domingo, 10 de agosto de 2025

                                            UM  SALTO  NO  ESCURO

 

                                    Murilo Moreira Veras

                                                    

                                                                       



                                                                                 

Sören Kiekergaad (1833-55), suposto filósofo dinamarquês, certa feita, escreveu: “A fé é um salto no escuro”. Aliás, essa frase tem viralizado entre gregos e troianos, filósofos e escritores.

Não, senhor Kiekergaard — a fé jamais será um salto no escuro. Se assim o fosse toda a liturgia cristã e apologética cairia de água abaixo, posto que contrária até mesmo aos Evangelhos e, principalmente aos ensinamentos  do Mestre Jesus, quando afirma:

“Eu sou o caminho, a verdade e a vida.”

Equivoca-se, pois, Kiekergaard quando faz tal afirmação, que de certo modo desmoraliza os ensinamentos crísticos. Faz das palavras de Jesus uma mentira — como se a Fé cristã não fosse a maior expressão, até mesmo sinalizando a mística da fidelidade da criatura para com seu Criador. Ademais, não faz sentido, desmistificar a fiança que depositamos no Salvador.

Na dogmática cristã, a fé é o maior sinal de que acreditamos no Senhor, Criador do universo e nele depositamos nossa confiança nos seus Mandamentos. Dir-se-á “A fé é o nosso mandato de esperança absoluta ao Senhor”. É a fé que nos salva, não a subserviência, a mera aceitação de que o aceitamos. Como torná-la uma mera intervenção vazia, sem esperança?

Veja-se, em resumo, o que nos diz o Vocabulário de Notas da Bíblia do Peregrino sobre a Fé:

a)   crê em Deus e nas palavras do Mestre Jesus;

b)   acreditar que Jesus  é o Salvador (Mt 9:2);

c)    é a decisão e por ela é que se obtém a justiça (Rom 10:14-17);

d)   justifica-se nas obras, produzindo vida e vida em abundância  (Jo 20-31);

e)   equivale a esperança (Hb 11)

Como um crente em Deus pode exercer sua fé dando um salto no escuro, com morte certa? Saltar de uma montanha e esperar que o acaso o salve da morte?

Convenhamos, é um total absurdo. Esse senhor, que se diz cristão, criou um aforismo totalmente acéfalo, do ponto de vista da fé cristã. Ora, é justamente o contrário — a Fé é um salto, sim, não dado no escuro, mas para a Luz. É um salto de uma pessoa, como sua adesão à Verdade, transformação de consciência, mudança de vida, convicção de que a vida tem um sentido, o sentido da eternidade, ou seja, de que não vivemos por viver, segundo o chavão sartriano.

Na verdade, o que ele quis talvez dizer com o salto no escuro, é que a fé é uma espécie de adesão ao vazio, isto é, o que para ele vale mesmo é sua existência, o tal salto não passa de um disfarce, uma adesão ao materialismo, não propriamente o dialético, mas o existencial. Por isso  Kiekergaard é considerado o Pai do existencialismo.

Mesmo se dizendo cristão, ele abraça, ou cria esse chamado existencialismo o qual, mais tarde foi deturpado por Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Albert Camus, Heidegger, Marleaux-Ponti,  e Karl Jasper, cada qual com suas divergência de pensamentos.

Sartre é considerado a expressão do existencialismo ateu, mediante seu ativismo social e político, influindo muitas pessoas com seu ditame — A existência precede a essência. Isto é, para ele a pessoa é livre para fazer o que quiser. Em seguida se contradiz afirmando, embora tenha liberdade absoluta, o ser humano é condenado a ser livre.

