quinta-feira, 17 de novembro de 2022
domingo, 6 de novembro de 2022
O LOBO
E O CORDEIRO
... Naqueles dias, o Lobo e sua matilha invasora,
resolveu devorar o Cordeiro que estava ali, há muito tempo, com seu rebanho.
O fato
ocorre num riacho onde, ambos Cordeiro, Lobo e suas respectivas trupes, saciam
sua sede.
— Ó
Cordeiro — diz o Lobo da outra margem — você está bebendo do meu riacho.
Medroso,
mas querendo se defender, o Cordeiro replica:
—
Senhor Lobo, este riacho e todo esse território nos pertence, há muito tempo, a
mim e meus companheiros. Mas o sr. e seus companheiros podem beber no riacho.
O Lobo
responde, furioso, mesmo assim:
— Pois
agora fique sabendo que este córrego e todas estas terras abeirantes já me pertencem...
—
Senhor — replica o Cordeiro temeroso, fazendo das tripas coração — este riacho
e todas estas terras nos pertencem, desde tempos imemoriais...
— Mas
agora não pertencem mais, preciso de mais espaço para minha trupe se
refestelar.
— Nesse
caso — responde o pobre cordeiro, mesmo tremendo de medo — sou obrigado a
recorrer à Suprema Corte deste território...
— Eu
pertenço à Suprema Corte e vou indeferir seu recurso...
Responde
o Cordeiro, quase sem mais alternativa:
— Nesse
caso, vou à Corte Internacional de Justiça.
— Pois,
sim — ironiza o feroz devorador de cordeiros indefesos — todos de lá são do meu
lado, fazem parte da justiça mundialista, já estabelecida.
Então,
como última instância da razão e justiça, o indefeso cordeiro ousa responder:
—
Senhor, sou obrigado, eu e meus companheiros, a medirmos força com os invasores
pelos nossos direitos...
Sem mais
delongas e junto com toda sua ferocíssima matilha, o Lobo atravessa rápido o
regato e estraçalha o cordeiro
desafiante e todo o seu rebanho.
MORAL
DA ESTÓRIA: A razão do mais forte, formada pelas ideologias dominantes, supera
sempre os que ainda acreditam na Justiça e no Direito do bem viver. Quem tiver
ouvidos, ouça. E parodiando o velho Shakespeare, afirmamos: há algo de podre
na nossa Dinamarca.
CDL/Bsb, 6.11.22
sábado, 5 de novembro de 2022
terça-feira, 25 de outubro de 2022
DESANIMAR NÃO É PRECISO
Nestes dias de
tantas discórdias, bom alvitre seria recorrer
às sábias palavras do pregador batista Graham Green, extraídas de seu livro 366
Meditações Diárias:
Senhor, quando eu me sentir desanimado, tira
toda a cegueira causada pela minha fé inconstante. Tu estás sempre comigo.
Perdoa meu ingrato coração.
A prece inspira-se nos Salmos 26.14 e deve
servir também a nós, pobres eleitores, ora atanazados por tantas crueldades, a
lidarmos com mentiras, falsidades, uma verdadeira batalha satânica a nos atacar
as consciências, tudo dirigido para nos desvirtuar do que é certo, mais
adequado à situação periclitante em que nos encontramos. Observem-se as
palavras do salmista: Espera pelo Senhor, tem bom ânimo...
O desânimo — ninguém se iluda — é uma das
ações mais perigosas a comandar nossas consciências, elas não nos fortalecem o
espírito, ao contrário delinquem nosso querer, diminuem nosso ensejo de
esperança, nos enfraquecem e infelicitam nossas vidas. É um sentimento
negativo, um estorvo. Se quisermos ter esperança, jamais devamos nos tornar vítima dessa desordem que é
o desânimo.
Enquanto isso, recorra-se à esperança. Todos
nós devemos ter esperança no que fazemos. Querer é poder, diz o feliz refrão. Nunca
pensarmos na derrota. Não pensemos no pior, mas no melhor. Lembremo-nos de que
o universo conspira contra o negativo da nossa existência.
Haja fé a fortalecer nossa esperança, sem a
qual não passaremos de frágeis e covardes patriotas, que, como fôssemos cobaias de um destino réprobo, nos esquecêssemos
de defender a nossa própria Pátria.
CDL/Bsb, 25.10.22
sexta-feira, 7 de outubro de 2022
REFLEXÕES PARA OS DIAS
ATUAIS
Não há nada de novo no front — desta feita no mundo dos fatos e das ideias.
A modernidade nem sempre é original. Já disse o filósofo francês Lavoisier:
“No mundo nada se perde, tudo se transforma.”
