quarta-feira, 22 de março de 2023

           RESQUÍCIOS  DO  DESGOVERNO

 

 

 

É impressionante como nosso País tem evoluído, mas perdendo cada vez mais sua afinidade clássica, desfiliando-se da ética, estética e moral, no contexto civilizatório.

Se examinarmos, sob esse ângulo, nossa historiografia, podemos perceber seu desgaste no tempo. Outrora parece que as camadas sociais se mantinham mais altaneiras, ciente de suas qualidades conservadoras. morais, éticas e esteticamente. Ou seja, as pessoas, as famílias procuravam manter-se nesses níveis, não se deixarem decair, desvalorizarem-se na sociedade, até mesmo as mais pobres.

Hoje, o que se observa é o desgaste das famílias, dos comportamentos das pessoas, no ensino, nos governos, nos fatos e atos políticos.

Exemplo típico desse desgaste ocorreu no Maranhão, onde a sociedade, embora preconceituosa sob o olhar do Pe. Antônio Vieira, alcançou a certa altura, estágio cultural brilhante, graças à plêiade de talentos surgidos,  tanto que ousou obter a comenda de Atenas Brasileira. São Luís, a capital, tornou-se celeiro de grandes poetas, escritores e jornalistas. Hoje, infelizmente seu status é tão raso que dizem ser Apenas Brasileira. Tal desaire cultural tende a ocorrer em todo o País. Espécie de involução cultural, moral, ética e esteticamente, a despeito do progresso estrondoso da ciência e tecnologia modificando o mundo atual.

O Rio Grande do Norte não foge a essa regra. Um pouco de história. Em 1530, com a divisão do Brasil em capitanias por D. João III, as terras riograndenses couberam a João de Barros e Aires da Cunha, os quais, por descuido de proprietários, foi objeto de disputa dos piratas franceses e holandeses. Submetidas ao Governo Geral, acabaram por pertencer à capitania de Pernambuco, passando, em 1882, a província, após a independência do Brasil de Portugal. Tais fatos foram narrados em 1955 pelo historiador e etnólogo, Luís da Câmara Cascudo, ilustre figura natalense.

Se o Maranhão foi a Atenas Brasileira, no passado, o RGN também teve suas figuras notáveis, na política e nas letras. Eis alguns exemplos de mulheres: Clara Felipa Camarão, indígena da tribo  potiguar de Igapó, heroína nas lutas contra os holandeses. Nísia Floresta (1810-85), educadora, escritora e poetisa. Atua de Souza (1876-1901) poeta de grande valor estético. Celina Guimarães, 1ª eleitora do Brasil. Alzira Soriano, primeira mulher prefeita no País. Maria do Céu Fernandes, primeira deputada estadual. Ademilde Fonseca(1921-2012), maior intérprete reconhecida como rainha do choro. Débora Seabra, primeira professora com síndrome de Down, no País. E de homens: Murilo Melo Filho, jornalista, pertenceu a ABL. Antônio de Souza, governador e literato. Lenine Pinto, pesquisador e escritor. Augusto Severo, advogado, 1º Desembargador do Tribunal de Justiça do RGN. Otto de Brito Guerra, advogado, Diretor da Faculdade de Direito de Natal. Luís da Câmara Cascudo, historiador, etnólogo, antropólogo famoso, folclorista. Djalma Marinho, deputado federal pelo RGN, professor e jurista.

Natal foi fundada há 420 anos, em 1599, às margens do rio Potengi, assim, é mais antiga do que São Luís (1612).

Estarrece-nos hoje — nós que moramos alguns anos em Natal — saber que tais fatos ocorrem  na cidade, violência,  crimes, revoltas de delinquentes, os cidadãos aflitos. Natal sempre foi uma cidade pacata, o povo bastante hospitaleiro. Onde está o governo do Estado que não atua? Afinal, é um governo ou um desgoverno?

A que se deve tal calamidade, a capital do Estado em estado de emergência — berço de tantos homens e mulheres ilustres? Só podemos atribuir ao estado de acefalia em que se encontra seu governo. Mas não foi o povo que escolheu seus governantes?

Então é de se concluir que o eleitor potiguar parece ter perdido a tramontana. Ou enganado por uma falsa politicagem, hoje trivial em nossa País.

A nós outros que ainda nos resta alguma esperança nesse mundo, haja paciência e lucidez diante de tanta impudicícia e afasia mental.

À vista de tanta escuridão no nosso País e no mundo, recordemos  as últimas palavras de Goethe — “mais luz!”

 

                                             Bsb, 22.03.23

terça-feira, 7 de março de 2023


 

O HOSPÍCIO  INTELIGENTE

 

 

 

Acredite se quiser — o mundo do futuro, em vez de ser qualificado de o mundo melhor, se tornará na verdade o Hospício Inteligente.

