METAFÍSICA DA MENTE
Afastado do magistério e do convívio social,
pela idade, Aron Zaver, no entanto
continua meu guru. Na última vez que o vi, quando estive em São Luís, onde ele
vivia — já lá se vão alguns anos — pedi-lhe que me explicasse melhor sua
teoria, a Metafísica da Mente. Meu
octogenário amigo fora professor de história e geografia à época e nos tempos
áureos em que a metodologia de ensino era diferente, essas matérias não sofriam ainda do vício do
super moderno e do computador globalizado. Ao leciona-las o lente acometia-se
também de filosofia.
Ele
sorriu e seus olhos brilharam no fundo das enrugadas pálpebras, um laivo de
sabedoria oculta a escapar daquele vulto esguio e frágil.
Sua
governanta, uma senhora forte e muito afável, que há muito tempo cuidava dele
como se fosse seu pai, logo apressou-se em trazer o cafezinho, passado ali na
hora. Serviu em belas xícaras de porcelana, pintadas a desenhos clássicos.
Disse
que já me falado dessa teoria, mas não se importava em repeti-la, gostava de
explicá-la, quantas vezes pudesse, não era esta a tarefa do professor, repetir
e repetir sempre?
Poupo-me,
aqui de reproduzir ipsis litteris a lição de meu velho e saudoso guru, a quem
recorro todas as vezes que preciso de uma luz, para renovar conceitos e
desvelar os problemas que a trama da vida tem me imposto, a mim e a todos nós.
Reproduzirei
seu pensamento com minhas próprias palavras, aliás até como espécie de
exercício, prova de que realmente assimilei seus ensinamentos.
Para
o antigo mestre, profundo conhecedor dos meandros cronológicos e cartográficos
de nosso velho mundo, dos seres humanos que nele habitam — a vida e todo o
universo obedece a um só vetor, orienta-se por um sentido único: o existir cósmico. Nós somos o resultado de
um fenômeno, cuja materialidade está escrita, não exatamente em nosso tempo
cronológico, mas noutra dimensão, a dimensão do pensamento trilógico das
estrelas. Esse trilogismo é constuído de
três fundamentos: ser, espaço e
tempo. Enquanto especialidade e
temporalidade se referem a esfera fenomênica, isto é, ao âmbito da matéria
propriamente dita, com suas especificações, funções, transformações,
crescimento, evolução e morte, o ser se organiza na esfera do espírito, como
princípio fundante do ôntico absoluto. A matéria orbita a realidade, o que se
vê, suas evoluções, mudanças, o desdobramento concreto do existir, ou o
fantástico desenrolar das coiss na miríade dos fatos e os atos cursivos da existência fática. O espírito, o
fogo criador, o fia lux, o lúmen qualificador, que personifica o magma do
infinito. É a matéria prima de Deus, criador, objeto de Sua manipulação
exclusiva.
A
mente humana reproduz, em miniatura e em estado ainda embrionário, portanto,
maleável, cenas e atos de encenação do Ser quando experimenta o vivenciar no
mundo e for dele. Sendo assim, nossa vida, a existência e sobretudo, todos os
caminhos civilizatórios percorridos pelo humanoide em sua evolução material
decorrem do que foi gravado no inconsciente coletivo da humanidade, que, por
sua vez é reproduzida em cada mente humana, como parte integrante de sua visão
global, na qual se acha incorporada a realidade, extensão do Ser ou das
múltiplas facetas da ontiicidade absolutamente infinita.
Tudo
então já está inscrito na memória matriz dos seres humanos, porque são seres
criados dessa matéria ígnea : a história do mundo, o lento metódico desenvolvimento
das civilizações, das culturas, dos costumes, da psique humana e seu devido
amadurecimento, da fé como alimento da alma. Daí o nascimento das religiões
como veículo eficaz de aperfeiçoamento e salvação. Esta espécie de imanência
totalizante do Ser no mundo explica o itinerário da humanidade, a sequência dos
fatos por ele vivida, assim como a coexistência do bem e do mal, tornando-se a
argamassa com a qual o ser humano vem realizando a construção do mundo.
No
final daquele nosso insólito encontro, o vetusto mestre de tantos embates de
outrora, que tanto furor causou nos meios culturais e jornalísticos da antiga
Atenas Maranhense, quedou-se em silêncio, como se tivesse, ele próprio se
exaurido.
E
nada mais pude extrair daquela áurea mente, porque, segundo a governanta, o meu
guru caiu no sono, como costumava fazer nos intervalos de sua genialidade
esquecida.
Se a
teoria do meu velho mestre é verdadeira ou se tem fundamento, não me animo a
dizer, o fato é que cientistas e
pesquisadores eruditos nos têm apresentado resultados imprevisíveis
nesses programas que têm por temática a história, um deles sobre o enigma do
Paraíso, cuja existência é comum a diversos povos e cultura.
A
Metafísica da Mente do professor não significa isso, na realidade? Que o se humano tem dentro dele,
constantemente, a imagem do universo e que é sua busca que nos impele para a
frente ou para trás?
Excelente. Concordo
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