AH, OS CARNAVAIS DE OUTRORA!
Todo mundo
cantava essas marchinhas, a maioria, sabia-se, eram feitas com segundas
intenções. Mas havia graça nelas, gozavam de licença coletiva, porque ninguém
fazia cavalo de batalha com suas letras, afinal era tempo de Carnaval. Não é a
festa da carne, a vetusta “carnem levare”
do latim, que significa “ficar livre da carne”?
Nas ruas não
havia, como hoje, essa espécie de vandalismo, essa batucada infernalmente
estrondosa e, principalmente, ainda não existia essa coisa maluca que são os
tais “trios elétricos”, arrastando em estado de euforia idólatra uma multidão
de aficionados. Havia, sim, o corso, que eram carros enfeitados, rapazes e
moças fantasiados lançando confetes e serpentinas em direção do público, que assistia,
cantando os mesmos refrãos.
Também
apareciam os mascarados, geralmente caveiras e os famosos “dominós” – que eram geralmente mulheres
escondidas atrás de mantos ou macacões fofos pretos. Esses dominós paravam as
pessoas nas ruas para fazerem graçolas, jogarem conversa fiada, com voz de
falsete, para não serem descobertos. À
noite, esses mascarados, os dominós, assaltavam em bando as entradas nos bailes
ditos de segunda, ou seja, bailes sub-judices, que não eram frequentados pela
sociedade – sociedade que tinha seus bailes nos principais clubes da cidade, nos
quais não era permitida essa espécie de folião.
Aliás, corria a
boca pequena que muitos desses dominós eram moças e mulheres casadas da
sociedade que assim se disfarçavam para caírem livres na folia momesca. Mas com
a maior inocência. Não havia a violência que hoje impera, esse desbagramento
etílico, esses desastres horríveis nas estradas, devido as pessoas se
deslocarem das capitais em busca de refúgio, descanso ou lazer, talvez.
Bonito de se
ver, os casais dançando, os cordões de foliões desfilando nos salões, sem
confusão, a orquestra atacando as marchinhas, o público cantando, todos se
divertindo.
Não esqueçamos
os disputadíssimos desfiles de fantasias que ocorriam no Teatro Municipal do
Rio de Janeiro. Clóvis Bornay que concorria sempre “hors concours” vencendo os
concorrentes. Evando de Castro Lima, seu maior adversário nas passarelas e
também outros como Wilza Carla, Mauro Rosas, Marlene Paiva. É fato que tais
desfiles continuaram, mas perderam o glamour especial que tinham no Municipal.
Ah, esses
Carnavais do passado não voltam mais. Quantas lembranças escondidas naqueles
dias de folia!
Hoje, o que
vemos são espetáculos que beiram a barbárie. Muitas pessoas, por isso, fogem
dessa tresloucada folia.
Então que tal
ler um bom livro neste Carnaval, assistir filmes antigos, os novos têm sido
horríveis – se esconder numa praia
deserta ou passar os dias numa pousada nas montanhas?
É bom, até
mesmo para espairecer, aliviar o espírito, cansados que já estamos da política,
do aumento de impostos e da caristía que assola o País – para não falar no
espetáculo dantesco a que a mídia nos tem obrigado a assistir, um massacre
diário à nossa paciência.
Haja Carnaval –
“Carnem levare”! Haja indulgência que a barbárie já toma conta de tudo.
Bsb, 1.02.16