Heidegger (1889-1976), que a literatura filosófica considera ter criado o termo existencialismo, apresenta a problemática do Ser com o livro O Ser e o Tempo. Enquanto Karl Jasper (1883-1969) e Gabriel Marcel (1889-1973) atenuavam o materialismo sartriano com seu existencialismo cristão — o que não muda muita coisa, pois somos seres criados por Deus, não da natureza, segundo a cartilha materialista. Qualquer nomenclatura adotada, cai-se sempre no vilão do agnosticismo, que não se coaduna com a Fé Cristã. E o que é pior, os reflexos dessa espécie de filosofia vão produzir outras anomalias, como o desconstrutivismo de Jacques Derrida, o estruturalismo  de Julia Kristeva e Roland Barthes, até a frenética ideologia de Michel Foucault, o mais histriônicos dos filósofos da modernidade. Defraudam-se assim os pilares essenciais da filosofia — que é o estudo da Sabedoria em si, não os ideais apopléticos de certos aventureiros. 

Em concluindo, assim como essa teoria do salto no escuro da fé do sr. Kiekergaard, outras têm proliferado e contaminado a filosofia de nosso tempo — todas contribuindo para a encruzilhada em que se encontra hoje o ser humano, em lucubrações vãs. Isto, sim, é um salto no escuro, como se estivesse à beira de um abismo.

Vêm-nos à mente aquelas palavras de Shakespeare, na peça Hamlet, em que o personagem principal diz a Horácio:

 

“Há mais coisa entre o céu e a terra do que pensa tua filosofia.

 

                                                            Bsb, 10.08.25

 

 

segunda-feira, 21 de julho de 2025



                                     A   MELHOR   PARTE

 

 

                                            

                                         


                                              Murilo Moreira Veras

 

 

Marta, o Rabi está em nossa terra, diz Maria.

Verdade, diz irmã, sempre voltada para seus afazeres em casa.

As duas, Marta e Maria são duas órfãs em Jerusalém, os pais falecidos.

São diferentes as duas, mas ajustadas a tudo que fazem. Elas cuidam da  casa. Seus irmãos são pescadores, mas na verdade são armadores e empregam os pescadores para revenderem o produto da pesca.

O que achas de convidarmos o Rabi para uma refeição — pergunta Maria à irmã.

Acho bom, a outra responde. Seria uma honra ter o Rabi em nossa casa. Vamos mandar o convite pelo nosso criado Jofran — diz a irmã animada.

Marta logo se prepara receber o Rabi com uma boa refeição. Já Maria corre a ler os alfarrábios judaicos, para manter conversação com ele.

Ora, Marta só pens em honrar o Mestre com boa comida, sabe que viaja muito, de certo precisa se alimentar bem.

O Rabi que conhecia os irmãos de Marta e Maria aceita o convite.

Logo chega à casa onde moram as duas, num bairro nobre da velha Jerusalém.

Ele vem só, consegue se desvencilhar da multidão que sempre o acompanha. Seus discípulos tomarão conta dos seguidores. Darão desculpas.

Sede  bem vindo, Mestre, diz logo Maria o recebendo à porta, fazendo sentar-se no melhor lugar da casa, com almofadas, servindo-o com refresco de frutas, tâmaras e mel. O Rabi a tudo responde com sorriso benevolente.

Maria está felicíssima, assentando-se aos pés dele, tira-lhe as sandálias dos pés com ternura.

O Mestre se encanta com os gestos de Maria.

Já Marta na cozinha também se alegra com a presença luminosa do Mestre.

Então o Rabi, ao vê-las com seus gestos diferentes diz — Marta. Marta, por que te preocupas tanto com os deveres, os ofícios da casa! Pois tua irmã Maria tem a melhor parte. Nos afazeres, um pouco distante do  Mestre, Marta sente as lágrimas correrem do rosto, mas o coração está prenhe de alegria.

Maria, lavando os pés do Mestre, tem também o coração em júbilo, enquanto sua alma  recebe,  como ósculos de fé, as palavras que ele agora está dizendo.

É por isso que Marta e Maria se tornaram santas — as duas serviram o Mestre Jesus.

                                                        Bsb,21,07.25

 

 

Com o presente conto, o autor traz a lume uma das estâncias mais interessantes constantes dos Evangelhos, colhidas em Lucas 10: 32-42.

