ÉTICA
DE ARISTÓTELES
Murilo Moreira Veras
Discutiremos no próximo
dia 28.07.22 o famoso livro do filósofo Aristóteles — Ética de Nicômaco.
Segundo esta edição é uma das mais cultuadas obras do filósofo.
1.Preliminares
Aristóteles
viveu no período clássico da Grécia. Aluno de Platão (384-aC- 322aC), foi por
ele influenciado, assim por Sócrates, Pitágoras, Demócrito e Heráclito.
De sua vez influenciou Kant e Newton e até hoje suas ideias são
acolhidas, discutidas e de alguma forma norteiam o estudo e a prática
filosófica no panorama cultural e filosófico da atualidade. Há até quem o
considere o homem mais inteligente de
toda a história humana.
Vamos
apenas expor, de forma o mais sinoticamente possível, os traços gerais dessa pequeno
grande livro de uma das maiores inteligência dentre as de nossa espécie.
2.Súmula
da Ética
A
obra se constitui de temas sobre ética, estética, moral e política,
distribuídos sob o rótulo de Livros, ao todo 10. Escrutinamos os mais
importantes a nosso ver, como segue:
Livro
I — Sobre o Bem
1.O
que seria o bem, o bem derivado das vontades, que integra a felicidade.
2.O
bem produz a virtude, e pode ser intelectual, isto é, compreendendo a
sabedoria, a inteligência e a prudência — e moral, que é a liberdade e a
temperança.
Livro
II — Éticas do Meio-Termo e da Justa-Medida
Neste
capítulo, o autor exprime em termos de ética as ações de comportamento e como
proceder, observando sempre procurar o meio-termo e a justa-medida nas ações e
procedimentos éticos.
Livro III — As paixões humanas.
1.Desdobram-se
em voluntárias e involuntárias.
2.Todas
as ações humanas devem se orientar tendo por medida o meio-termo, ou seja, a
graduação pela qual sejam medidas levando em conta, igualmente, a justa-medida.
3.As
duas graduações são o ponto de equilíbrio
que devem nortear as ações ou paixões.
4.O
exagero é sempre o fio da justiça em todos os casos, levando o ser humano à
malversação e o desequilíbrio dos atos praticados.
Livro
IV — Liberalidade
1.Definição
de liberal e do idealizado como tal.
2.Liberal,
aquele com certa franqueza que pratica o bem ou ações benévolas.
3.Graduação
do caráter do que atua com liberalidade.
4.Pródigo,
aquele que age seus bens com desmandos.
5.Todos
os casos sob justa-medida e meio-termo.
Livro
V — Justiça
1.Justiça
e injustiça constituem-se do meio-termo entre os extremos, portanto, o ato
justo é o meio-termo.
2.A
pessoa justa é aquela que respeita o
bem, portanto é o que é probo, enquanto a injusta é a que desrespeita a lei, é
o improbo.
3.Ações
justas, as que produzem e conservam a felicidade às partes e à comunidade
pública.
4.Disse
Eurípedes — Na justiça encontra-se, em suma, toda a virtude.
5.Na
cidade nem sempre são iguais uma pessoa boa e um bom cidadão.
6.Justiça
distributiva — refere-se a alguns méritos: para democratas serem livres; para
os oligarcas, riqueza ou nobreza da raça; para os aristocratas, a excelência.
7.Justiça
distributiva — não deve ser a cada qual na mesma proporção, por difícil
numerá-la a cada um.
8.Juiz
é o mediador — busca a justiça, também chamado de conciliador.
9.A
justiça deve ter sentido recuperativo, embora às vezes a reciprocidade e a
justiça corretiva possam estar em desacordo.
10.O
dinheiro (nómisma) existe não por natureza, mas em virtude da lei (nómos)
— portanto variável.
11.Dinheiro
— espécie de penhor, em que tudo é medido.
12.A
justiça é o meio termo, enquanto a injustiça é o extremo.
13.A
injustiça pode ser o excesso ou uma deficiência, posto que geradora de
excessos.
