Constituição.

Observem-se isto, a propósito. O povo encontra-se acuado, desesperançado, de certo modo traído por uma eleição contestável, cujo programa de ação é falível e inexequível, por ineficiência e incapacidade de gestão, só tem uma saída dignificante – protestar, em atos de inconformidade, nos panelaços, nos buzinaços  até culminar  nas passeatas gigantes nas ruas.

Evidente que somos avessos ao golpismo, ao intervencionismo irresponsável, conscientes de nossas garantias constitucionais e republicanas, bens obteníveis ao longo de nossa história. Mas, atentemos para o que grandes filósofos, católicos inclusive, ensinaram a respeito do que seria “uma guerra justa”:

Diz Santo Agostinho (sobe o livre arbítrio, I, 5,33, C.Chr. XXIX, 217):

“Não se vê ser lei a que não for justa.”

Sobre a dita “guerra justa”, explicita Agostino que os cristãos deviam ser pacifista, mas podiam usar a força como meio de preservar a paz a longo prazo. O pacifismo, argumenta, não é contrário à defesa dos inocentes ou à autodefesa, necessário, às vezes, o uso da força.

Quanto à observância das leis, refere o mesmo Agostinho, citando Atos 5,29: “É mister obedecer antes a Deus que aos homens.” E doutrina:

“Se o povo é bem moderado e grave, guardião diligentíssimo da utilidade comum, é reta a lei que estabelece ser lícito a tal povo criar os magistrados pelos quais seja a coisa pública administrada. Mas, se, paulatinamente, tal povo se deprava tornando venal o seu sufrágio e confia o regime a homens ESCANDALOSOS e CELERADOS, é correto tirar-se tal povo do poder de atribuir as honras, sendo este de novo confiado ao arbítrio de uns poucos bons”. (sobre o livro-arbítrio, 1, 6,45.C.Chr XXIX, 219) – grifos nossos.

De sua vez, Santo Thomás de Aquino, sobre se a lei humana deve ser mudada: “Deve dizer-se, como se disse, a lei humana é corretamente mudada na medida em que por sua mudança se provê a utilidade comum.”

Sobre a tirania, o  regime tirânico:

“... E, se é insuportável o excesso de tirania, pareceu, a certos, competir ao valor dos homens fortes matar o tirano e exporem-se aos perigos de morte pela libertação da multidão, coisa de que há exemplo até no Velho Testamento” (Jz 3, 15-28).

O mesmo filósofo denominado Angélico estabeleceu três condições que justificam à chamada “guerra justa”:

(a)  deve ocorrer por causa BOA E JUSTA;

(b) ser declarada por autoridade legal; e

(c)  ter como motivação central a PAZ.

 

Pensamos, com a devida reserva, que todas as condições parecem justificar a irascibilidade atual do povo e arrastá-lo às ruas, única ágora democrática justificável diante de tanta indecência, má gestão,  injustiça e irresponsabilidade na gestão do Estado.
 CDL/BSB, 13.08.15

 

 

sexta-feira, 31 de julho de 2015


TROCA SOLIDÁRIA SALVARÁ O MUNDO?

 

 

É voz geral: estamos em estado de crise. Crise geral, quiçá irreversível. Nações em descontrole, o caso gritante da Grécia, o terrorismo aterrorizando com mais atrocidades do que nunca, haja vista os desmandos praticados no Oriente Médio pelo famigerado Estado Islâmico.

Os articulistas de nossa mídia, a começar pela televisiva, também falada e escrita, não poupam críticas ao governo, a maneira como o País vem sendo administrado.

Na revista Veja, por exemplo, semanalmente seus repórteres, cronistas e editorialistas apontam as inúmeras ações que vêm obstruindo o itinerário correto da Nação, cujo resultado tem sido a resseção, um desvio temerário e inconsequente. Só se fala em dificuldades, o consumo em marcha ré, com o aumento do desemprego e o desânimo popular em alta. E para piorar esse cenário quase desolador, os políticos nas suas atitudes contraditórias, contra ou a favor da governança, insinuam moções drásticas, ninguém sabe até que ponto lesivas, como o impeachment da presidente e outros imbróglios institucionais. Tudo em decorrência da ação demolidora dos desdobramentos das operações criminais, a “lava jato” impetrada e levada a seu extremo pela Polícia Federal.

A corrosão política, social e econômica chega a tal ponto de Lya Luft, cronista da Veja, sempre muito equilibrada em suas observações, definir a Pátria, em vez de “educadora” como alardeia o governo, “madrasta”, dada a ineficácia da administração. Enquanto isso, em entrevista à mesma revista, certo demógrafo do IBGE acusa o governo de não ter aproveitado a época 1970 da  “... vantagem de ter uma população ativa majoritária” que, segundo ele,  se encerrará em 2030, mas, a essa altura, praticamente perdida nossa chance de se tornar uma grande nação, em termos de progresso – espécie de “pedaladas demográficas” por negligência,  executadas na contramão do desenvolvimento.