 

domingo, 25 de maio de 2025


                            AS LÁGRIMAS DA REDE GLOBO

 

 

 

A mídia — notadamente a brasileira — parece se encontrar de luto, haja vista o comportamento sofrido da Rede Globo e suas afiliadas ideológicas.  São eles, os globais que se dizem donos da informação ao povo brasileiro, não estão felizes com a eleição do novo Papa Leão XIV no trono de Pedro, o Apóstolo, portador das Chaves do Reino.

 

Ora, é que nossa mídia que se imbui proprietária absoluta de transmitir a informação   no País — aliás já foi, hoje não é mais — pensa que informar é ideologizar as pessoas e que nós, brasileiros seguimos o pensamento da Rede Globo e seus acólitos.

 

A Rede Globo, que vive às custas do governo, recebendo benesses do Lula e sua malta ecológica, acha que todo mundo pensa como os repórteres globais, os quais,  diga-se  de  passagem,  assumem, em termos de religião, os pensamentos do frei Beto e do Leonardo Boff.

 

Então, veio a bomba, quase atômica, arrasando esses repórteres da Globo News — o novo Papa Leão XIV não é o Papa Francisco, não parece seguir a cartilha, que deu azo a várias interpretações, no mínimo, escusas da Doutrina da Igreja.

 

Em todas as manifestações iniciais o Para Leão XIV tem demonstrado, para histeria dos esquerdistas, wokeanos, mundialistas, a favor do marxismo ideológico, o óbvio, isto é,   que ele é o chefe da Igreja e que age segundo a Doutrina Católica, os ensinamentos do Evangelho. Então afirma o óbvio: “o casamento é a união de um homem e uma mulher” . Os supostos formadores de opinião da Globo ficaram decepcionados, pensavam que iam ter um Francisco II no comanda da Igreja. O frei Beto e Leonardo Boff, os defensores perpétuos da cartilha comunista caíram no choro. Que coisa absurda, não apoiar os casais gays. A Igreja é retrógrada. A modernidade dá um passa atrás. Viva Francisco que apoiou essas importantes aberturas na Igreja!  

 

Acertou bem certo jornalista em canal do  You tube  — se a Rede Globo não aprovou é sinal que o santo Padre está certíssimo. Aliás, dizemos nós, ele não fez mais do que confirmar os preceitos da ortodoxia católica, à luz dos Evangelho, o Catecismo da Igreja, seguindo o Mestre dos Mestres — Jesus Cristo.

 

O que a Rede Globo ainda não aprendeu, devido a incompetência e desvairo total de seus porta-vozes — é que a Igreja Católica não é um partido político, uma ideologia, mas uma filosofia espiritual, cujo principal objetivo é divulgar o Reino de Deus no mundo, como fez o Mestre.


 CDL/Bsb. 26.05.25

 

terça-feira, 13 de maio de 2025


                                                      O  PAPA  DO  FIM  DO  MUNDO

 

 

 

 

 

                    Feliz quem lê os que escutam as palavras

                    desta profecia, se observam o que está

                    escrito nela. Pois o tempo está próximo

                                        (Ap.1,3)

                                  

                    Profecia de São Malaquias, monge irlandês,

                     escrita  em 1139 – Pedro 2º seria

                    o último papa.

 

                    __________________________________

 

O Papa Leão IV, recém-eleito no Conclave do Vaticano — terá sido o Papa do Fim do Mundo, segundo as Profecias de São Malaquias?

Para os leigos, Malaquias foi um arcebispo irlandês que escreveu as célebres profecias em 1139, segundo as quais o último papa da Igreja Católica seria Pedro 2º.

Ora, Robert Francis Prevost. padre americano, foi recentemente eleito pelo Conclave do Vaticano o novo pontífice da Igreja, com a insígnia de Leão XIV, sucedendo ao Francisco no Pontificado.

