QUEM VEIO PRIMEIRO,
O OVO OU A GALINHA?
Nosso mais famoso físico, Marcelo Gleiser,
professor de física teórica do Dartmouth College, Hanover, EUA, de uns tempos
para cá, parece obsedado por assuntos metafísicos. Mais precisamente,
afigura-se-nos atacado de delirio tremens sobre Deus – ou o eufemismo de seus
heterônimos mais atuais: Criador, Matemático da Criação, Designer Inteligente.
O que será que está acontecendo com nosso brilhante físico carioca? Por acaso
está com receio de dar de cara com o Criador em pessoa na primeira esquina? Ou
será que, de repente, falta-lhe conteúdo suficientemente programático para
explicar a seus alunos as mais recentes maravilhas que acontecem no fantástico
mundo da física?
Ou por acaso são os argumentos racionais que lhe
escapam, na qualidade de cientista, armadilhando-o cada vez mais no cipoal das
teorias e explicações figurativas do materialismo impedernido?
Pelo sim ou pelo não, o que não nos parece compatível
com a inteligência exigível para um mestre de física teórica, é o nosso ilustre
compatriota expor-se ao ridículo em seu artigo semanal no caderno MAIS da Folha
de São Paulo, edição de 31.07.05, de propor, ao público leitor, a seguinte
pergunta: “Senhor designer, quem foi
que o desenhou?”
O professor referia-se, nada menos que a Deus, a
propósito de ser ou não ser ele o suposto criador do universo – ou em linguagem
mais moderna, o famoso DI ( em inglês Intelligent
Designer). Ora,
pois, pois, o Dr. Marcelo Gleiser do alto de sua autoridade acadêmica se predispondo ameaçar que o Senhor do Universo lhe responda quem
o criou, quem é o fundador do próprio Deus,
saber quem afinal é o Big Boss
desse empreendimento extraordinário que foi a
criação! E o que torna ainda mais
patético o seu inquietante artigo é que ele conclui com a basófia do sábios :
...” E se o designer disser que não
sabe, que talvez seja parte de um experimento, ficaremos então sabendo qual a
identidade secreta do Designer. É bom usar letra maiúscula, pois é assim que
devemos nos referir a Deus.”
Pela madrugada, nobre professor, mais é muita
infantilidade para a magnitude de um raciocínio científico! Tem um outro Deus
atrás de Deus? Quem é maior, o primeiro ou o segundo Deus? De que ele é feito?
De raio, de trovão, de tempestade, de unrânio processado? Está sentado numa
estrela longínqua? Ou quem sabe terá surgido de repente de um “buraco negro”? Ou esgueirou-se
furtivamente de um “universo paralelo”
através de um “buraco de minhoca”?
Quem sabe não é um gigantesco Atlas segurando o Universo e com ele jogando
uma partida de dados? Por que não um
velho senhor de barbas infindas, sentado na sua cadeira giratória, num
escritório supermoderno, em frente a um super computador, desenhando estrelas,
planetas, multidão de galáxias, Ets, anjos, algas marinhas no oceano,
bactérias, dinossauros, porcos, macacos e seres que andam, pensam e sonham num
minúsculo planeta por ele criado só para seu usufruto especial?
Permita apenas que lhe sugira algumas idéias, pois,
humilde criatura que sou, simples caniço pensante na ótica de Blaise Pascal,
não tenho autoridade suficiente para me imiscuir em assunto tão místico,
penetrar em mistério tão vasto, mas que tem preocupado um séquito de sábios e
também cientistas: a existência ou inexistência de Deus. Aliás, Alain Touraine,
sociólogo de renome, em recente livro intitulado Crítica
de Modernidade em certo ponto de sua argumentação, escreveu: “...É a idéia de Deus
que demonstra a existência de Deus.” Observe-se que alguns apóstolos
dessa suposta modernidade já propuseram a morte de Deus e colocaram como candidato a substituí-lo a
inteligência humana, o progresso do mundo.
Confesso que tenho muita admiração pelas atividades
do professor Marcelo Gleiser, rapaz moço, mas brilhante, tendo sido alçado ao
ministério científico por absoluto mérito. Aprecio seus livros, bem escritos,
conceitos e idéias objetivas, considero-o um dos grandes atuais divulgadores da
ciência. Mas com a devida vênia, suas últimas considerações metafísicas sobre
Deus ou o DI no artigo em questão são de uma insensibilidade afásica.
Convenhamos, meu caro professor de física teórica, é
possível a tal ordem de SER
configurar-se na matemática, na trigonometria, nos cálculos diferenciais, enfim
em todos as equações escritas e
imaginadas pela genialidade de Einstein? Pode tal SER se submeter às
experiências de um laboratório de ciência?
E me responda, pelo amor de Deus, Dr.Marcelo Gleiser
esse SER, esse que andam dando a alcunha rídicula de Designer Inteligente, por
que cargas d’água Ele vai dever explicações a vocês, cientistas, humanos,
frágeis criaturas, irresponsáveis habitantes da Terra por Ele mesmo criados,
assim como tudo o que há, todos os universos conhecidos e imagináveis?
Eliminar Deus, destroná-lo em favor do homem,
desvendar totalmente a mística do Universo, tudo isso não passa de uma grande
falácia. Pelo simples fato de que Deus não é objeto do pensamento humano,
porque Ele representa o próprio pensamento. Ninguém criou Deus, porque Ele é
incriado. Não tem começo nem fim, pois Ele é o próprio começo e o fim de tudo.
Deus é infinito porque Ele é a própria infinitude e eterno porque é Ele mesmo a
eternidade. Deus é aquele que É, e está acabado, porque Ele se basta a si
mesmo.
E a propósito, uma última indagação, quem veio
primeiro, o ovo ou a galinha? Eu acho que foi o ovo. Mas é melhor o digníssimo
professor perguntar a Deus. Ele deve saber, afinal foi Ele quem criou tudo isso
que está ai.
Bsb, 1.05.22