sexta-feira, 19 de abril de 2024

 

                O POETA CONCRETO

 


 

 

Sérgio Buarque de Holanda, na apresentação do livro TODA POESIA, do poeta Ferreira Gullar, considera-o ...” o nosso único poeta maior nos tempos de hoje.” Pensamos que o apresentador exagerou, conquanto outros poetas talvez tenham merecido o regalo, por exemplo, Lago Burnett, amigo do Gullar, expressivo poeta também maranhense e Nauro Machado e sua vigorosa poética, os dois poderiam auferir também o mérito.

O que se deve ao poeta Ferreira Gullar, autor do Poema Sujo, é o fato de ele ter criado a chamada poesia concreta, por sinal, que nada acrescenta à verdadeira Poética, muito pelo contrário, a deslustra, a nosso ver,  de seus adereços estéticos e axiológicos.

O poeta da concretude e da luta corporal não se sustenta, pois o seu construto se erige a favor de uma modernidade esquizofrênica — o que não diminui o poeta, sem dúvida dotado do dom poético, embora sob influência materialista e ideológica, sem as características  da virtuose de, por exemplo,  um Malharmé, Goethe, Péguy ou Paul Claudel. E em se falando de poetas brasileiros, acreditamos que outros poderiam obter a láurea, como Murilo Mendes, Cecília Meirelles e Jorge de Lima, por exemplo.

Os tempos atuais são pobres de lumes poéticos. O que sobra são, talvez ainda influenciados pelos concretistas, letristas se fazendo de poeta, com outros tipos de maneirismo, desta feita influenciados pela internet, diga-se de passagem, devido seu linguajar ultra moderno, pleno de neologismo oriundos  do computador.

 Como se vê, são os sinais dos tempos, também a influenciar o mundo literário, a poesia, e, porque não dizer, esse clima árido, a prevalecer em tudo, gerando a pobreza intelectual e cultural em que vivemos, basta verificar o nível dos frequentadores das redes sociais, assim como os chamados influencers, que as acolitam. Haja paciência de vê-se quanta heresia hoje se comete em termos de vivência humana.

CDL/Bsb, 19.04.24

segunda-feira, 8 de abril de 2024

 

EM TORNO DE UM BURRINHO E O MUNDO

 


 


 
           É verdade, mas parece um sonho. Ou um sonho com aparência de verdade. São seis horas da manhã e tenho a máquina de escrever Olivete 45 à minha frente. Está forrada com uma pedaço de espuma, para evitar o barulho das teclas. Os primeiros raio do sol projetam-se na pequena sacada do apartamento. As teclas batem e seu sou som se projeta abafado, mesmo com ruído. Sou eu mesmo que as faço bater? Ou sonho que elas estão teclando dentro de meu cérebro? Preciso conter o impulso e centrar-me no conteúdo de minha estória.

É a história de um burrinho que, maltratado pelo seu novo dono,  foge para conhecer uma vida melhor. Pensa em se dar bem, mas acaba maltratado, desta feita pela nova vida, cenário que nunca imaginara como burro. Sofre muito e passa por muitos atropelos, incompreendido, maltratado. Um burro inocente e trabalhador sofrendo amarguras ao longo de sua nova vida? O burro que carrega, nas costas, todas as mazelas do mundo?

Continuo batendo nas teclas, agora nem tanto surdas, mas preciso terminar a minha estória — ou meu sonho. Em Sagarana, de Guimarães Rosa, o burrinho sofre também agruras, mas não passa de um burro sofrido. Em outra estória, o burro é posto para carregar sacos de dinheiro, o dinheiro para comprar coisas, obter ganhos, fortunas, à custa de seu sacrifício diário.

Às vezes, a verdade tem muita coisa de sonho e o sonho tem muita coisa verídica. E muitas lucubrações surgem nesta pequena história. E isso tudo me dá tratos à bola.

Jesus Cristo não teria sido um burro sofrido inocentemente, carregou a cruz do pecado de todos nós e nos redimiu com isso nosso mundo. Terá mesmo redimido?

É a pergunta que não tem resposta. Ou terá?

Recolho minha velha Olivete 45 e trato de enfrentar a vida lá fora que  acontece, um mundo real de trabalho, suor e sangue. Quem vive sabe disso.

Termina minha estória — ou meu sonho.

 

CDL/Bsb, 8.04.24

 

quinta-feira, 4 de abril de 2024

 

          TEORIA GERAL DO MUNDO

 

 

 

 


         N
os tempos de algaravia em que vivemos, urge que apelemos para o  bom senso com ideias criativas que de alguma forma nos acalme o espírito. Uma delas é nos ampararmos numa boa leitura, que nos aclare em nossa escuridão de inocuidades. O livro que nos cai a mão é O Desaparecimento de Deus — Um Mistério Divino, o autor professor de hebraico na Universidade de San Diego, Califórnia, Richard Elliott Friedman.