14.O
ser humano não governa por si próprio, mas, sim, mediante e sob o domínio das
leis.
15.O
ato involuntário, se não tiver vício, pode ser compreensível.
16.Os
atos são justos e injustos, desde que medidos sob justiça.
17.Só
os seres humanos praticam a justiça e o fazem em função de suas ações.
18.O
equitativo não é o mesmo que o justo, posto que seus resultados não são
idênticos — a lei é universal, portanto nem sempre é exata.
19.O
erro da lei corrige-se pelo equitativo, em função da equidade — o que não
interfere na justiça superior, na qual a equidade é apenas um ato equalizador de moderação, espécie de justiça
especial.
20.O
suicídio pode ser considerado um crime contra a cidade, ou seja, contra o
cidadão, pois cometido contra as leis da cidade — suscetível, portanto, o ato a
ser computável em bens do suicida.
Livro
VI — As escolhas da Razão
1.Devemos
sempre escolher o meio-termo, não a falta, obedecendo a razão correta.
2.Três
são as ações da alma: sensação, intelecto e desejo.
3.O
intelecto é afirmativo ou negativo: .
a) a arte: b) o conhecimento científico; c)
a sabedoria prática; d) a sabedoria filosófica;
e) a razão intuitiva.
4.O
conhecimento científico — é direcionado para um certo sentido, que são os
princípios da ciência.
5.A
arte ´uma invenção humana.
6.A
sabedoria prática visa o bem, portanto, indemonstrável.
7.Péricles,
sábio político, tinha sabedoria prática, pragmática.
8.A
sabedoria acompanha a razão verdadeira, capaz de agir sobre o bem humano.
9.A sabedoria filosófica
objetiva demonstrar o princípio das coisas, pelo que se torna perfeita.
10.Anaxágora
e Tales, por exemplo, eram filósofos, procuravam a sabedoria filosófica,
mas não se tornaram úteis — eles não procuravam os bens propriamente humanos.
11.Os
jovens padecem de imaturidade, de sabedoria prática, só alcançável com a idade.
12.Discernimento
ao julgar é que faz realizar o fim equitativo.
13.Ao
contrário dos jovens, os mais velhos são dotados de experiência e da sabedoria
prática adquirida com os anos.
14.
A sabedoria prática pode tornar as pessoas mais felizes.
15.
A sabedoria prática e filosófica não produzem nada, alimentam a alma.
Nota:
A nosso ver, as duas sabedorias podem contribuir para o enriquecimento
pessoal das pessoas.
16.Ter
sabedoria prática é ser virtuoso.
17.Todas
as virtudes são formas de saber prático, vinculadas à racionalidade.
18.A
sabedoria não supera a filosofia.
19.A
política governa os deuses, apesar disso respeita os assuntos da cidade, a lei
dos seres humanos.
Nota:
Seria como dizer que a política é divina, intocável, de tal modo de governar
também os deuses ou a própria Divindade. Mas, Aristóteles viveu sob o governo
da mitologia, os gregos criam em vários deuses. Resta a dúvida — mas os deuses
mitológicos não eram soberanos e poderosos, como poderiam estar sujeitos a leis
humanas?
Livro
VII — Caráter.
1.Três são as espécies
negativas de caráter: o vício, a incontinência e a brutalidade. Seus pilares
positivos: o bem, a continência e bondade.
2.Continência
refere-se a coisas virtuosas e incontinência, como a frouxidão, inclui-se entre
as ações mais cesuráveis.
3.O homem, isto é, a
pessoa humana agradável é melhor do que o
incontinente.
4.Ter conhecimento — termo
ambíguo, depende de como é utilizado.
5.Não fazem uso do
conhecimento: o louco, o bêbado, as pessoas sob o domínio das paixões e dos
apetites sexuais.
6.Os animais têm
imagens e lembranças também.
Nota: Será que usam
também habilidades cerebrais como os humanos?
