terça-feira, 23 de janeiro de 2024

 

        MACHADO NO SÉCULO 21

 

 


 

Pois é o que lhes digo, os grandes escritores tornam-se imorredouros — por isso é que são chamados de clássicos. Como o foram Shakespeare (que a nosso ver não era um só), Cícero, Cervantes, Camões, Dickens e outros dessa linhagem, dentre os quais, não há negar urge colocar o nosso Machado, o Bruxo do Cosme Velho.

Como sabemos, Machado não chegou a 60 anos e sua grade curricular de escritura é vasta. Só crônicas ele escreveu 500. Era um prodígio o grande escritor da obra prima Dom Casmurro.

Nesse interregno dos dias carnavalescos, calha-nos a ideia de fugir não só dos delírios de Momo, também do marasmo em que nos mergulhamos hoje, sem saída honrosa pelo o que se vê e deglute, basta consultar nosso cenário político e et allia.

Então me valho do nosso Machado e suas miraculosas crônicas de antanho, ai pelos idos de 1888 no seu livro Bons Dias,  ainda escondido das livrarias devido os best-sellers como Dom Casmurro, Memórias Póstumas de Brás Cuba.

Ora, como a ordem do dia hoje é falar da internet, a via mais avançada do mundo e o fetiche que ela provoca, principalmente entre os nossos filhos e netos, oriundos do big boom, encantados e talvez iludidos por esse avatar que é tal da IA, salvadora do mundo. Pois agora esses nossos amiguitos que se dizem donos de tudo, inclusive da própria verdade, quer nos criar uma nova língua — a linguagem mágica da internet. E lá vem o besteirol, a macular  nossa indefesa  Flor do Lácio, o maravilhoso veículo linguístico milenar em que se expressou Camões, Antônio Vieira, Camilo Castelo Branco, também João Francisco Lisboa, Castro Alves e nosso formidável Machado...

Essa nova língua tem o apelido de Net Speak e é acompanhada de signos, emogis, gifs e memes. O tal dialeto eletrônico difere da norma culta, daí surgindo os super neologismos — avatar, deletar, bug e baixar. É a nova língua usada no Maravilhoso Mundo Novo  pelo Grande Irmão de Aldous Huxley.

Sabem qual é o melhor antídoto para essa língua novidadeira? Pois tomem nota, senhores e senhoras — é ler nosso Machado. Olha quanta beleza de estilo. O homem não fraqueja, em 1888, quando escreveu é como trasladá-lo para nosso século, nossos dias. Ali, Machado descreve a vida como ela era — mas é incrível como as coisas não mudaram muito. São crônicas que escreveu sobre tudo, política, crimes ocorridos, comportamentos, vaidades e veleidades. O Machado olhava a vida societária de ontem com seus defeitos, as picuinhas, logros e malogros, não como um carcereiro, um vigilante, a contabilizar erros e defeitos, mas um visionário a nos propiciar um mundo em que todo ser humano não deixa de ser igual em toda parte e qualquer época — um ser frágil, imprevisível, mercê das agruras do tempo e do vento, capaz de sorrir, chorar e se vingar de si e dos outros e, por incrível que pareça esse ser, tão esdrúxulo, foi posto no mundo pelo Criador para sofrer, mas também amar.

Machado acaba de nos lavar a alma e nos  faz ainda crer que vale a pena viver.

CDL/Bsb, 23.01.24

 

 

 

 

 

 

sábado, 20 de janeiro de 2024

 

              SONHO OU REALIDADE

              —  EIS   A   QUESTÃO

 

 

 


 

Era um sonho ou a realidade? Às vezes, sonho se confunde com a realidade. Um homem estava à minha frente e se dizia uma pessoa chamada Lula. Tinha a barba dele, o cabelo desgrenhado e falava para mim.

— Estou cansado de política e pretendo abandonar tudo isso. Sabe — continua ele com o mesmo sotaque do presidente — a gente não obtém tudo o que quer.

Sinto que ele está querendo se confessar, por para fora o que lhe vai no crâneo.

— Sabe, eu fiz o que pude, porque não tenho grandes letras. Não passo  de um simples trabalhador sindicalizado. Eu achava que governar um país era como governar um sindicato, um bando praticamente de analfabetos.

Olha de soslaio para mim que o escuto com certa atenção. Faz uma pausa, como para domar o fôlego, pigarreia.

— Sabe, não tenho letras, mas modéstia aparte sou bom de conversa. Sabe como é, falar com esse pessoal, levar a melhor no papo, isso eu sei fazer, a vida me ensinou.

Continuo imóvel a escutar aquele homem que agora é o presidente da  República. Está malvestido, nada diz que ocupa esse tão importante cargo.

— É isso ai, companheiro, fui como que chutado para esse cargo. O povão parece que quis que eu fosse presidente.

Faz uma pausa para tomar fôlego, vez em quando funga.

— ... sabem, a gente é levado nesse país pra impressionar, tem gente que gosta disto. Sabe, muita coisa que fiz foi pra agradar os outros, levados pelos amigos, os companheiros de partido.

Continuo calado e ele parece se aproveitar para desabafar.

— ... os companheiros me botaram aqui. Pra mim é o mesmo que um sindicato, falo uma porção de besteiras e os companheiros aplaudem. Sei lá, na minha cachola de trabalhador o Brasil é um grande sindicato, os brasileiros não passam de trabalhadores de sindicato. A gente faz tudo pra eles, pede direitos e mais direitos, sabe, os trabalhadores são sacrificados, precisam ser recompensados...

Onde estamos é uma cafeteria, mas parecemos sós. Ele continua tomando seu cafezinho, enquanto continuo calado, apenas escutando seu desabafo.

— É isso, companheiro, tô mesmo muito cansado, sabe, viajei o mundo inteiro falando desse país. Não sei, ninguém me leva a sério. Esse povo ai fora é muito besta. O que querem  é toma lá da cá, para eles somos um país de miserável. Eu quero dizer, sabe, que nós somos ricos de natureza, possuímos os maiores depósitos de água do mundo, mas nada, eles só querem leva a melhor, a gente tem de conversar com esses gringos e eu não sei uma palavra na língua deles. Então, pra me vingar, eu faço galhofa deles. Sabe, certa vez nos Estados Unidos o Obama me chamou: You are the guy . Disseram depois que isto queria dizer — Você é o cara, um idiota.

Ele dá uma gargalhada, enquanto fico a olhar aquele sujeito que diz ser o presidente do País, a roupa em desalinho, espécie de boquirroto, ali à  minha frente e eu a escutá-lo sem dizer nada.

— Sabe, nessa eleição só fiquei rindo desse pessoal que não gosta de mim, que sou isso, que sou aquilo, o certo é que hoje sou o presidente desse País.

Mas isto não é um sonho, no sonho as pessoas mortas não falam, quando o fazem é mal sinal.

 

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Nesse estranho sonho — que talvez nem tenha sido um sonho — dou tratos à bola e fico imaginando como o mundo tem dado tantas voltas, é aquele pensamento shakespeareano de há mais coisa entre o céu e a terra do que pensamos com nossa filosofia, não a vã filosofia, como pensam alguns apressados. São as tais voltas no parafuso, os males e os bens se repetem tantas são as voltas que o parafuso da incerteza nos revolve e nos engana.

Ora, também disse certo escritor fantasista que nossa realidade não existe, vivemos todos, o planeta de que tantos nos orgulhamos, num buraco-negro ou então aquele velho enciclopedista que inventou outra norma proveniente lá do iluminismo pós-napolitano e seus desvarios de conquista.

Vem-nos à baila, uma vez mais, o descortínio  daquele velho professor ginasiano, sobre nossa ignorância matemática: consultem os alfarrábios!

CDL/Bsb, 20.01.24

 

                 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

 

                 AINDA RESTROSPECTIVA 2.023

                 COM PERSPECTIVAS PARA 2.024

 

 

 

Como rescaldo da retrospectiva, vem-nos à baila uma primeira vista do que nos reserva o novo ano, em termos de situação de nosso País e do mundo em geral.

No País, as coisas não são nada boas, vige o que presenciamos, estado de letargia geral, o governo acéfalo, o parlamento inoperante a servir a mediocridade vigente, que se espalha nos órgãos funcionais e também nas cabeças vazias, não poucas, por sinal. Dir-se-ia, sem louva Deus, que o brasileiro agora vive por viver, seguindo a fórmula sartriana.

No mundo a visão não difere muito — escaramuça ali, outra acolá, o ditador Maduro da Venezuela querendo se apossar do Equador e lá pelas estepes da Europa a Rússia ainda se engalfinha com Ucrânia, sem nada solucionável em termos de pacificação. Mas para diante, no Mediterrâneo, Israel luta contra o Hamas, agora o Iran se imiscuindo no imbróglio, enquanto os Estados Unidos apoiam os judeus, embora sub-repticiamente. Portanto, nada de novo no front

Eis que surge outro fato surpreendente nesse final de ano, com consequências para o novo ano — o inusitado comportamento do Papa Francisco, que acaba de abalar a autoridade do Apóstolo Pedro, o primeiro ocupante da Cadeira designada pelo Mestre. Em comunicação dita como não apostólica, mas sob fidúcia papal, portanto de certa forma de cumprimento observável, nossa Papa reformista autoriza a benção pela Igreja de casais do mesmo sexo, portanto as alianças de pessoas gays agora ficam devidamente abençoadas.

Doravante, o que há de se esperar? Que Elon Musk com todo seu contraforte de robôs superinteligentes tome as rédeas do mundo? Sim, porque os humanos fracassaram na administração terrestre e falharam na construção de um Mundo Melhor — o suposto e fantasioso Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley.

Dir-se-á — é o fim dos tempos, a visão apocalíptica já se torna realidade, inda mais com os distúrbios ecológicos recorrentes, vulcões estourando e até chuva de pedra nunca vista caindo sobre casas e cabeças. E outras ameaças como apregoam os oficiais de plantão das profecias. Trombeteiam até que estamos, todos, sob o olhar temeroso de seres alienígenas, habitantes de civilizações superiores — são os avisos terríficos a nos tirar do sério.

Que o fim dos tempos se aceleram talvez não haja dúvida pelos desacertos naturais, principalmente para nós com anos de vivência em nosso estatuto de vida, pelos espetáculos bons e maus assistidos.

A nosso ver, o que nos parece mais desastroso, de certo em função do desconcerto da natureza, é o comportamento do ser humano que vem se deteriorando dia a dia — aliás esse desvio vem aumentando, na mesma medida em que o ser-do-ente do suposto homo sapiens vem se afastando da benevolência divina. Trocou o caminho da Verdade, da Prudência e da Perfeição pelos seus próprios conceitos, imaginados, criados no Eu penso, logo existo cartesiano, acrescido da figura ideológica do homo artificialis, agora ele próprio incorporado no Criador Universal.