Às
vezes, nem sempre para melhor. Os dias que correm nos dão margem a algumas
reflexões, umas curiais, outras estarrecedoras, suscetíveis de discussão.
No
momento de intensa atmosfera política, os ânimos exaltados com expectativas de
mudanças importantes, preferimos o refúgio das ideias onde prelibam temas
históricos e filosóficos. Por sinal nada aleatórios à vista da veemência do
cenário a que assistimos.
Há
cerca de 2.400 anos, Platão, filósofo grego, no Livro VI de A República, em forma de diálogos, afirmou,
através de seus personagens, que a democracia não era o regime político tão
perfeito. Segundo ele, a democracia propiciava os eleitores a serem
influenciados pela aparência dos candidatos, ao invés de levar em conta suas
qualificações de governabilidade. Para ele, o Estado devia ser governado por
sábios, filósofos, treinados especialmente para geri-lo, pessoas
incorruptíveis, conhecedores da realidade e não indivíduos comuns, que seriam
ineptos e inaptos a tão importante missão. Com esta opinião tem também o
filósofo Nigel Warburton em série recente da BBC History of Ideas.
Observe-se
que fragmentos de A República foram encontrados no Egito, local chamado de
Oxyrhynechus.
Segundo
o grande filósofo — e trocando em miúdos os aspectos negativos que o regime
democrático produziria — o regime seria o governo do povo e devido seus
adotantes buscarem insanamente a igualdade, esclarece Platão, o desejo
insaciável de liberdade os levariam à tirania. Pois o excesso de liberdade gera
excesso de facções e multiplicidade de perspectivas, muitas cegas por
interesses mesquinhos, gerando o terreno fértil para surgir o tirano, que
manipularia as massas e subjugaria a democracia. Daí ele, Platão, concluir que o
governante ideal seria aquele que tomaria as decisões mais justas, prudentes e
sábias, orientado pela virtude e não pelas paixões.
Sabemos,
desde eras remotas, o quanto estas ideias têm influenciado a chamada
civilização ocidental, ora para o lado da tirania, ora para imbuir-se do
espírito democrático, sempre tendo como luz o raciocínio dos grandes
construtores do pensamento, os gregos, dos pré-socráticos aos que os seguiram,
como o próprio Platão, Sócrates e Aristóteles.
A
chamada modernidade, saída em primeira onda, pela esbórnia supostamente
salvadora da Revolução Francesa, tem nos legado, se de um lado os atavios da
liberdade, fraternidade e progresso, por outro tingiu o horizonte do
desenvolvimento humano com a praga do iluminismo materialista e do pedantismo
cientificista, vigentes até nossos dias.
E,
como se não bastasse, o eufemismo da social-democracia, filha mais nova bastarda
do ideal marxista, tem se revelado espécie de salvação política e econômica
para os males do mundo moderno, quando na verdade não passa de novíssima
invenção totalitária do chamado esquerdismo ideológico, agora influenciado
estranhamente por outra ou outras teorias nefastas, como o mundialismo, o
aquecimento global, Gaia e outras histerias que avassalam o planeta.
Enquanto
isso, em meio a essa mixórdia, do entrechoque dessas teorias esdrúxulas, sem
falar no desastroso rastro de retração social, econômica e política deixada por
uma inominável pandemia, nosso País projeta-se, a muito esforço, dentre as
nações, à busca do progresso com a justiça e a equidade possíveis.
Pois
agora querem travar essa ventura evolucionista, trocando-a por uma aventura
desastrosa, que nos querem impingir a utopia do socialismo, híbrido criado pela
esquerda hiperbólica. É hora de nos abrigar à sombra da verdade e da justiça,
para não sermos, mais uma vez, ludibriados pelo sofisma gramsciano.
Oxalá
tenhamos a nossos olhos as figuras imortais do passado e recentes de Frederik
Hayek, Alex de Tocqueville, Roger Scruton e em nossa história, Visconde de
Cairu, José Bonifácio de Andrade e Silva, Visconde de Mauá e mais recentemente
Meira Pena, José Murilo de Carvalho e Guilherme Merquior e nelas nos inspiremos para cumprir com nosso
dever cívico e não nos deixarmos cair
na armadilha da utopia asfixiante do esquerdismo.
CDL/Bsb, 7.10.22
terça-feira, 27 de setembro de 2022
O MELHOR DOS MUNDOS POSSÍVEIS
Murilo Moreira Veras
Em
livro elogiado pela grande crítica filosófico-literária, Voltaire
(1694-1778), filósofo humanista francês, escreveu o livro Cândido para
satirizar o grande erudito alemão, Gottfried Wilhelm Leibniz
(1646-1716). Foi ele quem cunhou a expressão “o melhor de todos os mundos possíveis”, nosso habitat desde
priscas eras.
