sábado, 16 de julho de 2022

 

          MODELO ÉTICO PARA 

              NOSSO TEMPO   

 

 

 

 


           N
estes tempos pandêmicos onde, por acréscimo  vicejam adrede agressividade e maledicência,  é-nos  propício relembrar coisas e fatos do passado que nos animem o espírito. Nada melhor do que bons livros, se tanto afeitos somos à literatura e seus benefícios à alma. Não qualquer livro, mas aqueles que nos trouxeram mensagens alegres e positivas.

Dentre os que mantemos em nossa  modesta livroteca, destacamos dois, cujos autores nos impressionaram deveras, não por nada, mas pelas mensagens que nos trouxeram de paz, sabedoria, singeleza e espiritualidade — verdadeiros best-sellers, onde não exploram violência, terror, sexo e negatividade, muito ao contrário, nos ensinam como viver melhor e interpretar com magnanimidade o mundo e as pessoas com as quais convivemos.

São dois livrinhos de não muitas páginas, mas que nos deixam mensagens melífluas de grandeza, amor, encanto e ternura — hoje tão distantes dos enredos e das tramas, nos livros atuais e também no comportamento de nossos companheiros de vida. Ei-los:

O Coração é para Amar – o autor Pe. Nivaldo Monte, que faleceu salvo engano bispo em Natal, Rio Grande do Norte. Este livro viralizou  por todos os recantos, pelo menos em Natal, sem falar noutros escritos pelo clérigo. Foi escrito para atingir a alma das pessoas que ansiavam o bem, palavras generosas desafiando a mediocridade da vida, de elevação espiritual e verdadeira solidariedade. Quem o escreveu foi um espírito realmente arrebatado pelos ditamos mais preciosos do Evangelho — o amor crístico, Pe. Nivaldo, que nos deixou um vazio irrecuperável.

O outro livro é-nos ainda mais primoroso, em criatividade, singeleza e lição de vida: O Pequeno Príncipe, o autor o inesquecível e praticamente imortal por sua belíssima criação literária, Antoine de Saint-Exupéry . Esta obra, não há negar, encantou o mundo e até hoje constitui um dos maiores best-sellers de venda. Quem ainda não o leu, que o faça, porque é um livro lindíssimo. Se Exupéry o escreveu para as crianças, foi muito mais além, encantou adultos, dando-nos uma lição de ética, moral, estética, de maneira simples, mas de grande profundidade, até mesmo filosófica. Uma palavra sobre o autor: francês, aviador profissional que rodou o mundo no seu pequeno avião, levando cartas e mensagens, à época da 2ª guerra mundial — também escritor notável, inclusive com passagem nos Estados Unidos, onde morou algum tempo. Quem não o tem no original, como nós que felizmente o temos, poderá lê-lo em todas as línguas do mundo.

Sobre o autor — Antoine de Saint-Exupéry — temos uma informação  inédita, poucas pessoas sabem disto. Por ocasião da Eco-92, aquele movimento mundial que teve recorrência no Brasil, Rio de Janeiro, dentre as diversas atividades ocorridas à época (julho de 1992), comparecemos a uma de natureza filosófica, promovida pela Academia Brasileira de Filosofia. Ao final do motivado encontro de alguns dias, o então presidente da Academia, Tarcísio Padilha,  em sessão única, fez declaração que emocionou todo o público presente — apresentou o menino que inspirou o Pequeno Príncipe de Exupéry, agora um senhor, também filósofo palestrante, de origem canadense. Quem leu o livro sabe que, à guisa de prefácio,  o próprio Exupéry faz uma advertência  de que seu Pequeno Príncipe teria sido inspirado num menino, filho de um grande amigo seu no Canadá, por onde ele viajou, a cujo menino inclusive ele dedica o livro.

 

Esta nossa também advertência tem muito a ver com nossa atualidade, a brasileira, de certo modo. Pe. Nivaldo e Saint Exupéry escreveram livros como se previssem nosso tempo, mensagem de carinho, enquanto filosófica, ética e moral. Como seria de bom aviso que, em meio a tantas dissidências, desrespeito, loucuras, até crimes hediondos de que o brasileiro e o mundo têm participado pela mídia interesseira, fizessem todos uma pausa sintomática e lessem Pe. Nivaldo e Saint Exupéry — os praticantes desses horríveis atos e fatos, e nós próprios, talvez olhássemos o mundo de forma bem diferente. Quem sabe não alcançaríamos, nem tanto um mundo melhor, mas o melhor possível.

 CDL/Bsb, 15.07.22

 

 

 

 

 

domingo, 10 de julho de 2022

 

INFINITO NUMA SÓ DIREÇÃO : DEUS

 


 

A título de blague, dá-nos à telha,   comentar alguns aspectos do livro Infinito em Todas as Direções, de Freeman Dyson (1923-2020). O autor é físico teórico, professor emérito do Institute  of Advanced Studies  em Princeton, Estados Unidos.

