segunda-feira, 7 de março de 2022

 

 

 

O BANQUETE DE PLATÃO

— A ESCADA DO AMOR

 

 


 

 

Nada mais justo que celebremos o Dia Internacional da Mulher, 8 de março, relembrando nada menos que o Banquete de Platão. Essa peça do famoso filósofo grego é considerada, dentre as muitas que escreveu, das mais brilhantes.

Como sabemos, desde nosso ginásio em diante, Platão, cujo verdadeiro nome era Aristocles, viveu e morreu antes de  era cristã (Atenas 428-348 a.C), foi um filósofo grego notável, com a definição de ter plasmado toda a civilização ocidental.

Sua vasta obra ele a compôs em diálogos, os celebrados diálogos de Platão. Pois destacamos, hoje, como nossa homenagem ao Dia da Mulher, o Banquete, no qual, cerca de dez convivas para um jantar oferecido pelo poeta Agatão, discursam sobre tema específico — o Amor, o deus Eros.

O notável nesse Banquete é que um dos convidados é nada menos que uma mulher, de nome Diotima, originária de Mantineia, sacerdotisa, filósofa e cortezã. Esse feito é bastante singular, pois à época entre os gregos e toda a civilização grega, prevalecia a misoginia, mulheres não era permitido frequentar banquetes masculinos  — haja vista sua proibição nos jogos olímpicos.

Diotima teria sido convidada especial de Sócrates, o homenageado no ágape. O Banquete foi escrito em 380 a.C, aliás um eufemismo, pois, em grego seria Simpósio (Tò Sumposion). O objetivo era venerar o Amor. Daí certamente a razão de Sócrates tê-la convidado para o encontro, também pelo fato de ela, Diotima, ser filósofa.

Nesse ágape, de encenação simbólica por suas ilações filosóficas e culturais, interessa-nos apenas destacar a atuação de Diotima, o leitor inteligente e ávido de maiores encômios sobre o tema que recorra aos alfarrábios — como diria um antigo mestre em tempos passados. No momento, ficamos com a sacerdotisa, filósofa e, por incrível que pareça, cortezã.

Diotima se destaca em todo o palavrório dos convidados, sobretudo por suas ideias, não só expondo concepções filosóficas, como conhecimento sobre o imaginário do Amor. Ela chega a discordar do próprio Sócrates e faz uma genealogia do Amor, o deus Eros, que seria filho de recurso (poros) e pobreza (penia). Ele, o Amor, leva a pessoa a buscar a Beleza, primeiro a terrena ou dos corpos bonitos, para despois crescer em sabedoria, percorrendo, assim, a Escada do Amor. O amante cresce em sabedoria, em beleza espiritual ou das almas  bonitas, segundo Platão. Daí direcionaria sua mente para a filosofia.

Só para termos uma ideia do pensamento superior dessa suposta cortezâ, eis sua fala dirigida a Sócrates:

 

“... dirijo meu olha a partir de agora para a beleza como um todo, o      amante deve se voltar para a beleza, para o grande oceano da beleza e, ao contemplá-la, deve dar origem a muitos discursos e belos e magníficos pensamentos na abundância da filosofia.”

 

Nada nos parece mais justo do que, portanto, relembrarmos esse retalho reminiscente de uma mulher filósofa, Diotima, como a epígrafe mais honrosa neste maravilhoso dia em que a figura edênica da Mulher deve ser preciosa a todo coração humano.

CDL/Bsb, 7.03.22 

 

terça-feira, 1 de março de 2022

 

AS SETE TROMBETAS DO APOCALIPSE

 


 

 

 

Eis que, nesses últimos dias de fevereiro dos tempos de pandemia, mísseis de fogo como relâmpagos cruzam os céus e se abatem sobre a terra. É lá nos contrafortes da Europa — Ucrânia.

O mundo acorda espavorido, inconcebível que o céu daquelas terras, para nós longínquas se rachassem em abismos de fogo.

É a guerra que se abate sobre as cidades. E logo a mídia encantatória, fonte de incertezas e infelicidades, logo se apodera apregoando assombros e calamidades, entre mortos e feridos. Como soe acontecer nos campos de batalhas.

Parece mentira, minha gente desse nosso ocioso torrão, mas é a guerra que começa, mais uma vez, a se abater sobre esse nosso velho mundo.

E quem diria, quem está por detrás desse tenebroso cenário é nada mais que o poderoso Presidente Perpétuo da Rússia, há 28 anos encarapitado no poder, que resolveu atacar de madrugada a Ucrânia, antiga província da fabulosa União das Repúblicas Soviéticas, com suas garras de ferro.

E todos estamos atônitos com os estertores, bolas de fogo, ranger de tanques, bólidos cruzando o céu noturno, cidades bombardeadas, mísseis incandescentes, figuras humanas apavoradas, gritos e choros na escuridão de quando em quando aberta em lapsos de chamas. Enquanto isso, filas de monstruosos tanques de guerra se arrastam como gafanhotos de ferro rasgando caminhos em direção às cidades, alastrando o terror sobre o pacífico povo ucraniano.

O que está acontecendo com o mundo, perguntamos nós, encastelados no nosso continente, longe desse inferno, mas aterrados, índios nativos em face do ataque dos noveis descobridores, movidos não mais em caravelas de antanho, mas de armas terríveis, mísseis ultrassônicos, pássaros de ferro rasgando o céu com línguas de fogo...

Então nos ocorre consultar o que está escrito nos Evangelhos, o livro do Apocalipse — aquela visão estupefaciente vislumbrada pelo apóstolo João, a revelação dos Últimos Tempos (Jo.16). Será o prenúncio do despertar das excepcionais Sete Trombetas cujo som, ressoando pelos Sete Anjos,  dará início às terríveis pragas que serão derramadas no mundo?

É o Amargedom que agora acontece?

Nós, pobres mortais, mas sempre ávidos de acontecênssias, desde as mais priscas eras, da era adâmica às fantásticas revelações mágicas da Matrix, nada nos surpreende, tantas são as sandices praticadas por nossos coestaduanos terráqueos. Já vimos esse filme durante os enlaces terríficos da Segunda Guerra Mundial. Um ditador querendo se apoderar do mundo, a instalação do 3º Reich, a partir da Germânia, a impor o império da super raça ariana sobre a terra.

E agora, José? Dirá o drummondiano poeta enlevado pela ala esquerda do Anjo. Agora José, é esperar a resposta da outra ala de Anjos, aqueles mesmos que irão tocar as terríveis Sete Trombetas, quem tiver ouvidos que ouça — e nós, ici bas, como dizem os franceses, que nos preparemos.

Como? Vigiando e orando — pois ao que tudo indica, tudo já está feito, Maktub, dirá o averroismo atual.   

Bsb. 1.03.22  

 

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                       

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022


 

   A APOLOGIA DE SÓCRATES

                PARA     NOSSO     TEMPO

 

 

 

Fato dos mais intrigantes na historiografia, sem prejuízo de outros, que os há muitos, foi a condenação  do filósofo grego Sócrates, no ano 399 a.C em Atenas. Mesmo devido o abismo que, em todos os sentidos, nos separa esse absurdo, o evento vige até hoje, como exemplo do ódio e da impudicícia a que tem se servido certo vezo do espírito humano.

O exemplário da infâmia parece não refrear-se, quando até hoje observamos, mesmo entre os supostos homo sapiens, viralizar nos meios sociais, a virulência do rancor, da malignidade e o desrespeito à dignidade das pessoas.

É o sinal sintomático de que a desfaçatez e a apologia ao ideologismo inconsútil e desconstrutivista rodeiam nosso mundo, corroendo nossa maneira de ser, trabalhar e viver.

Reviver esse acontecimento em pleno século 21, na plenitude ademais da virulência de uma pandemia que apavora todos — penso ser sintomático e até de certo modo educativo.

Não é, nem nunca nos foi desconhecido, pelo menos às pessoas até de mediana compreensão e estudo, o saber que Sócrates (470-399 a.C) foi um dos maiores filósofos — por conseguinte, sábio — que existiu em toda nossa história, antiga e contemporânea.