Voltaire
não poupou crítica ao criar personagens praticamente imbecilizados, como
Cândido, discípulo fiel do também idiotizado Panglos, travestido de Leibniz.
Na
verdade, Voltaire era espécie de sábio tipo cricri que satanizava fosse quem
fosse, para envaidecer seu ego crítico e se vingar da doença que o martirizava.
Se
algumas ideias se demonstraram suscetíveis de crítica e imperfeições
filosóficas, nem por isso deixar-se-á de reconhecer o legado sapiencial deixado
pelo grande polímata que foi Leibniz, através de sua vasta obra. E parte desse
extraordinário legado reflete-se na ideia, decorrente de seus profundos estudos
de hermenêutica religiosa e científica sobre
qual nosso papel como criatura vivente no mundo criado, mantido e
sustentado pelo seu Criador.
Nesse
pequeno relato, propomos expor algumas observações de Leibniz sobre dois temas
notáveis e que muito se refere ao tempo em que atravessamos neste nosso velho
novo mundo.
Primeiro
seria sobre o livreto, editado pela ABDR, com selo da Vozes Editora, de
Petrópolis, “Discurso de Metafísica”
no qual Leibniz, através de proposições sincréticas, analisa o relacionamento
do Criador com sua criatura, diretrizes gerais e metafisicas de como esse
enlace criador e criatura se desdobra, pontos e minudencias que se entrechocam
visando esclarecer e justificar os supostos comportamentos dos envolvidos nesta
espécie de conflito ético, estético e religioso entre os entes envolvidos.
Ao
todo são XXXVII proposições nas quais Leibniz, com maestria, deslinda os problemas
gerados entre Deus e suas criaturas, recorrendo inclusive aos ensinamentos da
Patrística e da escolástica, sem deixar de recorrer a seus estudos de hermenêutica científica e
matemática, para esclarecer os pontos de discórdia e incompreensão. São
verdadeiras aulas de filosofia, metafísica e religião.
Sem
nos atrever a discutir o mérito do Discurso de Leibniz, pelo seu intrincado
fundamento em Metafísica, é inegável a validade dos argumentos ali expostos
pelo mestre criador das simbólicas mônadas. Se erros ou desacertos os há,
o bom senso e a equalização de seus pensamentos com o Evangelho e a simbólica
há de os compensar.
Outra
ideia de Leibniz viralizada até hoje é a de que vivemos no Melhor de todos
os mundos possíveis — objeto da irrisão literária de Voltaire na sua novela
Cândido. A ridicularização feita por ele muitos cientistas e filósofos a
acompanham. Alegam inclusive que Deus poderia ter criado o mundo mais perfeito,
o nosso é ao contrário imperfeito, os antirreligiosos ainda a alegarem que se o
mundo é o melhor dos mundos possíveis, porque existe o mal — e outros quejandos
gerados pelo cientificismo e os agnósticos inveterados.
É-nos
claro que a assertiva filosófico-religiosa de Leibniz, o gênio precoce de
Hanover, tem sua falha. Por exemplo, ele declarava que só existia o nosso mundo
como o melhor dos mundos possíveis, ora se é o mais possíveis dos possíveis,
então há evidentemente outros mundos possíveis. Mas muitas de suas assertivas
são, no mínimo inteligentes e agradáveis como explicações filosóficas,
caso das mônadas — para ele
substâncias simples dotadas de tendência e percepção, portanto, conscientes,
capazes de ter desejos originais sobre o mundo.
Em outras palavras não nos parece de todo despropositada a
sentença de Leibniz — despropositada é
a infeliz ironia voltairiana em o
Cândido. Nosso mundo, situado nos confins galácticos, talvez seja o mundo
possível, o melhor e mais possíveis de todos os outros possíveis, porque criado
por Deus, que o criou para exaltar sua glória e fazer da sua criatura a melhor
das criaturas, capaz de glorificá-Lo, dentre todas as possíveis criaturas que
talvez enxameiem o universo transcendente.
Bsb. 28.09.22
segunda-feira, 19 de setembro de 2022
A PASSÁRGADA DA LOUCURA
Reza o ditado popular
que “de médico e de louco todo mundo tem um pouco”. Ao observar os dias
atuais, sobretudo no lapso que antecede as eleições no Brasil, não é difícil reconhecer
que as coisas não andam bem, no que se refere ao comportamento das pessoas. Tem-nos
causado espécie, também, a atuação dos
meios de comunicação de massa, claro que por detrás desses órgãos midiáticos
atuam pessoas que fazem funcionar a engrenagem da comunicação.
