CARTA
ABERTA AO CENTRO DE ARTES E MÚSICA
ITA E ALAOR
Ao
Centro de Artes e Música Ita e Alaor
Pirenópolis
– Go
Saúdo
esse templo de arte, cultura e música, abrigo onde se guarda a vida
histórico-cultural de Pirenópolis, a decantada cidadela dos Pireneus
brasileiros.
Convidado,
tive o prazer de participar da recente
FEIRA DE LIVROS — PIREFLIP 21, singular
evento para uma cidade interiorana, não obstante o encantamento de que se
reveste esse logradouro.
A
simplicidade do evento, em meio a um período de crucial pandemia, não lhe
roubou o charme, que remanesceu simplório, mas de significativo encanto. Sucederam-se
as performances, especialmente as dedicadas à criançada, com seções de estudo e
brincadeiras. E durante os dias 23 e 24, os autores de literatura infantil se
sucederam com seus cartazes, a brindarem o público com suas recentes criações
literárias.
Apenas
nos causou espécie, a ausência na
programação das entidades culturais mais veneráveis e representativas da
música, letra e arte, para coroar o evento na sua plenitude. Como o fazem as
demais feiras livrescas e culturais a ocorrerem no País. Notadamente a música,
ao que se sabe característica fundamental desse recanto, herdada ainda da pequena
Meia-Ponte e seus fundadores.
Outra
ausência, que acredito poderia ter dado peso ao evento, foi a da Academia
Pirenopolense de Letras e Música, APLAM, legado cultural à cidade, graças ao
esforço e o olhar visionário de uma plêiade de escritores, professores e
intelectuais de Brasília, que a fundaram. Dentre esses abnegados destacaram-se
Arnaldo Sette, Victor Tannure, José Carlos Gentili, Murilo Moreira Veras (este
que vos escreve) e Mauro Castro — o primeiro deles seu fundador-mor, que sempre
dedicou à cidade acolhida excepcional dentre suas tarefas, ele responsável,
sim, pelo êxito do projeto, infelizmente já falecido.
Outro
aspecto que acreditamos de interesse não
só da cidade, foro turístico, nacional e quiçá internacional, mas sobretudo de
apelo fundamental à nossa cultura, foi a fundação da Editora Devenir, que
tivemos a oportunidade de apresentar no estande destinado a Autores Independentes
(ver folder específico), cujo objetivo é auxiliar quanto ao melhor
reconhecimento de nossas raízes históricas, artísticas e literárias. Com nossa Editora
Devenir, pretendemos contribuir, na
medida do possível, com as instituições educativas do País, fortalecê-las em
qualidade, para que revigorem suas
raízes originais e, assim, venham a promover resultados mais brilhantes e
eficientes em termos humanísticos.
Quanto
a isso, já temos programação específica (ver folder), inclusive com livros já
editados — caso do LIMITE, uma compilação de contos.
Parabenizo
os encarregados da realização do evento, que esperamos se reproduza no tempo —
é mais um exemplo de que nossa cultura ainda está viva, apesar das correntes
contrárias que a querem vilipendiada.
Recorde-se
e tenha-se como lema o verso simbólico de Luís de Camões em seu inolvidável Os
Lusíadas:
“Cessa
tudo enquanto a musa canta,
Que um brado mais alto se alevanta.”
Murilo Moreira Veras
Escritor
N.B.
– Segue anexo poema dedicado à cidade, escrito por ocasião do evento.
ODE A
PIRENÓPOLIS
Murilo Moreira Veras
Pirenópolis — terra das
pedras,
Construída de pedras
de sonhos,
Meia Ponte — ou a Ponte da meia
esperança.
Teus folguedos
escondem-se em teus cinzeis de pedras.
Os Bandeirantes terão
eles visto tuas pedras cintilantes
e marcaram o teu
destino encantatório?
Ali, tua história
escreve o passado
traçando o caminho do
futuro
— ágora de turismo
entrante.
Tu és feita de pedras
e sobre estas pedras
há de fluir deslumbres
de sonhos
— painéis revisitados
à busca de aventuras.
Cidadela cercada de
pedras,
as pedras motivo de
teu raro encanto.
Sob teus pés,
auríferos, jorram águas cristalinas.
Trilhas de aventuras
sustentam os amantes
de ignotas montanhas.
É a antiga Meia-Ponte
que se reescreve reluzindo
à ardência do Sol
— roteiro das águas,
alegóricas brenhas
que alimentam velhos e
jovens emoções.
Tu — cidade das pedras
o poeta agora de
saúda,
brincando de sonhar
com as pedras
encantadas
dos Anjos.
Pirenópolis, 24.09.21
CDL/bsb, 27.09.21