A falta de perspectiva não acontece só no Brasil, mas se reflete no mundo todo, basta consultarmos as mídias.

Pois é de Portugal que nos vem uma notícia, no mínimo auspiciosa: a existência de um Banco “onde a moeda não é o dinheiro e sim o tempo.”

Parece incrível, mas este “Banco” é um sistema de troca de ações solidárias. Diz o informativo da entidade: “A instituição troca o dinheiro pelo tempo para que as pessoas possam fazer serviços uma às para as outras”. Portanto, trata-se de uma rede de solidariedade em que as pessoas se ajudam trocando, em vez de palavras, serviços. Tudo feito através de um coordenador geral que é o Banco. O serviço é pago com um “cheque do tempo”. Quem prestou o serviço deposita o cheque, que é creditado em sua conta e pode a partir dai obter serviços oferecidos pelos outros membros do Banco.

Com as devidas proporções, o serviço tem alto valor humanitário e se efetiva através de ações e atitudes voluntárias. Há coisa mais maravilhosa do que isto, fazer que as pessoas se desprendam de seus egoísmos e prestem serviços a outras, afastando a hipótese de dinheiro? É uma espécie de voluntariado de serviços, capaz, inclusive, de criar vínculos de amizade entre as pessoas.

Nós brasileiros, acostumados apenas a reclamar de tudo e ao mesmo tempo incapazes de prodigalizarem exemplos de solidariedade, exceto em circunstâncias extremas – que tal mudar esse cenário e criarmos também nosso Banco do Tempo?

Oxalá a novidade encontre resposta em nosso meio e. a exemplo de nossos patrícios do outro lado do Atlântico,  nos tornemos mais solidários, mais disponíveis, adotando esse sistema de troca.

A troca solidária pode não salvar o mundo, mas certamente nos tornará seres realmente dignos da humanidade.
CDL/BSB,1.08.15
 


segunda-feira, 29 de junho de 2015


LAUDATO SI – A ENCÍCLICA

ECOLOGICA DE FRANCISCO

 


 

Louvado Seja, Meu Senhor – esse o título da encíclica publicada em 26.05.15 pelo Papa Francisco, em Roma. O título é extraído de um cântico de São Francisco de Assis: “Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa, a mãe terra, que nos sustenta e governa e produz variados frutos e com flores coloridas e verduras” (Cantico delle creature: Fonti Francisco, 263).

Contém o documento pontifício 246 tópicos e todos o seu conteúdo é demonstrado ou fundamentado em 172 fontes bibliográficas, o que pressupõe a garantia dos conceitos ali expostos.

O próprio Papa admoesta ser uma “longa reflexão jubilosa e ao mesmo tempo dramática”. Percebe-se logo que, com sabedoria e grande pertinácia, o Pontífice se desvia do proceder dos chamados “ecoxiitas”, quando querem impor ao mundo e às nações certos conceitos e ações, às vezes temerários de que se julgam portadores de forma absoluta.

Podemos dizer que a encíclica se apoia em dois principais pressupostos:

(a)  uma reflexão jubilosa

(b) uma propositura dramática de ações

 

Sob a égide reflexiva, a encíclica faz uma exortação maravilhosa sobre a natureza e a Criação de Deus, tendo por paradigma a luminosa figura de São Francisco de Assis. Aliás, sabemos que o santo inspirou o  título do Papa ao exercer seu vaticanato.

À guisa de proêmio, a encíclica premune-se de exortações e elegias antes de fazer as advertências e as orientações que considera imprescindíveis à guarda e proteção do meio ambiente. Depois, na sua segunda etapa, é um conjunto de medidas e ações concretas a serem observadas por toda a Igreja, extensiva também às pessoas de boa vontade, independente da religião que professam.

Não se trata, evidentemente, de um documento qualquer, mas uma mensagem de alto teor teologal indutor de salutares e virtuosas ideias, de cunho propedêutico, de grande alcance e repercussão na sociedade, inclusive a laica.

Assim, apoiado nesses dois pressupostos, um elegíaco e outro admoestativo – sem perder o horizonte da melhor doutrina católica – o Pontífice afastou-se estrategicamente das ações de caráter ecoxiita, espécie de terrorismo ecológico disfarçado.

