quarta-feira, 1 de junho de 2022


A IDEOLOGIA SALVARÁ O MUNDO?

 

 

 

Aldous Huxley (1894-1963), escritor inglês, em 1932 escreveu o livro O Admirável Mundo Novo, que se tornou praticamente um best-seller tal o impacto causado pela sua leitura. Na verdade, o escritor lançou um repto ao mundo, denunciando como será o futuro do mundo governado pelo cientificismo, na forma de um robô humanoide ditatorial chamado Big Brother. Ele controlava tudo, sociedade, pessoas, tempo, qualquer ação ou pensamento. Era o Grande Irmão manobrando o mundo.

 Anos depois, o escritor escreveu, uma espécie de atualização do Big Brother, O Regresso do Admirável Mundo Novo, tentando, por assim, tapar o sol com a peneira, citar algumas alternativas para o que seria a catástrofe da dominação do mundo.

Huxley nada fez do que contrapor seu Big Brother a Utopia de Thomas More (1478-1535), isto é, seu livro é uma Distopia ou Antiutopia — como também o são 1984 de George Orwell e Fahrenheit 452 de Ray Bradbury.

Transportemo-nos para nossa atualidade, os dias que correm. Será que aprendemos a lição que nos impôs o visionário Huxley em sua invectiva de escravização da humanidade via ciência? Ora, o físico, por sinal brasileiro, Marcelo Gleizer tem blasonado, sempre que pode, que temos que acreditar na ciência, a ciência é uma espécie de salvação do ser humano, encantatória da inteligência e do saber.

Enquanto isso Aldous Huxley tomava a droga LSD, para entrar em contato com a mística profunda, acabou no budismo da despersonalização.

E nós outros, o que fazemos se o cenário do mundo vem se desdobrando inauditamente para tornar realidade a ficção distópica de Huxley, Orwell e também no Fahrenheit 452?

Fala-se em artefatos engenhosíssimos, como o robô humanoide, aliás já sendo criado um exército desse tipo de engenhoca, dita pensante. Ora, Isaac Asimov, um dos maiores nomes na FC, apregoava que os robôs nunca poderiam se igualar aos humanos e escravizá-los, devido regras impeditivas natas.

Mas os fatos vêm se revelando diferente. E — contraditando — se dissermos que a humanidade caminha a passos largos para o compartilhamento total, que movimentos espúrios, cada vez mais eficientes, sinalizam, lutam e se fortificam cada vez mais pela globalização do mundo? Vige hoje uma verdadeira idolatria pelo universalismo, não só na economia ou finanças, mas quanto à igualdade das sociedades, visando o controle dos fatos e das pessoas. É a psicose em favor do comunitarismo social, econômico. Não é isso que está embutido nesses movimentos globalistas de aquecimento global, Mãe Terra, 3ª Via, até o eufemismo roubado da religião, o ecumenismo ideológico? Todos esses movimentos apócrifos, porque escondem seu verdadeiro sentido, a finalidade  nada mais é do que nos escravizar, não só social ou economicamente, nos roubar a alma, a fé na espiritualidade. Queiramos ou não, o Grande Irmão é o eufemismo do socialismo ideológico, da transformação do mundo para uma sociedade igualitária, protofascista, mascarada no que esses pinguins do cientificismo apregoam como sendo o Mundo Melhor, à guisa do profetismo bíblico.

Não, essas ideologias em voga, que não passam de velharias já de há muitas suspeitas, que agora se renovam pelo gramscianismo retórico, são por demais conhecidas — é o velho surrado materialismo dialético, envolto em nova roupagem. Piorado, meus amigos, é a menina dos olhos dos grandes aglomerados internacionais, as Fundações dos grandes magnatas. Ninguém se engane, eles não têm coração, nem Deus — são materialistas convictos, corruptos por natureza.

Quem salvará o mundo? — somos nós, os que cultuam o personalismo cristão, conservadores dos bens e que têm por escopo cultuar e cultivar a moral, a estética e o simbolismo axiológico em que se fundamenta a verdade, responsáveis pela construção do nosso monumento civilizatório.

                                                          

                                                               Bsb, 1.06.22

 

 

quinta-feira, 12 de maio de 2022

 



AS MENINAS REBELDES

                  

                              Murilo Moreira Veras

 

O livro em discussão no próximo dia 26 em nosso Clube do Livro é As Meninas, de Lygia Fagundes Telles, edição da Companhia das Letras, 2009. Com este são três livros que lemos da autora no Clube. Como é sabido, Lygia faleceu há pouco, tendo sido grande perda nas letras nacionais, ela com 104 anos.

 

1.   Prólogo

 

Este livro foi escrito em 1973, a autora com 55 anos, em plena maturidade, em idade e espírito. Imagina-se que a autora o escreveu sob a atmosfera e cenário do chamados “anos de chumbo” da história política do País — epíteto que lhe tem dado a esquerda para o período do governo de Garrastazu Médici (1969-74). Tirante algumas exceções, artistas e escritores faziam coro contra o governo e a chamada Revolução de 64. Decantava-se a quatro ventos que vivíamos sob uma ditadura de ferro, não importa se o País recebesse benefícios, em economia e atualização. É neste clima e sob essa atmosfera, gerada inclusive pelos grupos subversivos que faziam ações terroristas em diversos recantos do País, que a autora Lygia Fagundes Telles escreve essa novela de 279 páginas. Certamente para acompanhar o séquito de alguns intelectuais que haviam aderido às ideias que diziam mais atualizadas e revolucionárias, provindas da Revolução Cubana, o mundo a encaminhar-se para uma etapa, que diziam progressista e libertária.