Assistimos nesses dias um verdadeiro alvoroço da mídia por descobrir quem é esse papa, enigmático, não constante da lista dos papáveis, dentro e fora do Vaticano, praticamente desconhecido, além de ser americano e naturalizado peruano, em cujo País exerceu atividades como prelado durante anos.

Depois veio à tona ceras informações, praticamente de cocheira — amigo do Papa Francisco, que o nomeou a chefia de  alto cargo no Vaticano.

A primeira decepção da rede Globo foi saber que o cardeal Robert Prevost, agora Papa, em vez de Francisco II como previam, adota o nome de Leão XIV, quer dizer, sequencia Leão XIII — o papa autor da famosa encíclica Rerum Novarum. Para quem não sabe, todos os papas sob o signo de Leão, desde Leão Magno (440 a 461), que inclusive evitou a tomada de Roma pelo famigerado Átila, o Huno, em 452, são defensores da Santa Sé, da Igreja Católica. Leão XIII, a quem  Leão XIV sequencia, se destaca por atos com os quais desafiou o comunismo e o capitalismo, principalmente ao publicar  a encíclica Rerum Novarum, de que se originou a doutrina social da Igreja e os famosos órgãos da Ação Católica em todo o mundo. Sabe-se que foi a partir dessa ação corajosa que a Igreja ousou se contrapor as ameaças de dois terríveis inimigos contra até mesmo da fé, da religião, com a ascensão do materialismo agnóstico — a negação de Deus por Nietzsche e seus fervorosos adeptos.

Pelos primeiros passos do novo Pontífice parece nos sugerir que ele não é o último papa nos termos da profecia de São Malaquias, por ser Leão e não Pedro. Ele, Leão XIV pode ser o penúltimo, aliás previsto nas profecias do Apocalipse 5,5 ...”Não chores, pois venceu o Leão da tribo de Judá, o rebanho de Davi, ele pode abrir o rolo de sete selos.”  

Nosso novo Papa pode ser esse leão apocalíptico — ele que veio para enfrentar a besta, abrindo os Sete Selos, segundo as profecias de João, iniciando a derrocada final do mundo. Ou uma etapa, que prenunciará   um Novo Mundo?

À face de tão estapafúrdia visão, resta a nós simples mortais senão elucubrar e esperar, com paciência de seres apáticos — ciscos no universo, mas ainda pensantes.

Quais os próximos passos desse nosso Leão XIV? Continuará, nesse nosso latifúndio mais ou menos tenebroso em que se acha o mundo, a tecer as armas do Bem e da Verdade, desatando os Selos de destruição, para punir os desafetos da Besta e segundo o Apocalipse vislumbrar uma suposta Jerusalém?

Ou simplesmente surgirá o Caos, a Guerra dos Mundos, o transbordamento cíclico do Universo — Fiat Lux Final?

 

Quod ad demonstrandum

 

Bsb/CDL, 13.05.25

 

    

domingo, 27 de abril de 2025

                     HABEMUS  PAPAM ?

 


 

 

Nós, católicos de todo o mundo, esperamos o sucessor de Papa Francisco. Qual seria a linha do próximo Papa? Progressista ou conservador? O povo católico se divide — uns acreditam que o novo Papa seguirá os passos do anterior, popular, a favor dos pobres e oprimidos, simplório em seus atos e ações, ao lado do humanitarismo, da Nova Ordem Mundial, da Gaia Terra, do solidarismo dito cristão. Outros discordam dessa linha modernista, querem uma Igreja mais conservadora, apegada aos trâmites dogmáticos de suas origens apostólicas — uma Igreja realmente crística, com alicerces na Patrística, hoje quase esquecida.

 

Ora, o catolicismo  veio de onde se origina a fé cristã, aquela conservada pelos Apóstolos e Mártires, não tem nenhuma afinidade com a Política, espécie de ideologia pragmática de como administrar estados e nações. Essa, como sabemos, é uma ação humana calcada no Direito e seu pragmatismo de governança.

 

A Igreja Católica é portadora da Fé e seus atributos espirituais do Amor, do Perdão, tornando-se depositária primordial da Graça.