Blague, em sentido de curiosidade, não temos a audácia de competir à altura com o Sr. Dyson, mestre renovado em física, autor de vários livros sobre sua especialidade, inclusive já falecido. Faço-o da mesma forma como comento outros cientistas e antropólogos, Richard Dawkins, Marcelo Gleiser e por referência Charles Darwin e sua famosa teoria evolucionista.

Os cientistas como é crível por suas próprias formações técnicas comprazem em teorizar sobre a ciência em si, como fosse ela totalmente absoluta, à luz do racionalismo puro, portanto, uma visão materialista.

A nosso ver, não seria totalmente o caso de Freeman Dyson,  espécie de cientista apenas agnóstico, de vez que, neste livro inclusive, ele se contradiz em algumas de suas afirmações. Abordamos alguns aspectos de sua obra e apontamos algumas incongruências, o que não tira o mérito de sua visão.

Senão observemos o capítulo 5, do livro, a questão Por que a vida é tão complicada. Neste capítulo, Dyson parece se redimir do cientificismo de suas teorias sobre o universo. Computemos apenas alguns tópicos:

(a)   ele não acredita na síntese pré-biótica;

(b)  a vida proveio de processos de reprodução ou replicação, isto é,        aleatoriamente;

(c)  três são as teorias de reprodução: de Oparin, Ergin e Carns-Smith, ele prefere a primeira, as demais complicadas.

Ele afirma que a primeira ainda tem o mérito de ser a única aceita pelo criacionismo bíblico — o que dá a entender que ele não rejeita de todo a Criação.

Computemos algumas ideias de Dyson a respeito da origem da vida. Ele vem estudando um modelo teórico simples. Neste seu modelo vida e morte são simétricos, isto é, são eventos comuns. Para ele, a vida provém de sistemas homeostáticos altamente complexos, entendamos ou não suas razões. Por não ser um modelo rígido, é possível haver erros — para o que ele cita o poeta William Blake: “... um erro a ser descoberto faz parte dos desígnio de Deus.”

O autor analisa também algumas ideias do etólogo e biólogo evolucionista, autor do controverso O Genes Egoísta, Richard Dawkins. Como é sabido, Dawkins é um anticriacionista irascível. São dele as ideias do tal genes egoísta e de sua continuação, o chamado meme. Gene egoísta seria, segundo sua teoria, aquele elemento que entra na criação e tiranicamente vence todos os outros por ser melhor, o mais apto, justamente de acordo com a teoria evolucionista da espécie de Darwin. O meme seria o análogo cultural do genes, ou seja, responsável pelo padrão de comportamento replicável por transferência cultural de indivíduo a indivíduo, substituindo a herança biológica. Exemplos: crenças religiosas, expressões idiomáticas, modas na arte e nas ciências, comidas, roupas e etc. — portanto, tão egoísta quanto o genes.

Por sua vez, Dyson, embora concorde em princípio com esse modelo ególatra de Dawkins, segundo este no princípio simplificado, discorda dele por achar um modelo muito complexo. Segundo ele, a vida homeostática baseia-se em estruturas moleculares complexas.  Com essa diferença, Dyson, de certo modo, é contra a teoria darwiniana.

Eis alguns pontos que o fazem discordar de Darwin. A vida é uma rede complexa cujos replicadores são apenas componentes. O processo de evolução biológica não é puro, contém imperfeições. A primeira célula viva contém no mínimo 25% de lixo. Assim, em vez de replicação — homeostase; de uniformidade celular, flexibilidade; por fim, em vez da genes egoísta, na precisão das partes, prevalece  a tolerância do erro.

Na conclusão, o modelo de Dyson torna-se mais criativo, prevendo aleatoriedade para as estruturas, ao contrário do modelo evolutivo de Dawkins e Darwin que prevê a competição violenta das mônadas replicadoras.

No frigir dos ovos, o que concluímos é que os cientistas têm a mesma mentalidade. Demonstram-se seguros, autocratas em seus teoremas e soluções matemáticas que consideram definitivas, embora vez por outra cometam furos em seus raciocínios. É o caso de nosso Freeman Dyson neste seu livro, que, por sinal, apreciamos muito, seu estudo é interessante, o autor um insigne mestre em física teórica. Mas quando se trata de querer interferir naquilo que desconhece, o resultado é uma lástima. Ele discorda da teoria do genes egoísta e também de Darwin, mas,  não quebra o ardor materialista dos cientificismo, tergiversa dizendo-se agnóstico. O que é estranhável nele, como físico teórico, cientista das estrelas, é que  tenta agradar os criacionistas, citando o apóstolo Paulo, em sua carta Coríntio 12-4. A citação não favorece o autor em sua argumentação científica de que a origem humana decorre de curiosa e extraordinária complexidade, mas sem que haja um criador definido.

