domingo, 2 de março de 2025


                                       METAFÍSICA   DA   MENTE

 

 

Afastado do magistério e do convívio social, pela idade, Aron Zaver, no entanto continua meu guru. Na última vez que o vi, quando estive em São Luís, onde ele vivia — já lá se vão alguns anos — pedi-lhe que me explicasse melhor sua teoria, a Metafísica da Mente. Meu octogenário amigo fora professor de história e geografia à época e nos tempos áureos em que a metodologia de ensino era diferente,  essas matérias não sofriam ainda do vício do super moderno e do computador globalizado. Ao leciona-las o lente acometia-se também de filosofia.

Ele sorriu e seus olhos brilharam no fundo das enrugadas pálpebras, um laivo de sabedoria oculta a escapar daquele vulto esguio e frágil.

Sua governanta, uma senhora forte e muito afável, que há muito tempo cuidava dele como se fosse seu pai, logo apressou-se em trazer o cafezinho, passado ali na hora. Serviu em belas xícaras de porcelana, pintadas a desenhos clássicos.

Disse que já me falado dessa teoria, mas não se importava em repeti-la, gostava de explicá-la, quantas vezes pudesse, não era esta a tarefa do professor, repetir e repetir sempre?

Poupo-me, aqui de reproduzir ipsis litteris a lição de meu velho e saudoso guru, a quem recorro todas as vezes que preciso de uma luz, para renovar conceitos e desvelar os problemas que a trama da vida tem me imposto, a mim e a todos nós.

Reproduzirei seu pensamento com minhas próprias palavras, aliás até como espécie de exercício, prova de que realmente assimilei seus ensinamentos.

Para o antigo mestre, profundo conhecedor dos meandros cronológicos e cartográficos de nosso velho mundo, dos seres humanos que nele habitam — a vida e todo o universo obedece a um só vetor, orienta-se por um sentido único:  o existir cósmico. Nós somos o resultado de um fenômeno, cuja materialidade está escrita, não exatamente em nosso tempo cronológico, mas noutra dimensão, a dimensão do pensamento trilógico das estrelas. Esse trilogismo é constuído de  três fundamentos:  ser, espaço e tempo.  Enquanto especialidade e temporalidade se referem a esfera fenomênica, isto é, ao âmbito da matéria propriamente dita, com suas especificações, funções, transformações, crescimento, evolução e morte, o ser se organiza na esfera do espírito, como princípio fundante do ôntico absoluto. A matéria orbita a realidade, o que se vê, suas evoluções, mudanças, o desdobramento concreto do existir, ou o fantástico desenrolar das coiss na miríade dos fatos e os atos  cursivos da existência fática. O espírito, o fogo criador, o fia lux, o lúmen qualificador, que personifica o magma do infinito. É a matéria prima de Deus, criador, objeto de Sua manipulação exclusiva.

A mente humana reproduz, em miniatura e em estado ainda embrionário, portanto, maleável, cenas e atos de encenação do Ser quando experimenta o vivenciar no mundo e for dele. Sendo assim, nossa vida, a existência e sobretudo, todos os caminhos civilizatórios percorridos pelo humanoide em sua evolução material decorrem do que foi gravado no inconsciente coletivo da humanidade, que, por sua vez é reproduzida em cada mente humana, como parte integrante de sua visão global, na qual se acha incorporada a realidade, extensão do Ser ou das múltiplas facetas da ontiicidade absolutamente infinita.

Tudo então já está inscrito na memória matriz dos seres humanos, porque são seres criados dessa matéria ígnea : a história do mundo, o lento metódico desenvolvimento das civilizações, das culturas, dos costumes, da psique humana e seu devido amadurecimento, da fé como alimento da alma. Daí o nascimento das religiões como veículo eficaz de aperfeiçoamento e salvação. Esta espécie de imanência totalizante do Ser no mundo explica o itinerário da humanidade, a sequência dos fatos por ele vivida, assim como a coexistência do bem e do mal, tornando-se a argamassa com a qual o ser humano vem realizando a construção do mundo.

No final daquele nosso insólito encontro, o vetusto mestre de tantos embates de outrora, que tanto furor causou nos meios culturais e jornalísticos da antiga Atenas Maranhense, quedou-se em silêncio, como se tivesse, ele próprio se exaurido.

E nada mais pude extrair daquela áurea mente, porque, segundo a governanta, o meu guru caiu no sono, como costumava fazer nos intervalos de sua genialidade esquecida.  

Se a teoria do meu velho mestre é verdadeira ou se tem fundamento, não me animo a dizer, o fato é que cientistas e    pesquisadores eruditos nos têm apresentado resultados imprevisíveis nesses programas que têm por temática a história, um deles sobre o enigma do Paraíso, cuja existência é comum a diversos povos e cultura.

A Metafísica da Mente do professor não significa isso, na realidade?  Que o se humano tem dentro dele, constantemente, a imagem do universo e que é sua busca que nos impele para a frente ou para trás?

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                 

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