 

Tais postulados não se prendem ou derivam do pragmatismo da Política. A fé que sustenta a espiritualidade crística deriva do provimento da Graça - a Graça capaz de transformar as pessoas, responsável por nossa conversão. A rigor, isso nada tem a ver com a política, ação humana, derivada do pragmatismo, às vezes ideológico.


O Mestre em muitas ocasiões referiu que seu Reino não era deste mundo, portanto diferente do humano. Nessa linha de pensamento, a Igreja assume o papel de defensora da salvação, a salvação que a humanidade precisa para purificação das almas.


Nessa nova visão,  somente dessa forma o ser humano alcançará as primícias do Novo Reino - a nova Jerusalém apocalíptica. Portanto, a política dos homens não tem absolutamente nada com relação ao Plano Salvífico. O objetivo da Política consiste em mecanismos administrativos de melhoria de vida das pessoas e nações.


É claro que o cristão deve contribuir com seu tirocínio para o aprimoramento da Política, expurgá-la de seus vícios, aproximá-la o mais possível dos preceitos crísticos, que seria toná-la mais humanística e solidária.


É com estes parâmetros que construimos nossas expectativas com relação à eleição do do novo Pontífice - que o conclave não se arrime em regras humanas de cunho político ideológico, mas, sim, nos preceitos genuinos da Igreja, construída pelo Mestre Jesus, o Salvador do mundo e seus Apóstolos e Mártires


Que o Espírito Santo os inspire a não se deixarem cair na ingenuidade do eufemismo dilentante dos homens de que suas ações materiais é que consertarão o mundo.


CDL/Bsb, 28.04.25



terça-feira, 22 de abril de 2025

Bondes circulando em S.Luis-Ma


                                             

                                     A  CIDADE  ASSASSINADA  -  2

 

 

 

Certo professor do Liceu Maranhense, quando seus alunos  não entendiam o problema de matemática, costumava dizer — consultem os alfarrábios. Pois hoje é   o que fazemos, consultar os alfarrábios para entendermos o que ocorre hoje com São Luís, a capital do Maranhão. O livro que temos em mãos, já em 3ª edição, é do autor Domingos Vieira Filho, notável folclorista, elogiado por Câmara Cascudo, Mário Souto Maior e Veríssimo de Melo.

 

O livro intitula-se Breve História das Ruas e Praças de São Luís. É interessantíssimo o teor do livro no qual o autor narra, através de pesquisa, fatos e atos históricos das ruas e praças da cidade. É de ver-se como os prefeitos, a maioria deles, agiam de forma até predatória para com a cidade gonçalvina. Transformaram as ruas, despiram totalmente as praças de sua vegetação, primeiro a título de modernização, sobretudo durante o período de interventoria, a partir da administração de Paulo Ramos. A propósito, ele teria afirmado ...”o tecido urbano e conjunto arquitetônico antigo são o atraso da cidade...”  A partir daí foram feitas obras de alargamento em vias centrais e a construção de prédios, como o ocorrido com a Rua do Egito, remodelada com chalés ecléticos.

 

Certa feita teria dito o poeta Odylio Costa Filho:

 

O sobrado nasce

Renasce com o dia

Se as vidas humanas

Lhe dão alegria.

O sobrado é belo

Mas sua beleza

Sem as vidas humanas,

Só lhe dá tristeza.”

 

Ora, as razões do desmoronamento da cidade, não há negar, vem da interventoria de Paulo Ramos, continuada pelos edis subsequentes.

 

Em 1966, o jornal O Imparcial  fez pesquisa sobre porque os bondes deixaram de circular em São Luís. Os bondes começaram a circular na cidade no dia 1º de setembro de 1872, portanto há 153 anos. Aliás, uma das primeiras capitais do País pela iniciativa. E o que é intrigante é que a notícia do fato quem o fez não foi nenhum repórter brasileiro, mas dois fotógrafos americanos Allan Berner, de Nova York e Foster M. Palmer, de Boston. O último bonde trafegou  até 1966 — asseverou Morrison.