Não precisa muita observação para se
aquilatar tratar-se de anomalia geral, atingindo pessoas e narrativas de fatos,
não em nosso País, mas extensivo ao mundo todo. Será uma loucura generalizada —
espécie de manifestação de loucura de todo gênero?
Então os seres humanos enlouqueceram?
Michel Foucault (1926-84), aquele
filósofo francês de ideias estapafúrdias tem um livro sobre a história da
loucura — mas nos escusamos de discuti-lo, devido sua irreverência a fugir de
nossa linha de pensamento.
Preferimos nos imbuir das ideias de
outros pensadores, na tentativa de elucidar essa onda indescritível que vem
assolando esse nosso velho novo mundo. Não o mundo em si, o ente circunstancial
e imanente no qual vivemos, mas as pessoas, seus comportamentos, suas ações,
sua interferência na engrenagem social, os pensamento em si a sofrerem de
esquizofrenia coletiva.
E se tudo não passar de um grande e
hiperbólico plano geral que se insinua insidiosamente nas sociedades, a
disseminar o desequilíbrio mental das pessoas?
Há alguns anos dizia-se que o sobredito
engodo resultaria da interferência da contracultura,
que teria influenciado o mundo, com seu ideário extravagante que teria formatado
o chamado modernismo.
Mas, como dizia certo lente do passado
— consultemos os alfarrábios.
Erasmo de Roterdam (1469-1536), filósofo
e humanista famoso, em 1511 escreveu o “Elogio da Loucura” no qual
satiriza a sociedade de então, os reinados, as sociedades e a Igreja, por seus
supostos desvios clericalistas. Em sua sátira, a loucura era uma deusa,
a que reis e cortezões prestavam culto. Eis excerto seu:
“Não esperais de mim
nem definição nem diversão de retórica. Aqui não caberia tal coisa. Definir-me
seria impor limites que a minha força desconhece. Dividir-me seria distinguir
os diferentes cultos que me prestam, e eu sou adorada igualmente em toda a
Terra.”
É de ver-se que esse reino da deusa Loucura
prevalece até nossos dias, vige e se alimenta em diversas camadas da sociedade,
e pior, encontra-se sorrateiramente moldada nos preceitos jurídicos, seu
sentido desnorteado.
Outro renovado filósofo — René Descartes fez referência a esse reino da loucura, nos
seguintes termos:
“Como poderei negar
que estas mãos e este corpo são meus, a menos que me compare com alguns insumos
cujo cérebro é tão perturbado e ofuscado
pelos negros vapores da bílis, que eles asseguram constante, quando na verdade
são muitos pobres que estão vestidos de ouro púrpura, quando estão
completamente nus, que imaginam serem bilhas ou ter um corpo de vidro.” (apud
Foucault – 1972, 45).
Passemos para outro patamar do saber, a
literatura.
Escritor brasileiro, um dos maiores
vultos de expressão literária no País, segundo nossa historiografia, foi
Machado de Assis (1839-1908). Dentre sua extensa produção, há a novela,
muito comentada, “O Alienista”. Cotejemos um excerto:
“Era a vez do terapeuta,
Simão Bacamarte, ativo e sagaz em descobrir enfermos. Excedeu-se ainda em
diligência e penetração com que precipitou tratá-los. Neste ponto todos os
cronistas estão de pleno acordo: o ilustre alienista faz curas famosas que excitaram
a viva admiração em Itaguai.”
Nosso Código Civil, artigos 3º, Livro
I, Título I, estabelece a incapacidade absoluta para as pessoas absolutamente incapazes
de exercerem seus direitos na sociedade, enquanto nos itens II e III qualifica os deficientes mentais incapazes de
responderem por seus atos, total (II) ou transitoriamente (III).
Mas, quando se trata de loucos
extraordinários que se arvoram acima dos parâmetros legais, por razões
falaciosas, magistrados, legisladores, oficiais judiciários, que se consideram imunes
às leis — como detê-los?
De minha parte, prefiro parodiar o que
disse o poeta:
Vou me
embora pra Passárgada,
Lá sou amigo
de Manuel Bandeira,
Lá em terei
o sonho mais louco que escolherei.
CDL/Br20.09.22
P.S – Texto inspirado no
comentário de José Carlos Gentili, escritor e jornalista, Presidente
Perpétuo da ACLEB