7.Sócrates : O conhecimento só ocorre se for perceptível,
portanto não movido pela paixão.
8.Os prazeres
corporais — nutrição e necessidades sexuais — assim como a vitória, a honra, a
riqueza e afins, são desejáveis.
9.Censuráveis,
entretanto: a incontinência pelos prazeres físicos e o vício, naturalmente
praticados em excesso.
10.A pessoa
incontinente é incontrolável em suas ações e não exerce a capacidade de
escolha.
11.Censurável também:
as pessoas que amam as coisas em excesso.
12.Entre os
incontinentes há atitudes até bestiais.
13.Causas naturais
como a passividade da mulher nas cópulas não se consideram incontinentes.
14.Loucos
por motivo de doença, como a epilepsia, consideram-se mórbidos
Nota: Machado de Assis seria um caso mórbido?
15.O
colérico é vencido pela razão, mas se age por desejos naturais de todas as
pessoas — é perdoado.
16.Se,
entretanto, agir com perfídia, torna-se incontinente e culpado.
17.A
bestialidade torna-se um mal menor do que o vício, pois uma pessoa má de forma
viciada pode causar mais dano do que uma fera.
18.Os
intemperantes são piores do que os incontinentes.
19.O
efeminado é considerado frouxo, por isso infeliz.
20.A
pessoa apaixonada por divertimentos torna-se intemperante.
21.O
intemperante pode se arrepender.
22.Os
opinantes são obstinados, ignorantes e grosseiros.
23.O
incontinente — ao contrário do continente, não se atem à razão.
24.O
incontinente não se compara com aquele que sabe.
25.O
estudo do prazer e da dor pertence à filosofia política.
26.A
arte em si não produz o prazer, mas todo bem é um produto da arte.
27.Crianças
assim como os animais buscam o prazer.
28.Prazeres produzem dor e apetite, coisa que não é a
contemplação em si mesma.
29.Os
prazeres são atividades e fins em si mesmas.
30.Que
se evite a dor e se faça do prazer um bem.
31.Nenhuma
felicidade é perfeita.
32.Segundo
Eurípedes e Orestes — A mudança é agradável em todas as coisas.
Livro
VIII — Amizade
1.A
amizade é necessária.
2.Ela
socorre os jovens e os idosos.
3.As
pessoas escolhem seus amigos pela amizade, sejam nobres ou os que lhes são agradáveis.
4.Seres
humanos gostam dos que amam e lhes são agradáveis.
5.Os
que desejam bem aos outros são benevolentes.
6.Há
amizades que não permanecem, porque são frágeis, se tornam de alguma forma
desagradáveis e inúteis.
7.Os
jovens são amorosos por paixão, movidos quase todos pelo prazer.
8.Há
amizades que são duradouras, porque permanecem.
9.Há
amizades com base apenas na utilidade, às vezes são más ou simplesmente
casuais.
10.Deve ser cultivada, sim, pois:
O silêncio destrói muitas amizades.
11.Amor
é um sentimento, enquanto a amizade é uma qualidade, se são recíprocas o é por
disposição do caráter.
12.Quando
a amizade é por utilidade, pode ser considerada poética..
13.Amizade
superior é a de pai para filho e de mãe para filho.
14.Pessoas
desiguais podem ser amigos.
15.Na
política, a amizade funciona em termos de prática de ações —assim há três
espécies de constituições e seus respectivos desvios:
a) monarquia
b) aristocracia também dita timocracia ou
plutocracia
c) república
Nota:
Segundo Aristóteles, a mais qualificada, devida a autoridade filial e
sagrada do Rei, seria a monarquia. As piores, seus desvios:
a) aristocracia,
oligarquia ou timocracia
b) a democracia.
c) a tirania
16. Dentre as
viciadas, é preferível a democracia.
17. A democracia é uma
espécie de casa sem chefe, onde todos encontram-se em pé de igualdade — o chefe
é frágil e cada qual faz o que quer.