 

Isso não implica que o Supremo Pontífice deixe de condenar os atentados praticados à natureza e, inclusive,  se mobilize a recomendar a adoção, pela sociedade e pelos organismos pertinentes, medidas políticas eficazes e de alcance duradouros, ações que, em conjunto com  os movimentos éticos e ecológicos, envolvendo a sociedade humana, obtenham êxito na luta contra a degradação ambiental.

As diretrizes do novo documento papal não considera, como foco crucial da questão, as ostensivas pretensões dos ecoxiitas, mas prefere fazer um diagnóstico da situação, pedindo o apoio de toda sociedade, para que, num esforço coordenado, procurem encontrar as melhores soluções possíveis.

E nesse sentido, não tem receio de apontar também como coadjuvante na degradação ambiental, o próprio ser humano, na medida em que se torna individualista ou, o que é pior, se omite no enfrentamento do problema, inclusive quando endossa campanhas meramente evasivas, com resultados ineficazes.

Sem deixar de demonstrar o lado perverso da problemática sobre o qual tanto demonizam os que defendem a bandeira ecológica radical, o Papa Francisco apela para o bom senso dos seres humanos, propondo como modelo e conduta admiráveis, seu patrono no Vaticano – São Francisco de Assis.

Destarte, a encíclica, Laudato Si, além do mérito educativo e religioso que está implícito em seu modus operandi, novo júbilo se desprende de seus 247 tópicos – um hino de louvor à Criação, à sapiência do Criador – enquanto alimenta a esperança, sob a mais lídima fé, de que os seres humanos se solidarizem como guardiões da natureza e adotem novos estilos de vida. E que façam de seus dias um continuado ato de louvor a Deus, em sua múltipla transcendência.

CDL/Bsb, 29.06.15   

 

domingo, 7 de junho de 2015


FILOSOFIA       DE       PRÁXIS :

DESCONSTRUÇÃO E BARBÁRIE

 

Atentem bem para o que vamos dizer nestas linhas: o comunismo, ou seus venenosos epítetos, socialismo, marxismo, materialismo dialético, tudo isso não morreu, continua de pé. Os menos avisados, inocentes úteis, dizem  que não, o comunismo acabou com o desmoronamento do muro de Berlim, o esfacelamento da União Soviética. Menos verdade: o comunismo está mais vivo do que nunca, não aquela velha e surrada ideologia de Karl Marx, aquela coisa de ditadura do proletariado, da teoria da mais-valia e o comunismo trocado pelo nirvana, que ensejaria o paraíso do materialismo na terra, a liberdade total, a anarquia absoluta. O comunismo, hoje, transfigurou-se, mudou de nome, tem outro disfarce, e, ao contrário do que muita gente ainda pensa, reaparece mais agressivo, mais atualizado,  mais demoníaco e perverso do que nunca.

Querem saber por que? Porque nos tempos atuais, depois de um período de  incubação e aprendizagem, eis que o marxismo reacende, qual Fênix, desta vez redivivo das cinzas de nossa alheamento, não para proletarizar a Rússia, mas com pretensões muito mais ousadas, ou seja, em escala pior: destruir nossa civilização. Em outras palavras: corromper o ser humano, a mente humana, o coração do homem. E o faz como um ladrão perigoso invadindo nossas casas, a corromper a principal célula social – a família.

E sabem como isso acontece? Simples, através dessa teoria tão insidiosa quanto irresponsável chamada “teoria do gênero”, ou melhor, “ideologia do gênero”.

Não satisfeitos em terem corrompido a economia com conceitos espúrias, os atuais noveis comunistas, que ora se intitulam sócio-democratas, reformadores sociais, infiltrados em todos os países, eles partem agora para outro tipo de abordagem, pregando abertamente a anarquia social. É o que significa essa mais nova ação deles que se chama “teoria de gênero”, que nada tem de teoria, pois desprovida de fundamento científico. Trata-se de uma ideologia, altamente perniciosa, com a qual pretendem – e o vem conseguindo de soslaio – arruinar a família. Destruída a família biológica, não há mais que falar em pai, mãe e filho, está tudo unificado numa classe, o gênero humano, independente do sexo biológico, portanto, desaparece a diferença entre os sexos, homem, mulher e criança é a mesma coisa. A cultura, os costumes e as convenções sociais é que impõem o sexo que as pessoas têm ou devem ter. A natureza, a biologia, tudo não passa de discriminação social e política, criada pela mente humana para escravizar as pessoas, tirar-lhes a liberdade, impor-lhes conceitos, roubando-lhes o direito de fazer o que bem entendam, como, por exemplo, se tornar mulher, se for homem ou se tornar homem, se for mulher.

