domingo, 31 de janeiro de 2016






                               AH, OS CARNAVAIS DE OUTRORA!

 Ah, esses Carnavais de antanho! Como eram diferentes os Carnavais do passado. Tão diferentes dessa folia estapafúrdia de hoje. Predominavam as marchinhas explorando os assuntos do momento, todas rimadas, sátiras bem feitas, hilárias, boas do povo cantar, o chiste, o refrão: “Me dá um dinheiro ai” ou “Menina, vai, com jeito vai, senão um dia a casa...” Lá pelos idos de 1940 era a célebre marcha dos carecas “... Nós, nós o carecas, entre as mulheres somos os maiores, e na hora do aperto, é dos carecas que elas gostam mais...” E sobre a bebida: “Você pensa que cachaça é água, cachaça não é água, não.” Os bailes carnavalescos sempre iniciavam com “Ô abre alas que eu quero passar...” de Chiquinha Gonzaga. Ao final das festas, tocava-se o “Viva o Zé Pereira, que morreu na quarta-feira.”

Todo mundo cantava essas marchinhas, a maioria, sabia-se, eram feitas com segundas intenções. Mas havia graça nelas, gozavam de licença coletiva, porque ninguém fazia cavalo de batalha com suas letras, afinal era tempo de Carnaval. Não é a festa da carne, a vetusta “carnem levare” do latim, que significa “ficar livre da carne”?

Nas ruas não havia, como hoje, essa espécie de vandalismo, essa batucada infernalmente estrondosa e, principalmente, ainda não existia essa coisa maluca que são os tais “trios elétricos”, arrastando em estado de euforia idólatra uma multidão de aficionados. Havia, sim, o corso, que eram carros enfeitados, rapazes e moças fantasiados lançando confetes e serpentinas em direção do público, que assistia, cantando os mesmos refrãos.

Também apareciam os mascarados, geralmente caveiras e os famosos  “dominós” – que eram geralmente mulheres escondidas atrás de mantos ou macacões fofos pretos. Esses dominós paravam as pessoas nas ruas para fazerem graçolas, jogarem conversa fiada, com voz de falsete, para  não serem descobertos. À noite, esses mascarados, os dominós, assaltavam em bando as entradas nos bailes ditos de segunda, ou seja, bailes sub-judices, que não eram frequentados pela sociedade – sociedade que tinha seus bailes nos principais clubes da cidade, nos quais não era permitida essa espécie de folião.

Aliás, corria a boca pequena que muitos desses dominós eram moças e mulheres casadas da sociedade que assim se disfarçavam para caírem livres na folia momesca. Mas com a maior inocência. Não havia a violência que hoje impera, esse desbagramento etílico, esses desastres horríveis nas estradas, devido as pessoas se deslocarem das capitais em busca de refúgio,  descanso ou lazer, talvez.

Bonito de se ver, os casais dançando, os cordões de foliões desfilando nos salões, sem confusão, a orquestra atacando as marchinhas, o público cantando, todos se divertindo.

Não esqueçamos os disputadíssimos desfiles de fantasias que ocorriam no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Clóvis Bornay que concorria sempre “hors concours” vencendo os concorrentes. Evando de Castro Lima, seu maior adversário nas passarelas e também outros como Wilza Carla, Mauro Rosas, Marlene Paiva. É fato que tais desfiles continuaram, mas perderam o glamour especial que tinham no Municipal.

Ah, esses Carnavais do passado não voltam mais. Quantas lembranças escondidas naqueles dias de folia!

Hoje, o que vemos são espetáculos que beiram a barbárie. Muitas pessoas, por isso, fogem dessa tresloucada folia.

Então que tal ler um bom livro neste Carnaval, assistir filmes antigos, os novos têm sido horríveis –  se esconder numa praia deserta ou passar os dias numa pousada nas montanhas?

É bom, até mesmo para espairecer, aliviar o espírito, cansados que já estamos da política, do aumento de impostos e da caristía que assola o País – para não falar no espetáculo dantesco a que a mídia nos tem obrigado a assistir, um massacre diário à nossa paciência.

Haja Carnaval – “Carnem levare”! Haja indulgência que a barbárie já toma conta de tudo.

                                       Bsb, 1.02.16

 

 

 

 

 

 

 

 

terça-feira, 22 de dezembro de 2015




                        O   ANDARILHO DE SONHOS

                       

                                                  Murilo Moreira Veras

 

          No meio da estrada do mundo

                 tem uma pedra

                No meio do mundo tem uma

                 pedra na estrada.

                Caminhos do mundo

                estradas  da vida.

               Tem uma pedra no mundo?

               Tem uma pedra na vida?

               O primeiro dia do Novo Ano

               é mais uma pedra

               na estrada da vida,

              pedra  obstáculo

              nos obstáculos de pedra.

             Em cada coração uma pedra

             em cada pedra um coração.

            No primeiro dia do Ano

            não tem mais uma pedra,

            em vez de pedra, um coração.

            Pedra de utopia, talvez.

           Do convívio com o Tempo,

           nutre-se o Ideal

           – idealismo no tempo

           em tempo de idealismo.

