segunda-feira, 4 de setembro de 2017


                    A SABEDORIA DA FÉ

         





           O mundo atual tem se ressentido da falta de fé, em todos os sentidos. Podemos dizer que os seres humanos são sobreviventes de crises, crise de razão e também de fé. E, pasmemo-nos todos: a mídia vem contribuindo diuturnamente para esse descalabro, na medida em que informa mal ou, no mínimo errado. É o que se depreende de artigos da revista Veja, edição de 23.08.17, último, intitulados “Decadência Sem Elegância”, do articulista Fábio Altman e “A Crise das Crises”, de Joel Pinheiro da Fonseca. Os dois comentaristas se apressam tão somente a apresentar o problema da Fé, tendo como paradigma dois escritores, que, segundo eles estão na mídia: Michel Onfray, filósofo francês ateu e Roger Scruton, também filósofo, inglês, professor, dito conservador.
Explique-se que essa revista é vezeira – assim como outras da mesma linha – em informar apenas as aparências, desprezando o substancial. Desse modo, acaba desinformando o leitor. É assim que no primeiro artigo, Onfray, o primeiro dos expositores sobre a Fé, é-nos apresentado como uma espécie de pequeno herói da filosofia, quando afirma: “Na França, a busca por um intelectual que sirva de consciência da nação é incessante. O nome incontornável, hoje, é Michel Onfray”. Há alguns anos a Veja fez uma entrevista (páginas amarelas) com esse suposto e esdrúxulo pensador francês onde declara que Paulo, o Apóstolo que divulgou a Boa Nova de Jesus Cristo, tinha ardores de misoginia, dando a entender, em razão disso,  que tinha comportamento homossexual. Ora, isso é o maior dos aleives, pois Saulo, depois Paulo, foi casado e tinha até filho. O artigo torna-se capcioso, talvez pelo fato de o próprio homenageado ser controverso, o pensamento tortuoso, diríamos um novel Nietzsche, totalmente delirante, que, a nosso ver, não passa de um sátrapa moderno travestido de filósofo. E mais: o artigo nada explica, mas põe em evidência, por exemplo, declaração como esta desse Sr. Onfray: “Uma civilização não produz religião, é a religião que produz a civilização.” Isso para comprovar, no bestunto desse senhor, que o pensamento ocidental judaico-cristão é puro delírio. É claro que a religião não só disseminou, como produziu os fundamentos da nossa civilização, ultrapassando seu primitivismo, despertando-a do estado de inconsciência vivida, para o da consciência do real concreto. O problema é que isso o artigo não faz transparecer.   E outras baboseiras, ditas por ele, absolutamente inconsistentes, como a inexistência de Jesus histórico e a comparação da fé cristã com o islamismo jihardista.
                 Já em “A Crise das Crises”, Joel Pinheiro da Fonseca, depois de repetir algumas aleivosias de Onfray, sem, contudo, penetrar a fundo  para não bater contra o artigo anterior, o tour de force é  seu desafeto, o filósofo inglês, professor e autor de vários livros de estética, política e filosofia, Roger Scruton, tido como o autor mais conservador da atualidade.  Também não esclarece grande coisa sobre o escritor, senão algumas citações descontextualizadas, extraídas de sua última obra “A Alma do Mundo”.
              Observe-se que o articulista é da mesma forma superficial, colhe citações ao acaso e subliminarmente satiriza o autor quando escreve: “A fé de Scruton tem seu charme, mas é acima de tudo uma atitude pessoal — um abrir-se ao mundo de significados humanos – e não a crença literal numa verdade que está além da razão.”
E mais adianta completa: “...Tanto é assim que Scruton estende sua fé mesmo a agnósticos e ateus.
A ideia que resta ao pobre leitor desinformado é que Roger Scruton não passa de um desses filósofos de balcão, colecionador de bordões midiáticos, tal qual o é seu suposto desafeto Michel Onfray.
                     Ora, o que os dois artigos da revista não explicam é justamente o essencial da questão: o que é a Fé e porque o mundo está perdendo a Fé. Para Onfray ela é o empecilho, sim, porque ele é ateu, não acredita no Criador, em Jesus Cristo, o Mestre, o qual, para ele, nunca existiu, não passa de um mito cristão. Já Scruton, imbuído da filosofia católica, filósofo e pesquisador incansável em defesa do acervo civilizatório que nos legou o cristianismo, reconhece, ao contrário, que a salvação do mundo radica-se na Fé. Sim, porque a Fé é o fundamento em que se enraíza toda a propedêutica cristã, isto é, a aceitação das verdades reveladas e a confiança em Deus como fiador eterno de suas promessas.
               Para não nos delongar mais, pois o assunto pervaga instâncias outras como filosofia, teologia e ciência, resta-nos esclarecer alguns pontos, falhos nos dois artigos da Veja. A Fé, tirante significar a aceitação de uma  ideia ou regra,  indemonstrável intuitiva ou teoricamente, (conforme verbete “Dicionário de Filosofia”, de Thomas Ransom Giles) – o que nesse caso , estaríamos no terreno mais laico – do ponto de vista religioso, não há definição melhor do que a de São Paulo, Hebreus 11:1: “A fé é o fundamento da esperança, é uma certeza a respeito do que não se vê.” Portanto, cai por terra o argumento do sr. Onfray de que a Fé é o empecilho da civilização, pelo contrário, foi essa mesma Fé  que fomentou o nascimento do cristianismo, tornando-se também o vetor responsável pelo progresso da civilização, antes envenenada pela barbárie, degeneração dos costumes e incentivo à amoralidade social e política.
                E se o mundo atual está perdendo a Fé, segundo denuncia com razão  Scruton, é justamente porque este nosso mundo tem se afastado dos fundamentos da religião, isto é, da Fé na qual se funda a esperança, pois, independente do que pensa o ateu Onfray e outros seus compartícipes dessa teoria negativa, nós, seres humanos, sem esperança não passaremos de espetros a viverem por viver, sem nada em que se apegar e confiar, como já preconizava o velho e sábio Montesquieu.
CDL/Bsb 4.09.17

  



  


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