 

Ao que tudo indica, os verdadeiros motivos do desligamento dos bondes nunca  foram  explicados, pelo menos de forma compreensível. Sabe-se que em 1946, o então presidente Eurico Gaspar Dutra decretou o fim das operações da ULEM, operadora dessas funções no País. Na década de 1960, durante o governo de José Sarney, certa empresa chama Fontec, contratada para organizar o trânsito na capita,l declarou  “que os bondes causavam transtornos no tráfico”. E os bondes deixaram de operar em São Luís.

 

Como assim transtorno, se  em  muitas cidades os bondes até hoje  continuam circulando, como em  São Francisco, Califórnia, EUA, em Lisboa e Porto, Portugal?

 

A propósito, o turismo que utiliza tanto  o bonde, é praticamente nulo em São Luís,  fato inclusive  ignorado pela rede hoteleira da capital, que parece desconhecer ou desvalorizar as belezas naturais dos Lençóis Maranhenses ou as belezas naturais, descobertas em Tutoia, foz do rio Parnaíba. Para essas autoridades, turismo no Maranhão é valorizar a cidade colonial,  supor   que os turistas querem ver são os antigos casarões da cidade, dita fundada pelos franceses. Ora,  na realidade, hoje só se encontram ruínas, casarões abandonados, os famosos azulejos portugueses desfigurados, aqueles palácios dos antigos portentosos moradores, agora são abrigos de ratos, um verdadeiro lixo. E o que é pior, ninguém reclama, inclusive os próprios políticos, enquanto casas, ruas inteiras jazem em completo abandono — sacadas românticas de antanho desabam em monturo. 

 

Aliás, esse estado de abandono dos políticos, edis sobretudo, ao Maranhão  não vem de hoje. Basta lermos as crônicas reunidas em seu livro O Jornal de Timon de João Francisco Lisboa, escritor e jornalista, hoje bicentenário, protagonista da cultura, aluno de Sotero dos Reis e amigo de figuras notáveis como Odorico Mendes, tradutor da Odisseia de Homero, também do poeta indianista Gonçalves Dias. Ali, ele critica de forma contundente os políticos maranhenses, à época da Regência e do Primeiro Reinado. Esse estado de coisa vige até hoje.

 

A exemplo de Ouro Preto, Minas, São Luís foi tombada pela UNESCO em 1974, cuja finalidade era proteger seu patrimônio cultural, preservando bens de valor histórico, arquitetônico e ambiental, entre outros, de modo a evitar sua destruição e descaracterização. Ora, no caso de São Luís parece que o tombamento, em vez de proteger, fez levar a cidade, em alguns caso,  à ruina e sua descaracterização, a exemplo do que ocorreu no Campo do Ourique, totalmente modificado, pior, destruído o belo arvoredo circundante.

 

E os bondes, por que retirá-los, uma das maiores características de São Luís? Aliás, como o é em S. Francisco, na Califórnia, EUA, em Lisboa e Porto em Portugal?

 

O turismo no Maranhão sempre foi precário, para dizer o mínimo. Se a finalidade do tal tombamento foi preservar os bens culturais da cidade — os bondes não contribuiriam para o  turismo, possibilitando o deslocamento dos turistas aos sítios históricos e bens antigos?

 

Que fossem abolidas as demais linhas de bonde na cidade, para atender os caprichos da modernidade, segundo o juízo dos políticos, mas que pelo menos duas linhas seriam conservadas — o bonde Gonçalves Dias e o da Estrada de Ferro. O primeiro devido roteiro interessante, parte da Praça Gonçalves Dias, percorre as ruas da Paz, passa pela  largo da Igreja de São João e desce pela rua do Sol, ladeia a Praça João Lisboa, alcança a Praça Benedito Leite e por fim termina na Av. Pedro II. O segundo bonde, Estrada Ferro, seu percurso é ladear a chamada cidade alta, passando pela antiga Estação de Trem, transpondo, até de forma romântica toda a Beira Mar com casario arte nuveau e descer até o porto e depois subir  dando   uma volta no Cemitério e enfim aportar  a seu ponto final, oferecendo uma vista panorâmica da cidade.