 

2.    Enredo

 

Em depoimento, a autora diz que partiu da realidade para a ficção. Trabalhou durante três anos na confecção da novela. É parte da vida de três personagens: Lorena Vaz Leme, Lia de Melo Schultz e Ana Clara Conceição. As três vivem hospedadas num pensionato das freiras Santa Marcelina, em São Paulo. Lorena é a mais intelectual delas, de família rica e tradicional, com propriedades de terras; Lia às vezes chamada Lião, se envolve em luta armada contra a suposta ditadura  junto com Max, seu amante, mas que ainda continua virgem e Ana Clara, a mais bonita de todas, mas detraqué, dependente de droga. Traduzir o imbróglio das três meninas rebeldes, o fio da meada narrativa criada pela autora é que se constitui um problema para o pobre do leitor. Sim, porque a autora utiliza o aclamado monólogo interior, na verdade o famigerado fluxo de consciência (streams of consciousness) utilizado por certos escritores, à guisa de serem  mais modernos que os outros. No pensionato, destaca-se a presença de Madre Alix, que em algumas ocasiões aconselha as três meninas, embora não as queira convertê-las. Elas, as meninas, são todas desmioladas, matriculadas em faculdades, mas pouco frequentam as aulas. Não sofrem restrição e fazem o que lhes dá na telha. Envolvem-se com namorados. No meio de toda essa balbúrdia, através de monólogos intermináveis, o leitor se perde nesse verdadeiro cipoal de pensamentos e elucubrações das três personagens, ora é fala de Lorena, ora é a de Lião se agatanhando com os amantes, cujo pensamento se imbrica com o de Ana Clara e de Lorena, a ricaça que decide desligar-se de sua prole. Como se diz em francês o enredo é um mélange, espécie de desbragamento orgíaco literário, cuja trama parece se dissolver num tropel olímpico de ideias e pensamentos.

 

3.    À Guisa de Apreciação

 

Haja leitura, haja entusiasmo, haja ânimo para desembrulhar essa narrativa. Que verdade seja dita, de Lygia, a escritora que morreu centenária, prefiro os seus contos curtos, mas palatáveis em gênero, número e grau. A autora — penso eu, com a devida vênia — enveredou-se no cipoal literário do fluxo de consciência, aquele modismo de uso e abuso de autores que se autorrotularam, supermodernos, a partir de James Joyce, Virgínia Woolf, William Faulkner, Marcel Proust, Edouard Dujardin. Também na mesma linha se acham José Saramago, Clarice Lispector e Hilda Hilst — esta amicíssima de Lygia. Arrisco a dizer que, nesse livro, a autora quer nos alertar sobre os problemas do mundo moderno. Sim, mas sua ótica é ideológica. Deixa-se imbuir de todos aqueles refrões esquerdistas, àquela época servindo como isca, principalmente ao público jovem, desorientado diante dos acontecimentos. Os militares — os mesmos que conseguiram evitar que o marxismo terrorista tomasse conta do País — não tiveram a devida sensibilidade de orientar a juventude, ao contrário tratou os jovens como também subversivos. Não tardou para que os  chamados intelectuais, os da linha esquerdistas, se rebelassem, quase em massa. Lygia deve ter ido também na onda.

À guisa de exegese, penso que as três meninas representam as três classes sociais: Lorena, é a classe alta, que esbanja arrogância, enquanto quer se alinhar às outras, ombreando-se com as outras classes; Ana Clara é a classe média que não tendo esperança nem força moral e econômica para fazer o contrapeso social, desilude-se e entra no mundo da droga; enquanto Lia, a classe mais baixa, revolta-se contra as injustiças e os desmandos da política, apelando  para a força bruta, o terrorismo — não é atoa que seu amante se chama Max, de Marx.

Não dou descrédito ao livro de Lygia, nem ouso criticar seu talento literário. Sob minha ótica, sempre penso na literatura como arte, até certo ponto, sob a égide da ética e da estética. A atividade literária tenho-a sempre com a finalidade de elevar o sonho humano, portanto não me encho de orgulho de dizer isto — mas o ofício de escrever deve sempre que possível desviar-se da leviandade e do desconstrutivismo.

                                                  Bsb, 12.05.22  

 

 

 

                           

 


sexta-feira, 6 de maio de 2022


 

                                        DIA    DAS    MÃES

 

 

Ser mãe é desfibrar

fibra por fibra o coração.

Isto ou aqueloutro, sempre

o deslindar do coração,

as fímbrias cordas

da emoção.

Mãe é mãe, sempre,

a desfiar todos os liames

que os prendem à devoção.

Mãe é aquela escondida

que afoga às vezes o próprio sonho

a nos desvendar o feitiço

de uma ilusão.

Ser Mãe é assim —

ser tudo para nosso bem.

É a mão que castiga

e logo nos perdoa,

fio da alma, o aconchego do olhar

cansado, a palavra velada

nesse seu amor de mãe.

É a esperança sempre inaudita,

beleza sempre bendita,

 minha Mãe, nossa Mãe

— Maria, a Mãe de todas as Mães.

CDL/Bsb, 8.05.22