Sabemos também que Sócrates, de origem humilde, filho de uma simples parteira, perambulava pelas ruas e praças, as ditas ágoras, da cidade de Atenas, não como ambulante, esmoler ou pessoa sem eira nem beira, mas, sim, um filósofo, sábio, cujo intento era falar com as pessoas, manter com elas diálogo instigante e construtivo. A finalidade, a intenção daquele filósofo de vestes simples, por vezes até descalço, era a mais justa, conspícua e sábia possível: conhecer as pessoas e,  através do diálogo, da pergunta e resposta do abordado, numa espécie de troca de ideias e pensamentos, ensinar-lhes a serem mais éticos e, sobretudo, pelo método dialético, por ele mesmo criado, a maiêutica, pelo qual as pessoas entrevistadas melhorariam a maneira de ver o mundo e pensar, tendo por objetivo auferir conhecimentos, alcançar a verdade e  praticar o bem como seus melhores paradigmas.

Qual teria sido o crime cometido por Sócrates do qual  era acusado e depois condenado pelo quórum de cidadãos de Atenas? A acusação seria desconhecer o Estado de Atenas, introduzir novas divindades e corromper a juventude. Seus principais acusadores eram o poeta Meleto e o político e orador Anitos. Seria julgado por cidadãos da pólis e, uma vez condenado, a pena era a morte. Cabia pedido de clemência, o que significava aceitar a acusação. Cidadão ínclito como se dizia, o maior filósofo  pela profecia de Delfos, Sócrates não se permitiu pedir clemência — preferiu a morte por cicuta.

Então Platão escreveu a Apologia de Sócrates,  como teria feito sua defesa perante o júri que o condenaria. Trata-se de uma peça de oratória  das mais notáveis, um pleito inequívoco de sua  defesa de um lado, do outro preito de alocução acusatória aos que injustamente  o delatavam à comunidade.

E o que dizer sobre os acusadores de Sócrates? Meleto, poeta e Anitos, político e orador. Ora, sabe-se que Platão tinha diferença com os poetas, basta vê que em sua República considerava-os desmerecedores de a ela pertencerem,  por serem sonhadores e falazes em seus ofícios. Quanto aos políticos, não os tinha em boa conta, uma vez que, à época, Atenas aderia à tirania de há muita adotada por Esparta.

Atenas, portanto, sofria transformação e toda a Pólis, então sob pressão da tirania, não podia aceitar as ideias e a conduta de um filósofo, como Sócrates, que fazia perguntas perturbadoras ao povo sobre o que era virtude, piedade, justiça em termos de ética e estética e a busca do conhecimento.

Em sua defesa, Sócrates, pela alocução insofismável de seu amigo e aluno Platão, desmoraliza a ação de seus detratores, Meleto sobretudo por arguir suspeitas inverídicas, no que na verdade ele exercia o discipulado dos sofistas, de cujos ideais participava, estes inimigos ferrenhos de Sócrates. O filósofo  denunciava seus ensinamentos imprudentes, falaciosos e por terem por escopo único auferir recursos. Já antes no diálogo com Protágoras, Sócrates teria se confrontado com aquele sofista, cuja ação e pensamentos discordara, inclusive daquele impertinente paradigma de que “ — O homem é a medida de todas as coisas”.

É de vê-se que o julgamento de Sócrates já se maculava de imperfeição, desde sua origem. Era os representantes da Pólis que se viam preteridos por aquele malicioso filósofo, constituía-se um obstáculo às pretensões dos magistrados, tornava-se urgente demolir aquele inconveniente inquisidor popular.

Não será fora de propósito aplicar o grande erro do julgamento de  Sócrates, que se sucederam em outros casos, como a condenação de Joana d”Arc, o julgamento Dreifus e por que não, também, aos atos de certo infamantes nos dias atuais, quando, por simples impertinência e ignorância, tenta-se desmoralizar a figura magnânima de um indomável idealista, defensor da moral e do personalismo cristão com o viés intuicionista.

 

CDL/Bsb, 10.02.22