18. Nas tiranias,
amizade e justiça praticamente inexistem, enquanto nas democracias amizade e
justiças são importantes, devido o interesse comum entre a igualdade dos
cidadãos.
Livro IX — Ainda da
Amizade
1.Amizades baseadas no
caráter são duradouras.
2.Devem-se honrar pais
e mães como honramos os deuses
3.A pessoa que é má
não é amável.
4.A benevolência é uma
amizade de pouca ação, mas pode se tornar amizade verdadeira.
5. As pessoas más sempre
estão em desacordo.
6. Artistas e poetas
amam suas produções.
7. Egoístas são
censurados pelo egoísmo.
8. É nosso dever
partilhar nossa amizade com nossos amigos.
9. Há um provérbio: Dos
homens nobres, vêm as nobres ações.
Livro X — Do Prazer
1.As pessoa preferem as
coisas agradáveis e evitam as dolorosas.
2.Segundo Eudoxo:
Todos os seres tendem para o bem supremo.
3.Platão: O bem mais
desejável é o do sábio, a sabedoria.
4.Prazer e dor são
opostos.
5.Coisas que desejamos
obter: visão, recordação, conhecimento e a posse dos estudos.
6.Em termos de prazer
a forma é perfeita em qualquer momento.
7.O prazer se completa
assim como o vigor da saúde se junta à flor da juventude.
8.O prazer possui
tendência para o viver.
9.As atividades são
afetadas em sentido oposto por prazeres e dores, que lhes são próprios.
10.O prazer, próprio à
atividade virtuosa, é sempre bom, enquanto aquele próprio à atividade viciosa é
mau.
11.Há extrema
diversidade de prazeres.
12.A felicidade se
basta a si mesma.
13.Felicidade é uma
atividade conforme a virtude.
14.O ser humano é
mortal, mas deve imortalizar sua parte mais nobre.
15.Felicidade perfeita
é a contemplativa.
16.A pessoa boa deve
receber educação exemplar.
Após essas
considerações e diversidade de pontos e opiniões, podemos obter uma visão de
conjunto para discernir o ser humano perante o mundo.
3.Considerações:
Gerais e Finais
Aristóteles (384 a.C –
322 a.C) foi um dos homens mais eruditos — pelo menos no Ocidente. Ética
a Nicômaco é um tratado que versa sobre ética, estética, moral,
ciência, psicologia, mitologia e religião. Certo que ele viveu num mundo que
respirava mitologia, toda a erudição e cultura sob influência de Homero,
através de sua Ilíada e Odisséia. Foi o período clássico da
Grécia, com a filosofia já nascente, sob influência dos filósofos
pré-socráticos. Sabemos, sob a égide desses grandes pensadores, é que nasceu a
filosofia. Sócrates (470a.C-399 a.C) já teria criado seu método filosófico, a maiêutica,
com o qual ele, mediante perguntas ao consulente, conseguia levá-lo, por si
próprio, a adquirir conhecimento. Aristóteles prefere ser um Mestre, como o foi
Platão, através de seu centro do saber chamado Liceu (a escola platônica
chamava-se Academia).
A ética aristotélica é
tão importante que seus ensinamentos e regras dela decorrentes permanecem imorredouros
até hoje, por exemplo, na Bioética, que disciplina a moral, a ética e a
estética. Seus princípios políticos continuam praticamente vigentes.
Nosso cuidado foi o de
apenas expor uma súmula das regras da Ética. Não temos o direito e mesmo a proeza de discriminar ou desmerecer os
ensinamentos de um sábio como Aristóteles, que dominou todos os ramos da
ciência, inclusive do Direito e da Filosofia.
Praza aos céus, se no
mundo atual onde reina a incredulidade, o devaneio, a incúria e o endosso do
sofisma a prevalecerem nos juízos e nas configurações políticas e científicas,
pudéssemos rever os juízos de valor pregados por Aristóteles — certamente a
cidade, as pessoas, assim como os entes públicos e privados teriam outro
comportamento — o mundo seria certamente mais humano e racional.
