terça-feira, 22 de abril de 2025

Bondes circulando em S.Luis-Ma


                                             

                                     A  CIDADE  ASSASSINADA  -  2

 

 

 

Certo professor do Liceu Maranhense, quando seus alunos  não entendiam o problema de matemática, costumava dizer — consultem os alfarrábios. Pois hoje é   o que fazemos, consultar os alfarrábios para entendermos o que ocorre hoje com São Luís, a capital do Maranhão. O livro que temos em mãos, já em 3ª edição, é do autor Domingos Vieira Filho, notável folclorista, elogiado por Câmara Cascudo, Mário Souto Maior e Veríssimo de Melo.

 

O livro intitula-se Breve História das Ruas e Praças de São Luís. É interessantíssimo o teor do livro no qual o autor narra, através de pesquisa, fatos e atos históricos das ruas e praças da cidade. É de ver-se como os prefeitos, a maioria deles, agiam de forma até predatória para com a cidade gonçalvina. Transformaram as ruas, despiram totalmente as praças de sua vegetação, primeiro a título de modernização, sobretudo durante o período de interventoria, a partir da administração de Paulo Ramos. A propósito, ele teria afirmado ...”o tecido urbano e conjunto arquitetônico antigo são o atraso da cidade...”  A partir daí foram feitas obras de alargamento em vias centrais e a construção de prédios, como o ocorrido com a Rua do Egito, remodelada com chalés ecléticos.

 

Certa feita teria dito o poeta Odylio Costa Filho:

 

O sobrado nasce

Renasce com o dia

Se as vidas humanas

Lhe dão alegria.

O sobrado é belo

Mas sua beleza

Sem as vidas humanas,

Só lhe dá tristeza.”

 

Ora, as razões do desmoronamento da cidade, não há negar, vem da interventoria de Paulo Ramos, continuada pelos edis subsequentes.

 

Em 1966, o jornal O Imparcial  fez pesquisa sobre porque os bondes deixaram de circular em São Luís. Os bondes começaram a circular na cidade no dia 1º de setembro de 1872, portanto há 153 anos. Aliás, uma das primeiras capitais do País pela iniciativa. E o que é intrigante é que a notícia do fato quem o fez não foi nenhum repórter brasileiro, mas dois fotógrafos americanos Allan Berner, de Nova York e Foster M. Palmer, de Boston. O último bonde trafegou  até 1966 — asseverou Morrison.

 

Ao que tudo indica, os verdadeiros motivos do desligamento dos bondes nunca  foram  explicados, pelo menos de forma compreensível. Sabe-se que em 1946, o então presidente Eurico Gaspar Dutra decretou o fim das operações da ULEM, operadora dessas funções no País. Na década de 1960, durante o governo de José Sarney, certa empresa chama Fontec, contratada para organizar o trânsito na capita,l declarou  “que os bondes causavam transtornos no tráfico”. E os bondes deixaram de operar em São Luís.

 

Como assim transtorno, se  em  muitas cidades os bondes até hoje  continuam circulando, como em  São Francisco, Califórnia, EUA, em Lisboa e Porto, Portugal?

 

A propósito, o turismo que utiliza tanto  o bonde, é praticamente nulo em São Luís,  fato inclusive  ignorado pela rede hoteleira da capital, que parece desconhecer ou desvalorizar as belezas naturais dos Lençóis Maranhenses ou as belezas naturais, descobertas em Tutoia, foz do rio Parnaíba. Para essas autoridades, turismo no Maranhão é valorizar a cidade colonial,  supor   que os turistas querem ver são os antigos casarões da cidade, dita fundada pelos franceses. Ora,  na realidade, hoje só se encontram ruínas, casarões abandonados, os famosos azulejos portugueses desfigurados, aqueles palácios dos antigos portentosos moradores, agora são abrigos de ratos, um verdadeiro lixo. E o que é pior, ninguém reclama, inclusive os próprios políticos, enquanto casas, ruas inteiras jazem em completo abandono — sacadas românticas de antanho desabam em monturo. 

 

Aliás, esse estado de abandono dos políticos, edis sobretudo, ao Maranhão  não vem de hoje. Basta lermos as crônicas reunidas em seu livro O Jornal de Timon de João Francisco Lisboa, escritor e jornalista, hoje bicentenário, protagonista da cultura, aluno de Sotero dos Reis e amigo de figuras notáveis como Odorico Mendes, tradutor da Odisseia de Homero, também do poeta indianista Gonçalves Dias. Ali, ele critica de forma contundente os políticos maranhenses, à época da Regência e do Primeiro Reinado. Esse estado de coisa vige até hoje.

 

A exemplo de Ouro Preto, Minas, São Luís foi tombada pela UNESCO em 1974, cuja finalidade era proteger seu patrimônio cultural, preservando bens de valor histórico, arquitetônico e ambiental, entre outros, de modo a evitar sua destruição e descaracterização. Ora, no caso de São Luís parece que o tombamento, em vez de proteger, fez levar a cidade, em alguns caso,  à ruina e sua descaracterização, a exemplo do que ocorreu no Campo do Ourique, totalmente modificado, pior, destruído o belo arvoredo circundante.

 

E os bondes, por que retirá-los, uma das maiores características de São Luís? Aliás, como o é em S. Francisco, na Califórnia, EUA, em Lisboa e Porto em Portugal?

 

O turismo no Maranhão sempre foi precário, para dizer o mínimo. Se a finalidade do tal tombamento foi preservar os bens culturais da cidade — os bondes não contribuiriam para o  turismo, possibilitando o deslocamento dos turistas aos sítios históricos e bens antigos?

 

Que fossem abolidas as demais linhas de bonde na cidade, para atender os caprichos da modernidade, segundo o juízo dos políticos, mas que pelo menos duas linhas seriam conservadas — o bonde Gonçalves Dias e o da Estrada de Ferro. O primeiro devido roteiro interessante, parte da Praça Gonçalves Dias, percorre as ruas da Paz, passa pela  largo da Igreja de São João e desce pela rua do Sol, ladeia a Praça João Lisboa, alcança a Praça Benedito Leite e por fim termina na Av. Pedro II. O segundo bonde, Estrada Ferro, seu percurso é ladear a chamada cidade alta, passando pela antiga Estação de Trem, transpondo, até de forma romântica toda a Beira Mar com casario arte nuveau e descer até o porto e depois subir  dando   uma volta no Cemitério e enfim aportar  a seu ponto final, oferecendo uma vista panorâmica da cidade.

 

Certa feita, o Pe. João Mohana, autor maranhense consagrado pelos seus dois livros O Outro Caminho e Maria da Tempestade fez a seguinte observação de que uma das coisas que mais o fascinava, quando estava em São Luís, era dar uma volta no Bonde Gonçalves Dias.

 

Os políticos maranhenses, seus edis principalmente, ao desligarem o tráfego pelo menos desses dois roteiros de bonde — não há negar, tornaram-se os mais recentes algozes do assassínio cometido à suposta capital  francesa fundada por Lá Ravardière, na realidade, segundo alguns historiadores, a antiga aldeia portuguesa de Rosário.

Bsb, 22.04.25

 

 

 

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário