INFINITO NUMA SÓ DIREÇÃO : DEUS
A título de blague, dá-nos à telha, comentar alguns aspectos do livro Infinito em Todas as Direções, de Freeman Dyson (1923-2020). O autor é físico teórico, professor emérito do Institute of Advanced Studies em Princeton, Estados Unidos.
Blague, em sentido de curiosidade, não temos a audácia de competir à altura com o Sr. Dyson, mestre renovado em física, autor de vários livros sobre sua especialidade, inclusive já falecido. Faço-o da mesma forma como comento outros cientistas e antropólogos, Richard Dawkins, Marcelo Gleiser e por referência Charles Darwin e sua famosa teoria evolucionista.
Os cientistas como é crível por suas próprias formações técnicas comprazem em teorizar sobre a ciência em si, como fosse ela totalmente absoluta, à luz do racionalismo puro, portanto, uma visão materialista.
A nosso ver, não seria totalmente o caso de Freeman Dyson, espécie de cientista apenas agnóstico, de vez que, neste livro inclusive, ele se contradiz em algumas de suas afirmações. Abordamos alguns aspectos de sua obra e apontamos algumas incongruências, o que não tira o mérito de sua visão.
Senão observemos o capítulo 5, do livro, a questão Por que a vida é tão complicada. Neste capítulo, Dyson parece se redimir do cientificismo de suas teorias sobre o universo. Computemos apenas alguns tópicos:
(a) ele não acredita na síntese pré-biótica;
(b) a vida proveio de processos de reprodução ou replicação, isto é, aleatoriamente;
(c) três são as teorias de reprodução: de Oparin, Ergin e Carns-Smith, ele prefere a primeira, as demais complicadas.
Ele afirma que a primeira ainda tem o mérito de ser a única aceita pelo criacionismo bíblico — o que dá a entender que ele não rejeita de todo a Criação.
Computemos algumas ideias de Dyson a respeito da origem da vida. Ele vem estudando um modelo teórico simples. Neste seu modelo vida e morte são simétricos, isto é, são eventos comuns. Para ele, a vida provém de sistemas homeostáticos altamente complexos, entendamos ou não suas razões. Por não ser um modelo rígido, é possível haver erros — para o que ele cita o poeta William Blake: “... um erro a ser descoberto faz parte dos desígnio de Deus.”
O autor analisa também algumas ideias do etólogo e biólogo evolucionista, autor do controverso O Genes Egoísta, Richard Dawkins. Como é sabido, Dawkins é um anticriacionista irascível. São dele as ideias do tal genes egoísta e de sua continuação, o chamado meme. Gene egoísta seria, segundo sua teoria, aquele elemento que entra na criação e tiranicamente vence todos os outros por ser melhor, o mais apto, justamente de acordo com a teoria evolucionista da espécie de Darwin. O meme seria o análogo cultural do genes, ou seja, responsável pelo padrão de comportamento replicável por transferência cultural de indivíduo a indivíduo, substituindo a herança biológica. Exemplos: crenças religiosas, expressões idiomáticas, modas na arte e nas ciências, comidas, roupas e etc. — portanto, tão egoísta quanto o genes.
Por sua vez, Dyson, embora concorde em princípio com esse modelo ególatra de Dawkins, segundo este no princípio simplificado, discorda dele por achar um modelo muito complexo. Segundo ele, a vida homeostática baseia-se em estruturas moleculares complexas. Com essa diferença, Dyson, de certo modo, é contra a teoria darwiniana.
Eis alguns pontos que o fazem discordar de Darwin. A vida é uma rede complexa cujos replicadores são apenas componentes. O processo de evolução biológica não é puro, contém imperfeições. A primeira célula viva contém no mínimo 25% de lixo. Assim, em vez de replicação — homeostase; de uniformidade celular, flexibilidade; por fim, em vez da genes egoísta, na precisão das partes, prevalece a tolerância do erro.
Na conclusão, o modelo de Dyson torna-se mais criativo, prevendo aleatoriedade para as estruturas, ao contrário do modelo evolutivo de Dawkins e Darwin que prevê a competição violenta das mônadas replicadoras.
No frigir dos ovos, o que concluímos é que os cientistas têm a mesma mentalidade. Demonstram-se seguros, autocratas em seus teoremas e soluções matemáticas que consideram definitivas, embora vez por outra cometam furos em seus raciocínios. É o caso de nosso Freeman Dyson neste seu livro, que, por sinal, apreciamos muito, seu estudo é interessante, o autor um insigne mestre em física teórica. Mas quando se trata de querer interferir naquilo que desconhece, o resultado é uma lástima. Ele discorda da teoria do genes egoísta e também de Darwin, mas, não quebra o ardor materialista dos cientificismo, tergiversa dizendo-se agnóstico. O que é estranhável nele, como físico teórico, cientista das estrelas, é que tenta agradar os criacionistas, citando o apóstolo Paulo, em sua carta Coríntio 12-4. A citação não favorece o autor em sua argumentação científica de que a origem humana decorre de curiosa e extraordinária complexidade, mas sem que haja um criador definido.
Neste texto, apoiado nas palavras do Mestre, Paulo é definitivo, ao explicitar que “ 4. Há diversidade de dons, mas um só espírito”. Isto quer dizer que as tais estruturas complexas que deram origem a toda a homeostática científica sobre a criação, segundo Darwin e de seus seguidores Dawkins e Dyson, na realidade não passam de estruturas simples, provindas da magnitude do Criador, como bem declara o apóstolo. Já para o relativismo dos cientistas essas estruturas se transformam num verdadeiro enigma, repleta de fórmulas, firulas e malabarismo matemático.
CDL/BSB, 10.07.22