É de tal ordem e importância a tese desse professor judeu, que ousamos considerá-la uma teoria geral do mundo, suas explicações, talvez até possamos tê-las como uma outra versão da Teoria do Tudo tão badalada nos meios científicos. Sabemos que essa teoria constitui a pedra da vez dos físicos teóricos, cosmólogos apressados e que tais, com que esses futuristas discutem como explicar e resolver todos os problemas formais e informais do nosso mundo. Ora, enquanto eles dão tratos à bola de como explicar praticamente o inexplicável, esse simples, mas ousado mestre judeu, de maneira sábia, simplesmente consultando a Bíblia e colhendo ideias de estudiosos e pesquisadores mais evoluídos nesse campo rarefeito da ciência pura — chega a uma conclusão simples — Deus criou o Universo, a criatura como modelo utópico  por Ele governado  durante um longo período, devido os desvios cometidos, depois, dele se afastando para que vivesse por conta própria, valendo-se dos dons que lhes foram dados.

Devido o livre arbítrio de que foi dotado, o ser humano de novo se  desvia, o dom civilizatório é desnorteado, ideias espúrias o contaminam e todo o cenário cósmico é ferido. Então, o Criador, que não pode ter extraviados Seus planos divinos, adota o Plano B e envia seu Filho Unigênito para redimir a humanidade, resgatá-la do pecado pelo simbolismo da Cruz. É o fenômeno do Desaparecimento de Deus, enquanto outro plano escatológico o substitui.

Outra visão assume esse plano — o ser humano agora sob o simbolismo de sua redenção, isto é,  perante a plenitude do universo restaurado desde sua Criação. O ser humano não mais subserviente a seus delírios, mas numa comunhão com a ordem da plenitude divina, um rito de passagem. Em outras palavras, já sob nosso olhar, seria a sublimação da experiência em busca de sua perfeição, inclusive cósmica.

Tratemos da segunda parte do livro que trata da Religião e a Ciência — a relação de Deus com a ciência humana, a problemática do chamado Big Bang, como teria sido criado o universo sob o olhar dos cientistas e cientificistas, alguns deles preocupados por impugnar o criacionismo, provar que não  houve criação divina, mas evento físico e evolução cósmica.

 Ora, já sob nosso olhar e buscando interpretar esse mistério — que teria sido o Desaparecimento de Deus e a enigmática Redenção da Humanidade consequente — recorremos às propostas de estudiosos do campo, cosmólogos, físicos teóricos, filósofos e até metafísicos.

O enigma enfocado pelo autor tem ligação com a criação do universo, embora de forma obtusa. Em termos tanto cosmológicos quanto da religião, esse fenômeno, dito pelos cientificistas como Big Bang tem relação com o desparecimento de Deus. O autor prova confrontando o ato da criação na visão metafísica da Cabala judaica, inclusive perante o  Big Bang. Alguns cientistas, mais inventivos, para não se indisporem com o criacionismo, criaram a figura estranha do Designer Inteligente — espécie de um ser maravilhoso sentado num fantástico computador, criando matematicamente o Universo.

Como a figura parece não ter colado, mesmo no âmbito religioso, preferimos recorrer a uma figura, de caráter também científico, mas que encontramos certa afinidade. Seria o chamado Princípio Antrópico, proposto em 1957 por Robert Dicke, também dito como “efeito de seleção de observação”. Segundo este princípio, em resumo, o universo só poderia existir e se  formar na forma como se formou, se capaz de  desenvolver vidas inteligentes que o confirmem. O universo tem a idade e as constantes fundamentais físicas necessárias para fazer acontecer vida consciente, porque se fosse diferente, nós não poderíamos observar esse mesmo universo. Em outras palavras: o Universo parece estar ajustado para a existência humana. Esse princípio ou proposição parece na verdade tautológico, uma coisa estaria atrelada a outra — o universo só existiria se tivesse inteligência para defini-lo e vice-versa, a inteligência só seria inteligente, se um universo inteligente o constatasse.

Acontece que é justamente o que se nos afigura viável, tirante todas as elucubrações possíveis e cabíveis. Deus é o Ser mais inteligente, inefável, Aquele que É, criou todas as coisas, inclusive seres inteligentes capazes de reconhecer essa magnitude que é a Criação — senão como poderia o ser humano reconhecer tal magnitude se não fosse inteligente?

Sabiamente o autor confronta a opinião de ilustres cientistas para corroborar a Criação como formulação divina, e mais, que o Big Bang ou qualquer outro proposta só faz comprovar, pelos meios científicos possíveis, a criação desse fantástico e incomensurável Universo. Ou em outras palavras, seguindo o autor — o Universo é a melhor e maior representação de face de Deus e nós, seres humanos, criados metaforicamente à Sua imagem e semelhança, somos dotados da inteligência  de tal forma que nos possibilita acreditar em tal magnificência, caso contrário não poderíamos ser considerado inteligentes.

É o que se poderia dizer, consultando os alfarrábios bíblicos e as opiniões dos maiores sábios de toda a historiografia humana, antigos e modernos — a tautologia mais consistente e espetacular, até mesmo entre as supostas formulações cientificistas já propostas, que ultrapassa a ingenuidade de muitos, inclusive faz do tal Big Bang uma simples explosão de pólvora desimportante.

CDL/Bsb, 4.04.24