JORNALISMO SERVILHANO :
UMA VISÃO PÓS-SEMANA SANTA
Do que
vimos e experimentamos em viagem ao exterior, dentre outros aspectos, boa
impressão nos causou as matérias diárias
dos jornais locais. O noticioso Diário de
Servilla, por exemplo, no dia 22.04.19, após a Semana Santa, nos brindou
com abordagens interessantes, sobretudo comentários inteligentes. Enquanto isso
o jornalismo brasileiro muito de ressente quando troca a informação escorreita
pelo rés do chão cru e cruel do veracismo. E, como sabemos, o que sai perdendo
é a cultura, quando se lhe retira a essência da informação.
Apenas
como exemplário, colhemos algumas matérias tratadas na edição 22.04.19. Alberto Gonzalez Troyano, em sua crônica
sobre Livros, assinala o fato de, após o funesto incêndio da Catedral de Notre
Dame, em Paris, ocorrido dias antes, as pessoas se voltarem para a magna obra
de Victor Hugo - O
Corcunda de Notre Dame, como espécie de consolo. Diz o autor: “E agora, de novo, sua leitura tem levantado
o ânimo de um povo (tradução nossa livre). Depois, ironiza que os
políticos, naquele momento, em campanha esqueçam assuntos da Semana Santa, pois
o mundo da cultura, para eles, foi
diluído, não se trata de questão prioritária. Já Luis
Sanchez-Moliní, com o título Spanish
Tradition alerta que na tradição espanhola “há um barroco andaluz ascético e meditativo que pouco tem a ver o que
se vende nas redes sociais” — prevenindo, portanto, para o mercenarismo
religioso. Na sessão Opinião, Javier
Gonzalez-Cotta opina sobre livro recém-lançado El Invento de Jesús de Nazaret, o autor Fernando Bermejo Rúbio. O livro trata da polêmica endêmica entre a
pessoa de um Jesus autêntico, isto é, o taumaturgo exposto nos Evangelhos, ou
simplesmente personagem mítica, oculta nos textos sagrados, menos revelável
pela investigação e mais pela imaginação
dos crentes. Segundo o cronista, o autor vai mais além dessa verdade plausível e do cenário da Paixão,
para apresentá-Lo como um fundamento de
fé.
Na
edição de 23.04.19, o mesmo jornal traz matéria bastante atual, até mesma
abordando a tecnologia, com reportagem sobre autora uruguaia de 95 anos, Ida Vitale, que ganhou o Prêmio
Cervantes, com sua obra despojada e misteriosa, onde trata “de temas como o deslumbramento ante a
natureza e a função da linguagem” — tudo isso transcrito em seus poemas.
Segundo o jornal, a poetisa poematiza a conexão da poesia com a natureza com o
alerta de que em seus envolvimentos “um
breve erro, torna-as ornamentais”, prevenindo o perigo que pode conter as
palavras. Outro comentarista, Pablo
Bujalance, com seu artigo “Público y Laico”, ironiza a disputa
entre o que é laico, público e sagrado, quando os partidários do laicismo, ao
seu juízo, voltam a condenar a excessiva
ocupação das manifestações religiosas no espaço público dos últimos dias da
Semana Santa. Assinala que a Espanha não é um estado laico, mas confessional, sendo
permitido democraticamente que todas as manifestações culturais se realizem,
inclusive no espaço público. E finaliza, sabiamente: “Eliminar das ruas a dimensão transcendente do ser humano faria das
cidades lugares menos humanos.”
Oxalá
nossos jornais, TVs e toda nossa parafernália de comunicação nos ensejassem, em
seus veículos, informações desse jaez cultural, com juízos mais bem elaborados,
veiculados em linguagem menos vexatória, conceitos e pensamentos à altura de um
jornalismo de escol, realmente informativo e não essa enxurrada de fatos e
intrigas políticas de baixo nível, com que nos defrontamos diariamente, às vezes até atentatórios à Moral e aos bons
costumes da vida em sociedade.
CDL/Bsb, 4.05.19