Afinal, em que consiste essa tal “teoria de gênero”. Em primeiro lugar, ao invés de teoria que implicaria fundamentos científicos, trata-se de uma estratégia que tem por objetivo igualar o ser humano, independente do sexo biológico e contrapor-se à homofobia, de modo a desconstruir os estereótipos do gênero. A diferença de sexo é apenas uma convenção, imposta pela sociedade, que nem sempre corresponde à inclinação volitiva do titular sexual – esta deve apoiar-se na livre escolha dele ou dela, todas as relações entre eles são possíveis, dependendo da vontade de cada um.

Essa concepção, como se pode ver, é consequência direta da ideologia marxista que prega a luta de classe dominante na sociedade. A distinção baseada no sexo biológico é uma mera convenção e para os marxistas e seus heterônimos, portanto, os que pensarem diferente são inquinados, por eles, de reacionários, conservadores, direitistas, encontram-se na contramão da história e dos avanços da tecnologia, neurociência e da moderna psicologia. O ser humano é totalmente livre e senhor de seu corpo, responsável por tudo que faz e pratica neste mundo.

Ora, ninguém é imbecil que não percebe que, sob o disfarce de uma suposta teoria científica, trata-se de um estragema mais ou menos engenhoso, para destruir a família, célula mater da sociedade, cujas consequências são devastadoras, pois implica na mais absurda das inversões a que a humanidade já se submeteu – a subversão biológica do sexo.

Em contrapartida, uma vez adotada essa inovação, logo hão se permitir, por afinidade, outras perversões ou desvios psíquicos, como homossexualismo, lesbianismo, pedofilia, sodomia, práticas nada bem vistas na sociedade, até por questão profilática, uma vez que essa mistura heterogênea é lesiva do ponto de visto médico. Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, os desvios de identidade de gênero  são uma patologia mental. Portanto, mudar de sexo significa sintoma de distúrbio profundo, do ponto de vista médico.

Em artigo na Comissão Episcopal Laica, Federico Cenci declarou: “A teoria de gênero leva à barbária.”

Tal imputação faz sentido. Principalmente quando constatamos que essa prática está sendo implantada nas escolas públicas francesas, alegando o ministro da Educação, Luc Chatel, que a introdução da medida nas escolas objetiva, diz ele,  desconstruir os estereótipos do gênero.

Essa suposta “teoria”  nada tem de científica, não passa de mais uma estratégia para destruir os construtos morais, éticos e sociais, pilares de nossa civilização. Pois agora esses pilares – dentre os quais o núcleo familiar – estão sendo seriamente ameaçados de desaparecer. Aliás, a ameaça sintetiza bem o pensamento de Antonio Gramsci, aquele militante comunista italiano que, mesmo preso pelo governo fascista, escrevia cartas instruindo o partido como tomar conta do poder. Todas as modernas ações desenvolvidas pelo marxismo de hoje têm inspiração direta ou indireta nas ideias de Gramsci, considerado o maior gênio comunista, depois de Marx. Segundo esse suposto “gênio”,  o comunismo deve se instaurar nas sociedades, não mais pela força, mas, sim, utilizando meio menos agressivo, embora extremamente mais eficaz e também nocivo, que ele designou como “filosofia de práxis” – que de filosofia não tem nada, pois trata-se de um instrumento com objetivo de estabelecer nas sociedades, diz ele,  uma “cultura nova, criticando os costumes, os sentimentos e as ideologias expressas na história da literatura.”  E aduz ele: “A sociedade capitalista é imoral, enquanto a comunista é moral e plenamente humana e social.”

É possível que o capitalismo, na medida de suas práticas selvagens, seja realmente amoral, isso é inegável. Mas, um regime que impõe regras lesivas à moral, aos costumes da sociedade, legitimados por milênios de exercício, não há negar que é muito mais imoral – haja vista esse perjuro que os marxistas ou proto-maxistas querem nos impor, um verdadeiro insulto à civilização: o casamento entre iguais, dando acolhida a outras anomalias, como a troca de sexos, o homossexualismo, transformismos, lesbianismo, sodomia e afins.

Há propriedade, pois, nas palavras de Federico Cenci de que essa “teoria de gênero”, tão alardeada pelos esquerdistas, aqui e espalhados pelo mundo afora –  é um retorno, sim, à barbárie.

E para se ter ideia de como essa inovação vem atingindo as raias da insensatez – no Congresso Nacional tramita recente projeto-de-lei defendido pelos deputados Maria do Rosário e Jean Willes, propondo legalizar – pasmemo-nos todos – nada menos que o casamento entre humano e animal!

É o suprassumo da estupidez, que faria estremecer de vergonha Erasmo de Rotterdam com seu “Elogio à Loucura”.

CDL/Bsb. 8.06.15