Á GUISA DOS RESSAIBOS
Ainda a propósitos dos ressaibos, aconselhamos, por exemplo, ler as crônicas de Machado de Assis, o livro Bons Dias!, publicado por John Gledson, um dos maiores estudiosos do escritor carioca, por incrível que pareça americano.
Essas crônicas foram editadas no antigo jornal carioca Gazeta de Notícias, entre 5 de abril de 1858 e 29 de agosto de 1889 — ao todo cerca de 500 crônicas.
São páginas interessantes, por onde se pode aferir o ativismo social e político de Machado — o Bruxo de Cosme Velho — seu senso crítico, em linguagem acessível, embora sem deixar de transparecer os chistes, quiçá até galhofeiro.
O gênero crônica sempre foi muito utilizado no jornalismo brasileiro, dir-se-á que Machado elevou-o ao máximo à época. Não só Machado, mas Lima Barreto. Modernamente temos nomes de primeira grandeza nas letras, também cronistas notáveis, Cecília Meireles, Rubem Braga, Nelson Rodrigues, Paulo Mendes Campos, Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade e Vinicius de Moraes. Em São Luis-Ma, por exemplo, pelos idos de 50, Lago Burnett produziu crônicas notáveis.
É claro, cada qual primava por seu estilo, desde o humor negro de Nelson Rodrigues, o romanesco de Rubem Braga e inspirado modo de escrever de Paulo Mendes Campos, assim como o intimismo de Clarice Lispector, ou, senão o maneirismo modernista de Carlos Drummond de Andrade.
Mas, em nossa ótica, nada se compara ao prosaísmo de Machado, suas chistes, comparações, a sutileza das palavras, sem cair no ridículo, ou trair o estilo clássico e o que seria mais deglutível ao paladar do senso comum.
Inigualável a pena de Machado, donde até hoje é sempre de bom alvitre tê-lo como modelo de escritura, não obstante difícil de imitá-lo — sua verve extravasa o trivial.
Pois bem, nossos ressaibos teriam sido tentativa, em vão, de imitar o velho Machado, seus arroubos, a maneira escorreita de escrever, impossível igualá-lo — não há como plagiar o Mestre.
Seria ridículo querermos escrever, hoje, como escrevia Machado. De uma coisa é certo, muitos desses nossos novéis escritores, pleno de badulaques literários, esse que a crítica apelida de estilo moderno, seus autores que abusam de neologismos, até ridículos — por sinal verificáveis na Internet — seria de bom tom alertá-los:
Leiam Machado, não só os contos e os romances — mas também as crônicas, se quiserem ser bons escritores. E digo mais: não se deixem ridicularizar com essa mania estapafúrdia de querer mudar nossa língua, aquela Flor bela do Lácio, hoje desmoralizada nas redes sociais.
Bsb, 4.01.24
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