sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

 

                 AINDA RESTROSPECTIVA 2.023

                 COM PERSPECTIVAS PARA 2.024

 

 

 

Como rescaldo da retrospectiva, vem-nos à baila uma primeira vista do que nos reserva o novo ano, em termos de situação de nosso País e do mundo em geral.

No País, as coisas não são nada boas, vige o que presenciamos, estado de letargia geral, o governo acéfalo, o parlamento inoperante a servir a mediocridade vigente, que se espalha nos órgãos funcionais e também nas cabeças vazias, não poucas, por sinal. Dir-se-ia, sem louva Deus, que o brasileiro agora vive por viver, seguindo a fórmula sartriana.

No mundo a visão não difere muito — escaramuça ali, outra acolá, o ditador Maduro da Venezuela querendo se apossar do Equador e lá pelas estepes da Europa a Rússia ainda se engalfinha com Ucrânia, sem nada solucionável em termos de pacificação. Mas para diante, no Mediterrâneo, Israel luta contra o Hamas, agora o Iran se imiscuindo no imbróglio, enquanto os Estados Unidos apoiam os judeus, embora sub-repticiamente. Portanto, nada de novo no front

Eis que surge outro fato surpreendente nesse final de ano, com consequências para o novo ano — o inusitado comportamento do Papa Francisco, que acaba de abalar a autoridade do Apóstolo Pedro, o primeiro ocupante da Cadeira designada pelo Mestre. Em comunicação dita como não apostólica, mas sob fidúcia papal, portanto de certa forma de cumprimento observável, nossa Papa reformista autoriza a benção pela Igreja de casais do mesmo sexo, portanto as alianças de pessoas gays agora ficam devidamente abençoadas.

Doravante, o que há de se esperar? Que Elon Musk com todo seu contraforte de robôs superinteligentes tome as rédeas do mundo? Sim, porque os humanos fracassaram na administração terrestre e falharam na construção de um Mundo Melhor — o suposto e fantasioso Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley.

Dir-se-á — é o fim dos tempos, a visão apocalíptica já se torna realidade, inda mais com os distúrbios ecológicos recorrentes, vulcões estourando e até chuva de pedra nunca vista caindo sobre casas e cabeças. E outras ameaças como apregoam os oficiais de plantão das profecias. Trombeteiam até que estamos, todos, sob o olhar temeroso de seres alienígenas, habitantes de civilizações superiores — são os avisos terríficos a nos tirar do sério.

Que o fim dos tempos se aceleram talvez não haja dúvida pelos desacertos naturais, principalmente para nós com anos de vivência em nosso estatuto de vida, pelos espetáculos bons e maus assistidos.

A nosso ver, o que nos parece mais desastroso, de certo em função do desconcerto da natureza, é o comportamento do ser humano que vem se deteriorando dia a dia — aliás esse desvio vem aumentando, na mesma medida em que o ser-do-ente do suposto homo sapiens vem se afastando da benevolência divina. Trocou o caminho da Verdade, da Prudência e da Perfeição pelos seus próprios conceitos, imaginados, criados no Eu penso, logo existo cartesiano, acrescido da figura ideológica do homo artificialis, agora ele próprio incorporado no Criador Universal.

terça-feira, 9 de janeiro de 2024

 

          RETROSPECTIVA DE 2.023

          O QUE RESTOU E SOBROU

 

 


 

Inspiram-nos ainda o velho Machado, para informar o que ficou e faltou nesse já passado 2023. Politicamente um desastre, isto todos nós já sabemos. Ignoremos o desastre, agora é tentar ultrapassá-lo e continuar o caminho que nos resta.

Mas há coisas que não podemos ignorar. É o grau de desenvolvimento do nosso povo, pelo menos em termos de cultura e especificamente a falta de leitura do brasileiro. É de dar pena, quando comparamos com o passado, os grandes vultos da literatura brasileira, inclusive o de Machado de Assis — um homem filho de uma lavadeira e de um pintor de parede, negro, pobre, epilético, sem ter frequentado qualquer curso superior, alçar-se na sociedade como talvez o maior escritor brasileiro, capaz de igualar-se a escritores mundiais célebres, Shakespeare, Cervantes, Hugo, Dante, Goethe, Dickens, Camilo Castelo Branco.