Bsb,
23.07.22
ÉTICA
DE ARISTÓTELES
Murilo Moreira Veras
Discutiremos no próximo
dia 28.07.22 o famoso livro do filósofo Aristóteles — Ética de Nicômaco.
Segundo esta edição é uma das mais cultuadas obras do filósofo.
1.Preliminares
Aristóteles
viveu no período clássico da Grécia. Aluno de Platão (384-aC- 322aC), foi por
ele influenciado, assim por Sócrates, Pitágoras, Demócrito e Heráclito.
De sua vez influenciou Kant e Newton e até hoje suas ideias são
acolhidas, discutidas e de alguma forma norteiam o estudo e a prática
filosófica no panorama cultural e filosófico da atualidade. Há até quem o
considere o homem mais inteligente de
toda a história humana.
Vamos
apenas expor, de forma o mais sinoticamente possível, os traços gerais dessa pequeno
grande livro de uma das maiores inteligência dentre as de nossa espécie.
2.Súmula
da Ética
A
obra se constitui de temas sobre ética, estética, moral e política,
distribuídos sob o rótulo de Livros, ao todo 10. Escrutinamos os mais
importantes a nosso ver, como segue:
Livro
I — Sobre o Bem
1.O
que seria o bem, o bem derivado das vontades, que integra a felicidade.
2.O
bem produz a virtude, e pode ser intelectual, isto é, compreendendo a
sabedoria, a inteligência e a prudência — e moral, que é a liberdade e a
temperança.
Livro
II — Éticas do Meio-Termo e da Justa-Medida
Neste
capítulo, o autor exprime em termos de ética as ações de comportamento e como
proceder, observando sempre procurar o meio-termo e a justa-medida nas ações e
procedimentos éticos.
Livro III — As paixões humanas.
1.Desdobram-se
em voluntárias e involuntárias.
2.Todas
as ações humanas devem se orientar tendo por medida o meio-termo, ou seja, a
graduação pela qual sejam medidas levando em conta, igualmente, a justa-medida.
3.As
duas graduações são o ponto de equilíbrio
que devem nortear as ações ou paixões.
4.O
exagero é sempre o fio da justiça em todos os casos, levando o ser humano à
malversação e o desequilíbrio dos atos praticados.
Livro
IV — Liberalidade
1.Definição
de liberal e do idealizado como tal.
2.Liberal,
aquele com certa franqueza que pratica o bem ou ações benévolas.
3.Graduação
do caráter do que atua com liberalidade.
4.Pródigo,
aquele que age seus bens com desmandos.
5.Todos
os casos sob justa-medida e meio-termo.
Livro
V — Justiça
1.Justiça
e injustiça constituem-se do meio-termo entre os extremos, portanto, o ato
justo é o meio-termo.
2.A
pessoa justa é aquela que respeita o
bem, portanto é o que é probo, enquanto a injusta é a que desrespeita a lei, é
o improbo.
3.Ações
justas, as que produzem e conservam a felicidade às partes e à comunidade
pública.
4.Disse
Eurípedes — Na justiça encontra-se, em suma, toda a virtude.
5.Na
cidade nem sempre são iguais uma pessoa boa e um bom cidadão.
6.Justiça
distributiva — refere-se a alguns méritos: para democratas serem livres; para
os oligarcas, riqueza ou nobreza da raça; para os aristocratas, a excelência.
7.Justiça
distributiva — não deve ser a cada qual na mesma proporção, por difícil
numerá-la a cada um.
8.Juiz
é o mediador — busca a justiça, também chamado de conciliador.
9.A
justiça deve ter sentido recuperativo, embora às vezes a reciprocidade e a
justiça corretiva possam estar em desacordo.
10.O
dinheiro (nómisma) existe não por natureza, mas em virtude da lei (nómos)
— portanto variável.
11.Dinheiro
— espécie de penhor, em que tudo é medido.
12.A
justiça é o meio termo, enquanto a injustiça é o extremo.
13.A
injustiça pode ser o excesso ou uma deficiência, posto que geradora de
excessos.