Preparem-se todos, os humanos que habitam esse nosso planeta  de 15 bilhões de vida não passarão de escravos, às ordens do Grande Irmão, agora substituído pelo Robô Inteligente. E sabem quem vaticinou isto? Nada menos que o  DONO DO MUNDO — o sr. ELON MUSK, proprietário, dentre inúmeras outras empresas, da TESLA, a fabricante exclusivo dos carros elétricos.

E sabem os senhores  qual  veículo mais propaga essas notícias? Só existe uma resposta — a mídia. Relembremos aqueles filmes horripilantes de outrora, os dráculas sugando sangue das criaturas ou o Frankenstein, aquele monstro construído por um cientista louco do mesmo nome, aterrorizando as cidades. Sem falar nos filmes mais atuais, o Homem da Serra Elétrica e outros afins.

Pois há a mídia escrita e embutida na televisão e nos filmes rodando pelo mundo afora.

Do ponto de vista da filosofia, tudo está trocado, ou seja, subvertemos o certo para nos orientarmos pelo errado. Segundo Aristóteles, aquele grande sábio que viveu antes de Cristo, a mídia — que quer dizer a medianeira e modernamente foi traduzida para a informação — pelo fato de ser o meio, não pode significar o fim, isto é, não constitui papel da mídia, na qual se acha embutida a informação, estipular a finalidade da informação, mas expor a notícia, por isto é que ela apenas é um meio, o fim é o outro cânone da dialética informativa, que é estabelecer a verdade que foi mediada, transmitida.

Donde se conclui que a simples mídia não estabelece critérios de verdade, só alcançados pela sistemática conclusiva, critérios esses consubstanciados na axiologia, decorrentes do censores reais, de valor, sopesados à luz da sabedoria.

O que ousamos dizer — esclarecer — é que a mídia, como sistemática da informação tem se tornado, não a simples transmissão de fatos ou atos, mas pelos  defeitos graves já apontados, se assume canal falseado da verdade, cujos resultados pode assumir estado de calamidade para o mundo, isto é, corromper nossa civilização, para dizer o mínimo.

É o que vemos acontecer nesse decorrer do terceiro milênio, quando a humanidade vem sendo atacada por uma tempestade de informações, deletérias de verdades, desprovidas de qualquer senso sapiencial, bombásticas para produzir o embuste, o fatalismo. Isso para dizer o mínimo, sim, porque por detrás desse panorama negativo, nós, os seres humanos acabamos por ver perdido  nosso livre arbítrio, aquele que nos  faz pensar quanto ao verdadeiro sentido da vida e não nos deixar cair no vazio de viver pelo simples fato de viver, segundo a apologia sartriana.

A IA, Inteligência Artificial — AI em inglês — tem solapado toda a mídia nacional e internacional, massacrando o mundo todo para nos fazer crer que se trata da maior invenção da humanidade e que veio para tornar nosso habitat o Melhor dos Mundos. Mal sabem que essa invenção traz consigo um dilema, tanto positivo quanto negativo. Se por um lado é fonte de evolução, desempenho espetacular, por outro pode subsumir o oposto, isto é, a degeneração total da humanidade, inclusive sua falência, simplesmente pelo extermínio da civilização humanoide.

Foi decorrente desse tipo de degeneração que a civilização romana ruiu — pela corrupção e falecimento cultural, sobretudo pela irracionalidade vigente.

Por esses tantos outros mais é que se tornar dever de nós, seres ainda pensantes, na visão pascalina, sempre que possível orientar nossa visão de mundo, não arrefecendo as qualidades negativas que nos cercam, mas mantendo nossa bússola norteando-a para o bem, visando sempre nos alinharmos aos preceitos da verdade, consolidá-los pelos cânones da sabedoria.

O alvoroço ora criado pela mídia não deve constituir  apanágio à felicidade terrena, pois esta inexiste — reportemo-nos aos nossos descendentes, aos cânones sagrados, tudo não passa de vaidade neste velho mundo novo.

Bem disse Tereza de Lisieux — uma moça simples que viveu a vida num convento, falecendo aos vinte e poucos anos, mas que legou para a posteridade essas palavras de grande sabedoria e espiritualidade:

“A alma que se eleva, eleva o mundo.

CDL/Bsb, 8.03.23

 

 

quarta-feira, 1 de março de 2023

 

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

E O FUTURO DO MUNDO

 


 

 

A evolução da Inteligência Artificial – IA tem aumentado de forma realmente extraordinária nesses últimos anos. Se positivo ou negativo tal fenômeno, só o tempo dirá — essa a grande verdade. Mas, afinal, o que é esse fenômeno, por que se expande vertiginosamente, como aferi-lo em termos morais, estéticos e filosóficos? Seria o maior avanço para a humanidade ou, ao contrário, o evento que atestaria sua derrocada total?

Façamos alguns reflexões sobre o assunto.

