SODOMA
E GOMORRA NA MÍDIA
– A JUSTIÇA
UMA ILUSÃO?
Todos os dias, melhor, a todo instante,
somos bombardeados com uma enxurrada de notícias através da mídia, escrita ou
falada, a título de nos manter informados sobre tudo o que se passa no mundo. Não
só no mundo, na nossa terra, na nossa cidade, na nossa rua. Nada escapa ao
furor da mídia, que não nos dá sossego, nos entope de notícias, a maioria delas
fatos horríveis.
O mundo, nosso
mundo, nosso País, nossa cidade, nosso bairro – nada escapa à TV de
esquadrinhar e depois nos empanturrar de fatos e fotos que nos revelam
desastres, cenas de crime, roubos, assaltos.
Convenhamos
este não é absolutamente o mundo com que sonhamos. São tão absurdas as cenas e
tão nefandos os fatos, que somos obrigados a reconhecer que este velho novo
mundo retrocedeu à degradação suprema. Dir-se-á que Sodoma e Gomorra se
despregam das vetustas páginas da Bíblia, para compartilhar conosco a podridão
em que se tornou nosso espaço vital, ante a degradação e a imoralidade crescentes
nos atos e costumes praticados em nossas sociedades.
Será que
atingimos, enfim, o Amargedon apocalíptico? Os seres humanos assumem seus últimos estertores da razão, em
estado de absoluta apoplexia material, mental e espiritual – endoideceram de
vez?
Bandidos,
criminosos, estupradores, ladrões, estelionatários, inclusive políticos
violentos e os vilões de colarinho branco – é incrível, mas essa chusma de
delinquentes, em maior ou menor escala, já não se contenta em apenas extorquir
as vítimas, roubar, desfalcar os cofres públicos, vilipendiar. Pois agora a
moda dos atuais facínoras é, mesmo que
não haja reação alguma, matar a vítima, e com o cúmulo de crueldade, à faca,
como faziam antigamente os trogloditas a tacape. Pois é o que vem acontecendo
em várias regiões do Rio de Janeiro, um caso recente ocorrido na Lagoa Rodrigo
de Freitas, cartão-postal da cidade, em que um ciclista, na realidade médico
cardiologista, foi covardemente assassinado à faca, para roubarem sua
bicicleta. E pasmem: os autores são adolescentes, um deles já com uma folha
corrida considerável de crimes, recidivo em várias atuações.
Há pouco
tivemos notícia – também alardeada pela TV e por manchetes de jornais – de um
crime dos mais aterradores: em Brasília, a esposa de um oficial militar, em
conluio com a irmã, mandou sequestrar o
marido, e matá-lo em seguida com a própria arma dele. Motivo: a mulher ficar
com a pensão do marido e com seu seguro de vida. Que mundo é este em que
vivemos?
É a pergunta
que não cansamos de fazer, a pairar no ar, sem que haja explicação plausível.
No exterior as
ocorrências não são nada edificantes. Temos o desprazer de ver os terroristas
do Estado Islâmico – o famigerado ISA – explodirem bomba em supermercados e templos,
sem contar que já vimos esses sanguinários meliantes degolarem vítimas ao vivo
em frente da TV e incendiarem inimigos. Agora sabemos que a falange criminosa
acaba de tomar a cidade iraquiana de Palmira, patrimônio cultural da UNESCO.
Não tardará e a TV nos mostrará esses famélicos assassinos destruírem templos e
raridades artísticas e culturais nesse importante sítio arqueológico.
No Brasil, o
estrago não fica por menos. A violência, em todos os sentidos, já ultrapassa o
limite do suportável. Jornais, revistas e TVs encharcados de notícias de roubo,
assassínios, explosão de caixas eletrônicos, greves de presidiários, violência
policial. Infelizmente, convivemos com esse estado de coisa, intolerável e
desumano.
Quanto à
justiça, como dar-lhe o crédito merecido se seus intérpretes conspurcam seus
cargos, alguns igualando-se aos criminosos que julgam? É o triste caso daquele
juiz que mantinha sob sua guarda bens do ricaço Elke Batista, processado por
maquinações financeiras e um belo dia de domingo eis que é flagrado dirigindo
um cupê luxuosíssimo do suspeito. Um juiz – tenha santa paciência, isto é manchar
a toga que veste! A justiça fica desmoralizada.
Se o
delinquente é menor, nada lhe acontece, pois é defendido pelo Estatuto do
Menor, está acima de qualquer suspeição. E resultado: haja roubo, delinquência
e até assassinatos praticados por menores, que, assim, ficam impunes.
Fala-se muito
na ressocialização dos presidiários. Ora, todos sabemos que, pelo menos no
Brasil, as cadeias se tornaram escolas do crime, o delinquente que de lá sai,
vai praticar a mesma coisa e com mais periculosidade. É um círculo vicioso de
alimentação contínua do crime.
Há algum tempo,
em entrevista à Veja, certo administrador de presídio na Inglaterra, com trinta
anos de função, declarou que dificilmente o criminoso se reabilita. É quase ressuscitar
a teoria, de certo modo, execrável, de Lombroso.
E agora o que fazer?
Orar, sim, pedir aos céus, que restituam o tirocínio perdido dos seres humanos
– não deixa de ser uma opção humanística do ponto de visto teológico. Mas não
podemos ficar de mãos cruzadas. É preciso que levantemos barreira ao crime, ao
mal e não nos deixarmos conspurcar por atavios ideológicos. É preciso que aprendamos,
mesmo aos solavancos, a construir uma sociedade mais consciente, mais
preparada, com pessoas mais imbuídas de fé, seja religiosa ou não – mas que se
mantenham como cidadãos convictos, ciosos de que poderão construir um mundo
melhor, no qual o ser humano se solidarize com suas potencialidades e atenda, com racionalidade, as exigências do
amanhã.
CDL/BSB, 29..05.15