14.O
ser humano não governa por si próprio, mas, sim, mediante e sob o domínio das
leis.
15.O
ato involuntário, se não tiver vício, pode ser compreensível.
16.Os
atos são justos e injustos, desde que medidos sob justiça.
17.Só
os seres humanos praticam a justiça e o fazem em função de suas ações.
18.O
equitativo não é o mesmo que o justo, posto que seus resultados não são
idênticos — a lei é universal, portanto nem sempre é exata.
19.O
erro da lei corrige-se pelo equitativo, em função da equidade — o que não
interfere na justiça superior, na qual a equidade é apenas um ato equalizador de moderação, espécie de justiça
especial.
20.O
suicídio pode ser considerado um crime contra a cidade, ou seja, contra o
cidadão, pois cometido contra as leis da cidade — suscetível, portanto, o ato a
ser computável em bens do suicida.
Livro
VI — As escolhas da Razão
1.Devemos
sempre escolher o meio-termo, não a falta, obedecendo a razão correta.
2.Três
são as ações da alma: sensação, intelecto e desejo.
3.O
intelecto é afirmativo ou negativo: .
a) a arte: b) o conhecimento científico; c)
a sabedoria prática; d) a sabedoria filosófica;
e) a razão intuitiva.
4.O
conhecimento científico — é direcionado para um certo sentido, que são os
princípios da ciência.
5.A
arte ´uma invenção humana.
6.A
sabedoria prática visa o bem, portanto, indemonstrável.
7.Péricles,
sábio político, tinha sabedoria prática, pragmática.
8.A
sabedoria acompanha a razão verdadeira, capaz de agir sobre o bem humano.
9.A sabedoria filosófica
objetiva demonstrar o princípio das coisas, pelo que se torna perfeita.
10.Anaxágora
e Tales, por exemplo, eram filósofos, procuravam a sabedoria filosófica,
mas não se tornaram úteis — eles não procuravam os bens propriamente humanos.
11.Os
jovens padecem de imaturidade, de sabedoria prática, só alcançável com a idade.
12.Discernimento
ao julgar é que faz realizar o fim equitativo.
13.Ao
contrário dos jovens, os mais velhos são dotados de experiência e da sabedoria
prática adquirida com os anos.
14.
A sabedoria prática pode tornar as pessoas mais felizes.
15.
A sabedoria prática e filosófica não produzem nada, alimentam a alma.
Nota:
A nosso ver, as duas sabedorias podem contribuir para o enriquecimento
pessoal das pessoas.
16.Ter
sabedoria prática é ser virtuoso.
17.Todas
as virtudes são formas de saber prático, vinculadas à racionalidade.
18.A
sabedoria não supera a filosofia.
19.A
política governa os deuses, apesar disso respeita os assuntos da cidade, a lei
dos seres humanos.
Nota:
Seria como dizer que a política é divina, intocável, de tal modo de governar
também os deuses ou a própria Divindade. Mas, Aristóteles viveu sob o governo
da mitologia, os gregos criam em vários deuses. Resta a dúvida — mas os deuses
mitológicos não eram soberanos e poderosos, como poderiam estar sujeitos a leis
humanas?
Livro
VII — Caráter.
1.Três são as espécies
negativas de caráter: o vício, a incontinência e a brutalidade. Seus pilares
positivos: o bem, a continência e bondade.
2.Continência
refere-se a coisas virtuosas e incontinência, como a frouxidão, inclui-se entre
as ações mais cesuráveis.
3.O homem, isto é, a
pessoa humana agradável é melhor do que o
incontinente.
4.Ter conhecimento — termo
ambíguo, depende de como é utilizado.
5.Não fazem uso do
conhecimento: o louco, o bêbado, as pessoas sob o domínio das paixões e dos
apetites sexuais.
6.Os animais têm
imagens e lembranças também.
Nota: Será que usam
também habilidades cerebrais como os humanos?
7.Sócrates : O conhecimento só ocorre se for perceptível,
portanto não movido pela paixão.
