sábado, 20 de janeiro de 2024

 

              SONHO OU REALIDADE

              —  EIS   A   QUESTÃO

 

 

 


 

Era um sonho ou a realidade? Às vezes, sonho se confunde com a realidade. Um homem estava à minha frente e se dizia uma pessoa chamada Lula. Tinha a barba dele, o cabelo desgrenhado e falava para mim.

— Estou cansado de política e pretendo abandonar tudo isso. Sabe — continua ele com o mesmo sotaque do presidente — a gente não obtém tudo o que quer.

Sinto que ele está querendo se confessar, por para fora o que lhe vai no crâneo.

— Sabe, eu fiz o que pude, porque não tenho grandes letras. Não passo  de um simples trabalhador sindicalizado. Eu achava que governar um país era como governar um sindicato, um bando praticamente de analfabetos.

Olha de soslaio para mim que o escuto com certa atenção. Faz uma pausa, como para domar o fôlego, pigarreia.

— Sabe, não tenho letras, mas modéstia aparte sou bom de conversa. Sabe como é, falar com esse pessoal, levar a melhor no papo, isso eu sei fazer, a vida me ensinou.

Continuo imóvel a escutar aquele homem que agora é o presidente da  República. Está malvestido, nada diz que ocupa esse tão importante cargo.

— É isso ai, companheiro, fui como que chutado para esse cargo. O povão parece que quis que eu fosse presidente.

Faz uma pausa para tomar fôlego, vez em quando funga.

— ... sabem, a gente é levado nesse país pra impressionar, tem gente que gosta disto. Sabe, muita coisa que fiz foi pra agradar os outros, levados pelos amigos, os companheiros de partido.

Continuo calado e ele parece se aproveitar para desabafar.

— ... os companheiros me botaram aqui. Pra mim é o mesmo que um sindicato, falo uma porção de besteiras e os companheiros aplaudem. Sei lá, na minha cachola de trabalhador o Brasil é um grande sindicato, os brasileiros não passam de trabalhadores de sindicato. A gente faz tudo pra eles, pede direitos e mais direitos, sabe, os trabalhadores são sacrificados, precisam ser recompensados...

Onde estamos é uma cafeteria, mas parecemos sós. Ele continua tomando seu cafezinho, enquanto continuo calado, apenas escutando seu desabafo.

— É isso, companheiro, tô mesmo muito cansado, sabe, viajei o mundo inteiro falando desse país. Não sei, ninguém me leva a sério. Esse povo ai fora é muito besta. O que querem  é toma lá da cá, para eles somos um país de miserável. Eu quero dizer, sabe, que nós somos ricos de natureza, possuímos os maiores depósitos de água do mundo, mas nada, eles só querem leva a melhor, a gente tem de conversar com esses gringos e eu não sei uma palavra na língua deles. Então, pra me vingar, eu faço galhofa deles. Sabe, certa vez nos Estados Unidos o Obama me chamou: You are the guy . Disseram depois que isto queria dizer — Você é o cara, um idiota.

Ele dá uma gargalhada, enquanto fico a olhar aquele sujeito que diz ser o presidente do País, a roupa em desalinho, espécie de boquirroto, ali à  minha frente e eu a escutá-lo sem dizer nada.

— Sabe, nessa eleição só fiquei rindo desse pessoal que não gosta de mim, que sou isso, que sou aquilo, o certo é que hoje sou o presidente desse País.

Mas isto não é um sonho, no sonho as pessoas mortas não falam, quando o fazem é mal sinal.

 

                  ——  o  ——

 

Nesse estranho sonho — que talvez nem tenha sido um sonho — dou tratos à bola e fico imaginando como o mundo tem dado tantas voltas, é aquele pensamento shakespeareano de há mais coisa entre o céu e a terra do que pensamos com nossa filosofia, não a vã filosofia, como pensam alguns apressados. São as tais voltas no parafuso, os males e os bens se repetem tantas são as voltas que o parafuso da incerteza nos revolve e nos engana.

Ora, também disse certo escritor fantasista que nossa realidade não existe, vivemos todos, o planeta de que tantos nos orgulhamos, num buraco-negro ou então aquele velho enciclopedista que inventou outra norma proveniente lá do iluminismo pós-napolitano e seus desvarios de conquista.

Vem-nos à baila, uma vez mais, o descortínio  daquele velho professor ginasiano, sobre nossa ignorância matemática: consultem os alfarrábios!

CDL/Bsb, 20.01.24

 

                 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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