Ao contrário do que se pensa, a manipulação artificial de engenhocas não é privilégio da atualidade. Já antes de Cristo, filósofos e pensadores  tentavam criar máquinas que facilitassem a vida das pessoas. Aristóteles (384-322 a.C) idealizou, dentre suas inúmeras atividades como filósofo, poder substituir a mão de obra de escravos por objetos autônomos. Os gregos no século 1 construíram uma máquina capaz de calcular posições astronômicas, chamada Anticitera — a estrovenga foi encontrada em 1900 por mergulhadores num naufrágio ocorrido há mil anos, inclusive encontra-se exposta no Museu Nacional de Atenas, reconstruída pelo computador. Não se trata de novidade, portanto.

Observe-se que a IA não se trata de invenção isenta de restrição. Pelo contrário, até hoje, em pleno século 21, muitas pessoas a renegam, consideram sua evolução empreendimento pernicioso, talvez até um perigo iminente   para a humanidade. O próprio Stephen Hawking, considerado o gênio da física moderna, declarou em 2014, na BBC: “O desenvolvimento da inteligência artificial pode significar o fim da raça humana.”

Ryan Cala, professor de direito da Universidade de Washington, como  cautela aos possíveis perigos da IA, propôs a criação de uma Comissão Robótica Federal para monitorar  e regular sua atuação.

A que se deve o recrudescer da IA? Sem dúvida  à evolução vertiginosa da ciência, a partir das invenções, principalmente as decorrentes do computador. A extração de dados com o desenvolver de novos sensores, câmaras mais rápidas, baratas e sofisticadas, capazes de criação de computadores mais eficientes e acessíveis, com processamentos de dados mais rápidos e menor custo. Países como China, Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Rússia, Alemanha, Noruega, Suécia, França e Índia são países líderes em IA.

Não há negar que hoje a IA é o principal vetor de revolução da ciência e tecnologia, na tal ordem em que se encontra, cuja tendência, ao que tudo indica, só faz aumentar a cada dia. E a IA atingiu tal ordem evolutiva que já existem várias empresas a desenvolverem projetos verdadeiramente audaciosos, como a fabricação dos robôs humanos, isto é, robôs de tal ordem evoluídos que são capazes de exercer várias funções, como responder perguntas, resolver equações, escrever textos, depurar e corrigir códigos, traduzir idiomas, criar resumo textuais, fazer recomendações, classificar coisas e explicar o que faz. Vale dizer que ainda não têm propriamente raciocínio, restringem-se às informações armazenadas no seus cérebros eletrônicos, portanto incapazes de criar novas coisas, apenas interpretam e esclarecem com base no que já sabem.

Mas e se passarem a pensar como os humanos? Já há ideia pairando  de que as coisas vão passar dos limites. Observem-se o que já tem no mercado: um robô feminino, chamado Sophia criado há três anos por David Hanson, proprietário da Hanson Robótica. Sophia é cidadã da Arábia Saudita e tornou-se atração desde 2016 nos Estado Unidos.

A empresa Walt Disney criou o robô humanoide Abraham Lincoln. E já vimos no youtube, certa empresa japonesa pretendendo criar o robô esposa, inclusive capaz de realizar sexo. Hanson informa que Sophia, seu robô semi-inteligente, diz que ela aspira ser empresária. E afirma ele: “A ciência começa com um sonho.” Mas até onde irá esse sonho? — é o que nos perguntamos.

A Universidade de Oxford aliada ao Google DeepMind realizaram um estudo no que é sugerido que a evolução da IA pode destruir a humanidade. Numa série de ficção científica no Westworld os robôs submissos se insurgem contra os humanos. E aquelas entidades acham que isto pode ocorrer. Aliás, duas grandes redes adversárias, especializadas em IA. já competem entre si.

Então qual o futuro da IA, como deter suas sonhadas pretensões?

Isaac Asimov, aquele escritor best-seller em sciense-fiction, já falecido, criou as chamadas três leis essenciais da robótica:

1 – Robô não pode ferir um humano ou permitir um humano sofra algum mau.

2 —  Robôs devem obedecer às ordens dos humanos, exceto no caso de a ordem conflitar com a primeira lei; e

3 — Um robô deve proteger sua própria existência, desde que não conflita com as leis anteriores.

 A propósito, segundo o filósofo da informação Pierre Levy — nossa relação com a tecnologia é que ela depende de nós mesmos. As três leis da robótica de Asimov são exemplo de reflexão de que nosso futuro dependerá da tecnologia.

Nesse aspecto, podemos caminhar para o cenário de domínio quase absoluto dessas corporações cibernéticas — talvez sombrio, diríamos, mas não seria culpa da tecnologia, em si, mas da própria natureza humana.

Ousamos terminar nossas reflexões sobre esse assunto tão em voga hoje, utilizando as palavras do filósofo Pierre Levy:

“... estamos vivenciando a abertura de um novo espaço de comunicação, e cabe apenas a nós explorar as potencialidades mais positivas desse espaço no plano econômico, político, cultural e humano.”

Oxalá tenha o homem  aprendido que nosso cérebro tem ressonâncias espirituais, sob pena de cairmos no buraco negro de nossa ignorância total.