8.Os prazeres
corporais — nutrição e necessidades sexuais — assim como a vitória, a honra, a
riqueza e afins, são desejáveis.
9.Censuráveis,
entretanto: a incontinência pelos prazeres físicos e o vício, naturalmente
praticados em excesso.
10.A pessoa
incontinente é incontrolável em suas ações e não exerce a capacidade de
escolha.
11.Censurável também:
as pessoas que amam as coisas em excesso.
12.Entre os
incontinentes há atitudes até bestiais.
13.Causas naturais
como a passividade da mulher nas cópulas não se consideram incontinentes.
14.Loucos
por motivo de doença, como a epilepsia, consideram-se mórbidos
Nota: Machado de Assis seria um caso mórbido?
15.O
colérico é vencido pela razão, mas se age por desejos naturais de todas as
pessoas — é perdoado.
16.Se,
entretanto, agir com perfídia, torna-se incontinente e culpado.
17.A
bestialidade torna-se um mal menor do que o vício, pois uma pessoa má de forma
viciada pode causar mais dano do que uma fera.
18.Os
intemperantes são piores do que os incontinentes.
19.O
efeminado é considerado frouxo, por isso infeliz.
20.A
pessoa apaixonada por divertimentos torna-se intemperante.
21.O
intemperante pode se arrepender.
22.Os
opinantes são obstinados, ignorantes e grosseiros.
23.O
incontinente — ao contrário do continente, não se atem à razão.
24.O
incontinente não se compara com aquele que sabe.
25.O
estudo do prazer e da dor pertence à filosofia política.
26.A
arte em si não produz o prazer, mas todo bem é um produto da arte.
27.Crianças
assim como os animais buscam o prazer.
28.Prazeres produzem dor e apetite, coisa que não é a
contemplação em si mesma.
29.Os
prazeres são atividades e fins em si mesmas.
30.Que
se evite a dor e se faça do prazer um bem.
31.Nenhuma
felicidade é perfeita.
32.Segundo
Eurípedes e Orestes — A mudança é agradável em todas as coisas.
Livro
VIII — Amizade
1.A
amizade é necessária.
2.Ela
socorre os jovens e os idosos.
3.As
pessoas escolhem seus amigos pela amizade, sejam nobres ou os que lhes são agradáveis.
4.Seres
humanos gostam dos que amam e lhes são agradáveis.
5.Os
que desejam bem aos outros são benevolentes.
6.Há
amizades que não permanecem, porque são frágeis, se tornam de alguma forma
desagradáveis e inúteis.
7.Os
jovens são amorosos por paixão, movidos quase todos pelo prazer.
8.Há
amizades que são duradouras, porque permanecem.
9.Há
amizades com base apenas na utilidade, às vezes são más ou simplesmente
casuais.
10.Deve ser cultivada, sim, pois:
O silêncio destrói muitas amizades.
11.Amor
é um sentimento, enquanto a amizade é uma qualidade, se são recíprocas o é por
disposição do caráter.
12.Quando
a amizade é por utilidade, pode ser considerada poética..
13.Amizade
superior é a de pai para filho e de mãe para filho.
14.Pessoas
desiguais podem ser amigos.
15.Na
política, a amizade funciona em termos de prática de ações —assim há três
espécies de constituições e seus respectivos desvios:
a) monarquia
b) aristocracia também dita timocracia ou
plutocracia
c) república
Nota:
Segundo Aristóteles, a mais qualificada, devida a autoridade filial e
sagrada do Rei, seria a monarquia. As piores, seus desvios:
a) aristocracia,
oligarquia ou timocracia
b) a democracia.
c) a tirania
16. Dentre as
viciadas, é preferível a democracia.
17. A democracia é uma
espécie de casa sem chefe, onde todos encontram-se em pé de igualdade — o chefe
é frágil e cada qual faz o que quer.