Em contrapartida, 2023 acaba de nos premiar como o país que alcançou o mais baixo grau em leitura,  conforme pesquisa mundial do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) — não há como não nos envergonhar. O que fica claro que nosso povo não lê e quem não lê não tem desenvoltura intelectual, o cérebro travado e outros quiproquós indispensáveis ao enriquecimento do saber. Não seria prova desse estado político calamitoso atual? O brasileiro, pelo menos é deduzível, realmente não sabe exercer suas funções democráticas, o que diz de sua falta de entendimento intelectual, ou seja, não lê — e pior, se deixa levar por uma mídia insidiosamente maligna.

Novamente recorremos ao nosso Machado. Ele, em sendo um grande escritor, nos deixou esse grande legado — os seus livros, romances, crônicas, peças teatrais e contos. Seu acervo nos ameniza o prejuízo que o Brasil teve, melhor, tem tido. Dizem os críticos, quase sempre, os invejosos, que o Bruxo do Cosme Velho  foi um grande pessimista. Pode até ter sido, em razão de suas raízes familiares, mas pelo sim ou pelo não, sua belíssima escritura alcançou o máxima em criatividade, senso crítico, verdadeiro espelho de um passado ainda recente — o que glorifica essa nossa sofrida Pátria de Pedro II e Afonso Celso, este que a glorificou por suas riquezas e belezas naturais. Ao contrário, hoje, a Pátria está sendo crucificada pelos seus próprios filhos, com exceções, felizmente.

Talvez tenha sido este o maior ganho que nós, em meio a tantos desacertos, ousamos obter, espécie de  migalhas de esperança que o ano de 2.023 nos legou.

 

 

quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

 

               Á  GUISA DOS RESSAIBOS

 


                                          

 Ainda a propósitos dos ressaibos, aconselhamos, por exemplo, ler as crônicas de Machado de Assis, o livro Bons Dias!, publicado  por John Gledson, um dos maiores estudiosos do escritor carioca, por incrível que pareça americano.

Essas crônicas foram editadas no antigo jornal carioca Gazeta de Notícias,  entre 5 de abril de 1858 e 29 de agosto de 1889 — ao todo cerca de 500 crônicas.

São páginas interessantes, por onde se pode aferir o ativismo social e político de Machado — o Bruxo de Cosme Velho  — seu senso crítico, em linguagem acessível, embora sem deixar de transparecer os chistes, quiçá até galhofeiro.

O gênero crônica sempre foi muito utilizado no jornalismo brasileiro, dir-se-á que Machado elevou-o ao máximo à época. Não só Machado, mas Lima Barreto. Modernamente temos nomes de primeira grandeza nas letras, também cronistas notáveis, Cecília Meireles, Rubem Braga, Nelson Rodrigues, Paulo Mendes Campos, Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade e Vinicius de Moraes. Em São Luis-Ma, por exemplo, pelos idos de 50, Lago Burnett produziu crônicas notáveis.

É claro, cada qual primava por seu estilo, desde o humor negro de Nelson Rodrigues, o romanesco de Rubem Braga e inspirado modo de escrever de Paulo Mendes Campos, assim como o intimismo de Clarice Lispector, ou, senão o maneirismo modernista de Carlos Drummond de Andrade.

Mas, em nossa ótica, nada se compara ao prosaísmo de Machado, suas chistes, comparações, a sutileza das palavras, sem cair no ridículo, ou  trair o estilo clássico e o que seria mais  deglutível ao paladar do senso comum.

Inigualável a pena de Machado, donde até hoje é sempre de bom alvitre tê-lo como modelo de escritura, não obstante difícil de imitá-lo — sua verve extravasa o trivial.

Pois bem, nossos ressaibos teriam sido tentativa, em vão, de imitar o velho Machado, seus arroubos, a maneira escorreita de escrever, impossível igualá-lo — não há como plagiar o Mestre.

Seria ridículo querermos escrever, hoje, como escrevia Machado. De uma coisa é certo, muitos desses nossos novéis escritores, pleno de badulaques literários, esse que a crítica apelida de estilo moderno, seus autores que abusam de neologismos, até ridículos — por sinal verificáveis na Internet  — seria de bom tom alertá-los:

Leiam Machado, não só os contos e os romances — mas também as crônicas, se quiserem ser bons escritores. E digo mais: não se deixem ridicularizar com essa mania estapafúrdia de querer mudar nossa língua, aquela Flor bela do Lácio, hoje desmoralizada nas redes sociais.

                                                   

Bsb, 4.01.24