           No meio da estrada do Tempo

          caminha o Andante do Novo Ano

         – no meio da estrada da Vida

         caminha o Andarilho

         de nossos Sonhos

                                              Bsb, 01.01.16

          

 

 

 



         O  ADVENTO  DO  NATAL

 
                                          Murilo Moreira Veras
 
 
Estes dias do Advento são como buscar 
a confiança neste mundo.
As aves não voam no limite do horizonte?
As flores não desabrocham saudando
a beleza da manhã?
Os lírios nos campos já não se vestem
com os fios da eternidade?
No berço, antes de dormir a criança recebe
a ternura da Mãe
enquanto os anjos lhe resguardam
                                  o sono,
embevecem-lhe os sonhos.
Jesus nascerá – os Magos  proclamam,
no manto da noite, uma estrela
                                   lucila,
sorri  de euforia.
As crianças se alegram.
Urge que haja alvorada no mundo.
 
Jesus vai nascer.
O tempo de espera já se cumpre.
É o fim dos tempos de Advento.
É tempo de esperança.
O mundo entoa um canto novo
– uma euforia se abre no campo
                                   dos sonhos:
É Natal – Jesus acaba de nascer.
 
          

                                      Bsb, 8.12.15

quinta-feira, 12 de novembro de 2015




 
                  PÁTRIA (DES) EDUCADORA:            

               O RETROCESSO IDEOLÓGICO

 
 


 

Os brasileiros parecem todos dormirem em berço esplêndido ao ignorarem o grande embuste que vem se tramando na educação. Quem não tem filhos nas escolas públicas, níveis elementar e fundamental, simplesmente  – como fazem os medrosos gansos enfiando os bicos em buracos – preferem se omitir e deixar o barco passar. E quem os tem, por preguiça mental ou negligência, dão uma de ouvido mouco,  se acomodam. Enquanto isso, o nível de conhecimento, o cabedal intelectual, o acervo cultural do brasileiro tudo vai se dissolvendo na poeira do tempo.

E tem pessoas que alardeiam que nosso País caminha a passos largos para o progresso. Ou regresso? Sim, regresso ou melhor, vivemos, isto sim, tempos de retrocesso, em termos de conhecimento, racionalidade e dimensão social, antropológica, econômica e humanística.

Observe-se, por exemplo, o descalabro que está ocorrendo no aprendizado escolar. Atente-se para esse monstrengo que constitui a Base Nacional Comum Curricular, espécie de planejamento global no âmbito da educação formal, proposto pelo Ministério da Educação. Trata-se de um plano objetivando a padronização dos currículos escolares, seja pública ou privada, pelo qual os estabelecimentos de ensino do País serão automaticamente orientados a compatibilizar o conteúdo de suas grades de ensino e o professor – que assim fica  mais acéfalo do que já está –  em sala de aula, obrigado a transmiti-lo a seus alunos.

Antes de mais nada já resultaria num absurdo impor às escolas e consequentemente aos alunos conteúdos obrigatórios, quando muito poderia ser diretrizes a título de orientação, nunca imposições de caráter ideológico. Sim, porque esse, em ultima instância, é o verdadeiro objetivo desse famigerado Plano: ideologizar o ensino brasileiro, desmontar o estudo tradicional, desmoralizar o ensino humanístico, pluralístico. O modelo tradicional de ensino foi inspirado no famoso método Trivium da escolástica que a Irmã Miriam Joseph, atualizou em obra  recente do mesmo título.

Ou como dizem em artigo de 8.11.15, na Folha de São Paulo, Demétrio Magnoli e Elaine Senise Barbosa, ao criticar a proposta do MEC: “... os autores (anônimos e, assim, “especialistas”) do documento do MEC investiram numa sociologia do multiculturalismo que esvazia a temporalidade e, com ela, a gramática da historiografia. De fato se aplicada, a proposta oficial significará o cancelamento do ensino da história.”

A verdade  que salta aos olhos é que esses supostos “especialistas” sabichões do MEC, que se escondem no anonimato,  ousam nos enfiar garganta a dentro, numa espécie de lavagem cerebral, essa demagogia espúria, esses dejectos de conhecimento, essas armadilhas ideológicas, que em última palavra nada mais são que o resultado de interpretações errôneas da história humana,  esse verniz corrosivo que se denomina sociologia do multiculturalismo, ou seja, a mais vil e nociva distorção da historiografia humana segundo sua vertente temporal.

E o que é pior, meter na cabeça de crianças de 11, 12 tais conceitos e depois, por extensão  nos currículos das Faculdades – outra coisa senão o método subliminar de terrorismo social, político e cultural criado por Gramsci (1891-1937) e adotado como bíblia pelas novas gerações neomarxistas, que formam hoje esse exército de saltimbancos corrompendo sistematicamente  os costumes, a moralidade, a política, a economia, a ciência de nosso tempo  – tudo isso com o auxílio da mistificação, do ceticismo violento e dessa monstruosidade chamada “desconstrutivismo”, responsável por desmoralizar, com seus conceitos espúrias, os pressupostos filosóficos que buscam a sabedoria.
Bsb, 11.11.15