18. Nas tiranias,
amizade e justiça praticamente inexistem, enquanto nas democracias amizade e
justiças são importantes, devido o interesse comum entre a igualdade dos
cidadãos.
Livro IX — Ainda da
Amizade
1.Amizades baseadas no
caráter são duradouras.
2.Devem-se honrar pais
e mães como honramos os deuses
3.A pessoa que é má
não é amável.
4.A benevolência é uma
amizade de pouca ação, mas pode se tornar amizade verdadeira.
5. As pessoas más sempre
estão em desacordo.
6. Artistas e poetas
amam suas produções.
7. Egoístas são
censurados pelo egoísmo.
8. É nosso dever
partilhar nossa amizade com nossos amigos.
9. Há um provérbio: Dos
homens nobres, vêm as nobres ações.
Livro X — Do Prazer
1.As pessoa preferem as
coisas agradáveis e evitam as dolorosas.
2.Segundo Eudoxo:
Todos os seres tendem para o bem supremo.
3.Platão: O bem mais
desejável é o do sábio, a sabedoria.
4.Prazer e dor são
opostos.
5.Coisas que desejamos
obter: visão, recordação, conhecimento e a posse dos estudos.
6.Em termos de prazer
a forma é perfeita em qualquer momento.
7.O prazer se completa
assim como o vigor da saúde se junta à flor da juventude.
8.O prazer possui
tendência para o viver.
9.As atividades são
afetadas em sentido oposto por prazeres e dores, que lhes são próprios.
10.O prazer, próprio à
atividade virtuosa, é sempre bom, enquanto aquele próprio à atividade viciosa é
mau.
11.Há extrema
diversidade de prazeres.
12.A felicidade se
basta a si mesma.
13.Felicidade é uma
atividade conforme a virtude.
14.O ser humano é
mortal, mas deve imortalizar sua parte mais nobre.
15.Felicidade perfeita
é a contemplativa.
16.A pessoa boa deve
receber educação exemplar.
Após essas
considerações e diversidade de pontos e opiniões, podemos obter uma visão de
conjunto para discernir o ser humano perante o mundo.
3.Considerações:
Gerais e Finais
Aristóteles (384 a.C –
322 a.C) foi um dos homens mais eruditos — pelo menos no Ocidente. Ética
a Nicômaco é um tratado que versa sobre ética, estética, moral,
ciência, psicologia, mitologia e religião. Certo que ele viveu num mundo que
respirava mitologia, toda a erudição e cultura sob influência de Homero,
através de sua Ilíada e Odisséia. Foi o período clássico da
Grécia, com a filosofia já nascente, sob influência dos filósofos
pré-socráticos. Sabemos, sob a égide desses grandes pensadores, é que nasceu a
filosofia. Sócrates (470a.C-399 a.C) já teria criado seu método filosófico, a maiêutica,
com o qual ele, mediante perguntas ao consulente, conseguia levá-lo, por si
próprio, a adquirir conhecimento. Aristóteles prefere ser um Mestre, como o foi
Platão, através de seu centro do saber chamado Liceu (a escola platônica
chamava-se Academia).
A ética aristotélica é
tão importante que seus ensinamentos e regras dela decorrentes permanecem imorredouros
até hoje, por exemplo, na Bioética, que disciplina a moral, a ética e a
estética. Seus princípios políticos continuam praticamente vigentes.
Nosso cuidado foi o de
apenas expor uma súmula das regras da Ética. Não temos o direito e mesmo a proeza de discriminar ou desmerecer os
ensinamentos de um sábio como Aristóteles, que dominou todos os ramos da
ciência, inclusive do Direito e da Filosofia.
Praza aos céus, se no
mundo atual onde reina a incredulidade, o devaneio, a incúria e o endosso do
sofisma a prevalecerem nos juízos e nas configurações políticas e científicas,
pudéssemos rever os juízos de valor pregados por Aristóteles — certamente a
cidade, as pessoas, assim como os entes públicos e privados teriam outro
comportamento — o mundo seria certamente mais humano e racional.
CDL/Bsb,
23.07.22