Neste texto, apoiado nas palavras do Mestre, Paulo é definitivo, ao explicitar que  “ 4. Há diversidade de dons, mas um só espírito”. Isto quer dizer que as tais estruturas complexas que deram origem a toda a homeostática científica sobre a criação, segundo Darwin e de seus seguidores Dawkins e Dyson, na realidade não passam de estruturas simples, provindas da magnitude do Criador, como bem declara o apóstolo. Já para o relativismo dos cientistas essas estruturas se transformam num verdadeiro enigma, repleta de fórmulas, firulas e malabarismo matemático.

                                       

CDL/BSB, 10.07.22

quinta-feira, 7 de julho de 2022

 

A IGREJA CATÓLICA E O MUNDO

 


 

 

Recentemente, a meu pedido, Pe. Edelberto Borges de Sá — meu confidente espiritual de há muito tempo — enviou-me seu comentário sobre o tema à epígrafe.

 

Padre João Mohana, dentre os seus inúmeros livros, escreveu um tendo por tema Eu e o Mundo. Aproveito o gancho e vou expor ao amigo o que penso sobre a atuação da Igreja no Mundo, como me solicitou.

A Igreja vem sofrendo espécie de desgaste, do ponto de vista teológico, em relação à modernidade de nosso tempo. O livro do Pe. Mohana, hoje, seria objeto até de gracejo, quando defrontado às anormalidades, às modificações sofridas pela mentalidade atual, em face da espiritualidade exigível aos católicos.

Assim é que, enquanto o mundo avança em termos de tecnologia, de forma extraordinária,  a Igreja parece não ter ou não poder acompanhar a esquizofrenia da modernidade.

E argumentamos nós: e seria esse o papel da Igreja — fomentar e abraçar a modernidade com todo o seu dinamismo criador? Ou ao contrário, como guardiã da fé cristã, aquela que lhe foi transmitida pelos Apóstolos e recebida ao vivo por Jesus Cristo — seu dever não será o de conservá-la, depositária fiel dos ensinamentos do Mestre?

Penso que não constitui função específica de nossa Igreja acompanhar, pelo menos pari-passu, toda tecnologia concebida pela ciência, também aceitar todos os desmandos praticados pelo ser humano para acompanhar os avanços.

Em sendo assim, é o que certa parcela da Igreja vem agindo, a ponto de ousar confrontar-se até com a teologia católica. É o que uma plêiade de bispos franceses o faz, enviando ao Vaticano um extenso relato postulando modificações na Igreja, dentre as quais, os padres se casarem, mulheres serem presbíteras, novas formas litúrgicas na Missa, inclusive mais barulhos às cerimônias, como não bastassem as já em prática.

E o que dizer dos chamados sínodos agora em voga adotado pelo Vaticano, via Papa Francisco? Primeiro o Sínodo da Amazônia, a nosso ver uma excrecência litúrgica, seguindo-se outros, como o recentemente anunciado por clérigos alemães. Ora, esses denominados caminhos sinodais não passam de heresias disfarçadas — foi desse modo e arte que o protestantismo dividiu a fé católica, criando uma nova igreja.

Em face desses desvios, muitos bispos e padres têm se rebelado a tais manobras, supostamente teológicas, um destes o Cardeal Sarah que chegou a afirmar: “Os inimigos da Igreja estão dentro dela. Bem a propósito declarou o Papa Bento XVI, hoje simples benemérito, profetizando tais revezes já no seu mandato — ...” a Igreja vai ressuscitar como um pequeno rebanho”.

Tem sido divulgado entre os articulistas do Vaticano que cerca de 30% do clero católico discorda do Papa Francisco, dentre os quais se encontram os cardeais Robert Sarah, Carlos Maria Viganò, Gerhard Müller (Congregação para a Doutrina da Fé) e Joseph Zen (Hong Kong).

 

De nossa parte, com a devida vênia, assinalo que o atual Papa Francisco vem adotando medidas extravagantes na Igreja, basta examinarmos as anomalias descritas na sua encíclica Amoris Laeticia e tutti quantis, a cargo das falas, escritos e atitudes a que Vossa Reverendíssima tem se dado fazer, ao longo de seu mandato.

É de meu dever esclarecer, como sacerdote, que quaisquer mudanças no exercício da teologia católica, desde seus primórdios, inclusive custodiado pelos maiores e eminentes doutores da Igreja — Santo Agostinho, São Tomas de Aquino e tantos outros que contribuíram para sua consolidação no mundo — ter-se-ão como heresia.

Não obstante, como clérigo sujeito ao chefe da Igreja, não posso nas minhas sugestões, ir mais além da sandália e ser mais realista do que o rei. Julgar só a Deus pertence fazê-lo, através de sua Suprema Sabedoria.”

 

Eis para nosso conhecimento o teor completo do Padre. 

CDL/Bsb, 8.07.22