MACHADO NO SÉCULO 21
Pois é o que lhes digo, os grandes escritores tornam-se imorredouros — por isso é que são chamados de clássicos. Como o foram Shakespeare (que a nosso ver não era um só), Cícero, Cervantes, Camões, Dickens e outros dessa linhagem, dentre os quais, não há negar urge colocar o nosso Machado, o Bruxo do Cosme Velho.
Como sabemos, Machado não chegou a 60 anos e sua grade curricular de escritura é vasta. Só crônicas ele escreveu 500. Era um prodígio o grande escritor da obra prima Dom Casmurro.
Nesse interregno dos dias carnavalescos, calha-nos a ideia de fugir não só dos delírios de Momo, também do marasmo em que nos mergulhamos hoje, sem saída honrosa pelo o que se vê e deglute, basta consultar nosso cenário político e et allia.
Então me valho do nosso Machado e suas miraculosas crônicas de antanho, ai pelos idos de 1888 no seu livro Bons Dias, ainda escondido das livrarias devido os best-sellers como Dom Casmurro, Memórias Póstumas de Brás Cuba.
Ora, como a ordem do dia hoje é falar da internet, a via mais avançada do mundo e o fetiche que ela provoca, principalmente entre os nossos filhos e netos, oriundos do big boom, encantados e talvez iludidos por esse avatar que é tal da IA, salvadora do mundo. Pois agora esses nossos amiguitos que se dizem donos de tudo, inclusive da própria verdade, quer nos criar uma nova língua — a linguagem mágica da internet. E lá vem o besteirol, a macular nossa indefesa Flor do Lácio, o maravilhoso veículo linguístico milenar em que se expressou Camões, Antônio Vieira, Camilo Castelo Branco, também João Francisco Lisboa, Castro Alves e nosso formidável Machado...
Essa nova língua tem o apelido de Net Speak e é acompanhada de signos, emogis, gifs e memes. O tal dialeto eletrônico difere da norma culta, daí surgindo os super neologismos — avatar, deletar, bug e baixar. É a nova língua usada no Maravilhoso Mundo Novo pelo Grande Irmão de Aldous Huxley.
Sabem qual é o melhor antídoto para essa língua novidadeira? Pois tomem nota, senhores e senhoras — é ler nosso Machado. Olha quanta beleza de estilo. O homem não fraqueja, em 1888, quando escreveu é como trasladá-lo para nosso século, nossos dias. Ali, Machado descreve a vida como ela era — mas é incrível como as coisas não mudaram muito. São crônicas que escreveu sobre tudo, política, crimes ocorridos, comportamentos, vaidades e veleidades. O Machado olhava a vida societária de ontem com seus defeitos, as picuinhas, logros e malogros, não como um carcereiro, um vigilante, a contabilizar erros e defeitos, mas um visionário a nos propiciar um mundo em que todo ser humano não deixa de ser igual em toda parte e qualquer época — um ser frágil, imprevisível, mercê das agruras do tempo e do vento, capaz de sorrir, chorar e se vingar de si e dos outros e, por incrível que pareça esse ser, tão esdrúxulo, foi posto no mundo pelo Criador para sofrer, mas também amar.
Machado acaba de nos lavar a alma e nos faz ainda crer que vale a pena viver.
CDL/Bsb, 23.01.24
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