 

Certa feita, o Pe. João Mohana, autor maranhense consagrado pelos seus dois livros O Outro Caminho e Maria da Tempestade fez a seguinte observação de que uma das coisas que mais o fascinava, quando estava em São Luís, era dar uma volta no Bonde Gonçalves Dias.

 

Os políticos maranhenses, seus edis principalmente, ao desligarem o tráfego pelo menos desses dois roteiros de bonde — não há negar, tornaram-se os mais recentes algozes do assassínio cometido à suposta capital  francesa fundada por Lá Ravardière, na realidade, segundo alguns historiadores, a antiga aldeia portuguesa de Rosário.

Bsb, 22.04.25

 

 

 

 

 

sexta-feira, 4 de abril de 2025

                               


                                 UMA CIDADE ASSASSINADA

 

 

 

Abordemos hoje um assunto de certo modo intrigante. Sempre faço viagem a São Luís, Capital do Maranhão e cada vez mais me estarrece quando a encontro em estado precário. Ora. São Luís, alguns anos passados, pelos idos de 1940 a 50 era uma cidade aprazível. Não sou maranhense, mas toda minha família o é, da parte de pai e mãe. Fiz meus primeiros estudos no educandário padrão — o Colégio Estadual do Maranhão. Os mestres todos eram o que havia de mais reconhecidos, Fiz o primeiro ano de Direito na vetusta Faculdade de Direito, com renomados   mestres. Além de ter me casado com uma ludovicence, também de família distinta, Maria Vilma, hoje, como eu, escritora, com livros publicados.

 

O que aconteceu com a cidade, supostamente fundada por Daniel de La Touche, Senhor de La Rravardière, nos idos de 1612, enviado da França para fundar a tal França Equinocial, com seus comparsas Charles de Veaux e Daniel de La Touche?  

 

Aliás, assunto muito controverso, por sinal,   de que São Luís teria sido fundada pelos franceses. Segundo   Vasco Mariz & Lucien Provençal, em seu interessante livro La Ravardière e a França Equinocial, citando renomada pesquisadora maranhense Maria de Lourdes Lacroix em seu livro A Fundação de São Luís e seus mitos “ a ideia da fundação francesa de São Luís é uma mentira sem mentiroso.” De sua parte,   Maria de Lourdes cita fonte  insofismável: Padre Antônio Vieira.

A controversa vige até hoje. Mas,  por que a cidade, francesa ou portuguesa, hoje está em ruína? É triste, mas  eis  a grande verdade. As consequências são evidentes — a cidade não tem turismo, porque ninguém se dispõe a ver ruínas, a não ser as de Pompéia, na Itália. Explique-se — por incrível que pareça resultou do seu tombamento, melhor, o motivo não foi  exatamente o fato de ter sido tombada pelo IPHAM, em 1974 como Patrimônio Histórico da Humanidade da UNESCO. Tombada também o foi a cidade de Ouro Preto em Minas Gerais,  não em ruina, mas a pletora até hoje de grande fluência de turismo. Acreditem se quiserem — os grandes culpados foram os políticos, prefeitos e governadores.

 

Também explicamos. É só olharmos as fotografias antigas de São Luis, aliás existe inúmeras arquivadas em seção especial na Biblioteca Pública Benedito Leite — basta vê-las.  

 

Por incrível que pareça, antes do tal tombamento, aí   pelos  anos de 40, certo prefeito baixou um decreto municipal,  obrigando  os proprietários de casas de porta e janela ou inteira a  transformá-las em bangalowos — o motivo, acompanhar a modernidade!

 

O resultado é o que se vê — uma cidade de certo modo assassinada!


Bsb.CDL.5.04.25